• Nenhum resultado encontrado

Sistemas regionais de inovação– sri

No documento AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO (páginas 77-81)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 DESENVOLVIMENTO REGIONAL

2.4.2 Sistemas regionais de inovação– sri

Inicialmente, esse tópico apresentará a inovação de forma introdutória, para mostrar

sua relação com os sistemas de inovação. Seguindo a lógica do desempenho da inovação, os

arranjos produtivos locais serão apresentados. Em seguida, apresentar-se-ão os sistemas

setoriais de inovação e os elementos de fronteiras geográficas e tecnológicas, para então

constituir os conhecimentos sobre sistemas regionais de inovação.

A literatura da área de inovação tem afirmado que esse é um dos vetores de

competitividade e sucesso. Para Valladares, Vasconcelos e Di Serio (2014), os fatores

determinantes da capacidade de inovação estão diretamente associados à liderança

transformadora, à intenção estratégica para inovar e à gestão de pessoas para inovação.

Assim, parece que inovação e competitividade estão vinculadas em um percurso

natural. Vasconcelos e Cyrino (2000) concordam com os autores supramencionados ao

afirmar que inovação se associa às estratégias organizacionais, baseadas em processos que

fomentam a evolução da inovação.

Os processos de inovação, apesar de apresentados inicialmente de forma linear, não

estão vinculados a um padrão universalizável. Esse aspecto contingente garante a vida e

pesquisa da inovação em diferentes setores. A linearidade da inovação pela perspectiva

tecnológica a partir da visão dos desenvolvedores, pioneiramente elaborada por Bush (1945),

vislumbrava, genericamente, a pesquisa, aplicação e distribuição da inovação.

No entanto, autores como Freeman (1982, 1987), Lundavall (1992) e Malerba (1999,

2002, 2005) desafiaram esta linearidade, destacando a dinâmica das partes interessadas, mais

especificamente, os atores, no processo de geração e difusão da inovação.

Inovação ocorre em diferentes setores em termos de recursos, atores e instituições.

Essas diferenças são importantes para a compreensão de como o conhecimento, tecnologia,

atores, redes e instituições empreendem os processos de mudança e transformação por meio

da co-evolução de seus elementos. (MALERBA, 2002).

Uma das consequências naturais da inovação parte da concepção e desenvolvimento

de arranjos produtivos locais. Essas aglomerações produtivas nutrem o compartilhamento de

informações, recursos e ação conjunta de variados agentes, tornando a inovação uma questão

estratégica (MULLER et al., 2008). Os arranjos produtivos locais são conjuntos de variáveis

econômicas, políticas e sociais, centradas em um mesmo território, desenvolvendo atividades

econômicas correlatas e com conexões de produção, interação, cooperação e aprendizagem

(MYTELKA; FARINELLI, 2005).

Os arranjos produtivos locais podem evoluir para outros sistemas de inovação. A

cultura cooperativa estimulada pelos processos de aprendizagem possibilita a transferência do

conhecimento dos arranjos locais e o fomento da inovação sustentada nestes ambientes com

todas as partes interessadas (MYTELKA; FARINELLI, 2005). Nesse sentido, segundo

Malerba (2005), os aspectos analíticos que afetam os sistemas de inovação são: conhecimento

e domínio tecnológico, atores e redes e instituições. O último, no entanto, recebe o reflexo dos

atores nas práticas e rotinas institucionais.

Outra possibilidade são os sistemas setoriais de inovação, vinculados às questões

técnicas e tecnológicas geradas em seus contextos. Em outras palavras, e concordando com

Silvestre (2006), esses sistemas estão focados em um setor específico que não precisa

apresentar uma delimitação geográfica. Os sistemas de inovação, entretanto, podem

apresentar fronteiras tanto geográficas quanto tecnológicas, conforme apresentado no quadro

3.

Quadro 3 - Fronteiras, abordagens e enfoques dos sistemas de inovação

Fronteira Tipos de abordagem Enfoque

Geográfica

Regional - Supranacional O foco nas fronteiras geográficas de mais de um país (MERCOSUL, por exemplo).

Nacional O foco nas fronteiras geográficas de um país (Brasil, por exemplo).

Regional - Subnacional

O foco nas fronteiras geográficas de uma região dentro de um país (ex. Sudeste do

Brasil).

Local

O foco direcionado para as fronteiras geográficas de uma localidade (Sul

fluminense, por exemplo).

Técnica / Tecnológica Setorial

O foco em dado setor ou segmento industrial. Não apresenta delimitação

Tecnológico O foco em dada tecnologia. Não apresenta delimitação geográfica definida.

