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UNIVERSIDADES E REGIÃO

No documento AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO (páginas 30-34)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 UNIVERSIDADES E REGIÃO

As universidades são instituições de importância para o desenvolvimento regional. A

afirmação anterior parte, segundo Rolim e Serra (2009), da necessidade de se criarem projetos

políticos de desenvolvimento articulados entre as universidades, berço das inovações

tecnológicas (LENDEL, 2010) e do conhecimento (ROLIM; SERRA, 2009), e os diferentes

atores sociais. No entanto, antes de debater essas confluências, é necessário compreender as

universidades a partir de seus diferentes modelos de atuação, descritos nos parágrafos

seguintes.

As universidades podem ser observadas a partir de diferentes vieses. Segundo a visão

humboldtiana, impulsionada depois da segunda guerra mundial, a universidade tinha o

propósito de combinar educação e investigação (AROCENA, 2018). Ainda, segundo

Waizbort (2005), para que este modelo seja propulsado, a universidade deverá se encontrar

livre das influências do mercado, política e religião. Recorrendo a Arocena (2018), caso a

liberdade da universidade ocorra, essa estaria preocupada com investigações limitadas ao que

acontece no interior das universidades. A proposta humboldtiana se contrapõe à ideia de

universidades com papel protagonista para o desenvolvimento regional (ROLIM; SERRA,

2009).

Outro viés das universidades é proposto pelo modelo estadunidense. Esse modelo se

fundamenta na contramão da proposta humboldtiana, ou seja, se orienta a partir da lógica do

mercado (WAIZBORT, 2005). Portanto, o foco principal desse modelo é a especialização

para formação de profissionais que sejam úteis ao mercado. O Brasil passa a adotar esse

modelo a partir da metade do século XX, formando especialistas de acordo com as

necessidades dos seus patrocinadores (WAIZBORT, 2005).

O último viés, predominante na atualidade, seria o de instituições de ensino superior.

Waizbort (2005) não classifica essas instituições como universidades, mas como instituições

que se contaminaram pelo que denominou de capitalismo acadêmico. Em outras palavras, são

marcadas por nenhuma preocupação com a formação, pouca ênfase na especialização e

grande foco na diplomação com vistas ao lucro.

Figura 2 – Foco das universidades ao longo do tempo

Universidade moderna

(século XIX)

Formação

(personalidade)

(Almeja a)

Diferenciação interior

“Forma”

(poucos)

Universidades

pós-modernas (ou universidade

moderna II)

(século XX)

Especialização

(Weber:

“humanidade

profissional”

(Responde a)

Diferenciação exterior

(diferenciação social

funcional, mercado)

“Especializa”

(alguns)

Instituição de ensino

superior (não convém

denominar universidade)

(século XXI)

Diplomação

(não forma nem

especializa)

(Responde a)

indiferenciação

diferenciada exterior

(diferenciação social

funcional, mercado)

“Diploma”

(muitos)

Fonte: Waizbort (2015, p.54).

A figura 2 resume o que foi discutido até o momento, mostrando a evolução do foco

das universidades ao longo do tempo. Segundo Waizbort (2015), em um primeiro momento, a

partir do século XIX, as universidades, mobilizadas pelo modelo humboldtiano, se preocupam

com o desenvolvimento discente, com vistas à formação, ou seja, desenvolver a personalidade

e fortalecer a cultura. Nesse aspecto, as universidades formavam poucos, primeiro porque o

acesso aos seus portões estava reservado a uma minoria e segundo porque estava envolto

pelos princípios da meritocracia. Em um segundo momento, no século XX, as universidades

começam a sofrer pressão externa do mercado, abandonando gradativamente os princípios de

formação e transformando-se em um ambiente de cultivo aos especialistas. Esses ideais,

balizados pelas contribuições de Max Weber, partem da ideia da “ciência como profissão”.

Assim, atendendo os interesses da utilidade universitária, empreende-se a perspectiva de

especialização. A partir do século XXI, surge um novo conceito que não se configura como

universidade, mas como instituições de ensino superior. Nessa categoria, o ensino superior

busca atender as aspirações de consumo, oferecendo mais diploma do que educação. Segundo

o autor, o anseio pelo diploma, é, na verdade, a busca por empregabilidade e vantagem

competitiva, movida pelas múltiplas formas de distinção social e motivação para consumo.

