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Em sua teoria, Rawls estabelece que os princípios da justiça aplicados à estrutura básica da sociedade são resultantes de um contrato consensual entre membros representativos da sociedade na posição original. Estes princípios têm como função definir os termos equitativos de cooperação social e regular as desigualdades sociais e econômicas. Ou seja, são princípios que mostram como se distribuem os bens sociais primários, considerados por muitos como aquilo que os indivíduos na condição de pessoas livres e racionais necessitariam para perseguirem livremente seus planos de vida. Deste modo, a primeira afirmação dos dois princípios de justiça é a seguinte:

Primeiro: cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais, que seja compatível com um sistema semelhante de liberdades para os outros.

Segundo: as desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo: a) consideradas como vantajosas para todos dentro dos limites razoáveis e b) vinculadas a posições acessíveis a todos.

(RAWLS, 2002, p 65.)

De fato, o primeiro princípio de Rawls postula que cada pessoa deve ter o direito igual ao sistema extenso de iguais liberdades fundamentais escolhidas pelos indivíduos na posição original cobertos por um véu de ignorância. Ou seja, decorre deste princípio que às liberdades básicas devem ser distribuídas de modo igual a todos os cidadãos para que possam ter condições necessárias para perseguirem livremente com seus planos de vida sem que isso viole os princípios de justiça. Fazem parte das liberdades fundamentais garantidas pelo primeiro princípio de Rawls: (...) liberdade política (direito de votar e ocupar um cargo político) e a liberdade de expressão e de reunião; a liberdade de consciência e de pensamento, a liberdade da pessoa, que inclui a proteção contra a opressão psicológica e contra a agressão física (integridade da pessoa); o direito à propriedade privada e a proteção contra a invasão e a detenção arbitraria. (RAWLS, 2002. p. 65). Vale salientar que as liberdades política apesar de não serem absoluta não

passiveis de negociações, pois têm a função de orientar os cidadãos para participar na vida pública em sociedade. Ou seja, somente as liberdades políticas deverão ter a garantia de equidade.

O segundo princípio de Ralws “se aplica à distribuição de renda e riqueza e ao escopo das organizações que fazem uso de diferenças de autoridade e de responsabilidade” (RAWLS, 2002, p. 65). Na verdade, este princípio inclui dois princípios: a igualdade equitativa de oportunidades e o princípio de diferença. O primeiro refere que as desigualdades sociais e econômicas devem estar vinculadas a cargos e posições acessíveis a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades. Já o principio da diferença refere que as desigualdades sociais e econômicas têm de beneficiar ao máximo os membros menos favorecidos da sociedade.

Ou seja, este princípio objetiva estabelecer uma fórmula de distribuição que potencializa os benefícios recebidos pelos mais desfavorecidos, que tem consequências positivas para a justiça na estrutura social. Isto é, o princípio de diferença é um instrumento maximizador, que busca atingir o melhor esquema de contribuições positiva, pois, considera que qualquer desigualdade que não resulte de igualdade de oportunidades e que não maximize as expectativas do bem estar dos mais desfavorecidos é ilegítima.

Para Rawls, a aplicação dos dois princípios de justiça (liberdade e igualdade) deve obedecer a uma ordenação serial, isto é, o primeiro antecedendo o segundo. Esta ordenação significa que as “violações das liberdades básicas protegidas pelo primeiro princípio não podem ser justificadas nem compensadas por maiores vantagens econômicas e sociais” (RAWLS, 2002, p. 65).

Para que seja mantida esta coerência da ordem lexical dos princípios de justiça, é necessário que a estrutura básica da sociedade através das suas instituições sociais e políticas garantam uma distribuição justa de direitos e deveres, de tal forma que as liberdades básicas iguais não sejam violadas ou transgredidas, por conta dos proveitos econômicos, ou por qualquer ganho que seja distinto ao do primeiro princípio.

Neste caso, para evitar que se propicie a troca entre liberdades básicas por qualquer outro ganho, que seja distinto ao primeiro princípio, Rawls elabora um conjunto de regras de prioridade que passaremos a elencar abaixo:

Primeira Regra de Prioridade (A Prioridade da Liberdade):

Os princípios da justiça devem ser classificados em ordem lexical e, portanto as liberdades básicas só podem ser restringidas em nome da liberdade. Existem dois casos: (a) uma redução da liberdade deve fortalecer o sistema total das

liberdades partilhadas por todos; (b) uma liberdade desigual deve ser aceitável para aqueles que têm liberdade menor.

Segunda Regra de Prioridade (A Prioridade da Justiça sobre a Eficiência e sobre o Bem-Estar):

O segundo princípio de justiça é lexicalmente anterior ao princípio da eficiência e ao princípio da maximização da soma de vantagens; e a igualdade equitativa de oportunidades é anterior ao princípio da diferença. Existem dois casos: (a) uma desigualdade de oportunidades deve aumentar as oportunidades daqueles que têm uma oportunidade menor; (b) uma taxa excessiva de poupança deve, avaliados todos os fatores, tudo somado, mitigar as dificuldades dos que carregam esse fardo. (RAWLS, 2002, p. 333-334).

Como vimos anteriormente, os princípios de justiça de Rawls, se encontram organizados lexicamente, agora explicaremos como se procede a sua aplicação na estrutura básica de sociedade. Para a justiça como equidade, a escolha e aplicação dos princípios de justiça procedem em quatros etapas fundamentais. Na primeira refere o questões para tornar a constituição mais justa e eficaz. (RAWLS, 2002).

O terceiro momento é conhecido como legislativo, ou seja, é a fase em que os indivíduos possuem a totalidade dos fatos sociais e econômicos. Isso, nos leva ao entendimento segundo a qual, “a prioridade do primeiro princípio de justiça em relação ao segundo se reflete na prioridade da convenção constituinte em relação ao estágio legislativo” (RAWLS, 2002, p. 216). Ou seja, os indivíduos já possuem maiores conhecimentos sobre sua realidade e subsidiado pelos ideais da constituição, desenvolvem leis que normatizem a igualdade equitativa de oportunidades e o princípio da diferença.

Por ultimo, se refere ao estagio em que as regras são publicizadas a todos os indivíduos e aplicadas a casos particulares, por administradores ou juízes, não há mais o véu de ignorância, todas as informações estão disponíveis para quem quer que seja sem maiores restrições e falseamentos (Pinto, 2014). Ou por outra, neste estagio os indivíduos não possuem mais resquícios do véu de ignorância, o que leva com que as regras sejam aplicadas em certos casos particulares para que não haja injustiças dentro da sociedade.

Assim, concluímos que os quatro estágios analisados representam um processo

longo da escolha e aplicação dos princípios de justiça, que tem sua origem na hipotética posição original ate sua aplicação na estrutura básica da sociedade. Cientes da importância dos escritos de Ralws, e da influencia das suas ideias na construção de uma sociedade justa democrática, analisamos ate aqui os principais pontos da teoria da justiça, com intenção de relacionarmos, nos próximos capítulos as ideias de justiça como equidade com questões educacionais. Assim, no item abaixo iniciaríamos por discutir a relação entre a teoria da justiça de Ralws e a Educação.