• Nenhum resultado encontrado

2. RAWLS E A EDUCAÇÃO

2.5. Desenvolvimento moral em Rawls

A educação moral é um grande fundamento da sociedade para Rawls, pois através dela os cidadãos garantem a coesão social, a manutenção do respeito e da tolerância. Sabe-se que o senso de justiça não é algo inato, a sua aquisição é feita de forma gradual a partir dos três estágios do desenvolvimento da moral. Segundo Rawls, os estágios são: moralidade de autoridade, moralidade de grupo e moralidade de princípios.

A moralidade de autoridade é considerada por Ralws como o primeiro estagio do desenvolvimento moral. Esta fase se encontra intimamente ligado às crianças, pois,

segundo o autor, o senso de justiça é adquirido e desenvolvido gradualmente pelos membros mais jovens da sociedade a medida que vão crescendo (RAWLS, 2002, p.

512). Neste estagio a família é considerada por Rawls como parte da “estrutura básica de uma sociedade bem-organizada na qual as crianças estão em primeiro lugar e sujeitas à autoridade legítima dos pais” (RAWLS, 2002, p. 512). Isto é, as crianças no seio familiar aprendem as primeiras atitudes morais sem condições para questionar os preceitos impostos pelos pais.

No olhar de Pinto, a família aparece como a componente da estrutura básica de uma sociedade bem ordenada, pois suas formas, regras e consequências são influenciadas na coletividade social” (2014, p. 45). Ou seja, a estrutura familiar é fundamental para a formação da moral, uma vez que nela desenvolver-se-iam as condições necessárias para o surgimento de novos estágios da moralidade, até porque,

“o senso de justiça é adquirido gradualmente pelos membros mais jovens da sociedade a medida que vão crescendo” (RAWLS, 2002, p. 512-513). Importa ressaltar que a organização familiar não é o único modelo preferível, ou seja, “a instituição família pode ser questionada e outras organizações podem de fato se revelar preferível. “Mas presumivelmente, a explicação da moralidade poderia se necessário, ser ajustada de modo a se encaixar nestes diferentes sistemas” (RAWLS, 2002, p. 513).

Como exposto ate agora, no seio familiar a criança se encontra numa situação que não lhe é permitido avaliar a importância das regras, normas, princípios, ou ainda avaliar as obrigações e determinações impostas pelos pais. Quanto a isto, Rawls acrescenta que “falta à criança tanto conhecimentos quanto o entendimento com base nos quais a orientação dos pais passa a ser desafiada. De fato, a criança não tem nem mesmo o conceito de justificativa, que é adquirido mais tarde. Portanto, ela não pode ter fundamentos para justificar a adequação das injunções dos pais” (RAWLS, 2002, p.

513).

Deste modo, para compreendermos os fundamentos da moralidade de autoridade, Rawls nos leva à seguinte suposição: podemos supor que os pais amam a criança e, com tempo a criança vem amar os pais e confiar neles. Como ocorre essa mudança? Para responder a esta questão, Rawls nos propõe o seguinte princípio psicológico:

A criança vem a amar seus pais apenas se estes manifestam primeiro o seu amor. Assim as ações da criança são inicialmente movidas por certos instintos e desejos, e seus objetivos são regulados (se é que chegam a sê-los), por

interesse próprio racional (num sentido adequadamente restrito) (RAWLS, 2002, p. 513).

Assim sendo, o amor que a criança desenvolve por seus pais é o reconhecimento, ou seja, a retribuição do amor que eles manifestam por ele e dos benefícios vindos dessa ação (RAWLS, 2002, p. 515).

Como aponta Mandle (2009), à medida que a criança vem a amar os pais e, para firmar a noção do valor de si próprio, a estrutura dos seus desejos sofre mudança, pois os pais passam a ser valorizados, não somente por conta dos desejos pré-existentes da criança, mas em função do amor e de confiança que se estabelece entre eles, a criança passa a aceitar os preceitos e as instruções dos pais, gerando sentimento de culpa quando da transgressão de um deles e uma disposição para adotar a posição dos pais em relação à má conduta (ROHLING, 2021, p. 141).

Portanto, o primeiro princípio psicológico5 rawlsiano que o amor dos pais pela criança seja expresso na intenção de cuidar dela, de fazer por ela o que sugere o amor racional da criança na realização dessas sugestões, precisa que esse amor seja alimentado. Igualmente, o seu amor é demostrado quando eles “sentem prazer com a presença dela e apoiam o senso de competências à autoestima” (RAWLS, 2002, p. 514).

