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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Revista de Direito Público (páginas 48-54)

Tânia Lobo Muniz

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei nº 13.303/2016 pode ser vista como mais um mecanismo de monitoramento e combate à improbidade administrativa e corrupção, aliado ao controle administrativo já existente. O novo regramento vem tentar dar respaldo às dificuldades práticas enfrentadas no que tange à atuação das empresas públicas e sociedades de economia mista no mercado.

26 Ibidem. p.5.

27 FEIJÓ, Ricardo de Paula. O Procedimento da Licitação na Lei 13.303/2016. Justen, Pereira, Oliveira & Talamini Advogados, 2016. Disponível em: <www.justen.com.br/informativo>. Acesso em: 10 de Junho de 2019. p.12.

De todo o exposto constata-se que mesmo com a criação da Lei das Estatais resta pontuar a existência de submissão, ainda que de forma mitigada, destas ao regime jurídico- administrativo, vez que as empresas estatais continuam integrando a Administração Pública Indireta e, por conseguinte, sujeitas aos princípios e regras a ela inerentes.

Mais do que isso, a nova Lei das Estatais reforça a importância destas em cumprir sua função social, qual seja, a realização do interesse coletivo ou de atendimento a imperativo da segurança nacional expressa no instrumento de autorização legal para sua criação. Desta forma, intensifica a importância das empresas estatais vislumbrarem o interesse público primário que justificou as suas criações, pari passu ao fim secundário de gerar lucro e desenvolvimento ao Estado.

Ponto mais controverso sobre o tema é a respeito da efetividade da Lei nº 13.303/2016 como mecanismo para inibir a prática de atos de improbidade e corrupção. Inúmeras críticas são lançadas pela doutrina, a começar pelo fato de a lei ter de inovadora apenas a questão de positivar práticas esperadas nas relações empresariais.

A Lei das Estatais pode ser considerada como mais uma tentativa de melhorar os hábitos empresariais, buscando a conscientização pela busca da integridade corporativa e prática de mecanismos capazes de prevenir, detectar e sanar eventuais corrupções e fraudes. De certo, a efetividade da lei criada está intrinsicamente relacionada a capacidade dos indivíduos de gerirem a coisa pública para o atendimento do interesse público.

Disseminação e incorporação entre todos os empregados da estatal das regras e condições de controle esperadas e exigíveis. Isso parece ser simples, mas a dificuldade de implantação transcende os problemas relativos à probidade administrativa, tendo em vista que conforme visto muitos dos dispositivos previstos na Lei nº 13.303/2016 já eram práticas previstas no ordenamento brasileiro que foram ratificadas com a Lei das Estatais.

Nesse ínterim, de todo o exposto aufere-se que os problemas de corrupção, fraudes e evasões fiscais em diversas empresas estatais, prejuízos e colapsos financeiros não são resultados da falta de governança corporativa ou de controles em si, visto que conforme analisado neste estudo, os controles sempre existiram e não vieram à tona apenas com a Lei das Estatais em 2016. A solução vai além da criação de regras de compliance ou substituição de executivos, sendo preciso alterar a concepção de o próprio ser humano sobre sucesso, governança e liderança.

De certo, é mister a realização de soluções de curto prazo e de fato se a Lei nº 13.303/2016 tiver sua aplicabilidade e eficácia total grande parte dos problemas estariam sanados. Contudo, é preciso pensar que essa cultura enraizada no Brasil só será superada com ações voltadas para a implementação de uma educação conscientizadora com valores éticos e morais.

Ademais, o Brasil é um país bastante heterogêneo em sua estrutura, o que traz dificuldades no atendimento integral das regras impostas pela nova lei por todas as empresas públicas e sociedades de economia mista nas esferas federal, estadual e municipal. Como visto, as estatais vivem diferentes momentos de amadurecimento e estruturação de governança o que pode prejudicar a concretização da Lei nº 13.303/2016 e em outros casos, a própria gestão das empresas.

Finalizando, resta pontuar que o presente trabalho não exaure o estudo acerca do tema, tendo em vista que o regramento ainda é recente e que poderão surgir muitas outras questões no decorrer de sua utilização que reclamam maiores debates e reflexões, com o amadurecimento dos agentes envolvidos. Uma conclusão se o saldo da implantação da Lei 13.303/2016 será positivo só o tempo poderá trazer.

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CONTRATO DE CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS: UMA ANÁLISE

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