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Considerações gerais: finalidade, partes, prazos e aplicação subsidiária do Código

CAPÍTULO V A DEFESA NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DE CONTAS

5.9 RECURSOS

5.9.1 Considerações gerais: finalidade, partes, prazos e aplicação subsidiária do Código

Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Trata-se do princípio constitucional da ampla defesa, esculpido no artigo 5º, inciso LV. Preceito fundamental que garante as pessoas físicas ou jurídicas o direito de se defender, utilizando de todos os meios e recursos disponíveis.

Nesse espeque, sobressai cristalino as razões para se afirmar que o direito de recorrer é sagrado e não pode ser objeto de recusa. Isso porque os recursos objetivam, essencialmente, a reparação de erro de julgamento para restabelecer o direito que tenha sido violado, prevalecendo o ideário de justiça.

Em virtude dos recursos objetivarem corrigir situação gravosa que a parte ou interessado tenha sofrido, faz-se necessário que toda a fundamentação de fato e de direito seja esposada de forma a evidenciar o direito violado.

Por quanto, imprescindível que esteja demonstrado na peça recursal, de forma clara, objetiva e incontroversa, com arrimo em provas a serem colacionadas, o erro que macula a decisão que se objetiva modificar.

Ainda com relação à fundamentação dos recursos, convém observar que a doutrina os enquadra em duas categorias: os recursos de fundamentação livre e os recursos de fundamentação vinculada.

Na primeira categoria – recursos de fundamentação livre – não há delimitação para o apontamento do erro contido na decisão recorrida. Já na segunda – recurso de fundamentação vinculada – existem limites definidos em lei que viabilizam a interposição do recurso.

Didier e Carneiro da Cunha, sobre o tema, assinalam:

Recurso de fundamentação livre é aquele em que o recorrente está livre para, nas razões do seu recurso, deduzir qualquer tipo de crítica em relação à decisão, sem que isso tenha qualquer influência na sua admissibilidade. A causa de pedir recursal não está delimitada pela lei, podendo o recorrente impugnar a decisão alegando qualquer vício.

Nos recurso de fundamentação vinculada o recorrente deve alegar um dos vícios típicos para que o seu recurso seja admissível.159

Cumpre ressaltar que no âmbito do Tribunal de Contas o único recurso tipicamente de fundamentação livre é o recurso de agravo. Já os demais são de fundamentação vinculada. Sendo que o recurso de reconsideração e o pedido de reexame, em um primeiro momento são de fundamentação livre e, noutro, vinculada.

Além de ser facultado à parte demonstrar seu interesse em recorrer, o recurso só pode ser interposto uma única vez, em face do instituto da preclusão consumativa. Assim, não é possível a utilização de mesma espécie recursal, salvo se tratar de embargos declaratórios.

Nesse sentido preleciona o Ministro do TCU Ubiratan Aguiar: ―sempre que houver a interposição de recurso será gerada a preclusão consumativa, ou seja, estará encerrada a possibilidade de que a mesma parte interponha um outro recurso da mesma espécie‖.160

Outro ponto a merecer destaque refere-se ao fato de que o recurso pode impugnar total ou parcialmente a decisão recorrida; sendo que a parte que não foi objeto de insurgência pode ser executada de imediato.

Cumpre ressaltar que o recurso interposto por uma parte aproveita-se aos demais, desde que se trate de questões objetivas e não subjetivas, posto que estas são incomunicáveis.

Por partes recursais entende-se: o responsável, o interessado e o Ministério Público junto ao Tribunal.

Por responsável compreende-se aquele assim qualificado nos termos da Constituição Federal, da Lei Orgânica do Tribunal de Contas. Já o interessado é aquele que, em qualquer etapa do processo, tenha reconhecida, pelo relator ou o Colegiado do Tribunal, razão legítima para intervir no feito.

Nesse ponto, importante esclarecer que só é possível a intervenção do terceiro, se o pretenso recorrente, de forma fundamentada, demonstrar o liame existente entre a decisão proferida e o prejuízo que esta porventura tenha lhe causado. Nesse sentido, é remansosa a jurisprudência do Tribunal de Contas da União:

4. Consoante a moderna doutrina acerca do tema (Nery Junior, Nelson. In: Princípios Fundamentais - Teoria Geral dos Recursos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 240), 'os pressupostos intrínsecos são aqueles que dizem respeito à decisão recorrida em si mesmo considerada. Para serem aferidos, leva-se em consideração o conteúdo e a forma da decisão impugnada. De tal modo que, para

159 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil. 7. ed. Salvador: Juspodium, 2009. 3 v. p. 29.

