2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.3 PRODUTOS UNIVERSITÁRIOS
O conceito de produtos universitários evoluiu ao longo do tempo. De forma ampla, o
conceito afirma que os produtos universitários são todas as saídas geradas pela universidade
(LENDEL, 2010). No entanto, Goldstein, Maier e Luger (1995) iniciaram a discussão, criando
um modelo de saídas universitárias que impactam as economias. O modelo, apesar de
simplista, contém duas variáveis de produtos que incluem trabalho especializado e novo
conhecimento.
Goldstein e Renault (2004) operacionalizaram o modelo em um quase experimento e
identificaram estatisticamente uma positiva significância dos impactos do trabalho
especializado e novo conhecimento, gerados pelas universidades, nas economias regionais.
Educação superior, segundo Hill e Lendel (2007), é uma indústria de multi-produtos.
Nesse sentido, ao pesquisar os produtos identificados por Goldstein, Maier e Luger (1995),
Lendel (2010) enumera outros cinco produtos, elencando um total de sete produtos distintos, a
saber: educação, pesquisas contratadas, trabalho especializado, difusão tecnológica, novo
conhecimento, novos produtos e negócios e produtos culturais. Lendel (2010) incorpora a
esses produtos sete elementos de economias baseadas em tecnologia de Berglund e Clarke
(2000): trabalho especializado, infraestrutura intelectual, transbordamento de conhecimento,
capital, infraestrutura física, cultura empreendedora e qualidade de vida, apresentando o
modelo de interação de produtos universitários com as variáveis apresentadas dispostas na
figura 8.
A figura 8 mostra o framework proposto por Lendel (2010), incorporando os produtos
universitários aos elementos econômicos baseados em tecnologia de Berglund e Clarke
(2000), partindo da hipótese de que os produtos universitários têm um nicho específico e
podem desenvolver a região e ser vendidos, gerando receitas localmente. Segundo a autora,
essa é uma decisão da universidade, ou seja, a universidade deve deliberar quais produtos
serão produzidos e/ou vendidos.
Figura 8 - Interação de produtos universitários com elementos de economias baseadas em tecnologia
Fonte: Lendel (2010)
A figura acima mostra as relações entre os construtos. Para essa tese, destacam-se os
produtos universitários como mediadores do desenvolvimento regional a partir de pesquisa e
difusão da tecnologia e de infraestrutura intelectual e física. Dito de outra forma, Lendel
(2010) sugere que, para compreender o desempenho econômico de uma região, a pesquisa
universitária deve ser considerada em conjunto com os produtos universitários, pesquisas
industriais e transbordamento de conhecimento.
Em tempo, percebe-se que o framework apresenta algumas repetições em sua
idealização. Os elementos econômicos baseados em tecnologia de Berglund e Clarke (2000)
se assemelham a vários produtos universitários propostos por Lendel (2010), a saber: skilled
workforce é o produto de trabalho especializado, intellectual infrastructure é possibilitado
pelo produto educação, knowledge spillover é produzido pelo produto novo conhecimento,
ainda que as universidades não sejam as únicas a produzir conhecimento, entrepreneurial
culture é possibilitado, mas não limitado à saída universitária de novos produtos e negócios.
Assim, o framework proposto pela autora apresenta algumas fragilidades na dinâmica
de compreensão de como os produtos universitários contribuem para o desenvolvimento
regional. Mediante esta constatação, esta tese tem como objetivo propor um modelo interativo
do papel das universidades para o desenvolvimento regional. Antes, serão apresentados os
conceitos e características dos produtos universitários propostos por Lendel (2010).
2.3.1 Educação
Educação se configura como um dos principais produtos das instituições de ensino
superior. As universidades foram criadas com o propósito de compartilhar conhecimento
(ZABALZA, 2004). Esse ideal inicial foi se transformando e as universidades começaram a se
preocupar menos com a formação e focaram na especialização de seu corpo discente
(WAIZBORT, 2015), em outras palavras, na construção de profissionais capazes de exercer
suas profissões na sociedade. Ainda, segundo o autor, há uma involução de especialização
para diplomação, ou seja, uma mudança de paradigma onde a preocupação de algumas
universidades passou de formar profissionais para apenas conferir diplomas que pouco
contribuem para o desenvolvimento pessoal e social (WAIZBORT, 2015).
