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pada pelo Brasil a partir da década de 1970, com um crescimento exponencial da economia nacional. Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) atual- mente ocupamos a sétima posição entre as maiores economias mundiais. E até 2018, último ano das projeções do Fundo, o Brasil não deve voltar a perder posição entre as maiores economias. Ao contrário, deve ganhar, com a previsão de que, em 2016, o Brasil chegue à 5ª posição no ranking dos maiores PIB, ultrapassando a França.

Na Economia, muito se tem debatido a respeito deste crescimento, principal- mente a partir da década de 1980, quando as inovações em tecnologia, especialmente advindas da introdução da microeletrônica e da informática, trouxeram mudanças para a economia internacional e provocaram grande impacto sobre as estruturas produtivas nos países da América Latina.

3.1 DO TAYLORISMO/FORDISMO AO MODELO JAPONÊS DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Após um longo período de acumulação de capitais, a partir dos anos 1970, o capitalismo começou a dar sinais de um quadro crítico, cujos traços mais evidentes, conforme Antunes (2009), foram:

1) queda da taxa de lucro, dada, dentre outros elementos causais, pelo au- mento do preço da força de trabalho, conquistado durante o período pós-45

e pela intensificação das lutas sociais dos anos 60, que objetivavam o con- trole social da produção (...).

2) o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção (que em verdade era a expressão mais fenomênica da crise estrutural do ca- pital), dado pela incapacidade de responder à retração do consumo que se acentuava (...).

3) hipertrofia da esfera financeira, que ganhava relativa autonomia frente aos capitais produtivos, o que também já era expressão da própria crise estrutural do capital e seu sistema de produção, colocando-se o capital financeiro como um campo prioritário para a especulação, na nova fase do processo de inter- nacionalização;

4) a maior concentração de capitais graças às fusões entre as empresas mo- nopolistas e oligopolistas.

5) A crise do Welfare State ou do “Estado de bem-estar social” e dos seus mecanismos de funcionamento, acarretando a crise fiscal do Estado capita- lista e a necessidade de retração dos gastos públicos e sua transferência para o capital privado.

6) Incremento acentuado das privatizações, tendência generalizada as des- regulamentações e à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho, entre tantos outros elementos contingentes que exprimiam esse novo quadro crítico. (p.31-32)

Ainda de acordo com esse autor, a crise que se inicia nos anos 1970 é profunda e complexa, no sentido de ser multideterminada e de escala global. Essa crise estru- tural fez com que fosse implementado um amplo processo de reestruturação do capital através da flexibilização da produção e acumulação.

Na esfera produtiva, conforme Harvey (1992), a crise torna evidente que o tay- lorismo/fordismo eram sistemas com padrões rígidos e que desta forma, não poderiam superar os obstáculos que se apresentavam naquele momento de crise. O toyotismo, um modelo de produção que já apresentava resultados positivos no Japão, “apresen- tava-se então como o mais estruturado receituário produtivo oferecido pelo capital, como um possível remédio para a crise. (Antunes, 1999, p. 226). Para Alves (2008),

O toyotismo pode ser tomado como a mais radical (e interessante) experiên- cia de organização social da produção de mercadorias sob a era da mundia- lização do capital. Ela é adequada, por um lado, às necessidades da acumu- lação do capital na época da crise de superprodução, e, por outro lado, é adequada à nova base técnica da produção capitalista, sendo capaz de de- senvolver suas plenas potencialidades de flexibilidade e de manipulação da subjetividade operária. (p. 61)

Os princípios organizacionais e ideológicos do modelo japonês reformularam algumas práticas de gerenciamento, empregabilidade e produção através de novos mecanismos de trabalho. Dentre algumas transformações mais notáveis, podem ser destacadas:

Uma produção vinculada à demanda, diferenciando-se da produção em série e de massa do taylorismo/fordismo; no trabalho operário em equipe, com mul- tivariedade de funções, rompendo com o caráter parcelar típico do fordismo; A produção se estrutura num processo produtivo flexível, que possibilita ao operário operar simultaneamente várias máquinas, alterando-se a relação ho- mem/máquina na qual se baseava o taylorismo/fordismo; Tem como princípio o just in time, o melhor aproveitamento possível do tempo de produção; As empresas do complexo produtivo Toyotista, incluindo as terceirizadas, têm uma estrutura horizontalizada, ao contrário da verticalidade fordista; Organiza os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), constituindo grupos de traba- lhadores que são instigados pelo capital a discutir seu trabalho e desempe- nho, com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se do savoir faire inte- lectual e cognitivo do trabalho, que o fordismo desprezava (...) (ANTU- NES,2009, p. 226-227)

O sistema de acumulação flexível foi uma alternativa encontrada pelo capita- lismo para superar suas crises e, dessa forma, atender a uma demanda de novas exigências de um mercado em dificuldades e permitir a reprodução do capital.

A acumulação flexível “caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimentos de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecno- lógica e organizacional”. (Harvey, 1992, p.140). Porém, de acordo com Alves (2008) o toyotismo “não se constitui como “modelo puro” de organização da produção capi- talista. Pelo contrário, em seu desenvolvimento complexo, tende a articular-se (e mes- clar-se) com formas pretéritas de racionalização do trabalho (como o fordismo-taylo- rismo) [...]” (Alves, 2008, p. 111).

