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CAPÍTULO 2: CONTROLE DOS RISCOS DOS AGROTÓXICOS

2.3. Princípios indispensáveis à formação de um direito de

2.3.6. O Princípio da informação

A efetividade do princípio da participação, anteriormente estudado, depende da consecução de outro princípio de direito ambiental, o princípio da informação. Tal princípio encontra-se

347

PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. A publicidade e o direito de acesso a informações no licenciamento ambiental. In: Revista de Direito Ambiental. Ano 2. n° 8. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 31

348

Cf. Resolução n° 09/87, do CONAMA, art. 2°, §1°. 349

Cf. Resolução n° 09/87, do CONAMA, art. 2°. 350

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 10. Ed. Ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 57.

regulamentado pelos mais diversos instrumentos legais. Assim, verificar-se-á que esse direito está previsto não apenas constitucionalmente, mas também em diversas leis ordinárias bem como em documentos internacionais.

Na Constituição Federal, o art. 5° assegura o direito à informação, garantindo seu acesso não apenas em face do Poder Público, mas também do particular, se não vejamos:

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; [...]

XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

A Constituição Federal fez apenas duas ressalvas no tocante ao direito à informação: nos casos em que o sigilo seja necessário ao exercício da profissão do particular ou à segurança da sociedade e do Estado. Com exceção desses limites, as informações de interesse particular ou de interesse coletivo ou geral deverão ser prestadas pelos órgãos públicos no prazo da lei, sob pena de responsabilidade351.

Ademais, considerando-se que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente352, a sociedade deverá ter acesso às informações que são produzidas pela Administração Pública para que possa efetivamente exercer a sua cidadania, já que somente bem informada é que poderá fiscalizar os atos

351

Cf. a Constituição Federal, art. 5°, inc. XXXIII. 352

Estabelece a C.F., em seu art. 1°, § único, que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

do Poder Público e influenciar nos processos decisórios que digam respeito a interesses públicos, tais como o meio ambiente. Conforme Paulo Afonso Leme Machado353, faz-se necessário observar que “a Administração existe para servir o administrado e não este aquela”. Não por outro motivo é que a Administração Pública deve obedecer ao princípio da publicidade, conforme prescreve o caput do art. 37, da C.F. Além desses mandamentos constitucionais referentes ao direito de informação aplicáveis nas mais diversas áreas, inclusive na ambiental, é importante registrar que o constituinte se preocupou especificamente com a publicização da informação ambiental quando impôs ao Poder Público a obrigatoriedade de exigir e tornar público o Estudo prévio de impacto ambiental (EPIA) da obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente354. Esse preceito constitucional é de extrema importância para garantir à coletividade os meios de ação diante de atividades de risco. De fato, atitudes preventivas e corretivas somente poderão ser tomadas se as informações ambientais, geralmente concentradas em órgãos especializados, forem divulgadas junto à população.

Registre-se que a informação, instrumento imprescindível à realização da democracia participativa, além de dar chance ao cidadão informado de posicionar-se sobre a matéria informada, serve também para o processo de educação de cada pessoa e da comunidade355. A respeito do tema, Ayala assinala que a educação e a informação ambiental são pressupostos para que a participação popular na defesa do meio ambiente seja efetivada356.

353

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21 ed. Rev. Atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 94.

354

Prescreve a C.F., em seu art. 225, § 1°, inc. IV, que para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado incumbe ao Poder Público “exigir, na forma de lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.

355

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21 ed. Rev. Atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 127.

356

AYALA, Patryck de Araújo. Transparência e participação pública no procedimento administrativo ambiental: problemas e perspectivas no direito brasileiro. In: 9° CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO

De fato, o direito à informação é um dos instrumentos de efetivação do princípio da participação e, ao mesmo tempo, de controle social do poder, permitindo a atuação consciente e eficaz da sociedade, no desenvolvimento e na implementação das políticas públicas direcionadas à área ambiental.

É importante registrar que a informação, para servir como instrumento para a participação popular, deve ser transmitida de forma que possibilite tempo suficiente aos cidadãos de analisar a matéria e poder agir diante da Administração Pública e do Poder Judiciário 357. Igualmente, além de oportuna, a informação deve ser suficiente e adequada, caso contrário o direito fundamental à informação não poderá ser concretizado358. Segundo José Adércio Leite Sampaio359, quatro são as características das informações aptas a oportunizar aos cidadãos a possibilidade de contribuir de maneira efetiva e consciente nos processos decisórios que venham a gerar efeitos sobre a natureza, quais sejam: a sua veracidade, amplitude, tempestividade, e acessibilidade.

