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CAPÍTULO 2: CONTROLE DOS RISCOS DOS AGROTÓXICOS

2.3. Princípios indispensáveis à formação de um direito de

2.3.5. O princípio da participação

O princípio da participação decorre do artigo 225 da Constituição Federal, que estabelece ser dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente para as presentes e as futuras gerações. Trata-de do estampado no caput do artigo 225, que assim dispõe:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

A partir desse comando constitucional, a defesa do ambiente pela sociedade civil não se constitui apenas de mero voluntarismo, mas toma a forma de dever fundamental, revelando “a dupla natureza de direito e dever fundamental da abordagem constitucional conferida à proteção do ambiente”339

.

339

FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente. A dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico- constitucional do Estado Socioambiental de Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 123.

A Declaração do Rio de Janeiro de 1992 também elencou o princípio da participação, destacando a sua importância, conforme se infere da leitura do princípio 10 do referido documento:

A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos340.

Diante da crise ambiental atualmente vivenciada, na qual a degradação ambiental em termos locais e planetários apromixa-se de um quadro limite e preocupante, Fensterseifer assinala que não se pode conceber um cidadão apático ou mesmo conformado com os rumos trágicos da História humana341.

No Brasil, a participação em temas ambientais pode ser viabilizada através da participação via criação de direito ambiental, via participação da formulação e execução de políticas ambientais e por

340

DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Ministério do Meio Ambiente, 1992. Disponível em: <www.mma.gov.br >. Acesso em: 14 de fev. 2013.

341

FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente. A dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico- constitucional do Estado Socioambiental de Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 123.

meio da participação via acesso ao Poder Judiciário342. A criação do direito ambiental pode-se dar, por exemplo, através de lei de iniciativa popular, prevista no artigo 61, da Constituição Federal. A participação na formulação e execução de políticas ambientais verifica-se, por exemplo, quando das audiências públicas, prevista na Resolução n. 01/86, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e o acesso à justiça, por sua vez, pode ser realizado através de ações civis públicas ajuizadas por associações, nos termos da Lei 7.347/85343.

Com relação especificamente às audiências públicas, deve- se lembrar de que a Constituição Federal assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, o direito ao contraditório e à ampla defesa344. O contraditório é constituído por dois elementos: a informação e a reação345.

O contraditório possibilita que as partes ou os titulares de conflitos de interesse exponham suas razões, apresentem suas provas e, conseqüentemente, influam sobre o convencimento daquele que decidirá o conflito. No licenciamento ambiental, por exemplo, é na audiência pública que os cidadãos poderão exercer o contraditório através do acesso às informações do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), o qual conterá uma síntese das atividades desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar, bem como o parecer técnico do órgão licenciador, que inclui a apreciação sobre a viabilidade do projeto, seu impacto no meio ambiente, além das eventuais alternativas possíveis e pertinentes346.

342

MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios fundamentais do direito ambiental. In: OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades; LEITE, José Rubens Morato. Cidadania coletiva. Florianópolis: Paralelo, 1996. p. 109.

343

LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de risco e Estado. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes Canotilho; MORATO LEITE, José Rubens. Direito constitucional ambiental brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 193.

344

Dispõe a C.F., em seu art. 5°, inc. LV que: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, ou acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerente”.

345

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. 19ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 57.

346

De fato, é na audiência pública que a coletividade tem a possibilidade de passar ao órgão licenciador, ao proponente e à equipe multidisciplinar que realizou o Estudo de Impacto Ambiental, os dados e informações por ela colhidas, influenciando na decisão final. São, pois, objetivos a ser atingidos quando da realização da audiência pública: “participação da sociedade civil no processo da decisão administrativa, transparência da administração pública e controle popular do processo licenciatório”347

. Depois do recebimento do EPIA e de ser possibilitado o acesso a ele, o órgão do meio ambiente deve abrir prazo de 45 (quarenta e cinco) dias para que os interessados solicitem a audiência pública348. Poderá também o órgão do meio ambiente responsável pelo licenciamento ambiental promover a realização de audiência pública se julgar necessário, além das hipóteses de solicitação por parte de entidade civil, do Ministério Público ou de 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos349.

Deve-se lembrar de que os instrumentos de participação, a exemplo da audiência pública, para serem utilizados com todo o potencial que detêm necessitam da efetividade de outros dois importantes princípios do direito ambiental: o princípio da informação e o da educação ambiental. Nesse sentido, Fiorillo assinala que se denotam presentes dois elementos fundamentais para a efetivação do princípio da participação: a informação e a educação ambiental, princípios a seguir estudados350.