2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fundamentação teórica se baseou nas temáticas centrais de universidade e região,
inter-relação das universidades com atores regionais, produtos universitários e
desenvolvimento regional, que suportam os objetivos desta tese apresentados na parte
introdutória desta pesquisa. No entanto, destaca-se que a pesquisa bibliográfica esteve
vinculada, principalmente, à construção do modelo interativo do papel das instituições de
ensino superior para o desenvolvimento regional. Assim, esse capítulo será condensado com
base no processo de construção do modelo.
A construção do modelo passou por três versões preliminares e outra após a coleta dos
dados. A primeira versão do modelo (ver figura 20) tentou buscar na literatura outras saídas e
produtos universitários das instituições de ensino superior para o desenvolvimento regional.
As pesquisas de Rolim e Serra (2009) e Malerba (1999, 2002, 2005) subsidiaram, à época, a
inclusão de dois outros produtos como produtos explicativos para o desenvolvimento
regional: articulação estratégica e sistemas de inovação. Foi considerado que esses produtos
exercem movimentos endógenos e exógenos, ou seja, são criados para as instituições de
ensino superior, mas não limitados a elas, com o intuito de mapear e gerenciar os produtos de
direcionamento endógenos com vistas ao desenvolvimento regional.
Figura 20 – Modelo integrativo do papel das universidades e centros de pesquisa para o
desenvolvimento regional (Versão 1)
Fonte: Elaboração própria (2018)
Ainda, com base na literatura, elencaram-se quatro variáveis, que foram denominadas
de elementos integrativos dos produtos universitários e desenvolvimento regional, a saber: 1 –
Participação dos atores na construção do conhecimento (MALERBA, 1999, 2002, 2005); 2 –
Geração de conhecimento aplicável à região (MALERBA, 1999, 2002, 2005); 3 – Processo de
difusão do conhecimento na região (ROLIM; SERRA, 2009); e 4 – Utilização do
conhecimento na região local com vistas ao desenvolvimento (ROLIM; SERRA, 2009). Esses
elementos foram identificados teoricamente e utilizados no modelo integrativo como
mecanismos de explicação do desenvolvimento regional a partir dos produtos universitários.
O primeiro elemento, participação dos atores na construção do conhecimento,
compreendia que a manutenção do desenvolvimento regional só poderia acontecer mediante
interação entre os diferentes atores interessados ao desenvolvimento de uma região. Nesse
sentido, instituições de ensino superior, setores produtivos, órgãos de fomento de
desenvolvimento regional e os governos em suas diferentes esferas (municipal, estadual e
federal) deveriam unir esforços para produzir saídas contributivas ao desenvolvimento. Ao se
comunicarem, os gargalos, desafios e potencialidades poderão ser discutidos e planejados com
vistas ao desenvolvimento regional, evitando o que foi chamado por Rolim e Serra (2009) de
ausência de engajamento regional.
O segundo elemento, geração de conhecimento aplicável à região, é fruto das decisões
tomadas pelo primeiro elemento. No entanto, nos acordos tácitos de cooperação nos quais há
muitas partes interessadas, é impossível gerenciar de forma total a teoria da agência descrita
por Hoskisson et al. (2014), ou seja, os interesses individuais nas tomadas de decisões sobre o
que é aplicável ou não a realidade da região a ser desenvolvida.
Os dois últimos elementos da integração de produtos universitários e desenvolvimento
regional foram extraídos dos resultados de Rolim e Serra (2009) sobre a temática. O terceiro
elemento, processo de difusão do conhecimento na região, compreendia que uma vez que os
atores participem na construção dos conhecimentos e decidam que estes são aplicáveis à
região, deverão empreender os caminhos para divulgação e compartilhamento dos
conhecimentos. Dito de outra maneira, iniciarão o processo de modificação e treinamento em
suas esferas individuais, alinhados com o propósito maior de desenvolver e manter riqueza na
região. Este produto não deveria se confundido com o produto universitário, difusão
tecnológica, uma vez que este elemento não se limitava a difundir tecnologia, mas a fornecer
o arcabouço de conhecimentos e práticas para o desenvolvimento de uma região.
O quarto elemento, utilização do conhecimento na região local, garantia que após a
consecução dos três primeiros elementos, o conhecimento seria aplicado, replicado e
consumido localmente. A ideia central desse elemento partiu do pressuposto de que difundir o
conhecimento não é mesmo que aplicá-lo, uma vez que, segundo Barney e Hesterly (2007),
no processo de mudança, há sempre resistência ao novo.
Após a experiência da qualificação e a partir da reflexão sobre as pesquisas de
Benneworth e Fitjar (2019), Atta-Owusu (2019), Secundo et al. (2017), Roessler, Duong e
Hachmeister (2015), Trencher et al. (2014), Noveli e Segato (2012), Salamzadeh,
Salamzadeh e Daraei (2011), Etzkowitz e Leydesdorff (2000), percebeu-se que articulação
estratégica e sistemas de inovação não eram novos produtos universitários, mas elementos que
deveriam fazer parte do modelo. Com base nessas reflexões, a versão 2 do modelo foi
elaborada (ver figura 21).
Na versão 2, figura 21, os produtos universitários foram agrupados segundo a
perspectiva da terceira missão universitária, com base nas dimensões de Secundo et al.
(2017), subdivididas em três categorias: educação continuada, transferência tecnológica e
inovação e desenvolvimento social.
