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Considerações sobre a Sessão Técnica de Painéis: Sistemas Agroflorestais no Manejo da Paisagem Rural

Luis C. L. MENESES-FILHO(1) (1) Universidade Federal do Acre

Na sessão técnica, intitulada Sistemas Agroflorestais no Manejo da Paisagem

Rural, foram agrupados, pela coordenação do congresso, 24 trabalhos,

representando 16,5% de um total de 144 resumos expandidos publicados nos anais do III Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais. A sessão técnica I reuniu 106 trabalhos a respeito do tema Biodiversidade e Processos Funcionais de

SAFs, representando mais de 70% dos resumos publicados; enquanto que a

terceira sessão de painéis Socioeconomia de SAFs teve 15 trabalhos aprovados, ou cerca de 10% do total.

Quanto à distribuição regional e/ou origem dos resumos da sessão de painéis

Sistemas Agroflorestais no Manejo da Paisagem Rural, 80% dos resumos são

originários da Amazônia, enquanto que o Sul e o Sudeste do país apresentaram quatro trabalhos (17%); e o Nordeste, um resumo (Figura1).

Dentro da Região Amazônica, destacaram-se os Estados do Acre e do Pará, com cinco trabalhos cada (27%) apresentados nessa sessão, seguidos do Amazonas,

com quatro trabalhos (22%), e do Amapá, Rondônia, Roraima, com um trabalho por Estado, e Colômbia. Há, ainda, um trabalho que tem abrangência amazônica, abordando diversas populações indígenas da Bacia.

A Figura 2 apresenta as porcentagens de trabalhos segundo a origem deles na Amazônia. 17% 4% 79% Sudeste/Sul Nordeste Amazônia

Fig. 1. Porcentagens de resumos publicados na seção de

SAFs no Manejo da Paisagem Rural, segundo a região de origem. Acre 27% Amazonas 22% Pará 27% Rondônia 6% Roraima 6% Amapá 6% Colômbia 6%

Fig. 2. Porcentagens dos resumos publicados, segundo

O terceiro critério de análise dos resumos foi orientado pela classificação de sistemas agroflorestais. Esse critério permitiu agrupar 22 dos 24 resumos em 5 'tipos' ou práticas agroflorestais:1) Sistema de derruba-e-queima; 2) Manchales de ocorrência incidental e deliberada de espécies nativas; 3) Policultivos de espécies frutíferas e madeireiras (ou de extração), consistindo-se em sistemas agroflorestais de formulação mais recente; 4) Práticas agroflorestais; 5) Sistemas agroflorestais sob enfoque da sucessão natural.

No sistema de derruba-e-queima, encontram-se dois trabalhos de intervenções agroflorestais em capoeiras (florestas secundárias), sendo que um trata do melhoramento da capoeira através da diminuição do período de pousio com a introdução de leguminosas arbóreas e outro se refere à utilização de equipamento tratorizado, adaptado para triturar a biomassa da capoeira, evitando a queima e gerando mulch.

Ainda considerando o sistema de derruba-e-queima, mas com resultado de paisagem em pastos, foram apresentada seis trabalhos com intervenções agroflorestais em áreas de pastagens. A maioria deles voltados para a

caracterização e a avaliação de diferentes modelos agroflorestais para recuperação de pastos degradados; outro trabalho caracteriza, segundo critérios agroecológicos, o sistema de produção pecuário da Amazônia colombiana; e um último trabalho relata os efeitos do fogo acidental (não controlado) em parcela de experimento silvipastoril, verificando sobrevivência das espécies introduzidas.

Considerando-se que os manchales são sistemas agroflorestais que se caracterizam como unidades de paisagem onde ocorrem grandes densidades de uma mesma espécie decorrentes do manejo tradicional, quatro resumos descreveram: a ocorrência de açaí de touceira (Euterpe oleraceae) no estuário do Amapá; os cajueiros nativos de Roraima; os castanhais do Pará. Outro trabalho, não

característico deste grupo, aborda o manejo hortícola de alguns grupos indígenas da Amazônia, analisando os padrões de semeadura de espécies hortícolas que ocorrem em manchas.

Outro grupo de trabalho que apresentou relevância em número de resumos publicados são os policultivos de espécies arbóreas frutíferas e madeireiras que variam em número e em arranjo temporal e espacial de espécies, podendo também ser caracterizados como de extração. Esse modelo é um dos sistemas

agroflorestais mais freqüentes e comuns na Amazônia atualmente. Seis trabalhos compreenderam em sua maioria a caracterização, a proposição e a análise de modelos. Um deles trata da concentração de nutrientes numa cronoseqüência de SAFs de estrutura similar, e outro, do Nordeste, avalia o papel das árvores na paisagem como uma estratégia agroflorestal de conservação in situ.