O produto mais básico gerado pelas universidades é o conhecimento traduzido em
educação ou, como dito por Zabalza (2004), processo de aprendizagem que perpassa a
mudança de ideias e práticas dos sujeitos envolvidos. Nesse aspecto, essa dimensão se
relaciona com a formação discente, tanto na graduação quanto na pós-graduação, que será
absorvida pelo mercado regional (CHIARELLO, 2015; RODRIGUES, 2011). Assim, os
cursos ofertados pelas universidades se traduzem em necessidade da região ou mera
deliberação universitária?
A resposta para a pergunta anterior não é fácil e nem simples, entretanto, percebe-se
que as comunicações entre universidades e sociedade por meio dos órgãos mediadores, a
saber, institutos de pesquisa, prefeituras, governo do estado e suas diversas secretarias são
incipientes. Nesse sentido, os cursos criados são empreendimentos fomentados pelo desejo de
uma parcela pequena de pessoas com interesses individualistas. Essa afirmativa é baseada na
observação de vários cursos desconexos da realidade em que estão instalados, ou seja,
inexistência de empregos na região onde foram ofertados, ou cursos de origem interdisciplinar
com atuação profissional ambígua (para a academia e a sociedade), sem contribuições
específicas para o desenvolvimento em qualquer de suas possibilidades (local, regional,
nacional e internacional). Portanto, parece que os cursos ofertados pelas universidades
seguem a lógica da usabilidade para os cursos de licenciatura, da utilidade para os de aptidões
técnicas (bacharelados) e das vaidades acadêmicas e suas deliberações que surgem no campo
das ideias, mas não têm aplicações coerentes com as necessidades da sociedade, ainda que
essa crítica seja usada como justificativa para suas criações nos planos de cursos submetidos
ao Ministério da Educação.
Educação, no entanto, é o produto universitário mais reconhecido pela sociedade.
Educação é o produto que a sociedade não tem dúvidas que é gerado pelas universidades
(CHIARELLO, 2015). A questão mais significativa é a qualidade desse produto, como ele é
entregue à sociedade. Esse produto se fundamenta no tripé determinado pelo Ministério da
Educação: ensino, pesquisa e extensão (OLIVEIRA; DEPONTI, 2015). O primeiro
corresponde a questões teóricas, concepções e contemplações sobre a realidade. O segundo se
preocupa com a aplicação, teste e reformulação das teorias. O terceiro representa a busca por
contribuir e interagir com o meio social (OLIVEIRA; DEPONTI, 2015). Na realidade,
traduz-se em uma tentativa de traduz-se criar pontes que confluam os ideais da universidade com as
necessidades da sociedade.
O produto educação pode ser desmembrado em graduação e pós-graduação. A
graduação possui os ideais de formação de profissionais que supram as necessidades da
sociedade (AUDY, 2017). Nesse sentido, as universidades devem planejar suas ofertas de
cursos em consonância com as dinâmicas da região onde se encontram (PARABONI;
RODRIGUES; SERRANO, 2014). Diante do exposto, o produto educação representa uma
posição ativa da universidade frente à região, e pode, com o devido planejamento, atender as
demandas regionais (LENDEL, 2010). A questão primordial é que as universidades têm a
pretensão de atender a critérios universalistas, ou seja, criar conhecimento que seja,
preferencialmente, difundido pelo planeta (ZABALZA, 2004). A pós-graduação se
desmembra em lato e stricto sensu. A pós-graduação lato sensu é mais generalista e busca
aprofundar os estudos em uma área do conhecimento específica. Essa pós-graduação se
destina a atender as necessidades de profissionais que atuam no mercado, exercendo as
profissões fins para as quais foram formados. A pós-graduação stricto sensu é mais específica
e se desdobra em mestrados e doutorados e suas possíveis modalidades (acadêmicos e
profissionais). Pela própria estratificação, entende-se que os cursos profissionais se destinam a
atender as demandas do mercado, enquanto os acadêmicos buscam atender as demandas das
universidades. A questão que se levanta nesta classificação é por que os interesses do mercado
são diferentes dos interesses da academia? Não são os cursos profissionais, em sua grande
maioria, sustentados pelas mesmas instituições que ofertam as modalidades acadêmicas? Essa
realidade nos oferece subsídio para perceber que o produto educação pode ser comprometido
pelos interesses distintos das universidades e do mercado. Nesse sentido, para que uma região
se desenvolva a partir desse produto, é vital que a universidade e os diferentes atores sociais
possam se comunicar e acordar estratégias que possam beneficiar a região a partir desse
produto.
