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LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.

No documento Revista de Direito Público (páginas 103-105)

a comparison between Constitutional Jurisprudence since the Imperial Constitution of 1824, passing through Afro-Brazilian,

LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.31

30 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em: 02 jun. 2020. 31 BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.htm. Acesso em: 02 jun. 2020.

Além disso, nesse momento, foram criadas leis contra a intolerância religiosa e foram baixados diversos decretos de proteção às minorias e às religiões. Em suma, essa Constituição inaugurou um novo arcabouço jurídico-institucional no país, ampliando ainda mais as liberdades civis e os direitos e garantias individuais, marcando uma conquista dos cidadãos. Porém, Sabaini afirma que, na questão Estado-Religião, ainda não há limites quanto à laicidade do Estado Brasileiro, mesmo com a Constituição de 1988.

Conforme postula Miranda, a liberdade de se expressar se caracteriza enquanto um direito inerente ao ser humano, não cabendo ao Estado impor religião ou obrigar que os cidadãos sigam qualquer crença. Além disso, Soriano aponta que o direito à liberdade religiosa apresenta diversas facetas, já que reúne diversas liberdades: a de crença, de consciência, de culto e de organização religiosa: “[…] o direito à liberdade Religiosa, devido a sua multiplicidade compreende diversos direitos, os quais, assim reunidos, são considerados em sentido amplo (lato sensu). Destarte, poder-se-ia, a nosso ver, afirmar tratar-se de um direito composto”32.

Sousa, Barboza e Pereira afirmam que, desde os primórdios da sociedade, e dos relacionamentos sociais, quando o assunto é religião, a intolerância e a própria liberdade religiosa estão de lados extremos. Trata-se de uma relação de crenças e valores que não se justificam dentro de uma lógica jurídica, matemática ou psicológica. Os conflitos religiosos e, principalmente, a intolerância religiosa não se dão de forma racional, não se conseguem dialogar de modo a considerar e respeitar as diferenças culturais e devocionais, pois alguém sempre vai crer no Deus único e verdadeiro. Desse modo, o Deus do outro só pode ser o oposto. Todavia, a lógica metafisica da fé não é constitucional: não é com leis e com punições que tais conflitos serão resolvidos. A principal garantia que o ser humano possui é a de expressar se publicamente e propagar a sua fé, isto é, exercer sua liberdade religiosa. As autoras pontuam ainda que a intolerância se manifesta de diversas formas na sociedade, desde as mais leves às mais agressivas. Não se deve, portanto, buscar mascarar e relativizar as práticas abusivas:

A Constituição Federal de 1988, em seu texto, assegura a liberdade de religião no seu artigo 5º, sendo essa uma garantia aos cidadãos. Porém, mesmo estando assegurado no ordenamento jurídico, ainda existem as práticas abusivas e desrespeitosas ao redor dessa temática.

A sociedade, em muitos momentos, negligencia os principais aspectos que demonstram a fragilidade das relações sociais no que se refere à intolerância religiosa, tentando esconder uma realidade e mascarando um problema cuja gravidade é imensurável e que acontece corriqueiramente em relações cotidianas, onde em vários momentos passam desapercebidos da nossa própria realidade.

32 SORIANO, Aldir Guedes. Liberdade religiosa no direito constitucional e internacional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 10.

A intolerância é um problema sério que ainda está muito presente na sociedade contemporânea, desde as situações mais simples com que convivemos diariamente até a exteriorização desse preconceito de uma forma mais agressiva, a intolerância é grande motivadora para pequenas e grandes discussões.33

Nesse sentido, é possível apontar que, desde a sua descoberta, as religiões afro- brasileiras, tal como os negros, buscam o seu direito de existir, num país que misturou muitas tribos e separou-as geográfica, política e culturalmente. O homem negro se para com uma sociedade que sempre o desprezou, marginalizou e negou a sua existência. Por isso, a luta é grande, mas já há diversos estudos que nos mostram a destituição do ser negro e sua reconstrução através da conquista gradativa de seus direitos como cidadão.

No Brasil, temos delegacias específicas para crimes de racismo e intolerância religiosa, que sobem, a cada ano, mais de 56%, conforme dados do Disque 100. Segundo o Brasil de Fato, entre 2015 e o maio de 2019, foram registrados 2.722 casos de intolerância religiosa uma média de 50 por mês34. Por isso, somente com uma batalha diária, nas escolas, nas igrejas, na rua, nos ambientes de trabalho, nas lojas, na propaganda institucional e privada, na internet, mostrando que cada um em sua diferença se torna igual aos outros e que o respeito garantido pela constituição e pelos direitos fundamentais do ser humano é um direito à dignidade da pessoa humana.

Certamente, não podemos exercer as práticas religiosas sem uma liberdade de expressão, pois, como já salientamos, sempre que houver Deuses, interesses humanos, interesses políticos, interesses econômicos, e culturais haverá conflito. A intolerância religiosa é filha da ignorância, do medo e do poder e só acabará quando houver a consciência de que todos somos iguais debaixo do mesmo céu; afinal, as pessoas não nascem intolerantes, mas se tornam.

No documento Revista de Direito Público (páginas 103-105)