160 AGUIAR, Ubiratan. Controle externo: anotações à jurisprudência do Tribunal de Contas da União:

proferir-se o juízo de admissibilidade, toma-se o ato judicial impugnado no momento e da maneira como foi prolatado.'

5. Ora, em processo de monitoramento em não tenham sido rediscutidas questões de mérito nem impostas sanções, não há que se falar, em princípio: i) em partes no sentido estrito, constituindo qualquer lide; ii) em legitimidade para recorrer e; iii) em interesse jurídico para impugnar a decisão. Como consectário lógico, resta prejudicada a possibilidade de intervenção de terceiro, a menos que fosse demonstrado, pelo pretenso recorrente, o liame existente entre a decisão proferida em sede do monitoramento e o prejuízo que esta porventura tenha lhe causado, o que não verifico na análise do tema constante dos autos. Como não há rediscussão de mérito ou sanção, julgo que inexiste tal liame e a única possibilidade de suposto prejuízo de terceiro estaria circunscrita à própria deliberação monitorada, esta sim passível de recurso, não a ação secundária de controle.

6. Como reforço ao entendimento esposado pela Consultoria Jurídica, inclusive quanto à questão da sucumbência, trago à colação excertos do ensinamento do ilustre processualista retromencionado (ibidem, pp. 265/266), delimitando com clareza a questão posta nos autos, os quais entendo pertinentes para servir de espeque para a proposta de encaminhamento da Unidade técnica

'Da mesma forma com que se exige o interesse processual para que a ação seja julgada pelo mérito, há necessidade de estar presente o interesse recursal para que o recurso possa ser examinado em seus fundamentos. Assim, poder-se-ia dizer que incide no procedimento recursal o binômio necessidade + utilidade como integrantes do interesse em recorrer.

Deve o recorrente ter necessidade de interpor o recurso, como único meio para obter, naquele processo, o que pretende contra a decisão impugnada. Se ele puder obter a vantagem sem a interposição do recurso, não estará presente o requisito do interesse recursal.(...)

Quanto à utilidade, a ela estão ligados os conceitos mais ou menos sinônimos de sucumbência, gravame, prejuízo, entre outros. (...)

Há sucumbência quando o conteúdo da parte dispositiva da decisão judicial diverge do que foi requerido pela parte no processo (sucumbência formal) ou quando, independentemente das pretensões deduzidas pelas partes no processo, a decisão judicial colocar a parte ou terceiro em situação jurídica pior daquela que tinha antes do processo, isto é, quando a decisão produzir efeitos desfavoráveis à parte ou a terceiro (sucumbência material), ou, ainda, quando a parte não obteve no processo tudo aquilo que poderia dele ter obtido.

Como se pode notar, a sucumbência é aferível com base na soma de vários critérios distintos. A tão-só desconformidade da decisão com os requerimentos formulados pelas partes não basta, por si só, para caracterizar a sucumbência.

O recorrente deve, portanto, pretender alcançar algum proveito, do ponto de vista prático, com a interposição do recurso, sem o que não terá ele interesse em recorrer. A sucumbência há que ser aferida sob o ângulo estritamente objetivo, quer dizer, sob critérios objetivos de verificação do gravame ou prejuízo. Não basta, pois, a simples `afirmação' do recorrente de que sofrera prejuízo com a decisão impugnada. É preciso que o gravame, a situação desvantajosa, realmente exista, já que o interesse recursal é condição de admissibilidade do recurso. Não é suficiente que o recorrente assuma posição jurídica diversa da que sustentou no primeiro grau de jurisdição.'161

Pode-se concluir também que em processo de consulta não há que se falar em recurso. Ademais, como a finalidade do recurso é a correção de erro em julgamento, oportuno salientar que, além desse instrumento, existe a possibilidade do Tribunal ou o relator rever suas deliberações ex oficio. Basta que entenda estar-se diante de uma nulidade absoluta, que se declarada serão considerados nulos todos os atos processuais que tenham sido praticados,

161 TCU - AC-0949-21/07-P, ACÓRDÃO Nº 949/2007 - TCU – PLENÁRIO. Sessão: 23/05/07, Grupo: I, Classe: VII, Relator: Ministro AUGUSTO NARDES - Consulta – Denúncia.

voltando o processo à fase que se encontrava quando da violação, para que os atos nulos sejam refeitos.162

Consoante já assinalado, não há prazos peremptórios no âmbito do processo administrativo de contas, tanto que, o art. 32, parágrafo único, da Lei Orgânica do TCU admite a superveniência de fatos novos suficiente para viabilizar o conhecimento de recursos interpostos fora do prazo, mesmo que retire deles o efeito suspensivo, em sendo o caso.