2.3.2 Pesquisas contratadas
As instituições de ensino superior são fundamentadas no tripé ensino, pesquisa e
extensão. A pesquisa se destina a explorar no campo prático evidências teóricas (STEPHENS
et al., 2012). É no processo de intersecção entre estas três dimensões que as universidades
geram os conhecimentos que são compartilhados com a sociedade e que possuem potencial de
desenvolvimento (LOOY et al., 2011). A pesquisa engloba a atenção às necessidades de
avanço das teorias, mas, também, contribui com benefícios práticos (STAL; FUJINO, 2016)
nos ambientes onde estão inseridas. Em outras palavras, a cooperação do conhecimento
gerado nas universidades para desenvolvimento do meio social.
Não é incomum que empresas privadas e públicas mantenham acordos tácitos com as
universidades (GOLDSTEIN; DRUCKER, 2006). Nesse sentido, muitos desafios
organizacionais são trazidos para averiguação do trabalho especializado dos que compõem as
cátedras das universidades (KITAGAWA, 2004). Esses podem ser representados por acordos
de cooperação local, com o objetivo de estabelecer vantagem competitiva ou assegurar que o
mercado existente seja controlado (LENDEL, 2010). Convênios, como forma de estimular o
fomento e compartilhamento de conhecimento, em geral, técnico (ROLIM, SERRA, 2009) é o
tipo de acordo mais comum. Políticas de treinamento para necessidades regionais, com
oferecimento de cursos que visem atender demandas reprimidas da região (CAMATTA et al.,
2012), também é uma possibilidade recorrente. Portanto, de que forma as pesquisas
contratadas por outras organizações com a universidade promovem ações específicas para o
mercado regional?
As pesquisas contratadas são movimentos de órgãos externos em direção às
universidades, buscando, em parceria, encontrar soluções para problemas complexos. Nesse
sentido, percebe-se que as universidades, geralmente, são contatadas por empresas
multinacionais, em sua maioria do ramo de tecnologia, que buscam encontrar soluções para
seus desafios por meio de mão de obra especializada e relativamente barata, disponível nos
câmpus universitários. Assim, a menos que estas empresas se encontrem na região das
universidades contratadas, muito pouco é deixado na economia local, haja vista que os
pagamentos pelos trabalhos são realizados por meio de investimentos em laboratórios, com o
objetivo de criar um ambiente para fomentar, ainda mais, o produto educação, e para
promover o trabalho especializado, descrito a seguir, sem garantias de que o mesmo
permaneça na região.
O produto pesquisa contratada em si já é paradoxal. A afirmativa anterior é real
porque parte do pressuposto de que o produto „pesquisa contratada‟ gera potencial de
desenvolvimento da região. Ora, por pesquisa contratada entende-se acordos e/ou contratos
entre empresas públicas e/ou privadas com as universidades (LENDEL, 2010). Afirmar que as
pesquisas contratadas geram desenvolvimento é admitir que as demais pesquisas
empreendidas pelas universidades não geram. As observações de autores como Rolim e Serra
(2009), Bandeira e Novo (2011), Hoff, Martin e Sopeña (2011), Camatta et al (2012), Ferreira
e Leopoldi (2013), Chiarello (2015), Oliveira e Deponti (2015) e Audy (2017) apontam para o
entendimento que os interesses das universidades e da sociedade nem sempre se harmonizam
e, por mera deliberação individual, as universidades decidem pesquisar o que querem, sem
nenhuma preocupação com a utilidade do conhecimento gerado.
