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Sistemas agroflorestais no manejo de paisagem rural

Infelizmente, muitas pessoas do meio rural estão tendo dificuldades para cultivar, tendo em vista que as terras são impróprias para a agricultura, com escassez de terra arável, falta de posse da terra, guerra e doença (Conway, 1997). Nas terras firmes tropicais e nas margens das florestas tropicais da África, Ásia e América Latina, os baixos níveis de mecanização, a alta demanda de mão-de-obra, a erosão do solo e nutrientes agrícolas sempre caracterizam a agricultura de subsistência. Os balanços de nutrientes desses sistemas são em geral negativos, com exportações excedendo grandemente as entradas. Stoorvogel & Smaling (1990) verificaram que, para a África subsaariana, as saídas de nutrientes excedem as entradas em 42 kg N, 3 kg P e 29 kg K por hectare/ano. Outros trabalhos mostram que a produtividade média de cereais nessas regiões é de cerca de uma tonelada por hectare (Banco Mundial, 1992) e que a produção de alimento per capita tem declinado sistematicamente desde o final da década de 80, de Jager et al. (1997).

Estima-se que os humanos necessitam consumir cerca de 2.700 calorias para manterem-se ativos e saudáveis (Conway, 1997). Há mais de 8 milhões de pessoas, entretanto, que consomem menos de 2 mil calorias por dia e estão cronicamente subnutridas (Bongaarts, 1995).

A Organização para Alimento e Agricultura das Nações Unidas (FAO, 1996) estima que, para o período de 1990 a 2050, o fornecimento de alimentos necessitará aumentar 2,4 vezes na Ásia, 1,9 na América Latina e Caribe, e 5 vezes na África. O grosso do crescimento populacional mundial ocorrerá no mundo em desenvolvimento.

Os países tropicais necessitam urgentemente tomar providências para, pelo menos, dobrar a produção de alimentos ao longo dos próximos cinqüentas anos e assim, proceder de maneira a reduzir a pobreza e conservar os recursos naturais e o meio ambiente.

Sustentabilidade e desenvolvimento

A meta principal é melhorar e manter a produtividade e os serviços ambientais das paisagens tropicais. Há várias definições para a sustentabilidade. (Conway, 1997) define-a como: "A habilidade de um sistema agroecológico manter a produtividade em face do estresse ou choque." Herdt & Steiner (1995) sugerem que a produção e o fator total da produtividade não devem declinar enquanto se mantêm os níveis aceitáveis da saúde do ecossistema. O desafio é minimizar os desequilíbrios entre a produtividade e a saúde do ecossistema (como medidos pela biodiversidade, impactos ambientais e a saúde humana).

O que é crítico para os agricultores é que os ecossistemas sustentáveis devem ser estáveis em situação de estresse e sensíveis às condições otimizadas, ou maior insumos de conhecimento, nutrientes, mão-de-obra e/ou novas variedades. Wood (1998) argumenta que "agroecossistemas estáveis, que não se tornam mais produtivos com maiores insumos, desperdiçam os incentivos dos agricultores ao investir em insumos e condenam as propriedades rurais a um nível de baixa produtividade".

Para uma distribuição eqüitativa dos benefícios da sustentabilidade agrícola, as receitas agrícolas necessitam elevar-se suficientemente para os agricultores, de forma que as suas famílias gozem de melhor nutrição e acesso aos serviços de educação e saúde.

Intensificação agrícola nos trópicos Agricultura de derruba e queima

Nas áreas de baixas densidades populacionais, a agricultura itinerante sustenta pessoas há séculos com impactos mínimos sobre os ecossistemas. Na agricultura itinerante, a floresta era derrubada e queimada para liberar nutrientes para culturas agrícolas, que eram cultivadas por três ou quatro anos. A terra cultivada era, então, permitida retornar à floresta secundária (20 a 60 anos), o que fornecia uma

amplitude de produtos (frutas, plantas medicinais, animais de caça) e serviços (estabilidade da paisagem), à medida em que o solo se regenerava (Sneadaker & Gamble 1969; Turner et al., 1977).

Com o aumento da pressão populacional e da escassez de florestas, os períodos de pousio da terra foram reduzidos à medida em que os agricultores começaram a inovar e intensificar a produção agrícola (Boserup, 1965). As altas taxas do crescimento populacional, combinadas com a perda das terras cultiváveis para a degradação e a urbanização, aumentaram a pressão sobre as florestas

remanescentes no mundo. A agricultura itinerante tem dado lugar à agricultura de derruba e queima, na qual os períodos de pousio da terra são em torno de, somente, três anos, e os recursos naturais são rapidamente degradados (Brady, 1996). A conversão de florestas em áreas agrícolas resulta em redução dos estoques de carbono do ecossistema, por motivo da remoção da biomassa aérea e da perda de carbono e nutrientes do sistema (Fernandes et al., 1997a; van

Noordwijk et al., 1997). Adicionalmente, a biodiversidade é muito reduzida quando as florestas são desmatadas (Matson et al., 1997).

Estima-se que milhões de pessoas praticam agricultura de derruba e queima com impacto direto sobre, aproximadamente, 400 milhões de hectares de florestas (FAO, 1985). Nós necessitamos urgentemente de aumento na produção sustentável de alimento, na qual a agricultura de devastação e de queima está sendo praticada. Os sistemas de agricultura alternativa frente à derruba e à queima, entretanto, também devem contribuir para melhorar o modo de vida dos

agricultores e incrementar os serviços ambientais (i.e, estoque de carbono e proteção do solo) e aumentar a biodiversidade local.

Há um potencial significativo para o aumento da produção de alimento nos

trópicos, mediante a extensão das tecnologias bem manejadas da revolução verde, para terras que estão atualmente degradadas ou são precariamente utilizadas (Borlaug, 1992). O grosso do crescimento populacional, ao longo dos próximos 50 anos, ocorrerá nos trópicos em desenvolvimento, onde os investimentos em estrada rural e infra-estrutura de mercado, irrigação, educação e saúde são severamente deficientes. Para a maioria dessas áreas, mesmo que novos investimentos significativos sejam feitos hoje, haverá grande resistência à implantação, com sucesso, das tecnologias da Revolução Verde. Neste papel,

princípios-chave do uso da terra que são importantes para a recuperação dos ecossistemas. Sistemas agroflorestais, compreendendo as combinações e as rotações apropriadas de cereais e legumes herbáceos com árvores, arbustos e, em alguns casos, animais, podem melhorar significativamente a produtividade e a recuperação dos ecossistemas.

As práticas agroflorestais podem ser destinadas à proteção da base de recurso natural necessárias para a manutenção e a sustentabilidade dos sistemas de produção intensiva de alimento, assim como para reabilitar a produtividade e os serviços ambientais das áreas degradadas. Pesquisa recente sobre o registro polínico dos Andes peruanos centrais revelou que as culturas Inca (1.440 a 1.534 d.C.) e Pré-Inca usavam em grande escala agroflorestas baseadas em Alnus e administravam esses frágeis ambientes montanhosos com impacto mínimo (Chepstow-Lusty et al., 1998).

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