Quanto às práticas agroflorestais, apenas um trabalho trata da questão de tecnologias de proteção do SAF ao ataque do fogo, avaliando diferentes espécies como barreira viva contra o fogo. O resumo que trata da conservação in situ de árvores no sertão nordestino reforça o papel da cerca viva nesta estratégia e sua funcionalidade para o produtor.

Discutindo a sucessão natural como elemento principal na implantação e manejo de SAFs, três trabalhos tratam do assunto de maneira genérica, um deles reforça a implantação de SAFs como mecanismos de integração de fragmentos florestais e fluxos gênicos, outro aborda o favorecimento da composição agroflorestal visando à produção melífera, potencializando as interações ecológicas naturais no desenho de sistemas de produção, e outro apresenta a iniciativa empírica de alunos de

agronomia na implementação de SAF baseado em princípios da sucessão natural e do manejo orientado por Ernst Götsch, suíço residente na Zona da Mata da Bahia. Dos dois trabalhos restantes, um não apresenta interesse agroflorestal já que relata o sistema de produção de derruba-e-queima convencional de agricultores do Juruá e o outro não se enquadra na classificação precedida, mas revela importância capital no desenvolvimento agroflorestal da Amazônia. Este trabalho define a aptidão agroflorestal do Estado do Acre, fazendo uma releitura do mapa de solos do Estado e propondo uma reordenação do uso do território, segundo critérios agroflorestais. Este aspecto será retomado adiante.

Definindo outros parâmetros para análise dos resumos no tocante às lacunas de pesquisa no manejo agroflorestal da paisagem rural, é necessária a reflexão do conceito de paisagem. A definição descrita por Turner e Gardner (1990) retrata paisagem como superfícies de terra e habitats associados na escala de hectares até quilômetros quadrados. Risser (1987) afirma que a paisagem, como uma área espacialmente heterogênea, pode ser observada sob diferentes enfoques, e que os processos ecológicos que aí ocorrem podem ser estudados sob diferentes escalas espaciais e temporais.

A dimensão da escala tem fundamental relevância na análise de paisagem. Numa perspectiva regional, a escala agroflorestal na Amazônia não é representativa. No Estado do Acre, apenas 0,5% das áreas desmatadas são ocupadas por cultivos perenes (ACRE,2000a), e a porcentagem destes em sistemas agroflorestais é insignificante.

Enquanto que, sob a perspectiva social, áreas agroflorestais pequenas que não são identificáveis nas imagens de satélite são valiosamente significativas na geração de renda e na contribuição à qualidade de vida da pequena produção familiar. O Projeto RECA no Acre/Rondônia é pioneiro, com uma caminhada de 12 anos, na opção dos seus associados pelo modelo agroflorestal de produção associado ao processamento agroindustrial, permitindo ganhos em torno de R$2.000,00 por hectare/ano

(ACRE,2000b), valor muitas vezes superior àquele obtido na pecuária extensiva e na produção de grãos.

Embora a adoção dos sistemas agroflorestais como importante alternativa de uso sustentável da terra na Amazônia seja apontada por diversos autores há quase duas décadas, como Bandy et al.(1994); Serrão e Homma (1991); Nair (1985, 93,99) e Huxley (1983), esses SAFs não configuram como sistema de uso da terra

preponderante. Nepstad (2000) ressalta que os sistemas agroflorestais tem efeito na redução do processo de desmatamento, intensificação no uso da terra, diminuição dos impactos ambientais, aumento de renda e geração de empregos. A árvore protagoniza o papel de elemento fundamental no aumento da sustentabilidade das

No início dos anos 90, os sistemas agroflorestais entraram na pauta de

financiamento de fundações e instituições de desenvolvimento internacionais para projetos na Amazônia, tanto para pesquisa, caso de vários resumos publicados nos anais dos três Congressos Brasileiros de SAFs, como também para o

desenvolvimento. Neste caso, a oportunidade de financiamento de SAFs através de Projetos Demonstrativos / tipo A, do PP-G7, teve efeito de alavancagem da

questão agroflorestal na Amazônia a partir de 1996. Apoiando organizações não- governamentais em sistemas de produção inovadores, como SAFs, extrativismo, processamento e piscicultura, o PD/A contribui no fomento e na inclusão destes sistemas na pauta do desenvolvimento da Amazônia, figurando como um dos únicos financiamentos voltados para essas temáticas disponíveis para as

populações tradicionais e de pequenos produtores. Posteriormente, surge o Prodex, linha de financiamento voltada para populações extrativistas, apoiando os sistemas agroflorestais entre outras ações similares ao PD/A. A discussão do crédito tem fator preponderante na dimensão da escala agroflorestal na Amazônia.