Paulo Afonso Leme Machado, ao estudar o papel da informação em uma sociedade democrática, afirma que: “A democracia nasce e vive na possibilidade de informar-se. O desinformado é um mutilado cívico”360

. Isso porque a intervenção da coletividade na proteção do ambiente depende de ser oportunizado aos cidadãos o acesso à informação. A qualidade e a quantidade de informação são as características que irão traduzir o tipo e a intensidade de participação na vida social e política, devendo-se lembrar de que a informação pode agir

AMBIENTAL. Paisagem, natureza e direito. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2005. p. 330.

357

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21 ed. Rev. Atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 129.

358

AYALA, Patryck de Araújo. Transparência e participação pública no procedimento administrativo ambiental: problemas e perspectivas no direito brasileiro. In: 9° CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL. Paisagem, natureza e direito. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2005. p. 364.

359

SAMPAIO, José Adércio Leite; WOLD, Chris; NARDY, Afrânio José Afonso. Princípios de direito ambiental na dimensão internacional e comparada. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.77.

360

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à informação e meio ambiente. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 259.

para libertar o ser humano e a sua ausência pode ser a causa de opressão e de subordinação361.

No caso dos agrotóxicos, deve-se dizer que diante dos riscos que tais produtos apresentam para o meio ambiente e para a saúde humana, a informação significa conhecimento, participação e possibilidade de escolha. Esses riscos tornam a obrigatória a divulgação de informação sobre os efeitos da exposição a esses produtos não somente pelos fabricantes, mas também pelo Poder Público, devendo-se mencionar que tais informações não se limitam as que, por lei, são expostas ao público nos rótulos dos produtos, mas a uma ampla divulgação de tudo o que envolve essas substâncias362.

A diversidade dos meios de exposição a que o meio ambiente e a humidade está exposta, a crescente demanda por mais pesticidas decorrente da resistência das pragas, a acumulação desses produtos nos tecidos humanos, vegetais e animais, a persistência por longos períodos no meio ambiente e os impactos transfronteiriços desses produtos363 são fatores que reforçam o dever de informação, em virtude da magnitude dos riscos dos agrotóxicos.

Nesse sentido, recorde-se que a Constituição Federal, no § 4º, do artigo 220, prevê a possibilidade de o Poder Público, por meio de lei, criar restrições às propagandas comerciais dos agrotóxicos, entre outros produtos, determinando ainda a obrigação de, sempre que necessário, se inserir uma advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso364. A Lei Federal n. 7.802, de 1989, regulamentando a C.F.,

361 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à informação e meio ambiente. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 32.

362

FAGUNDEZ, Paulo Roney Ávila; SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da; ALVES, Elizeste Lanzoni; SILVEIRA, Karine Grassi Malinverni da. In: ARAGAO, Alexandra. LEITE, José Rubens Morato; FERREIRA, Jovino dos Santos Ferreira; FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. Agrotóxicos: a nossa saúde e o meio ambiente em questão - Aspectos técnicos, jurídicos e éticos. Florianópolis: Funjab, 2012. p. 91.

363

WARGO, John. Our children’s toxic legacy. How science and law fail to protect us from pesticides? Second Edition. New Haven: Yale University Press, 1998. p. ix.

364

Dispõe o § 4º, do artigo 220, da Constituição Federal: “A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e

determinou em seu artigo 8º, que a propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de comunicação, conterá, obrigatoriamente, “clara advertência sobre os riscos do produto à saúde dos homens, animais e ao meio ambiente”.

Com relação ao modo de o Estado divulgar informações acerca dos riscos dos agrotóxicos, deve-se mencionar que os portais eletrônicos, apesar de se constituírem em uma boa opção, não atingem a toda população diante do limitado acesso, razão pela qual outros mecanismos de informações oficiais devem ser expostos à população365. Quando da análise dos instrumentos informativos necessários para um uso mais sustentável dos agrotóxicos, abordar-se-á novamente o tema, apontando-se para algumas propostas que viabilizam uma melhor divulgação acerca dos riscos de tais produtos.

No próximo item, segue-se na análise do princípio da educação ambiental.