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2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO

2.2.3 A consolidação da educação profissional

Nova fase que vai consolidar uma proposta de formação em função da implan- tação de um modelo econômico baseado na industrialização e nos esforços em con- solidar um projeto político surge nos anos 1930 com a instalação do governo de Ge- túlio Vargas. O desenvolvimento industrial nacional determinou algumas mudanças no sistema educacional e na organização do ensino industrial.

De acordo com Moraes (1996, p. 140),

A partir de determinada concepção de sociedade - vista como organização funcional, sob o signo da administração e da eficiência – medidas racionali- zadoras permeiam a proposta administrativa e pedagógica da “educação nova” e procuram adequar a escola à sua nova função social, como auxiliar no processo de reprodução do trabalhador coletivo.

Com o aumento da demanda para formação de operários especializados e de quadros técnicos intermediários na divisão do trabalho, foi neste período que se usou pela primeira vez o termo “técnico”. Machado (1989, p. 76) observa:

A educação técnica designa, genericamente, as atividades sistemáticas de formação e aperfeiçoamento de pessoal para as ocupações existentes na agricultura, indústria, comércio e serviços, em cursos de nível médio do 2°

ciclo ou pós-médios que não se incluem, necessariamente, nos padrões uni- versitários clássicos.

No âmbito das reformas educacionais, a Reforma Capanema, sob o nome de Leis Orgânicas do Ensino, estruturou o ensino industrial e reformou o ensino comer- cial. Nos últimos anos do Estado Novo, através do Decreto Lei 4.048 de 22 de janeiro de 1942, foi criado o Serviço Nacional da Aprendizagem – SENAI.

Bárbara Weinstein (2000), em sua pesquisa sobre as relações de trabalho no Brasil, analisa as interações entre o mundo do trabalho e a burguesia industrial nos anos entre 1920-1964. A autora destaca a hegemonia das indústrias sobre o processo decisório que culminou na criação do SENAI em 1942. De acordo com a autora, “longe de transferir seu papel social e intelectual a um Estado Corporativo”, o empresariado industrial brasileiro buscou “de forma agressiva, assumir a liderança na reorganização das relações industriais e na construção de uma nova sociedade urbano-industrial” (WEINSTEIN, 2000, p.27). No entanto, afirma a importância do Estado para o estabe- lecimento dos ideais da elite industrial para reformar a classe trabalhadora e dos ope- rários. O SENAI fora organizado para combinar os melhores elementos dos dois cam- pos: a capacidade de coerção do Estado e a tendência do setor privado a valorizar a autonomia. (WEINSTEIN, 2000, p. 120).

Neste mesmo período, por meio do Decreto Lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942, a preparação profissional dos trabalhadores para a indústria foi reorganizada e foram criadas as Escolas Técnicas, que se responsabilizariam pela formação profissional no nível ginasial e técnico.

Ao mesmo tempo, o Decreto-lei 4.244 de 9 de abril de 1942, por sua vez, organizou o ensino secundário em dois ciclos: o primeiro compreendendo um só curso: o curso ginasial; e o segundo, dois cursos paralelos, o curso clássico e o curso científico.

Art. 3º O curso ginasial, que terá a duração de quatro anos, destinar-se-á a dar aos adolescentes os elementos fundamentais do ensino secundário. Art. 4º O curso clássico e o curso científico, cada qual com a duração de três anos, terão por objetivo consolidar a educação ministrada no curso ginasial e bem assim desenvolvê-la e aprofundá-la. No curso clássico, concorrerá para a formação intelectual, além de um maior conhecimento de filosofia, um acentuado estudo das letras antigas; no curso científico, essa formação será marcada por um estudo maior de ciências. (BRASIL, 1942)

O Decreto Lei previa ainda que o egresso do curso primário deveria submeter- se ao exame de admissão para ingresso no curso ginasial. Em 1946, através do De- creto-Lei nº 8.530 de 2 de janeiro, foram estabelecidas as Leis Orgânicas do Ensino Normal, curso voltado para a formação de professores do ensino primário. Mantendo a mesma estrutura dos demais cursos de nível secundário, o ensino normal foi dividido em dois ciclos:

Art. 2º. O ensino normal será, ministrado em dois ciclos. O primeiro dará o curso de regentes de ensino primário, em quatro anos, e o segundo, o curso de formação de professores primários, em três anos. Art. 3º. Compreenderá, ainda o ensino normal cursos de especialização para professores primários, e cursos de habilitação para administradores escolares do grau primário. (BRASIL, DECRETO-LEI N. 8.530 -DE 2 DE JANEIRO DE 1946)