No entanto, após dez anos, a inserção agroflorestal na paisagem amazônica é tímida, conforme mostram os dados acreanos. Quais fatores influenciam na incorporação dos SAFs como um sistema de uso da terra para a Amazônia? Como dar escala a uma proposta que reúne atributos favoráveis à sustentabilidade socioambiental e econômica?

Encontramos nos SAFs um modelo de desenvolvimento muito diferenciado daqueles tidos como tradicionais. Culturalmente, vemos que, com exceção do sistema de derruba-e-queima dos manchales e dos quintais agroflorestais, o cultivo e o manejo de árvores na Amazônia não são práticas tradicionais dos povos que aí vivem, salvo raras exceções. Presumivelmente, fatores como baixa densidade demográfica e baixo custo da terra não exigiram que as populações buscassem sistemas de produção mais produtivos e intensivos de uso do solo. Fato oposto é o de regiões como a Ásia, a África e a América Central, onde a densidade

demográfica é alta, assim como o valor da terra, e onde o manejo agroflorestal é tradicional dos povos que ali vivem e também é estratégia fundamental para o uso sustentável da terra nessas regiões. O cultivo de árvores é conflitante com os hábitos nômades e a cultura das populações extrativistas na Amazônia.

A transformação da paisagem rural é produto da interação dinâmica entre o ser humano, sua cultura e o meio ambiente em que vive. A paisagem amazônica transformada pela ação antrópica sofre alterações decorrentes, por um lado, da ausência de políticas de desenvolvimento, quando os núcleos familiares adotam a estratégia itinerante de derrubar novas áreas de floresta para plantio de roçados de subsistência, e por outro, de políticas de desenvolvimento mal informadas a respeito da dinâmica e das particularidades do ecossistema amazônico, como Probor de plantio de seringueira em grandes áreas, e os incentivos à implantação de grandes áreas de pastagens, ignorando os processos ambientais e sociais presentes na região, assim como os projetos de colonização trazendo para a Amazônia famílias culturalmente não adaptadas à região.

Esses fatores, associados ao aumento populacional das comunidades extrativistas e de colonos na Amazônia, assim como a diminuição da mobilidade destes povos, devido à demarcação das reservas extrativistas e terras indígenas, tem gerado aumento da pressão sobre o recurso florestal, acarretando desmatamentos à taxa de 2 milhões de hectares por ano, já somando 53 milhões de hectares dos quais 80% são pastagens de baixa produtividade, sendo que 30% encontram-se abandonados, segundo dados de Fearnside e Barbosa (1998).

Os sistemas agroflorestais configuram como alternativa concreta de uso da terra. Essa compreensão por parte de pequenos produtores fica evidente com o número de projetos encaminhados ao PD/A. No entanto, sua adoção esbarra em problemas técnicos de estrutura e função dentro do SAF, além de fatores associados ao mercado.

Muitos dos projetos apoiados pelo PD/A tinham como objetivo a recuperação de áreas degradadas com implantação de sistemas agroflorestais, baseando-se em modelos simplificados de 4,5 espécies arbóreas. Esses modelos, similares àqueles aplicados pelo Projeto RECA, baseados no plantio de perenes frutíferas exigentes em áreas de capoeiras ralas ou pastagens envelhecidas, são exigentes em insumos e, principalmente, mão-de-obra, a fim de custear o processo de recuperação dessas áreas. No entanto, a inexistência de práticas voltadas para a recuperação de solos e de favorecimento do estabelecimento do SAF comprometeum os resultados do sistema junto a produtores, em virtude do baixo desenvolvimento do sistema e/ou do aumento dos custos de manutenção, principalmente em mão-de- obra. Estes fatores contribuíram para uma taxa de abandono dos sistemas agroflorestais relativamente alta e, conseqüentemente, descredibilidade desse sistema junto ao principal público-alvo: pequenos produtores da Amazônia. Outros aspectos econômicos, como mercado, assistência técnica e tecnológica, tem relevância direta no sucesso da atividade agroflorestal junto a esse público. Essas observações foram tiradas da avaliação de 16 projetos agroflorestais apoiados pelo PD/A, cujos resultados foram publicados de maneira resumida na seção III do Congresso.