Assim sendo, à luz desse esboço do desenvolvimento da moralidade de autoridade, Rawls aponta as principais condições que favorecem o aprendizado da criança conforme se pode ver na citação abaixo:

1º) os pais devem amar a criança, e ser objetos dignos de sua admiração. Desse modo, despertam nela o senso de seu próprio valor e desejo de tornar-se o tipo de pessoas que elas são. 2º) os pais devem anunciar regras inteligíveis e claras (e sem dúvidas, justificáveis) ao nível da compreensão da criança; igualmente, os pais devem exemplificar a moralidade que impõem às crianças pois, isto gera na criança a vontade de aceitar os princípios, ou seja, permite que ela interprete no futuro em casos particulares os princípios de justiça que lhe são impostos. (RAWLS, 2002. p. 516)

Para complementarmos a nossa explicação, Rawls coloca a seguinte questão:

“quando é que o desenvolvimento moral deixa de ocorrer”?Desta feita, o autor presume que o desenvolvimento moral deixa de ocorrer quando as condições acima elencadas estiverem ausentes, ou seja, especialmente “se as injunções dos pais não são apenas rudes e injustificadas, mas também exercidas por meio de sanções punitivas e até

5Dado que as instituições são justas e que os pais amam a criança e expressam manifestamente esse amor, preocupando-se com o seu bem, então a criança, reconhecendo o amor evidente que sente por ela, aprende a amá-los (RAWLS, 2002, p. 544)

mesmo físicas” (RAWLS, 2002, p. 516). Até porque, “uma aprendizagem moral autoritária, ou seja, uma formação moral repressiva e constrangedora tenderia a bloquear o desenvolvimento moral da criança” (SILVA, 2003, p. 83).

Apesar de a criança obedecer aos preceitos morais impostos pelos pais, é importante lembrar que a moralidade de autoridade não depende da disposição e da perspectiva de punição ou de recompensas, pois, ela é uma moralidade primitiva à criança, visto que não possui discernimento suficiente para compreender o sistema do mais justo e da justiça. Silva esclarece que “a criança aqui não apresenta ainda capacidade de julgar a validade dos preceitos e injunções que lhe são impostas, pelas pessoas que ocupam posição de autoridade sobre elas” (SILVA, 2003, p. 83). Apesar de faltar na criança o discernimento para avaliar e validar os preceitos que lhe são impostos, Rawls esclarece que “a moralidade de autoridade deve estar subordinada aos princípios do justo e da justiça que são os únicos que podem determinar quando as exigências extremas, ou restrições análogas, se justificam” (RAWLS, 2002, p. 517). Isto é, apesar da moralidade de autoridade surgir de carência de compreensão e da capacidade critica das crianças, ela deve ser subordinada aos princípios de justiça, considerados como regras que regem a conduta dos pais em sociedade.

O segundo estagio do desenvolvimento moral é chamado por Rawls de moralidade de grupo. Se a moralidade de autoridade consistia na coleção dos preceitos ditados por uma autoridade superior, aqui o adágio do conteúdo é “estabelecido em conformidade com a necessária compreensão dos padrões morais requeridos para a aceitação do indivíduo nas várias associações de convivência social” (PINHEIRO, 2009, p. 121).

Para Pinto, a moralidade de grupo é a fase definida pelas relações internas de associação e cooperação em que os sujeitos podem gerar uma multiplicidade de resultados comportamentais (2014, p. 14). É a fase do verdadeiro convívio social, onde a família pode ser vista como a primeira de muitas associações (em que outras poderiam ser as escolas, os clubes, os bares etc.) na qual a criança eventualmente toma parte.

Cada uma dessas associações possui um conjunto de regras que aumenta o nosso entendimento moral, que nos ajuda a compreender o nosso verdadeiro papel como membros integrantes de um sistema de cooperação social. Isto é, por meio da participação nessas associações, as crianças aprendem as virtudes de um bom aluno, de um bom colega, do esportista e do camarada.