O objetivo do ensino secundário e normal era o de “formar as elites condutoras do país” e o objetivo do ensino profissional era o de oferecer “formação adequada aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, aqueles que necessitam ingressar precocemente na força de trabalho”. Desta forma, “a política educacional do Estado Novo erigiu uma arquitetura educacional que ressaltava a sin- tonia entre a divisão social do trabalho e a estrutura escolar, isto é, entre ensino se- cundário, destinado às elites condutoras e os ramos profissionais do ensino médio” (CUNHA, 2000, p. 7).

Referente à preparação de profissionais do comércio, o Decreto Lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, que reformou o ensino comercial, garantia um ensino vol- tado para os setores específicos do comércio, envolvendo áreas administrativas, de relacionamentos, dentre outros.

O ensino propedêutico neste período era composto por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clás- sico ou científico. Na década de 1950 é que se passou a permitir a equivalência entre os estudos acadêmicos e profissionalizantes pela Lei Federal n.º 1.076/50. Esta lei permitia que concluintes de cursos profissionais ingressassem em cursos superiores, desde que comprovassem nível de conhecimento indispensável aos estudos preten- didos. A Lei Federal n.º 1.821/53 chamada Lei da Equivalência de Estudos, definia as regras para a aplicação desse regime de equivalência entre os diversos cursos de grau médio e, sua regulamentação ocorreu através do Decreto n.º 34.330/53, efeti- vando sua aplicação somente a partir do ano de 1954. (CUNHA, 2000).

Essa equivalência legal, porém, “não conseguiu superar a dualidade entre a formação geral e profissional, tendo em vista que o ensino secundário continuou man- tendo maior reconhecimento social” (SANTOS apud ORTIGARA EGANZELI,2011, p. 260) já que os currículos se encarregavam de mantê-la, uma vez que o ensino voltado para a continuidade dos estudos continuava privilegiando os conteúdos exigidos nos processos seletivos de acesso ao ensino superior. (GARCIA, 1995, p. 60).

No início da década de 1960, com uma política conhecida como desenvolvi- mentismo, que consistia em incentivar o progresso econômico do país estimulando a industrialização e a internacionalização da economia, com forte participação do Es- tado, teve início o ambicioso Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961),chamado de “cinquenta anos de progresso em cinco de governo" que continha trinta propostas no esforço de modernização do país, visando passar de uma nação agrário-exportadora para industrial e passando a exigir, cada vez mais, mão- de-obra de técnicos qualificados para o mercado de trabalho. De acordo com Amorim (2004, p. 261),

Mais do que nunca, o Estado tem um papel fundamental no sentido de viabi- lizar o processo de crescimento e acumulação do setor privado, através de suas determinações e realizações. É esse o caminho que o governo JK acre- ditava ser inevitável para resgatar o país de sua condição de subdesenvol- vido.

O autor destaca que “para atender às crescentes demandas por mão-de-obra, decorrentes da expansão industrial, inclusive por parte de seus setores mais avança- dos, impunha-se a necessidade de uma mão de obra mais qualificada” (AMORIM, 2004, p. 261). Ainda de acordo com o autor, a evasão escolar durante este período era muito alta, contrariando a tendência que fundamentava a educação naquele mo- mento, a Teoria do Capital Humano. Esta teoria se baseava na ideia de que “a edu- cação permite ao trabalhador melhorar sua capacidade produtiva, permitindo-lhe me- lhores condições de negociar o seu “capital”, isto é, a sua força de trabalho no mer- cado. ” (AMORIM, 2004, p. 264).

Assim, o trabalhador estaria lucrando individualmente e promovendo o enrique- cimento do país. MACHADO (1989, p. 104) complementa que esta teoria “desenvol- veu-se com a finalidade de investigar as condições de maximização dos lucros decor- rentes do investimento na educação e de contribuir na fundamentação da educação como mecanismo justificador da desigualdade social. ”. Daí a necessidade de preparar

mais técnicos, evitar o abandono escolar, adequar a educação às necessidades reais, o que se realizou com a Lei 3.552/59 que estabeleceu uma reforma no ensino indus- trial, fixando um curso único de 1º Ciclo com finalidade propedêutica para os cursos técnicos de 2º Ciclo.