As pesquisas contratadas não são comuns no Brasil. Em países mais desenvolvidos, a
pesquisa universitária é financiada pelo setor privado (LENDEL, 2010). Nesse sentido,
aplicações práticas e contribuições para o desenvolvimento são esperados dos resultados
(PUGH et al., 2016). No Brasil, a grande maioria das empresas se mantém distante dos
benefícios que as universidades podem proporcionar por meio das pesquisas especializadas
(OLIVEIRA; DEPONTI, 2015). Em outras palavras, as organizações contratantes procuram
as universidades com o propósito de resolver problemas que não puderam ser resolvidos no
ambiente interno. A maioria das pesquisas contratadas no Brasil são empreendidas ou por
órgãos públicos que, a partir de editais, fazem chamadas para temáticas específicas, vistas por
esses como vitais para o desenvolvimento de uma região, ou por empresas do setor privado,
em busca de soluções para problemas reais relacionados às suas práticas.
Na esfera pública, as temáticas selecionadas para o desenvolvimento a partir dos
editais também constituem uma decisão unilateral dos órgãos ofertantes, uma vez que essas
necessidades não são debatidas nem com as universidades, nem com os demais membros da
sociedade. As empresas privadas que buscam nas universidades possíveis soluções para
problemas pontuais são, em sua maioria, multinacionais instaladas em territórios distantes das
universidades. Dessa forma, a contribuição para o desenvolvimento regional é muito
incipiente, ou até mesmo inexistente.
As pesquisas contratadas têm o potencial para desenvolver as economias regionais. Se
os acordos de cooperação são feitos na região das universidades, então os produtos gerados
pelas pesquisas especializadas desenvolvem a economia regional (GUERRINI; OLIVEIRA,
2016). Esses acordos têm como principal objetivo levar as empresas contratantes a vantagem
ou mantê-las competitivas (LIMA; PINHEIRO; PASQUALETTO, 2015). Outra possibilidade
é a criação de convênios com o objetivo de estimular o compartilhamento dos resultados das
pesquisas na região (CHIARELLO, 2015). Esses acordos geralmente são estimulados por
agências mediadoras, que buscam fomentar o conhecimento na região, especificamente, as
federações industriais, órgãos de apoio aos empresários, institutos de fomento de pesquisas e
o próprio governo federal, por meio de seus ministérios e bancos, com linhas de
financiamento destinadas à resolução de desafios regionais (GUERRINI; OLIVEIRA, 2016;
BENNEWORTH; YOUNG; NORMANN, 2017).
2.3.3 Trabalho especializado
O trabalho especializado se confunde com o produto educação, já que ambos são
relacionados a formação. Educação, no entanto, é um produto mais amplo, vinculado com a
gênese das universidades, quando a meta era formação (ZABALZA, 2004). Com o tempo, as
universidades focaram mais em especialização e menos em formação (ORTEGA Y GASSET,
1999).
Especialização é profissionalização. Os cursos do nível superior têm como objetivo
último profissionalizar, ou seja, ensinar uma profissão para os que procuram os
conhecimentos dessas instituições de ensino (ORTEGA Y GASSET, 1999; WAIZBORT,
2015). O processo de profissionalização é complexo e passa por critérios subjetivos de
aprendizagem (TANCREDI, 2009). Esses processos, viabilizados de forma vanguardistas
pelas universidades, fomentam o desenvolvimento local, regional, nacional e internacional
(LENDEL, 2010). Essas ramificações são abrangentes, porque dificilmente as universidades
conseguem compreender o alcance de sua influência. Nesse sentido, a boa especialização dos
profissionais promove o fomento do conhecimento mas, principalmente, esse conhecimento é
compartilhado para atender as demandas da sociedade (GOLDSTEIN; MAIER; LUGER,
1995).