Corporativo

O foco em uma empresa ou organização. Não apresenta delimitação geográfica

definida

Fonte: Silvestre (2006)

Frente ao conceito guarda-chuva de sistemas de inovação, encontram-se os sistemas

regionais de inovação. O conceito de sistemas regionais de inovação é novo. Outros termos,

como políticas de inovação regional (ANTONELLI; MOMIGLIANO, 1981), potencial de

inovação regional (MEYER-KRAHMER, 1985), innovative milieux (AYDALOT, 1986),

políticas de tecnologia regionais (ROTHWELL; DODGSON, 1991) e redes de inovação

(CAMAGNI, 1991) apareceram antes do termo sistemas regionais de inovação, cunhado por

Cooke (1992). Os SRIs são integrantes dos sistemas de inovação e suas modulações,

conforme se observa no quadro 3.

Araújo, Dalcol e Longo (2009) afirmam que as abordagens de sistemas de inovação se

destacam por buscar entender o papel de cada ator, individualmente e em relação aos demais,

para a inovação. Ainda, possibilitam a divisão dos processos de inovação em vários níveis de

análise, conforme apresentado no quadro 3. Estas tipologias vão desde sistemas de fronteiras

geográficas (supranacional, nacional, subnacional e local) até os níveis setoriais, tecnológicos

e coorporativos da fronteira técnica e tecnológica.

É importante destacar que há divergências sobre o significado das abordagens entre os

atores em relação aos sistemas de inovação. Asheim, Grillitsch e Trippl afirmam que os

sistemas regionais de inovação “figuram proeminentemente nas discussões acadêmicas sobre

a geografia desigual da inovação e os fatores que moldam as capacidades de geração de

conhecimento e inovação das regiões” (ASHEIM; GRILLITSCH; TRIPPL, 2015, p.1). Por

essa razão, os autores alegam que os contextos locais e regionais são importantes no processo

de transferência de conhecimento. Assim, os enfoques dados por Silvestre (2006) em relação

as abordagens regional e local, conforme exposto no quadro 3, divergem de Asheim,

Grillitsch e Trippl (2015). Para o primeiro, a abordagem local se associa às fronteiras

geográficas de uma localidade, enquanto a abordagem regional às configurações de regiões e

à união de estados. Para os outros autores, região é um termo abrangente e, portanto, flexível.

A divergência, entretanto, é de entendimento conceitual. Enquanto Silvestre (2006)

fragmenta o conceito de região para o conjunto de estados alocados em determinado território,

Asheim, Grillitsch e Trippl (2015) consideram a região como um conceito mais amplo,

englobando o que Silvestre (2006) chama de local e regional.

Sistemas regionais de inovação possuem papel importante para o desenvolvimento

regional. De acordo com Martin et al. (2017) a abordagem de SRI enfatiza a interação entre os

atores locais em uma teia de interdependência, em um contexto social e institucional,

promovendo aprendizagem e inovação. Asheim, Grillitsch e Trippl (2015) salientam que, pelo

fato de as economias regionais não serem autossuficientes e serem dependentes de ligações

externas, ou seja, de outras regiões, se configuram, também, como sistemas abertos.

Asheim, Grillitsch e Trippl (2015) enfatizam a importância da proximidade geográfica

para a transferência de conhecimento e, portanto, para a aprendizagem. Esses elementos,

segundo os autores, legitimam os sistemas regionais de inovação por meio de ações

coordenadas entre organizações (firmas) e governo. Ainda, citam outros elementos adicionais

(indústria, pesquisa e desenvolvimento, entre outros), denominando-os de organizações de

suporte. As universidades, não diretamente citadas pelos autores, são mais do que

organizações de suporte e constituem outro elemento junto às organizações (firmas) e

governo, conforme apresentado no tópico 2.2, com o modelo de hélice tripla.

Ainda sobre a distância entre os atores para a geração de conhecimento, a literatura

apresenta evidências da necessidade de proximidade para a transferência de conhecimento,

uma vez que conhecimento, por ser parcialmente tácito, é de difícil disseminação pela

distância (POLANYI, 1958). Nesse sentido, proximidade fomenta o desenvolvimento

necessário para a resolução de questões locais (ASHEIM; GRILLITSCH; TRIPPL, 2015),

associado à contingência de não replicação em contextos diferentes. Assim, baseado na

literatura até aqui apresentada, pode-se afirmar que universidades engajadas com

organizações (firmas) e governo para questões regionais apresentam grande potencial para o

desenvolvimento regional.

Esta tese concorda com o conceito de região defendido por Asheim, Grillitsch e Trippl

(2015), assim como o de Cooke, Uranga e Etxebarria (1998), que afirmam que região é uma

evolução administrativa e cultural.

Um dos elementos para o sucesso de sistemas regionais de inovação é a capacidade de

articulação entre os atores regionais. Nesse sentido, o tópico de articulação estratégica será

apresentado em seguida.

No documento AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO (páginas 77-81)