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CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No documento AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO (páginas 88-95)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica se baseou nas temáticas centrais de universidade e região,

inter-relação das universidades com atores regionais, produtos universitários e

desenvolvimento regional, que suportam os objetivos desta tese apresentados na parte

introdutória desta pesquisa. No entanto, destaca-se que a pesquisa bibliográfica esteve

vinculada, principalmente, à construção do modelo interativo do papel das instituições de

ensino superior para o desenvolvimento regional. Assim, esse capítulo será condensado com

base no processo de construção do modelo.

A construção do modelo passou por três versões preliminares e outra após a coleta dos

dados. A primeira versão do modelo (ver figura 20) tentou buscar na literatura outras saídas e

produtos universitários das instituições de ensino superior para o desenvolvimento regional.

As pesquisas de Rolim e Serra (2009) e Malerba (1999, 2002, 2005) subsidiaram, à época, a

inclusão de dois outros produtos como produtos explicativos para o desenvolvimento

regional: articulação estratégica e sistemas de inovação. Foi considerado que esses produtos

exercem movimentos endógenos e exógenos, ou seja, são criados para as instituições de

ensino superior, mas não limitados a elas, com o intuito de mapear e gerenciar os produtos de

direcionamento endógenos com vistas ao desenvolvimento regional.

Figura 20 – Modelo integrativo do papel das universidades e centros de pesquisa para o

desenvolvimento regional (Versão 1)

Fonte: Elaboração própria (2018)

Ainda, com base na literatura, elencaram-se quatro variáveis, que foram denominadas

de elementos integrativos dos produtos universitários e desenvolvimento regional, a saber: 1 –

Participação dos atores na construção do conhecimento (MALERBA, 1999, 2002, 2005); 2 –

Geração de conhecimento aplicável à região (MALERBA, 1999, 2002, 2005); 3 – Processo de

difusão do conhecimento na região (ROLIM; SERRA, 2009); e 4 – Utilização do

conhecimento na região local com vistas ao desenvolvimento (ROLIM; SERRA, 2009). Esses

elementos foram identificados teoricamente e utilizados no modelo integrativo como

mecanismos de explicação do desenvolvimento regional a partir dos produtos universitários.

O primeiro elemento, participação dos atores na construção do conhecimento,

compreendia que a manutenção do desenvolvimento regional só poderia acontecer mediante

interação entre os diferentes atores interessados ao desenvolvimento de uma região. Nesse

sentido, instituições de ensino superior, setores produtivos, órgãos de fomento de

desenvolvimento regional e os governos em suas diferentes esferas (municipal, estadual e

federal) deveriam unir esforços para produzir saídas contributivas ao desenvolvimento. Ao se

comunicarem, os gargalos, desafios e potencialidades poderão ser discutidos e planejados com

vistas ao desenvolvimento regional, evitando o que foi chamado por Rolim e Serra (2009) de

ausência de engajamento regional.

O segundo elemento, geração de conhecimento aplicável à região, é fruto das decisões

tomadas pelo primeiro elemento. No entanto, nos acordos tácitos de cooperação nos quais há

muitas partes interessadas, é impossível gerenciar de forma total a teoria da agência descrita

por Hoskisson et al. (2014), ou seja, os interesses individuais nas tomadas de decisões sobre o

que é aplicável ou não a realidade da região a ser desenvolvida.

Os dois últimos elementos da integração de produtos universitários e desenvolvimento

regional foram extraídos dos resultados de Rolim e Serra (2009) sobre a temática. O terceiro

elemento, processo de difusão do conhecimento na região, compreendia que uma vez que os

atores participem na construção dos conhecimentos e decidam que estes são aplicáveis à

região, deverão empreender os caminhos para divulgação e compartilhamento dos

conhecimentos. Dito de outra maneira, iniciarão o processo de modificação e treinamento em

suas esferas individuais, alinhados com o propósito maior de desenvolver e manter riqueza na

região. Este produto não deveria se confundido com o produto universitário, difusão

tecnológica, uma vez que este elemento não se limitava a difundir tecnologia, mas a fornecer

o arcabouço de conhecimentos e práticas para o desenvolvimento de uma região.

O quarto elemento, utilização do conhecimento na região local, garantia que após a

consecução dos três primeiros elementos, o conhecimento seria aplicado, replicado e

consumido localmente. A ideia central desse elemento partiu do pressuposto de que difundir o

conhecimento não é mesmo que aplicá-lo, uma vez que, segundo Barney e Hesterly (2007),

no processo de mudança, há sempre resistência ao novo.

Após a experiência da qualificação e a partir da reflexão sobre as pesquisas de

Benneworth e Fitjar (2019), Atta-Owusu (2019), Secundo et al. (2017), Roessler, Duong e

Hachmeister (2015), Trencher et al. (2014), Noveli e Segato (2012), Salamzadeh,

Salamzadeh e Daraei (2011), Etzkowitz e Leydesdorff (2000), percebeu-se que articulação

estratégica e sistemas de inovação não eram novos produtos universitários, mas elementos que

deveriam fazer parte do modelo. Com base nessas reflexões, a versão 2 do modelo foi

elaborada (ver figura 21).

Na versão 2, figura 21, os produtos universitários foram agrupados segundo a

perspectiva da terceira missão universitária, com base nas dimensões de Secundo et al.

(2017), subdivididas em três categorias: educação continuada, transferência tecnológica e

inovação e desenvolvimento social.