Ralws avança que, no estagio da moralidade de grupo, “o desenvolvimento

moral aumenta na medida em que, no curso da vida, mudamos de lugar, passando por uma sequência de posições” (RAWLS, 2002, p. 519). Isto é, o senso de justiça é aprimorado a partir do convívio social, ou seja, os mais diversos grupos sociais impõem regras de conduta ao individuo exigindo que ele tenha certos direitos e deveres para exercer determinada posição e aprender os padrões de conduta adequada a ela. Assim, o nosso entendimento moral aumenta conforme as posições sociais que vamos ocupando no decorrer da vida em sociedade.

Contudo, Rawls supõe que para adquirir uma moralidade de grupo (representada por alguma estrutura de ideias) dependemos do desenvolvimento de habilidades intelectuais necessárias para considerarmos as coisas a partir de uma variedade de pontos de vistas e pensarmos nelas em conjunto como aspectos de um único sistema de cooperação. Assim, a complexidade de habilidades intelectuais levaria o indivíduo a:

conhecer que existem diferentes pontos de vistas, que as perspectivas dos outros não são iguais; que devemos não apenas aprender que as coisas parecem diferentes para eles, mas que eles têm necessidades e objetivos diferentes e diferentes planos e motivações; percebemos esses fatos a partir da sua conduta e do seu semblante; identificamos as características que definem essas perspectivas, o que é que os outros geralmente querem e desejam, quais são suas opiniões e as crenças que os controlam (RAWLS, 2002, p. 519-520).

Neste diapasão, a intenção de Rawls é demonstrar que, ao considerarmos coisas a partir de multiplicidade de ideias acima elencadas, reconhecemos regras justas para todos, firmamos organizações e desenvolvemos laços de amizade e confiança mútua.

Igualmente, se estes sentimentos e atitudes foram gerados pela participação da pessoa no grupo (cooperação), ela programa a capacidade para sentimentos de companheirismo, e na medida em que seus consócios correspondem aos deveres e obrigações, ela desenvolve sentimentos amigáveis em relação a eles e juntamente com o sentimento de confiança, enquadrando-se, esta lógica, na segunda lei psicológica6 de (RAWLS 2002). Até porque, quando os indivíduos, um a um ou em grupo (devidamente limitado em tamanho), entram no grupo ao longo de um período de tempo, eles adquirirem laços (confiança mútua e amizade) e, quando os consócios mais antigos fazem sua parte, correspondem ao ideal da sua posição.

6 Dado que a capacidade de uma pessoa para sentimento de companheirismo tornou-se uma realidade,

quando ela adquiriu vínculos de acordo com a primeira lei e, dado que uma organização social é justa e esse fato é publicamente reconhecido por todos, então essa pessoa desenvolve laços de amizade e confiança em relação aos outros na associação, à medida em que estes, com evidente intenção, cumprem deveres e deveres, e correspondem os ideais de sua situação (RAWLS, 2002, p. 544) (esclarecimento sobre o status dessas leis psicológicas).

Sobre o exposto, o autor vai mais longe, ao afirmar que “os indivíduos ao se associarem em um sistema de cooperação, agem regularmente com a intenção de apoiar regras justas (ou equitativas), laços de amizade e confiança mútua, e tendem a desenvolver entre eles vínculos de forma ainda mais forte” (RAWLS 2002, p. 521-522).

Apesar de estabelecidos estes laços (confiança mútua e amizade), o autor adverte o seguinte: a pessoa tende a adquirir sentimento de culpa (relativo ao grupo) quando não cumpre sua parte. Portanto, como podemos avaliar este sentimento de culpa relativos ao grupo, ou seja, como eles se manifestam?

Para a questão acima, Rawls nos propõe o seguinte exemplo: “os sentimentos de culpa relativos ao grupo se manifestam na intenção de sanar os males causados aos outros; na disposição de admitir que o que fez foi injusto (errado) e pedir desculpas por isso” (RAWLS 2002, p. 521).

Em suma, a moralidade de grupo assume muitas formas dependendo do grupo e do papel em questão. Nesta esteira, Rawls supõe que existe uma moralidade de grupo quando os membros de uma comunidade ou no seu todo se consideram como pessoas iguais, como amigos e consócios, reunidos em sistema de cooperação que tem o objetivo de reconhecer o bem de todos e é governado por uma concepção comum de justiça. Aqui, o “conteúdo dessa moralidade é caracterizado pelas virtudes voltadas para a cooperação, a justiça, a equidade, a fidelidade, a confiança, a integridade e a imparcialidade” (RAWLS 2002, p. 523).

O terceiro estagio do desenvolvimento da moral é a moralidade de principio.