Figura 21 – Modelo interativo do papel das universidades e centros de pesquisa para o
desenvolvimento regional (Versão 2)
Fonte: Elaboração própria (2019)
Como mostra a figura 21, os produtos de educação, pesquisa contratada e novo
conhecimento (LENDEL, 2010) foram agrupados dentro da dimensão educação continuada
(SECUNDO et al., 2017). Nesse sentido, a formação de profissionais, acordos de pesquisa
entre instituições de ensino superior com atores regionais e novo conhecimento gerado
configuram o que Secundo et al. (2017) entenderam como educação continuada, ou seja,
processo de criação e compartilhamento de conhecimento frente às demandas regionais.
A dimensão de transferência tecnológica e inovação abarcava os produtos de pesquisa
contratada, novo conhecimento, difusão tecnológica, trabalho especializado e novos produtos
e negócios. A figura acima, por meio das setas, apresenta os produtos compartilhados entre as
diferentes dimensões da terceira missão. Portanto, pesquisa contratada e novo conhecimento
eram produtos compartilhados com a perspectiva de educação continuada, assim como
trabalho especializado e novos produtos e negócios com a dimensão de desenvolvimento
social.
Por fim, a dimensão de desenvolvimento social se alcançava por meio dos produtos:
trabalho especializado, novos produtos e negócios e produtos culturais. Os profissionais
especializados colocados no mercado, produtos e negócios desenvolvidos e produtos culturais
eram responsáveis, também, pelo cumprimento da terceira missão universitária. Esses, no
entanto, só promoveriam o desenvolvimento regional caso os profissionais ficassem na região
onde foram gerados e os produtos e negócios fossem pensados visando a resolver problemas
locais.
A partir de um sistema regional de inovação, os produtos universitários promovem o
desenvolvimento regional. As setas pontilhadas saindo dos produtos universitários passavam
pelos elementos de processos logísticos, redes e articulação elaborados por Salamzadeh,
Salamzadeh e Daraei (2011). Esses elementos serviam de anteparo para condução das saídas
universitárias, sua articulação e distribuição com os atores regionais.
Foram acrescentados mais dois elementos interativos dos produtos universitários e
desenvolvimento regional. Além dos já apresentados na figura 19, ou seja: 1 – Participação
dos atores na construção do conhecimento; 2 – Geração de conhecimento aplicável à região; 3
– Processo de difusão do conhecimento na região; 4 – Utilização do conhecimento na região
local com vistas ao desenvolvimento, os elementos: 5 – Cultura empreendedora (LENDEL,
2010) e 6 – Rede empreendedora (GODDARD; ROBERTSON; VALLANCE, 2012,
SALAMZADEH; SALAMZADEH; DARAEI, 2011) foram incorporados com o intuito de
melhor compreender os produtos universitários e sua dinâmica para o desenvolvimento
regional.
O que se tornou o quinto elemento, cultura empreendedora, foi retirado do framework
de Lendel (2010), que acredita que esse elemento é essencial no processo de absorção e
transbordamento do conhecimento, e como resultado, tem um impacto positivo no processo
de desenvolvimento regional. Nesse sentido, em uma cultura empreendedora, as pessoas veem
o processo empreendedor como uma rotina e não como uma ocorrência incomum.
O sexto elemento, rede empreendedora, extraído dos estudos de Goddard Robertson e
Vallance (2012) e Salamzadeh, Salamzadeh e Daraei (2011), compreende que a cultura
empreendedora precisa estar inserida em uma rede que compartilhe recursos humanos,
pesquisas, inovação, produtos e uma estrutura que desenvolva ou melhore as condições das
regiões. Assim, a rede empreendedora, sexto elemento, assume um papel vital na garantia de
sustentação do desenvolvimento regional a partir dos sistemas regionais de inovação.
Também compreendeu-se que o modelo necessitava de interação entre os ambientes
acadêmico, empresarial e governamental, e não de integração como idealizado na primeira
versão.
Figura 22 – Modelo interativo do papel das universidades para o desenvolvimento regional (Versão 3)
Fonte: Elaboração própria (2019)
A terceira versão do modelo interativo (ver figura 22 acima) foi fruto das leituras de
Hoff, Martin e Sopeña (2011) e Hoff, Pereira e De Paula (2017). O modelo de impactos
diretos e indiretos esperados de uma instituição de ensino superior para o desenvolvimento
regional, proposto por Hoff, Martin e Sopeña (2011), apresentou melhor consistência teórica
como medidor das saídas universitárias para o desenvolvimento regional, com evidências
teóricas na literatura nacional e internacional.
A terceira versão do modelo já foi explicada no tópico 2.4.4, mas destaca-se que
articulação estratégia representou um elemento importante na condução dos esforços das
instituições de ensino superior para o desenvolvimento regional. A quarta versão do modelo,
fruto das contribuições dos sujeitos entrevistados e pertencentes às esferas acadêmicas,
empresarias e governamentais, será apresentada no capítulo sete.
Assim, a pesquisa bibliográfica que norteou esta pesquisa e, especificamente, esse
capítulo, buscou trazer maior compreensão sobre o papel das instituições de ensino superior
para o desenvolvimento das regiões onde se encontram instaladas a partir do viés de suas
saídas para a sociedade. Essas saídas, denominadas de produtos universitários, podem, de
forma isolada ou combinada, promover o desenvolvimento regional quando mediadas por um
modelo interativo que articule estrategicamente os interesses dos diferentes atores sociais por
meio de um sistema regional de inovação.
O capítulo seguinte apresenta os percursos metodológicos que deram suporte aos
desdobramentos desta pesquisa.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo apresenta os percursos metodológicos necessários para a consecução dos
objetivos deste estudo científico, assim como os procedimentos para resposta à pergunta de
pesquisa: Como a proposição de um modelo interativo que incorpore articulação estratégica e
sistemas regionais de inovação aos produtos gerados pelas instituições de ensino superior
auxilia no desenvolvimento regional?
No documento
AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO
(páginas 88-95)