Os sistemas agroflorestais, no início da década de 90, são disseminados com uma imagem da sustentabilidade ambiental baseada na reprodução dos processos ecológicos análogos à da floresta e recuperação de solos e áreas degradadas; embora fossem e sejam raras exceções os projetos que adotam práticas de melhoria das qualidades químicas e físicas dos solos em sistemas agroflorestais em área de produtores. Fato este agravante no processo de adoção por produtores dada a resposta lenta dos sistemas agroflorestais às expectativas tradicionalmente imediatistas dos pequenos produtores da Amazônia.

Retornando aos resumos do Congresso, o desequilíbrio entre os números

absolutos de resumos por sessão de painéis é intrigante e transparece a tendência atual da comunidade científica agroflorestal. Quase três quartos dos trabalhos estão orientados ao conhecimento de aspectos relacionados à biodiversidade e processos funcionais dos sistemas agroflorestais, focalizando as pesquisas na compreensão da estrutura dos ecossistemas agroflorestais, aprofundando os

relação aos componentes dos SAFs. Além disso, apenas 15 resumos tratam da questão socioeconômica, abordando abrangentemente a complexidade do tema. Aspectos da extensão e adoção de tecnologias agroflorestais por comunidades foram tratados em apenas 5 resumos dos 14 da seção de Socioeconomia, e apenas 17% dos trabalhos (4 deles) da seção de SAFs no manejo da paisagem foram realizados em área de produtor, envolvendo a comunidade na metodologia aplicada. De 23 resumos da seção de paisagem, 10 foram desenvolvidos em estações experimentais (43%), o restante é desenvolvido em área de produtor, mas com finalidade de caracterização estrutural de sistemas, e não o processo de adoção e assimilação dos SAFs pelos pequenos produtores e populações

tradicionais na Amazônia.

O tema selecionado pela coordenação do Congresso de sistemas agroflorestais no

manejo da paisagem rural, pode refletir uma análise com dois objetivos

influenciados pela dimensão da escala: i) como os SAFs interferem no mosaico da paisagem, sob uma perspectiva de escala regional; ii) no nível micro, na escala da propriedade, se os sistemas agroflorestais estão mudando hábitos de manejo, resultando em redução das taxas de desmatamentos, erosão, etc.

Avaliando a dimensão agroflorestal sob uma perspectiva regional, evidencia-se a carência de pesquisa a respeito dos serviços ambientais promovidos por sistemas agroflorestais. O papel dos SAFs no seqüestro de carbono foi tratado em apenas dois resumos apresentados neste congresso na seção I. Os sistemas

agroflorestais, na manutenção da biodiversidade, são apontados como importante estratégia na conservação in situ e como estratégia de recomposição de

corredores ecológicos; apenas um trabalho relata o tema na seção aqui analisada. São necessárias mais pesquisas nestes dois temas visando à inserção do tema agroflorestal na pauta de negociações de mecanismos de desenvolvimento limpo nos fóruns globais sobre mudanças climáticas, podendo configurar como importante estratégia de fomento agroflorestal na Amazônia e em outras regiões do Brasil.

O aumento de escala da dimensão agroflorestal na Amazônia é fundamental para consolidação deste sistema de uso do solo como predominante nas áreas desmatadas na Amazônia, revertendo as tendências e taxas atuais de

desmatamento. No entanto, o aumento de escala depende fundamentalmente de políticas de desenvolvimento que promovam a questão agroflorestal entre populações rurais e tradicionais na Amazônia. A aproximação do tema

agroflorestal a essas populações depende do interesse da comunidade científica em traduzir a prática agroflorestal para o universo das populações rurais

brasileiras. O diálogo, a participação e a aproximação dos interesses e demandas das comunidades amazônicas e científica devem ser incorporados à metodologia e abordagem das pesquisas, visando consolidar a prática agroflorestal.

No entanto, fator primordial é o estabelecimento de políticas que tenham a dimensão agroflorestal como estratégia principal na forma de uso do solo em regiões amazônicas. A abordagem agroflorestal não se restringe apenas aos

sistemas de produção, mas ao fortalecimento da cadeia produtiva de produtos agroflorestais.