Ralws compreende que alguém que atinge as formas mais complexas de moralidade de grupo, adquire um entendimento dos princípios de justiça (RAWLS 2002, p. 524). Ou seja, a moralidade de principio, é considerada como resultado da assimilação de preceitos morais (primeiro estágio) e do entendimento pleno do que significa a cooperação social entre os indivíduos (segundo estágio).

Pinto, em sua dissertação intitulada John Rawls e a educação - contribuições para análise do direito à educação da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, considera que a moralidade de princípios se refere ao momento em que o indivíduo alcança a condição da moralidade coletiva mais complexa, na qual ele compreende a importância dos princípios de justiça (igual aos escolhidos na posição original) e coopera socialmente com vários grupos dentro da sociedade (2014, p. 48). No seu artigo científico: A Educação e a educação moral em

uma teoria de justiça de Rawls (2009), Rohling mostra que a moralidade de princípios fundamenta o desejo de ser uma pessoa justa ao ver que sua ação pode ser refletida por princípios de justiça, os quais escolheriam como pessoas livres e iguais (2009, p. 72).

Pinto e Rohling retomam a ideia de Rawls e afirmam que a moralidade de princípios é a fase em que o indivíduo tem o entendimento pleno dos princípios de justiça, frutos de uma cooperação mútua entre os consócios. Aqui, os indivíduos sentem a necessidade de agir segundo estes princípios reconhecidos publicamente como justos, ou seja, os nossos sentimentos morais passam a se orientar pelas nossas atitudes no seio social.

Para compreendermos os fundamentos do desenvolvimento da moralidade de princípios, Rawls levanta a seguinte questão: como é que se desenvolve a moralidade de princípios? A moralidade de princípios encontra-se intrinsecamente dependente do desenvolvimento da moralidade de grupo, especialmente do estágio da convivência social (cooperação), a da manifestação do ideal da cidadania igual - o que permite que os indivíduos aceitem racionalmente os preceitos morais da sua sociedade e conheçam padrões de justiça previamente acordados, até porque, como assume Rohling, “como pessoas livres e iguais, os indivíduos assumem-se como cidadãos e admitem padrões de justiça para regular a conduta e adotam, de igual modo, responsabilidades sociais coerentes com o ideal da cidadania” (2009, p. 72).

Para Rawls as únicas conclusões a que se chega é de que os padrões de justiça admitidos por pessoas livres e iguais (cidadãos), em uma sociedade bem organizada, não apenas definem a concepção pública de justiça, mas também permitem que “os cidadãos adquiram um interesse nas relações políticas e aqueles que ocupam cargos legislativos, judiciais e outros semelhantes são conscientemente chamados a os aplicar e a os interpretar” (RAWLS, 2002, p. 524). Por outro lado, Rawls adverte que, para colocar em prática os princípios de justiça, conforme a situação devem-se adotar pontos de vistas definidos pela sequência de quatro estágios7. Ou seja, devemos adotar a

7 O primeiro estágio acontece quando reconhecemos os dois princípios da justiça sob o véu de ignorância,

ou seja, é o momento em que estamos na posição original, subsidiados por todos os conhecimentos necessários (RAWLS, 2002, p. 213). No segundo estágio, os princípios escolhidos terão que subsidiar as sugestões de um aparato constitucional, que estabeleça os poderes do Estado e os direitos básicos do cidadão. Aqui, determinadas restrições do véu de ignorância são removidas, por isso, os indivíduos conseguem distinguir os princípios da teoria. Terceiro estágio, conhecido como legislativo, é a fase em que os consócios têm o conhecimento sobre os fatos econômicos e sociais e outros aspetos gerais. Aqui

“prioridade do primeiro princípio de justiça em relação ao segundo se reflete na prioridade da convenção constituinte em relação ao estágio legislativo”. (RAWLS, 2002, p. 216). No quarto estágio, é a fase em

perspectiva de uma convenção constituinte ou assembleia legislativa. Aqui, o indivíduo acaba por adquirir, nessa perspectiva, um domínio dos princípios de justiça, entendendo os valores que eles garantem e o modo como trazem benefícios para todos (RAWLS, beneficiários de uma instituição justa estabelecida e duradoura tende a criar em nós o senso de justiça correspondente. Desse modo, o indivíduo desenvolve um desejo de aplicar os princípios de justiça e de agir em conformidade com eles no momento em que percebemos como as organizações sociais que representam promoveram seu bem e o bem daqueles com quais nos associamos (RAWLS, 2002, p. 525).

