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SAF e o planejamento do uso da terra: experiência na região norte fluminense RJ

Antonio Carlos da Gama-RODRIGUES(); Peter MAY(2). (1)UENF/RESCANF; (2)IPN/UFRRJ, Rio de Janeiro - RJ

O Norte fluminense apresenta grande diversidade de solos, predominando as classes Neossolos Flúvicos, Latossolos e Argissolos, numa variação de relevos do tipo baixada até montanhoso. Os tipos climáticos são Aw e Am, com distribuição irregular de chuvas e incidência de fortes ventos na maior parte do ano.

Entretanto, há elevada abundância de recursos hídricos, particularmente os das bacias hidrográficas dos Rios Paraíba e Macaé. Por outro lado, nesta região a cobertura atual de Mata Atlântica é inferior a 5% da mata original, devido ao longo período de atividades agropecuárias, especialmente da cana-de-açúcar e do café, com uso regular do fogo e mecanização intensiva. Isto resultou, não apenas na drástica redução do maciço florestal, mas também num elevado grau de degradação dos solos. A maioria dos fragmentos florestais remanescentes é, de maneira geral, pobre em espécies de alto valor comercial, caracterizando ecossistemas bastante degradados quanto ao solo e a sua biodiversidade. A conseqüência disso foi a decadência socioeconômica da região, na qual as

atividades de uso atual das terras são pastagens também degradadas. Além disso, essa decadência resultou numa substancial alteração da estrutura fundiária, mediante a implantação de programas de reforma agrária, constituindo-se em propriedades de 4 ha a 20 ha. Em face desta realidade, torna-se necessário implantar sistemas de manejo agroflorestal (SAFs) e florestal que melhorem a qualidade florística e edáfica desses ecossistemas, para aumentar a renda e proporcionar a sustentabilidade do desenvolvimento rural.

Em razão disso, o plantio de árvores constitui-se numa possível alternativa de recuperação dessas terras degradadas, especialmente aquelas áreas com baixo potencial de regeneração natural da floresta. Isso reduziria a pressão de exploração sobre as áreas remanescentes de floresta natural. A presença de determinadas espécies arbóreas em sistemas produtivos pode influenciar certas características do solo, mediante a reciclagem dos nutrientes e das interações delas com o microambiente, resultando em melhorias da estrutura do solo e aumento do teor de matéria orgânica e da disponibilidade de nutrientes do solo. Em geral, o plantio de árvores eleva a fertilidade da camada superficial do solo, podendo torná-lo adequado para as culturas agrícolas, além de reduzir os riscos de erosão, devido a uma permanente cobertura do solo pela serapilheira acumulada. Dentre os

sistemas de produção florestal com espécies nativas destaca-se o de plantio misto. Esse sistema pode ser mais produtivo e financeiramente atraente, além de exercer maiores efeitos positivos sobre o solo do que os plantios puros. O plantio misto visa otimizar os atributos ecofisiológicos das espécies nativas quando em seu ambiente natural.

Nesse sentido, a melhoria da qualidade do solo aumenta a capacidade produtiva e, por conseguinte, a sustentabilidade dos sistemas agroflorestais e florestais. Além

sistemas de produção de baixo impacto ambiental. Por outro lado, os SAFs, e, ou, o reflorestamento nas áreas de borda dos fragmentos florestais remanescentes aumenta o potencial de regeneração natural desses fragmentos, e, assim, a sua biodiversidade.

A implantação e o sucesso de sistemas agroflorestais requer um criterioso estudo de planejamento para se definir a extensão e o tipo de SAFs em âmbito regional, municipal, local e da propriedade. Os SAFs não devem ser a única alternativa de tecnologias apropriadas para promover o desenvolvimento rural de uma região. Pois, um dos principais problemas com os SAFs está na complexidade das interações entre seus diferentes componentes, as quais, em geral, são específicas para cada localidade e/o, propriedade, dificultando, dessa maneira, a generalização de conclusão ou recomendações com base em estudos isolados. Assim, os SAFs, numa determinada área, devem estar combinados com as atividades agrícolas e florestais, possibilitando também a criação de áreas de preservação permanente. Isso constituiria um mosaico da paisagem, agregando valor aos produtos gerados. Dessa maneira, esse mosaico da paisagem rural configura um sistema integrado de produção, ou seja, o SAF estaria inserido num complexo bioeconômico.

Para se implantar esse complexo bioeconômico é necessário descrição e análises dos aspectos naturais e sociais relevantes da área selecionada, com o propósito de identificar os sistemas de produção existentes e reconhecer os problemas mais importantes. A análise desses dados permite determinar se o uso de práticas agroflorestais é uma alternativa viável que contribua na solução dos problemas identificados. O objetivo, portanto, da caracterização é descrever a área em um nível de detalhe que permita planificar as alternativas apropriadas.

Após a etapa de caracterização, é possível saber se os SAFs, como inovação tecnológica, são ou não apropriados para promover o desenvolvimento da região norte fluminense, mediante os indicadores de maximização da taxa de crescimento econômico, a diminuição do desemprego e a melhor distribuição de renda. Sob o ponto de vista ecológico, os critérios mais importantes são aqueles diretamente relacionados à conservação da capacidade produtiva do solo, ou seja, com a sustentabilidade dos sistemas de produção. Os critérios econômico e o ecológico são partes integrantes do processo de desenvolvimento rural.

Nesse contexto, o Núcleo de Pesquisa "Reflorestamento, Recuperação de Solos Degradados e Conservação Ambiental do Norte/Noroeste Fluminense" (Rescanf), sediado na UENF, vem realizando ações que visam atender às expectativas da comunidade local e/ou regional quanto a solucionar problemas ambientais concernentes à recuperação do solo e da Mata Atlântica, compatibilizando com empreendimentos agrícolas e florestais economicamente viáveis. Desse modo, as atividades de pesquisa, ensino e extensão são plenamente integradas.

Os objetivos do Rescanf são: formação de sistemas agroflorestais; produção de madeira e seus derivados; proteção, conservação, recuperação e manutenção do potencial produtivo e regulação hídrica do solo; aumentar a incorporação de carbono e nitrogênio; aumentar o estoque de água; aumentar o potencial de regeneração natural; ou uma combinação desses objetivos.

Para alcançar esses objetivos são desenvolvidos projetos em seis linhas de pesquisas: revegetação e recuperação de solos degradados por diferentes

coberturas florestais; ciclagem e balanço de nutrientes em ecossistemas florestais; biodiversidade: indicadores da qualidade do solo; composição florística e

fitossociológica de fragmentos florestais; avaliação nutricional e adubação de espécies florestais nativas; e educação e conservação ambiental.

Essas linhas de pesquisas são desenvolvidas em matrizes experimentais, de caráter multi e transdisciplinar, possibilitando a execução simultânea e seqüêncial de diversos experimentos.

O uso dos conhecimentos gerados permitirá a elaboração de diagnóstico da biodiversidade dos diferentes sistemas integrados de produção; a obtenção de certificado de qualidade ambiental; a inserção do conceito de economia ecológica nos modelos de avaliação de custo/benefício; e a recuperação socioeconômica das atividades rurais.

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