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Efeitos prospectivos

No documento Revista de Direito Público (páginas 118-121)

Rodrigo Cunha Chueir

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E A MODULAÇÃO DE SEUS EFEITOS

2.1 Efeitos prospectivos

Há ainda a possibilidade de aplicação dos chamados “efeitos prospectivos” – pro

futuro, ou ainda, a modulação dos efeitos das decisões, na qual se estabelece uma data específica para

que determinada decisão passe a surtir efeito.

O art. 27 da Lei nº 9.868/99 confere a possibilidade de aplicação de efeitos prospectivos pelo STF, por maioria de dois terços de seus membros, embasado, sobretudo, na segurança jurídica ou no excepcional interesse social encontrado na decisão atinente às ações direta de inconstitucionalidade. Preceitua este dispositivo:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Veja-se que o afastamento da nulidade que geralmente decorre da declaração de inconstitucionalidade no controle concentrado só ocorrerá quando demonstrado que isso traria danos à segurança jurídica ou a algum outro valor constitucional diretamente vinculado ao interesse social.

Por isso o procedimento adotado de um quórum especial, de dois terços dos votos, garantindo uma maior restrição na utilização da modulação dos efeitos da decisão.

Nesse mesmo diapasão, submetem-se também as súmulas vinculantes aos efeitos da modulação, igualmente por decisão de dois terços de seus membros, de acordo o art. 4º da Lei nº 11.417/2006, que reproduz o procedimento e as razões da modulação na ADI quando atesta que a súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, mas o Supremo Tribunal Federal, novamente por decisão de 2/3 (dois terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público.

Da mesma forma, verifica-se a possibilidade de modulação quando da análise de normas por meio da arguição de descumprimento de preceito fundamental, conforme art. 11 da Lei nº 9.882/99.

Observe-se, todavia, que em todos os exemplos apresentados o instituto da modulação parece ser aplicado somente ao controle concentrado de constitucionalidade.

Relevantes observações doutrinárias tiveram como objeto a constitucionalidade do artigo 27 da referida lei, vez que coloca em cotejo dois princípios de grande envergadura de nossa ordem constitucional: o princípio da segurança jurídica e o princípio da supremacia constitucional.

A flexibilização da nulidade na norma, consubstanciada, sobretudo, no argumento de ser necessária para que se respeite a segurança jurídica das relações já estáveis e formadas através do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, constitui-se na motriz fundamentadora do referido preceito legal, com vistas a salvaguardar a questão da segurança jurídica uma vez que restaria lesada com a abrupta interrupção dos efeitos da norma declarada inconstitucional.

3. MODULAÇÃO DOS EFEITOS NO CONTROLE DIFUSO DE

CONSTITUCIONALIDADE

Colocando em polvorosa os ânimos da comunidade jurídica nacional, o Supremo Tribunal Federal passou a modular os efeitos das decisões que lhe são submetidas em sede de controle difuso de constitucionalidade.

Para tanto, fundamentou esta inovação na ordem jurídica na necessidade de garantir a segurança jurídica diante das cambiantes jurisprudências dos DEMAIS Tribunais, bem como nas prescrições infraconstitucionais concernentes à modulação dos efeitos temporais no

controle concentrado, que teriam aplicação analógica em decisões judiciais em sede de controle difuso (como, por exemplo, o artigo 27, da Lei 9.868/1999, que regula as ADI).

Para o STF, as disposições legais atinentes à modulação de efeitos no controle concentrado de constitucionalidade não excluiriam sua aplicação àqueles procedimentos de controle difuso que viessem a ser submetidos ao tribunal pelas vias processuais comuns.

Salientou-se que, ao exercer um múnus de matiz político, o STF passaria a gozar de considerável margem de discricionariedade justamente para que possa materializar em seus julgados o princípio da supremacia constitucional, na ponderação realizada no bojo da modulação de valores e princípios albergados na própria Lei Maior, na redução dos impactos econômicos e sociais advindos destas decisões caso não sejam moduladas e também no fato de, embora a matéria se refira a processos subjetivos, a decisão resultante das discussões do Plenário na prática surtem efeitos erga omnes, gerais, abstratos e vinculantes aos cidadãos e à administração pública em todas as suas esferas.

Veja-se que pela teoria tradicional quantos aos efeitos da declaração incidental de inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, a decisão que a declara produz efeitos inter partes e não vinculantes.

Após declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle difuso, o STF deveria comunicar essa decisão ao Senado e este poderia suspender a execução, no todo ou em parte, da lei viciada.

Nas ocasiões mais recentes, evoluindo em relação ao entendimento tradicional, o STF entendeu, inclusive, que teria havido mutação constitucional do art. 52, X, da Constituição Federal.

Adotou, assim, a teoria da abstrativização do controle difuso, de modo que se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante, de modo que o tribunal apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido (STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017).

Na decisão, o STF defendeu que a fim de evitar fragmentação da unidade de seus entendimentos e manifestações quanto à Constituição, deveria ser atribuído à decisão proferida em sede de controle incidental (difuso) a mesma eficácia da decisão tomada em sede de controle abstrato.

Segundo o tribunal, tal conclusão seria reforçada pelo § 5º do art. 535 do CPC/20153, que reconhece efeitos extraprocessuais às declarações de inconstitucionalidade em controle difuso do STF.

A ideia expressada pelos ministros é a de que o STF está firmando posição no sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato normativo em si, mas a própria matéria que nele contida.

Como se percebe, o STF se aproxima à teoria da transcendência dos motivos determinantes (pela qual, além do dispositivo, os motivos determinantes – ratio decidendi – da decisão também seriam vinculantes).

Entretanto, não se pode afirmar categoricamente que esta passou a ser adotada pelo Tribunal, eis que não houve manifestação em tal sentido.

4. O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE NA MODULAÇÃO DOS EFEITOS DO

CONTROLE CONSTITUCIONALIDADE COMO GARANTIDOR DA SEGURANÇA

No documento Revista de Direito Público (páginas 118-121)