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Considerações sobre os dispositivos da Agenda 21 envolvendo

CAPÍTULO 2: CONTROLE DOS RISCOS DOS AGROTÓXICOS

3.2. Considerações sobre os dispositivos da Agenda 21 envolvendo

Em 1992, como um dos resultados da Conferência Nacional das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, foi elaborado um Documento intitulado Agenda 21 Mundial, no qual são elencados objetivos a serem atingidos pelos mais diversos países na busca da consecução do desenvolvimento sustentável439.

O referido documento é um acordo protocolar que estabelece políticas, sem vinculação jurídica, isto é, cujo cumprimento depende do “comprometimento contínuo das lideranças governo e sociedades - de cada país que assinou tais instrumentos, entre eles o Brasil”. Apesar de ser um instrumento não vinculante, a criação e a divulgação desse documento já é considerada positiva, uma vez que representa uma mudança na forma de os seres humanos viverem, ao propor um plano de ação para um desenvolvimento sustentável440. Entre os objetivos arrolados na Agenda 21 Mundial, o capítulo 14 tratou da “Promoção do Desenvolvimento Rural e Agrícola Sustentável”. Logo no item 14.2 da Agenda em questão, destacou-se que o principal objetivo desse desenvolvimento é “aumentar a produção de alimentos de forma sustentável e incrementar a segurança alimentar”. Também nesse item ficou consignado que, entre as estratégias necessárias para alcançar tal objetivo, encontram-se: “iniciativas na área da educação, o uso de incentivos econômicos e o desenvolvimento de tecnologias novas e apropriadas”.

No que se refere aos deveres atribuídos aos governos para o alcance do desenvolvimento rural e agrícola sustentável, estes foram

439

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21 Mundial. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade- socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. Acesso em: 07 de mar. 2013. 440

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21 e biodiversidade.

Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/CadernodeDebates9.p df>. Acesso em: 8 de mar. 2013.

incumbidos, nos termos da letra e, do item 14.9, da Agenda 21 Mundial, o dever de:

formular, introduzir e monitorar políticas, leis e regulamentações e incentivos que levem desenvolvimento e transferência de tecnologias adequadas de cultivo, inclusive, quando apropriado, sistemas de agricultura sustentável de baixos insumos441.

Conforme já estudado, o documento, ao destacar a necessidade de desenvolver sistemas de agricultura sustentável de baixos insumos aponta para um caminho no qual a redução de agrotóxicos é um objetivo a ser atingido442. Essa conclusão está expressa no item 14.27, quando o Documento em análise faz menção às tecnologias de manejo agrícola integrado como forma de se reduzir o uso dos agroquímicos, conforme se depreende da leitura abaixo:

14.27. Os Governos, no nível apropriado, com o apoio das organizações internacionais e regionais competentes, devem:

(a) Desenvolver e difundir para as famílias de agricultores tecnologias de manejo agrícola integrado, por exemplo rotação de culturas, adubagem orgânica e outras técnicas que signifiquem redução do uso de produtos agroquímicos, bem como inúmeras técnicas

441

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21 Mundial. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade- socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. Acesso em: 07 de mar. 2013. 442

Já se estudou, no capítulo anterior, que existe uma necessidade premente de se regenerar a agricultura através de uma agroecologia fundanda na utilização de poucos insumos externos. PRETTY, Jules; GUIJT, Irene; SCOONES, Ian; THOMPSON, John. Regenerating Agroecology of Low-External Input and Community-Based Development. In: The Earthscan Reader in Sustainable Development. Edited by John Kirkby, Phil O’Keefe and Lloyd Timberlake. UK, 1999. p. 127.

voltadas para a exploração de fontes de nutrientes e a utilização eficiente dos insumos externos, reforçando, ao mesmo tempo, as técnicas de utilização dos resíduos e subprodutos e de prevenção das perdas anteriores e posteriores à colheita, com especial atenção para o papel das mulheres (grifou-se);

Dessa forma, verifica-se que a Agenda 21 Global incumbiu aos governos o dever de promover uma agricultura mais sustentável, a qual, conforme já estudado, utiliza-se de métodos menos agressivos para o homem e para o meio ambiente, a partir, dentre outros fatores, da redução do uso dos agrotóxicos.

Além da Agenda 21 Mundial, há também a Agenda 21 Brasileira que, em seu capítulo 12, para fins de promoção da agricultura sustentável, trouxe as seguintes ações e recomendações: a) a instituição de mecanismos políticos, legais, educacionais e científicos que assegurem programas de monitoramento e controle de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, inclusive importados, e no meio ambiente, particularmente nos corpos d'água superficiais e subterrâneos; b) identificação e sistematização nos diferentes biomas e ecossistemas físicos, as principais experiências produtivas em bases sustentáveis, valorizando-as e disseminando-as por meio de diversificados mecanismos de difusão e sensibilização; c) desenvolvimento de um conjunto de indicadores de sustentabilidade para a agricultura, para fins de monitoramento comparativo de diferentes categorias de sistemas produtivos e para estimular o gerenciamento ambiental de unidades de produção agrícola; d) identificação e sistematização de um conjunto de pesquisas necessárias à transição para a agricultura sustentável, contemplando, prioritariamente, aspectos relacionados a: gestão ambiental; manejo sustentável dos sistemas produtivos; ampliação da diversidade biológica dos agroecossistemas; melhoria nas condições dos solos; redução do uso de agrotóxicos e de outros poluentes443 (grifou- se).

Assim, observa-se que tanto a Agenda 21 Mundial quanto a Agenda 21 Brasileira apontam para a necessidade de se reduzir o uso

443

COMISSÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E DA AGENDA 21 NACIONAL. Agenda 21 Brasileira – Ações Prioritárias. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2002.

de agrotóxicos.

Além das orientações estabelecidas por esses dois documentos, convém ainda estudar outro documento que traz importantes regras para a gestão dos riscos dos agrotóxicos, a saber: o Código Internacional de Conduta para a Distribuição e Utilização dos Pesticidas elaborado pela Organização para a Agricultura e a Alimentação das Nações Unidas.

3.3. O Código Internacional de Conduta para a Distribuição e