O fomento à produção agroflorestal depende de insumos (principalmente sementes de boa qualidade genética, atual fator limitante), assim como de uma assistência técnica pública capaz de transmitir a concepção de manejo agroflorestal ao pequeno produtor, além de crédito para financiamento da produção que não seja pautado em uso de agroquímicos que descaracterizem o produto em função da origem e garantam a qualidade ambiental. Outros aspectos como tecnologia apropriada às condições das populações tradicionais e de colonos na Amazônia requisitam o esforço da pesquisa na geração e no diálogo do pesquisador com essas populações. Infra-estrutura, como estradas e energia, é extremamente vital para que projetos agroflorestais tenham efeitos positivos em comunidades rurais. O ordenamento da produção agroflorestal é um elemento político valioso na promoção agroflorestal. O Estado do Acre tem o primeiro mapa de aptidão agroflorestal do Brasil, cujo resumo é publicado nesta seção e compreende o uso da terra sob uma perspectiva agroflorestal. Este fator é fundamental para a transformação da paisagem na Amazônia e no Brasil.

O fomento à produção agroflorestal é incompleto se não houver a conexão com outros segmentos da cadeia produtiva. A perspectiva agroflorestal assume posição relevante quando associada a sistema de produção de matérias-primas para o processamento agroindustrial, visando à agregação de valor aos produtos, permitindo o aumento da renda da produção familiar e conseqüente redução do desmatamento em pequenas propriedades, em razão de maior demanda da mão- de-obra. A geração de tecnologias de processamento adequadas às condições amazônicas passa a configurar como prioridade no fomento da produção

agroflorestal. Assim como crédito e capacitação tecnológica, visando à formação de recursos humanos para atender às demandas.

Políticas de desenvolvimento agroflorestal devem estruturar mecanismos que favoreçam a comercialização destes produtos, garantindo mercado para eles. A certificação socioambiental pode vir a ser uma estratégia de atribuir maior valor aos produtos aumentando a renda da produção familiar e garantindo a inserção dos produtos em mercados exigentes dentro e fora do Brasil, associado a estratégias de marketing e promoção de produtos.

Políticas agroflorestais devem ser implantadas visando ao aumento de escala dos sistemas agroflorestais na Amazônia e em outras regiões do Brasil; devem ter uma perspectiva ampla e, principalmente, de quebras de paradigmas nos padrões de uso da terra na Amazônia e no Brasil, visando à formação de uma cultura de plantar e manejar árvores como uma das formas mais promissoras e sustentáveis de uso da terra na Amazônia.

Utilizando o termo de um sertanista e liderança do Vale do Juruá, Txai Antonio Luiz Macedo, o Agroflorestalismo é a cultura de uso da terra onde a árvore protagoniza na paisagem e compreende uma série de processos, serviços,

tecnologias que permitam a consolidação dos sistemas agroflorestais como estratégia principal de uso da terra na Amazônia.

Aprofundando a análise na dimensão micro da escala no âmbito da propriedade, a ampliação dos sistemas agroflorestais deve ter no foco alguns aspectos como: > Geração de tecnologias para a capoeira melhorada (improved fallow, barbecho

mejorado) na Amazônia. Esse sistema vem sendo um dos mais aplicados por pequenos produtores na Amazônia, os projetos PD/A revelam a preferência dos produtores por implantarem sistemas em florestas secundárias. Técnicas de manejo que potencializem esta prática são fundamentais para a disseminação agroflorestal atendendo a demanda de produtores.

> Algumas pesquisas focam a utilização de SAFs em áreas novas, recém- desmatadas. O estímulo à implantação de SAFs nessas áreas pode vir a aumentar as crescentes taxas de desmatamentos praticadas atualmente, contribuindo negativamente com o potencial agroflorestal para o aumento da sustentabilidade no uso da terra na Amazônia.

> Técnicas e práticas de geração de mulch e manejo da matéria orgânica em SAFs são fundamentais, visando à consolidação deste sistema de produção na recuperação de áreas degradadas, associado a maior utilização de insumos locais tendo em vista o aumento da sustentabilidade econômica e ambiental dos sistemas.

> O controle do fogo assume papel preponderante e limitante na transição dos sistemas de produção tradicionais em sistemas agroflorestais. Os prejuízos decorrentes da não proteção das áreas agroflorestais é desestimulante à incorporação dos SAFs como forma de uso da terra predominante na pequena propriedade. Técnicas e práticas que permitam a proteção dos SAFs a baixo custo são demandas diretas de pequenos produtores.

! As tecnologias agroflorestais devem buscar o aprofundamento nos princípios da

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