Para o autor, o toyotismo articula a racionalização do trabalho, intrínseca ao taylorismo/fordismo com as novas necessidades da acumulação capitalista. Durante os anos 1980, através da potencialização de políticas neoliberais, o processo de reestruturação produtiva se desenvolveu plenamente e foi adotado inici- almente nos EUA e Inglaterra, posteriormente na Europa e Ásia e na América Latina, principalmente no setor industrial e até mesmo no de serviços, onde os princípios or- ganizacionais foram adaptados às particularidades concretas de produção.

Tendo na reestruturação produtiva do capital a sua base material, o projeto neoliberal assumiu formas singulares e fez com que diversos países capita- listas reorganizassem seu mundo produtivo, procurando combinar elementos do ideário neoliberal e dimensões da reestruturação produtiva do capital (AN- TUNES, 1999, p. 230).

Ao inserirem as práticas neoliberais em suas políticas, os países localizados na América Latina passaram por uma forte crise econômica, o que comprometeu o de- senvolvimento da região. Endividamento estatal e alta vulnerabilidade externa associ- ada a uma dependência tecnológica foram alguns dos resultados obtidos pelos Esta- dos Latino-Americanos que procuraram adotar as políticas neoliberais nos anos 1980 e 1990.A partir deste momento, surge a demanda de novas formas tecnológicas de produção, onde através do advento da microeletrônica e da informática, tendem a criar um novo padrão tecnológico. A esse respeito Dagnino (1994) pondera que,

De fato, um dos aspectos mais notáveis da fase que então se iniciava é o surgimento de um conjunto de inovações centrado na informática (mas que compreende a biotecnologia e os novos materiais, dentre outras), que poten- cializa o processo de acumulação e centralização de recursos protagonizado pelos conglomerados transnacionais e m escala mundial. (p.196)

Na gestão da produção, por sua vez, busca-se maior produtividade e flexibili- dade através da implantação de processos inovadores e investimentos científico-tec- nológico são longo do tempo. Para ele,

As aplicações tecnológicas possibilitadas pelo novo conhecimento, decorren- tes das características econômicas e sociais dos países desenvolvidos, ele- vam brutalmente a produtividade do trabalho e tendem a independizar cres- centemente a atividade produtiva de seus elementos "naturais"(matérias-pri- mas e mão-de-obra) e a aumentar o conteúdo científico e tecnológico no valor das mercadorias produzidas. (DAGNINO, 1994, p. 196)

No âmbito gerencial, surgem novas formas organizacionais como por exemplo o Just-in-time, que são centradas em um controle maior da produção de acordo com a demanda e produção em função de necessidades específicas de consumo e com o mínimo de produtos em estoque. Ao contrário do sistema fordista que produzia em larga escala, o toyotismo baseia-se no trabalho em equipes, na “gestão participativa”, na flexibilidade de funções e desta forma, potencializava a exploração da força de trabalho. Neste contexto, Machado (2013) afirma que

O taylorismo e o fordismo, intrinsecamente, aportaram organizações de tra- balho autoritárias. As inovações organizacionais subverteram este modelo, trazendo formas mais participativas, integradas, grupais, de descentraliza- ção, autônomas, envolventes e flexíveis, mas que não significam que sejam mais democráticas, ainda que constituam patamares superiores que favore- cem o aperfeiçoamento humano. (p. 175)

Quanto à força de trabalho, com a estruturação do modelo de produção flexível surgem novas necessidades e desafios pertinentes ao aperfeiçoamento profissional e provocando a expansão do desemprego estrutural e a precarização do trabalho. Ainda segundo Machado (2013), perdem lugar operadores de máquinas-ferramentas convencionais, operários artífices, oficiais mecânicos, supervisores e trabalhadores manuais em geral. Inauguram-se formas alternativas de contratação de mão de obra como subcontratações e encomendas de tarefas específicas. Quanto ao conhecimento necessário para adequar-se à reestruturação produtiva, com a introdução de novas tecnologias na base técnica e pela nova configuração dos modos de produção e da gestão do trabalho, surge a demanda de um conjunto de capacidades que possam atender à complexidade e a imprevisibilidade no “novo” modo de produzir. Essas novas capacidades não estariam mais limitadas aos conhecimentos técnicos, mas incorporariam habilidades cognitivas e características comportamentais e atitudinais, destacadas por Tartuce (2002) como,

(...) capacidades de abstração, de raciocínio, de domínio de símbolos e de linguagem matemática para a leitura de modelos e antecipações de proble- mas aleatórios e imprevistos; iniciativa, responsabilidade, compromisso, coo- peração, interesse, criatividade, capacidade de decisão, para o trabalho em equipe, para a visualização das regras de organização, das relações de mer- cado etc. (TARTUCE, 2002, p.135).

O mundo do trabalho encontrou-se, portanto, sob um processo de reestrutura- ção produtiva e organizacional. Como consequência, houve uma abertura econômica praticamente exigida pelo modelo neoliberal e a reformulação dos processos produti- vos, através do novo padrão de acumulação capitalista – a acumulação flexível. Em função dessa nova situação, as empresas investiram fortemente em automação, o que impactou diretamente na formação e qualificação dos trabalhadores.

Assim, passou-se a valorizar mais o trabalhador menos especializado e mais polivante, que foi deslocado do seu posto de trabalho para o exercício de uma função que exigia o desenvolvimento de habilidades comportamentais necessárias às intera- ções profissionais relacionadas com a capacidade de mobilizar saberes para a solu- ção de problemas na prática do trabalho. Nesse contexto, não seria mais exigido do trabalhador uma simples habilidade, que daria conta de processos repetitivos, mas sim, novas competências, associadas à execução de tarefas complexas e à uma ati- vidade intelectual.