Figura 21 – Modelo interativo do papel das universidades e centros de pesquisa para o

desenvolvimento regional (Versão 2)

Fonte: Elaboração própria (2019)

Como mostra a figura 21, os produtos de educação, pesquisa contratada e novo

conhecimento (LENDEL, 2010) foram agrupados dentro da dimensão educação continuada

(SECUNDO et al., 2017). Nesse sentido, a formação de profissionais, acordos de pesquisa

entre instituições de ensino superior com atores regionais e novo conhecimento gerado

configuram o que Secundo et al. (2017) entenderam como educação continuada, ou seja,

processo de criação e compartilhamento de conhecimento frente às demandas regionais.

A dimensão de transferência tecnológica e inovação abarcava os produtos de pesquisa

contratada, novo conhecimento, difusão tecnológica, trabalho especializado e novos produtos

e negócios. A figura acima, por meio das setas, apresenta os produtos compartilhados entre as

diferentes dimensões da terceira missão. Portanto, pesquisa contratada e novo conhecimento

eram produtos compartilhados com a perspectiva de educação continuada, assim como

trabalho especializado e novos produtos e negócios com a dimensão de desenvolvimento

social.

Por fim, a dimensão de desenvolvimento social se alcançava por meio dos produtos:

trabalho especializado, novos produtos e negócios e produtos culturais. Os profissionais

especializados colocados no mercado, produtos e negócios desenvolvidos e produtos culturais

eram responsáveis, também, pelo cumprimento da terceira missão universitária. Esses, no

entanto, só promoveriam o desenvolvimento regional caso os profissionais ficassem na região

onde foram gerados e os produtos e negócios fossem pensados visando a resolver problemas

locais.

A partir de um sistema regional de inovação, os produtos universitários promovem o

desenvolvimento regional. As setas pontilhadas saindo dos produtos universitários passavam

pelos elementos de processos logísticos, redes e articulação elaborados por Salamzadeh,

Salamzadeh e Daraei (2011). Esses elementos serviam de anteparo para condução das saídas

universitárias, sua articulação e distribuição com os atores regionais.

Foram acrescentados mais dois elementos interativos dos produtos universitários e

desenvolvimento regional. Além dos já apresentados na figura 19, ou seja: 1 – Participação

dos atores na construção do conhecimento; 2 – Geração de conhecimento aplicável à região; 3

– Processo de difusão do conhecimento na região; 4 – Utilização do conhecimento na região

local com vistas ao desenvolvimento, os elementos: 5 – Cultura empreendedora (LENDEL,

2010) e 6 – Rede empreendedora (GODDARD; ROBERTSON; VALLANCE, 2012,

SALAMZADEH; SALAMZADEH; DARAEI, 2011) foram incorporados com o intuito de

melhor compreender os produtos universitários e sua dinâmica para o desenvolvimento

regional.

O que se tornou o quinto elemento, cultura empreendedora, foi retirado do framework

de Lendel (2010), que acredita que esse elemento é essencial no processo de absorção e

transbordamento do conhecimento, e como resultado, tem um impacto positivo no processo

de desenvolvimento regional. Nesse sentido, em uma cultura empreendedora, as pessoas veem

o processo empreendedor como uma rotina e não como uma ocorrência incomum.

O sexto elemento, rede empreendedora, extraído dos estudos de Goddard Robertson e

Vallance (2012) e Salamzadeh, Salamzadeh e Daraei (2011), compreende que a cultura

empreendedora precisa estar inserida em uma rede que compartilhe recursos humanos,

pesquisas, inovação, produtos e uma estrutura que desenvolva ou melhore as condições das

regiões. Assim, a rede empreendedora, sexto elemento, assume um papel vital na garantia de

sustentação do desenvolvimento regional a partir dos sistemas regionais de inovação.

Também compreendeu-se que o modelo necessitava de interação entre os ambientes

acadêmico, empresarial e governamental, e não de integração como idealizado na primeira

versão.

Figura 22 – Modelo interativo do papel das universidades para o desenvolvimento regional (Versão 3)

Fonte: Elaboração própria (2019)

A terceira versão do modelo interativo (ver figura 22 acima) foi fruto das leituras de

Hoff, Martin e Sopeña (2011) e Hoff, Pereira e De Paula (2017). O modelo de impactos

diretos e indiretos esperados de uma instituição de ensino superior para o desenvolvimento

regional, proposto por Hoff, Martin e Sopeña (2011), apresentou melhor consistência teórica

como medidor das saídas universitárias para o desenvolvimento regional, com evidências

teóricas na literatura nacional e internacional.

A terceira versão do modelo já foi explicada no tópico 2.4.4, mas destaca-se que

articulação estratégia representou um elemento importante na condução dos esforços das

instituições de ensino superior para o desenvolvimento regional. A quarta versão do modelo,

fruto das contribuições dos sujeitos entrevistados e pertencentes às esferas acadêmicas,

empresarias e governamentais, será apresentada no capítulo sete.

Assim, a pesquisa bibliográfica que norteou esta pesquisa e, especificamente, esse

capítulo, buscou trazer maior compreensão sobre o papel das instituições de ensino superior

para o desenvolvimento das regiões onde se encontram instaladas a partir do viés de suas

saídas para a sociedade. Essas saídas, denominadas de produtos universitários, podem, de

forma isolada ou combinada, promover o desenvolvimento regional quando mediadas por um

modelo interativo que articule estrategicamente os interesses dos diferentes atores sociais por

meio de um sistema regional de inovação.

O capítulo seguinte apresenta os percursos metodológicos que deram suporte aos

desdobramentos desta pesquisa.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta os percursos metodológicos necessários para a consecução dos

objetivos deste estudo científico, assim como os procedimentos para resposta à pergunta de

pesquisa: Como a proposição de um modelo interativo que incorpore articulação estratégica e

sistemas regionais de inovação aos produtos gerados pelas instituições de ensino superior

auxilia no desenvolvimento regional?

No documento AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO (páginas 88-95)