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Em 2007, através do Decreto 6.095/2007, foram estabelecidas as “diretrizes para o processo de integração de instituições federais de educação tecnológica, para

fins de constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia - IFET, no âmbito da Rede Federal de Educação Tecnológica”, processo que se consolidou através da Lei 11.892/2008 que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica e criou os Institutos Federais de Educação Ciência e Tecno- logia.

Surgidos como autarquia federal vinculada diretamente ao MEC, a expansão da Rede Federal propunha a criação de uma unidade em cada cidade considerada polo de desenvolvimento regional, favorecendo o atendimento às demandas educati- vas considerando os aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos de cada base territorial em que atuaria o novo instituto.

Dada essa forma de criação, essa Rede se caracterizou como uma reunião de diversas escolas profissionalizantes, algumas recém-criadas e outras com vasto his- tórico de atuação no ensino técnico, todas organizadas num determinado espaço ge- opolítico para ofertar educação profissional em todos os níveis e modalidades, cons- tituindo uma opção por uma nova institucionalidade que se distancia da concepção acadêmica tradicional e representando uma escolha política do governo Lula que es- tava em curso.

É possível inferir que esta ideia foi concebida e implementada como conse- quência de uma decisão centralizada do Governo Federal que surpreendeu e causou apreensão, principalmente pelo desconhecimento do novo modelo de organização, que significava uma mudança de rumos diante dos projetos que estavam em cursos nas instituições (ORTIGARA E GANZELI, 2013, p. 274).

De acordo com essa lei (11.892/2008), a Rede Federal de Educação Profissio- nal, Científica e Tecnológica foi constituída pelos Institutos Federais recém criados, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), pelo Cefet Celso Suckow da Fonseca do Rio de Janeiro e pelo Cefet de Minas Gerais, além das escolas técnicas vinculadas às Universidades Federais totalizando, “39 escolas agrotécnicas, sete es- colas técnicas federais e oito escolas vinculadas a universidades passaram a compor os atuais 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que fazem parte da Rede Federal de Educação Profissional, presentes em todos os estados da fede- ração e no Distrito Federal”. (ORTIGARA e GANZELI, 2013, p. 273).

Dentre as suas atribuições, os Institutos Federais espalhados pelo Brasil ofer- tam cursos de ensino médio técnico, de ensino técnico na forma subsequente, de

graduação tecnológica, além de bacharelados, licenciaturas, mestrados e doutorados, no âmbito de uma política de valorização da educação técnica e tecnológica, o que pode ser verificado pelo grande investimento na expansão desta rede – de mais de 3,3 bilhões de reais entre os anos de 2011 e 2014, na expansão da educação profis- sional. Das 208 novas unidades previstas para o período, todas entraram em funcio- namento, totalizando 562 escolas em atividade3. De acordo com a Lei 11.892/2008, são objetivos dos Institutos Federais:

I - Ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da educação de jovens e adultos;

II - Ministrar cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;

III - realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade;

IV - Desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos; V - Estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional; e

VI - Ministrar em nível de educação superior:

a) cursos superiores de tecnologia visando à formação de profissionais para os diferentes setores da economia;

b) cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional;

c) cursos de bacharelado e engenharia, visando à formação de profissionais para os diferentes setores da economia e áreas do conhecimento;

d) cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização, visando à formação de especialistas nas diferentes áreas do conhecimento; e) cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado, que contribuam para promover o estabelecimento de bases sólidas em educação, ciência e tecnologia, com vistas no processo de geração e inovação tecnológica. (BRASIL, 2008).

Essa decisão política provocou um crescimento da Rede Federal que pode ser observada em dados do Ministério da Educação (Censo Inep/MEC, 2014) que mos- tram que o número de matrículas na educação profissional técnica de nível médio foi de 1,4 milhão, sendo 749.675 na rede pública. Em relação a 2007, por exemplo, o

crescimento da Rede Federal de ensino foi de 108%, número superior aos 78,5% re- gistrados na rede privada, que também apresentou expansão no ensino técnico e che- gou a 691.376 matrículas, em 2013.

