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4 AS PESQUISAS SOBRE O ENSINO TÉCNICO SUBSEQUENTE

6.4 EXPECTATIVAS E PROJETOS DE FUTURO

6.4.2 Pretensões para o futuro acadêmico, estudos e trabalho

Relata-se nesta seção, os resultados dos questionários e entrevistas sobre as perspectivas de futuro dos alunos quanto à formação, vida acadêmica, de estudos e planos futuros de trabalho. Assim, através da análise dos dados levantados nos questionários, introduziu-se novos elementos durantes as entrevistas, os quais permitem verificar com maior clareza e profundidade as expectativas, anseios e intenções associadas a conclusão do ensino técnico, sintetizados no gráfico a seguir.

Gráfico 13- Planos para depois da conclusão do curso

Fonte: Autoria própria (2015), baseado em dados dos questionários.

Percebe- se que a maioria dos alunos (48%) pretende trabalhar como técnico depois de formados, seja como empregado ou autônomo e 36% pretendem fazer um curso superior, seguidos de 10% que assinalaram outras opções, como montar um negócio, viajar, constituir família, fazer uma pós-graduação, entre outros. 6% dos alu- nos pretendem realizar outro curso técnico.

Os alunos que pretendem continuar ou começar a trabalhar em suas respecti- vas áreas de formação logo após ou concomitantemente ao curso, revelam estraté- gias diversas para isso, como no caso do aluno AIE80 que pretende “trabalhar na área

de eventos sociais para adquirir experiência e depois, com a ajuda de amigos e fami- liares, abrir minha própria empresa no ramo de eventos”.

Verifica-se a incidência da associação do curso técnico com: “abrir a minha

própria empresa”, “conseguir um bom emprego”, “ser bem sucedido na minha em- presa”, “realização profissional”, “trabalhar na área”. O trabalho, nestes casos, consti-

tui-se como categoria central na vida destes estudantes e o ensino técnico é visto como meio para realização de seus objetivos profissionais, conforme relatos a seguir.

AIE66: No momento eu vou continuar onde eu estou, mas como eu disse eu não quero fugir dessa área assim, se for para sair dali vai ser para fazer alguma coisa relacionada também a parte de eventos também.

ACE33: Assim, logo que me formar aqui, quero usar esse horário para tentar trabalhar um pouco com mais eventos, na minha área, adquirir mais experiência. Tendo esse tempo livre eu posso criar um espaço no mercado de eventos.

AIA37: Eu espero que, com esse curso, abram mais vagas, abram portas pra mim nesse setor, abram oportunidades pra eu trabalhar nessa área, como técnico administrativo. Pois fora esse curso, eu não pretendo realizar outro tão cedo. Eu gostaria de ter uma experiência em uma empresa, não precisa ser grande nem nada, é para ter experiência de eventos, aquela correria, tudo, para eu ter uma noção de como é. E depois disso eu pretendo ter uma coisa minha, trabalhar pelo menos por conta, não sei, as vezes uma empresa maior, não sei. Mas trabalhar por conta assim já seria bom.

Isso não significa que estes alunos não pretendem dar continuidade aos estudos de alguma forma, pois verifica-se no depoimento do aluno ACE33, o desejo de “talvez no futuro tentar uma faculdade de publicidade em universidade pública” ou no caso do aluno AIE66que pretende “fazer um bom curso de Inglês ou Espanhol para

trabalhar com eventos internacionais, quem sabe até fazer um intercâmbio”.

AIE67: Eu pretendo começar na área de eventos, daí depois já com uma maturidade maior assim, eu pretendo continuar fazendo cursos de empreendedorismo, não precisa ser na área, mas voltados a administração de micro empreendimento, talvez um tecnólogo, pensar um pouquinho mais com o pé no chão.

No caso do aluno ACE23, que já possui uma graduação, o curso técnico representou a complementação de seus estudos e, desta forma, acredita que terá “um

leque de opções para o trabalho”.

ACE23: Eu acho que finalizando o curso, uma vantagem que eu vou ter é abrir um leque maior de opções de trabalho mesmo, porque eu tinha um certo leque com a graduação que não é tão grande assim. Eu queria trabalhar em várias áreas, mas eu acho que tendo um curso técnico de eventos abra um pouco esse leque de opções, de lugares que eu posso trabalhar, de coisas que eu posso fazer. E eu achei interessante a ideia de complementar com um curso superior, que é mais acadêmico e tal com alguma, com algum curso técnico que me ensinasse alguma coisa mais prática.

Stefanini (2008, p. 124), observou que muitos alunos dos cursos técnicos já não alimentavam expectativas de ingresso no ensino superior, seja em função da neces- sidade de trabalhar, seja pelas tentativas frustradas de ingresso ou pela limitação fi- nanceira para arcar com os custos de um curso superior. Para a autora, “a conciliação entre trabalho e estudos não impede a continuidade dos estudos, mas tende a torná- la mais improvável”. Oliveira (2006, p. 161) também destaca a pouca possibilidade de os alunos oriundos de cursos técnicos ingressarem no ensino superior. “Dificuldades não só pela qualidade do ensino de segundo grau, mas também em razão de as uni- versidades públicas não oferecerem condições de permanência para os alunos traba- lhadores”.