Assim, Rawls nos leva ao entendimento de que a moralidade de princípios é alcançada a partir de instituições justas, ou seja, são necessárias instituições justas para o surgimento de sentimentos morais e para o conhecimento de padrões de justiça. Por isso é que Pinheiro acredita que:

para desenvolvermos o senso de justiça, dependemos de instituição justa; e para termos instituições justas, é preciso que os cidadãos sejam livres e iguais, condições que dependem de senso de justiça e da concepção do próprio bem.

Ora, as instituições justas são aquelas que possuem regras justas que propiciam a possibilidade de liberdade e de igualdade a todos seus membros e às outras instituições (PINHEIRO, 2009, p. 122). (Desenvolver exemplificando instituições não justas)

Diante do exposto, podemos concluir que a moralidade de princípios se manifesta na medida em que as nossas atitudes morais, de amor, de amizade e de confiança mútua passam automaticamente a orientar a nossa vida pública. Aqui Rawls, coloca duas asserções na qual a moralidade de princípios se manifesta:

1º quando o senso de justiça nos leva aceitar as instituições justas que se aplicam a nós das quais nós e nossos consócios nos beneficiamos; 2º quando um senso de justiça fomenta uma disposição de trabalhar em favor (ou pelo menos de não trabalhar contra), a construção de instituições justas, e no sentido de reformar as instituições existentes quando a justiça exija. (RAWLS, 2002, p.

que as regras são publicizadas a todos os indivíduos e aplicadas a casos particulares, por administradores ou juízes, não há mais o véu de ignorância. (RAWLS, 2002, p. 217).

8 Dado que a capacidade de uma pessoa para o sentimento de companheirismo for realizada quando ela criou vínculos de acordo com as duas primeiras leis e, dado que as instituições de uma sociedade são justas e esse fato é publicamente reconhecido por todos, então essa pessoa adquire o senso de justiça correspondente, à medida que reconhece que ela e aqueles por quem se interessa se beneficiam dessas organizações. (RAWLS, 2002, p. 545).

526-7).

Diante da lógica acima, Rawls alerta ainda que, quando vamos contra o nosso senso de justiça, explicamos nosso sentimento de culpa referindo-nos aos princípios de justiça, mas quando o indivíduo (exercendo a cidadania) dentro de uma sociedade bem organizada tem pleno entendimento dos conteúdos dos princípios de justiça:

estes podem ser levados a agir de acordos com eles, principalmente devido aos laços com pessoas particulares ou ao apego a sua própria sociedade. Uma vez aceita a moralidade de princípio, entretanto, as atitudes morais deixam de estar unicamente ligadas ao bem-estar e à aprovação de indivíduos, quer em casos particulares ou grupos específicos, e são moldadas por uma concepção das justo e de justiça escolhidas independentemente das contingências. (RAWLS, 2002, p. 527).

Para finalizar a nossa locução, Rawls coloca a seguinte questão: como é possível que estes princípios conquistem nossa afeição? Ralws explique que existem várias respostas para a questão que se levanta: primeiro é o entendimento de que os princípios de justiça têm necessariamente certo conteúdo e são escolhidos por pessoas racionais para o julgamento de reivindicações concorrentes, ou seja, eles definem modos já aceites de promover os interesses humanos; segundo, o senso de justiça é um prolongamento do amor pela humanidade (RAWLS, 2002, p. 528).

Apesar do mérito que Rawls delega ao nosso senso de justiça para o entendimento dos princípios de justiça ou dos sentimentos morais, dentro de uma sociedade bem organizada, o mesmo pode ficar ofendido quando “os sentimentos de culpa e indignação são gerados pelos danos e privações injustificadas causadas por nós mesmos, pelos outros ou por terceiros” (RAWLS, 2002, p. 528). Para Rawls, isso demonstra que:

os homens ao agir segundo os princípios de justiça demonstram e expressam sua natureza de seres racionais livres e iguais, sujeitos às condições gerais da vida humana. Até porque, expressar a natureza de um ser de uma determinada

os homens ao agir segundo os princípios de justiça demonstram e expressam sua natureza de seres racionais livres e iguais, sujeitos às condições gerais da vida humana. Até porque, expressar a natureza de um ser de uma determinada