Relevante aspecto trata dos efeitos que os recursos podem produzir, quais sejam o devolutivo e o suspensivo. O primeiro assegurar a possibilidade de reapreciação da decisão recorrida e cuja extensão pode ser parcial ou total. Já o segundo, refere-se ao efeito suspensivo que afasta, parcial ou total, a possibilidade de cumprimento da decisão impugnada até o julgamento do recurso.

Destaca-se ainda que havendo partes com interesses opostos, a interposição de recurso por uma delas enseja à outra a apresentação de contra-razões, no mesmo prazo dado ao recurso.

Por fim, impõe acentuar que na ausência de normas legais e regimentais específicas, aplica-se, analógica e subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Civil.163

162 Art. 171. RITCU. Nenhum ato será declarado nulo se do vício não resultar prejuízo para a parte, para o erário, para a apuração dos fatos pelo Tribunal ou para a deliberação adotada.

Parágrafo único. Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveitaria a declaração de nulidade, o Tribunal não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.

Art. 172. Não se tratando de nulidade absoluta, considerar-se-á válido o ato que, praticado de outra forma, tiver atingido o seu fim.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não impede o suprimento da nulidade absoluta, nas hipóteses previstas neste Regimento e nas leis processuais aplicáveis subsidiariamente aos processos do Tribunal.

Art. 173. A parte não poderá argüir nulidade a que haja dado causa ou para a qual tenha, de qualquer modo, concorrido.

Art. 174. Conforme a competência para a prática do ato, o Tribunal ou o relator declarará a nulidade de ofício, se absoluta, ou por provocação da parte ou do Ministério Público junto ao Tribunal, em qualquer caso.

Art. 175. A nulidade do ato, uma vez declarada, causará a dos atos subseqüentes que dele dependam ou sejam conseqüência.

Parágrafo único. A nulidade de uma parte do ato, porém, não prejudicará as outras que dela sejam independentes.

Art. 176. O relator ou o Tribunal, ao pronunciar a nulidade, declarará os atos a que ela se estende, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos ou retificados, ressalvado o disposto no art. 171. Parágrafo único. Pronunciada a nulidade na fase recursal, compete:

I – ao relator do recurso declarar os atos a que ela se estende;

II – ao ministro ou auditor, sob cuja relatoria o ato declarado nulo foi praticado, ou ao seu sucessor, ordenar as providências necessárias para a repetição ou retificação do ato.

Art. 177. Eventual incompetência do relator não é causa de nulidade dos atos por ele praticados.

Art. 178. Nos processos em que deva intervir, a falta de manifestação do Ministério Público implica a nulidade do processo a partir do momento em que esse órgão deveria ter-se pronunciado.

Parágrafo único. A manifestação posterior do Ministério Público sana a nulidade do processo, se ocorrer antes da decisão definitiva de mérito do Tribunal, nas hipóteses em que expressamente anuir aos atos praticados anteriormente ao seu pronunciamento.

163 Art. 298. RITCU. Aplicam-se subsidiariamente no Tribunal as disposições das normas processuais em vigor, no que couber e desde que compatíveis com a Lei Orgânica.

Acerca do tema, o Supremo Tribunal Federal já reconheceu como válida a aplicação subsidiária da disposição do CPC ao processo administrativo do Tribunal de Contas:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE CONTAS. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL: CONCEITO. DIREITO DE DEFESA: PARTICIPAÇÃO DE ADVOGADO.

I. - A Tomada de Contas Especial não constitui procedimento administrativo disciplinar. Ela tem por escopo a defesa da coisa pública. Busca a Corte de Contas, com tal medida, o ressarcimento pela lesão causada ao Erário. A Tomada de Contas é procedimento administrativo, certo que a extensão da garantia do contraditório (C.F., art. 5º, LV) aos procedimentos administrativos não exige a adoção da normatividade própria do processo judicial, em que é indispensável a atuação do advogado: AI 207.197-AgR/PR, Ministro Octavio Gallotti, "DJ" de 05.6.98; RE 244.027-AgR/SP, Ministra Ellen Gracie, "DJ" de 28.6.2002. II. - Desnecessidade de intimação pessoal para a sessão de julgamento, intimados os interessados pela publicação no órgão oficial. Aplicação subsidiária do disposto no art. 236, CPC. Ademais, a publicidade dos atos administrativos dá-se mediante a sua veiculação no órgão oficial. III. - Mandado de Segurança indeferido.164