A formação de discentes pelas universidades entrega ao mercado profissionais
especializados nas diferentes áreas do conhecimento (CALDARELLI; CAMARA;
PERDIÇÃO, 2015). Destarte, o mercado local pode se beneficiar com a especialização
promovida pelas universidades (LENDEL, 2010). Esse produto se confunde com o produto
educação, haja vista que o mercado local só absorve trabalho especializado que seja útil para
o desenvolvimento da região. A motivação dessa pesquisa em relação a esse produto é
compreender se o trabalho especializado gerado pelas universidades permanece na região ou
se é transferido para outros territórios.
A migração de mão de obra especializada para outros territórios é cada vez mais
frequente. Esse movimento está majoritariamente relacionado às oportunidades de emprego,
nem sempre disponíveis na região onde o trabalho especializado foi gerado. Nesse sentido,
mapear os egressos universitários e entender como as universidades promovem o
desenvolvimento regional a partir do trabalho especializado deveria ser preocupação das
esferas estratégicas universitárias. No entanto, poucas são as universidades que empreendem
planos de mapeamento e monitoramento de seus egressos.
O trabalho especializado deve atender as necessidades sociais. O planejamento das
universidades, junto aos órgãos públicos e privados, em relação ao trabalho especializado,
precisa se harmonizar para que as necessidades da sociedade sejam atendidas (PUGH et al.,
2016). Assim, por exemplo, formar muitos advogados, que não podem ser absorvidos pelo
mercado devido à saturação da profissão, não promove benefícios de desenvolvimento pelo
produto trabalho especializado. Em outras palavras, as universidades precisam especializar o
que de fato é escasso no mercado (GUERRINI; OLIVEIRA, 2016). Especializar por mero
devaneio e interesse egoísta, seja do indivíduo ou da universidade, é desperdício de tempo e
dinheiro.
Trabalho especializado deve se associar à qualidade da formação. Esse aspecto pode
ser comparado a uma faca de dois cortes. Primeiro, as universidades precisam viabilizar
educadores com vasto conhecimento nas áreas de especialização e didática adequada para
compartilhamento dos conhecimentos (ZABALZA, 2004). Segundo, os alunos precisam de
um cabedal de conhecimentos internos que promovam a internalização destes conhecimentos
(CALDARELLI; CAMARA; PERDIGÃO, 2015). Desse modo, a qualidade da especialização
do trabalho promovido só poderá ser garantida a partir dos esforços dos corpos docentes e
discentes.
2.3.4 Difusão tecnológica
Difusão tecnológica é o compartilhamento e uso de novas tecnologias. As instituições
de ensino superior são palco de produção de tecnologias (AUDY, 2017). Por tecnologia,
entende-se qualquer produto produzido pela ciência (TIDD; BESSANT; BESSANT, 2008).
Como cerne de grandes descobertas, tanto no campo prático como teórico, as universidades se
configuram como o motor propulsor de novas descobertas (GUERRINI; OLIVEIRA, 2016).
Essas descobertas, isoladamente, não produzem os efeitos multiplicadores necessários para o
desenvolvimento, daí a importância de difundir a tecnologia.
Difusão é o processo pelo qual uma inovação é comunicada por meio de certos canais
e ao longo do tempo, entre os membros de um sistema social. A característica mais marcante
da teoria da difusão é que, para a maioria dos membros de um sistema social, a decisão de
inovação depende muito das decisões de inovação dos outros membros do sistema (GOMES,
2007). A decisão de inovação é feita por meio de uma análise custo-benefício em que o
principal obstáculo é a incerteza (STEFANOVITZ; NAGANO, 2014; ROBERTS;
GRABOWSKI, 2004). As pessoas vão adotar uma inovação se acreditam que, em todas as
circunstâncias, melhorará sua utilidade (ANDRADE; FACÓ, 2018; DOUGHERTY, 2004).
Portanto, eles devem acreditar que a inovação pode render alguma vantagem em relação à
ideia que ela substitui (DOUGHERTY, 2004).