Além de cursos técnicos profissionalizantes, os Institutos Federais ofertam ou- tros relacionados a programas do governo federal como por exemplo: PROEJA (Edu- cação Profissional Integrada à Educação Básica de Jovens e Adultos), FIC (Formação Inicial Continuada), Mulheres Mil, que oferta cursos de educação profissional voltado para mulheres em situação de vulnerabilidade social, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) e o Programa Rede Certific que permite o reconhecimento dos saberes dos trabalhadores adquiridos ao longo de sua vida profissional.

Além da expansão da Rede Federal, o governo também incentiva as redes es- taduais de educação profissional através do Programa Brasil Profissionalizado, que visa fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica. Este pro- grama, criado em 2007, repassa recursos do governo federal para que os estados invistam em suas escolas técnicas.

Outra iniciativa é a Rede E-Tec Brasil que é o programa de oferta de cursos técnicos na modalidade de educação a distância, com o objetivo de ampliar as opor- tunidades de acesso aos jovens residentes nas periferias dos grandes centros e em regiões isoladas.

3 AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS E O NOVO PERFIL DO TRABALHADOR

O impacto das revoluções tecnológicas sob o domínio das relações capitalistas transformou progressivamente o processo educacional e o mundo do trabalho. Atra- vés das políticas públicas educacionais, que passaram a incorporar valores de produ- tividade e reproduzir tais conceitos através das práticas pedagógicas de ensino, vi- sando doutrinar os trabalhadores nos moldes e interesses da indústria capitalista e estabelecer novos padrões e hábitos de qualificação, competências, subordinação e disciplina, exigidos pelo mercado de trabalho capitalista, é possível constatar o pro- cesso de exploração e de alienação sofrido pelos trabalhadores do ponto de vista histórico e social da educação, através da apropriação da ciência e da tecnologia que serviram de instrumentos de dominação e exploração do homem e da natureza. As reformas educacionais ocorridas na década de 1990, mesmo sob nova rou- pagem, manteve uma importante característica histórica: o sistema dual de ensino, através da separação do ensino propedêutico, voltado quase que exclusivamente para a classe dominante, e o ensino profissional, destinado ao adestramento dos sujeitos de classes populares, favorecendo assim, o aprofundamento da divisão do trabalho e a divisão do homem em classes. Na atualidade, com a adoção de novas tecnologias de processos e de produtos, onde as mudanças no sistema produtivo são intensas e relacionadas às constantes inovações tecnológicas, é preciso refletir acerca das con- cepções educacionais e de suas relações ideológicas que, que por influenciarem na concepção das políticas públicas, se tornam hegemônicas e dominantes em determi- nados períodos históricos.

Neste cenário, a qualificação profissional é fator decisório para que o trabalha- dor possa atender às demandas deste novo sistema econômico, bem como manter sua estabilidade no mercado de trabalho diante das novas exigências do setor produ- tivo, especialmente aquelas advindas da introdução da microeletrônica e da informá- tica, que provocaram grande impacto sobre as estruturas produtivas dos países da América Latina e na consequente precarização do trabalho. Essa reestruturação pro- dutiva caracterizou o chamado período da acumulação flexível, de acumulação capi- talista e de neoliberalismo no plano ideológico-político. Segundo Antunes (2012),

Foi durante a década de 1980 que ocorreram os primeiros impulsos do nosso processo de reestruturação produtiva, levando as empresas a adotar, no iní- cio de modo restrito, novos padrões organizacionais e tecnológicos, bem

como novas formas de organização social do trabalho. Iniciou-se a utilização da informatização produtiva e do sistema just-in-time; germinou a produção baseada em team work, alicerçada nos programas de qualidade total, ampli- ando também o processo de difusão da microeletrônica. (p. 46)

No contexto brasileiro, houve uma busca pelo desenvolvimento tecnológico, baseado em padrões internacionais de países desenvolvidos sem levar em conside- ração a nossa verdadeira realidade, e através do entendimento sobre a formação his- tórica da tecnologia, estas escolhas trouxeram grande impacto para a sociedade atra- vés de mudanças no processo de organização produtiva, na gestão da mão-de-obra, no processo de formação profissional e nas demandas necessárias ao mundo do tra- balho.

O Brasil foi destaque pelas oportunidades surgidas para os setores de serviços,