Na atualidade, as universidades têm ampliado seu portfólio disciplinar. Segundo Frank

e Meyer (2007), as universidades expandiram suas disciplinas para aglutinar esquemas

detalhados sobre a natureza, sociedade e diversas perspectivas de interesses inerentes à

academia. Nesse sentido, parece que, atualmente, prevalece uma universidade que tenta se

desapegar do modelo humboldtiano, mas sem imergir totalmente no modelo estadunidense.

Em termos de contribuições das universidades para o desenvolvimento regional, o

modelo estadunidense apresenta as características necessárias para seu fomento. Dito de outra

maneira, esse modelo proporciona uma universidade vinculada aos interesses do mercado,

uma vez que esse, de forma direta ou indireta, a financia. Nesse sentido, as saídas (produtos)

das universidades deveriam contribuir para o desenvolvimento regional. No entanto, as

universidades devem apenas se preocupar com o desenvolvimento das regiões onde estão

inseridas? Frank e Meyer (2007) argumentam que as universidades não organizam estudantes

e materiais culturais em torno da produção eficiente, mas sim em torno de realidades que

transcendem as dinâmicas locais, mantendo-se, portanto, distante de quaisquer

particularidades concretas. Inferindo sobre as argumentações dos autores, as universidades

assumem um papel coadjuvante em relação às dinâmicas regionais e permanecem, em muitos

casos, indiferentes as realidades concretas do ambiente onde se encontram.

As universidades devem assumir liderança no fomento do desenvolvimento regional.

Essa argumentação parte não apenas do resultado das pesquisas de Rolim e Serra (2009) sobre

a importância das universidades para o desenvolvimento regional, mas principalmente do que

foi descrito por Garcia e Rolim (2012) a respeito do conceito de área de influência territorial.

Segundo os autores, a área de influência territorial de uma universidade pode ser um de vários

indicadores da sua relevância enquanto instituição de ensino superior.

As universidades, no entanto, têm mudado bastante suas frentes de atuação e seu

posicionamento social. Segundo Frank e Meyer (2007), essas mudanças são frutos de cinco

fatores modificados pelas universidades nas últimas décadas, a saber: 1 – Aumento do número

de universidades mundialmente; 2 – Aumento de matrículas de alunos; 3 – Variáveis

tradicionais necessárias na educação superior, como diferenciação social e desenvolvimento,

não são mais preditoras da expansão das universidades; 4 – Os materiais culturais

incorporados às universidades mudaram drasticamente (muitas ofertas de cursos em diferentes

áreas do conhecimento); e 5 – As estruturas das universidades se desenvolveram com

dinâmicas gerenciais mais profissionalizadas. Diante do exposto, percebe-se que, frente a

tantas mudanças, as universidades se encontram desvinculadas de comunicação com os atores

regionais, uma vez que estão buscando compreender e atualizar suas próprias mudanças.

Figura 3 – Influências de modelos estrangeiros na universidade brasileira

Fonte: Costa (2017).

Frente a esse panorama, a figura 3 apresenta os modelos das universidades brasileiras,

lócus dessa pesquisa. Nessa figura, percebe-se que a universidade brasileira tem sido

influenciada por todos os modelos universitários apresentados nesse tópico. A ideia da figura

parte das interações de Costa (2017) sobre os escritos de Waizbort (2015). Em um primeiro

momento, o modelo francês, relacionado aos ideais de especialização, marcou as

universidades brasileiras até o início do século XX. Em seguida, o modelo alemão,

humboldtiano, segregado de influências externas, com grande sentimento de liberdade, perfila

as universidades no território brasileiro até a década de 1970. E, na junção do modelo francês

e alemão, aglutina-se o modelo estadunidense, que define as características das universidades

brasileiras na atualidade. Esse modelo, incorporado na maioria das universidades brasileiras,

está orientando a lógica da eficiência do mercado, ou seja, integração da educação superior

com a economia.

O modelo de operacionalização das universidades brasileiras não se distancia dos

modelos internacionais. Balizadas pelo modelo estadunidense, como mostra a figura 3, as

universidades brasileiras apresentam os elementos necessários para o desenvolvimento

regional – ou pelo menos caminham nesta direção. Sabendo que as universidades são terrenos

férteis para contribuições regionais, apresentam-se a seguir as inter-relações das universidades

com os atores regionais no cumprimento de sua terceira missão.

No documento AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO (páginas 30-34)