Gerar tecnologia não é o mesmo que difundi-la (ALLISON; EVERSOLE, 2008). A
pesquisa universitária tem como preocupação gerar novas tecnologias e/ou adaptá-las. No
entanto, muito pouco é feito para compartilhar este conhecimento (BENEVIDES;
BRESCIANI; SANTOS JUNIOR, 2016). Parece que os produtos tecnológicos são gerados
para consumo da própria academia (ZABALZA, 2004), como se os acadêmicos estivessem
mais preocupados com a validação de suas descobertas por seus pares do que necessariamente
com a difusão de seus achados para consumo regional. Assim, a pergunta que guiará esse
produto universitário é como a difusão da tecnologia contribui para o incremento das saídas
regionais (empregabilidade e produtividade)?
A questão primordial é como as universidades difundem seus conhecimentos e de que
forma esses conhecimentos possibilitam empregabilidade e incremento da produtividade. A
universidade e os praticantes coexistem, mas quase nunca cooperam. Os praticantes acreditam
que não precisam da academia, e os interesses acadêmicos nem sempre se coadunam com os
interesses dos praticantes. A linguagem utilizada pela academia é estrangeira aos praticantes
e, portanto, a difusão das tecnologias nem sempre alcança seus possíveis beneficiários. Nesse
sentido, a comunicação para a difusão é comprometida pela linguagem e pelo senso de
independência que os envolvidos possuem.
Os mecanismos de difusão formam a base para considerar quais os esforços que são
mais bem-sucedidos no incentivo à disseminação de uma inovação. Costumava-se supor que
os meios de comunicação de massa têm efeitos diretos, imediatos e poderosos sobre o público
em massa, mas a teoria da difusão argumenta que, uma vez que os líderes de opinião afetam
diretamente a inclinação de uma inovação, uma poderosa maneira de os agentes de mudança
influenciarem a difusão de uma inovação é pelas atitudes dos líderes de opinião (BADAWY,
1993).
O efeito mais poderoso da mídia de massa sobre a difusão é que ela dissemina
rapidamente o conhecimento das inovações para uma grande audiência. Persuadir os líderes
de opinião é a maneira mais fácil de fomentar atitudes positivas em relação a uma inovação
(LENDEL, 2010). Mattos e Guimarães (2005) explicam que os tipos de líderes de opinião que
os agentes de mudança devem buscar dependem da natureza do sistema social.
Rogers (1968) elenca quatro elementos essenciais para o sucesso da difusão da
inovação, a saber: 1 – Inovação; 2 – Canais de comunicação; 3 – Tempo; e 4 – Sistema social.
Para o autor, a inovação é expresa por conhecimento, persuasão ou decisão. Assim,
corresponde a algo novo, ou assim percebido. Essas inovações, portanto, são compartilhadas e
difundidas pelos membros do sistema social em um determinado tempo. O que Rogers (1968)
argumenta em relação a difusão da inovação, ou tecnológica, como posto por Lendel (2010), é
o que Malerba (1999, 2002, 2005) fundamenta com os sistemas de inovação, onde as
interatividades entre os atores do sistemas influencia e fomenta a difusão do conhecimento.
2.3.5 Novo conhecimento
Novo conhecimento é produto principal das pesquisas empreendidas pelas instituições
de ensino superior. A pesquisa faz parte do tripé universitário, em conjunto com ensino e
extensão (WAIZBORT, 2015). Por meio das pesquisas, as universidades contribuem teórica,
prática e metodologicamente para o avanço da ciência (ZABALZA, 2004). Por meio do novo
conhecimento gerado pelas universidades, é possível compreender as contribuições que essas
têm para o desenvolvimento regional.
Além do novo conhecimento, as instituições de ensino superior promovem a
infraestrutura do conhecimento. Esta infraestrutura é balizada pela criatividade universitária
ao buscar respostas para questões problemas de cunho científico, o que aumenta a capacidade
No documento
AUGUSTO FERREIRA RAMOS FILHO
(páginas 45-59)