Porém, mesmo diante destas perspectivas, nota-se que durante as entrevistas, a maioria dos alunos expressou o desejo de dar continuidade aos estudos e cursar uma graduação após a conclusão do curso.

ACE33: Eu quero adquirir um pouco mais de conhecimento que eu acho que falta, na gastronomia, que é o meu sonho e eu pretendo fazer sim o curso superior de chefe de cozinha mais para frente, não sei quando, mas farei. É algo que eu já determinei, vou fazer, não sei quando, mas vou fazer. Tem que pôr a mão na massa mesmo. De gastronomia é mais para mim mesmo, é mais realização pessoal.

AIA54: Eu pretendo, sim, fazer um curso superior e um curso de línguas. É que o cargo meu, que eu pretendo, assim, futuramente mesmo, que seria o meu objetivo, era um Gerente Administrativo.- É, minha realização profissional, acredito que seria isso.

ACA10: Meu plano, que eu já estou pesquisando, é fazer esse curso superior, que é um curso mais aprofundado na área de administração, obter maiores conhecimentos para ficar mais preparada para outros processos seletivos. Porque eu quero trabalhar no (Empresa X). Então eu entro todo dia, se não todo dia, dia sim, dia não, para ver as vagas, o que eles pedem nessas vagas para eu poder estar preparada para trabalhar lá.

AIA55: Vou começar minha graduação ano que vem, eu termino em junho aqui o técnico e já começo minha graduação em Administração também. E depois eu pretendo fazer uma pós em marketing e depois ir me especializando na área de mestrado, doutorado em estratégias empresariais, que é o meu foco mesmo, aonde eu quero chegar. Não vejo a hora.

AIA36: Eu quero terminar o curso e ingressar numa faculdade na mesma área, de Administração. Porque o técnico, por ser mais rápido, ele já te possibilita ingressar numa carreira, nessa área. Daí, portanto, terminar o curso de inglês agora, porque é importante, hoje em dia, é muito importante.

AIE67: Já antes de começar o curso técnico eu já tinha o desejo de fazer um curso superior, só que não tem nada a ver com a área, por eu trabalhar na igreja eu quero fazer um curso superior de teologia. Mas quero continuar trabalhando em eventos, igreja e tudo mais.

AIE81: Pretendo fazer uma graduação que ainda não decidi se é marketing ainda, porque é uma área muito boa e que todo mundo deveria fazer na vida, igual administração. E daí eu pretendo fazer uma pós em eventos que eu acho bem legal para ter no currículo.

São poucos os alunos que expressam a vontade de realizar outro curso técnico. Para estes, esta alternativa lhes parece mais conveniente pois relaciona-se ao menor tempo para aquisição de formação gratuita, uma estratégia de concorrência no mercado de trabalho e ao mesmo tempo de continuidade dos estudos, ou seja, quanto mais cursos rápidos realizarem, maiores possibilidades terão no mercado de trabalho

AIE78: Quero mais um curso técnico eu quero fazer um atrás do outro. Depois que eu terminar esse eu já quero emendar mais um no Instituto, porque em 3 anos eu consigo 2 cursos técnicos, o que eu não conseguiria em uma graduação paga que dura 4 anos. Então para mim isso foi bem relevante na hora de escolher. Então eu consigo fazer vários cursos técnicos para me especializar em várias coisas, e depois se eu quiser, no futuro, eu posso fazer uma graduação que tenha a ver.

AIE66: A verdade é que eu não queria parar agora, porque eu sei que se eu parar depois para você voltar a fazer alguma coisa fica mais difícil, talvez eu queria uma coisa nessa área, ou curso que não seja tipo a semana inteira por exemplo, uma coisa mais tranquila, outro curso técnico. Porque viria aprimorando outras partes, me qualificando em outras coisas, mas não fugir mais dessa área de eventos.

Verifica-se que, mesmo com a forte relação dos cursos pós médios com o mer- cado de trabalho, é possível afirmar que tanto alunos ingressantes quanto concluintes apresentam aspirações semelhantes quanto ao ingresso no ensino superior. Porém,

muitas vezes, devido à necessidade do trabalho, foram postergando este desejo, vis- lumbrando a conciliação do curso superior com alguma atividade profissional, atre- lando desta forma o trabalho à continuidade dos estudos.

No que se refere às perspectivas profissionais, nota-se que a maioria (58%) tem uma visão positiva em relação ao mercado de trabalho na sua área de formação, classificando-a como “boa”, seguidos de 27% que acreditam ser “ótima”, 9% “razoá- vel”, 4% sem condições de avaliar e 2% como “ruim”.

Gráfico 14- Qual é em sua visão, a perspectiva profissional na sua área?

Fonte: Autoria própria (2015), baseado em dados dos questionários.

Ao aprofundar a análise das respostas à pergunta sobre as perspectivas pro- fissionais, os fatores mais lembrados pelos alunos foram:

 Muitas oportunidades de emprego.  Ampla área de atuação.

 Mercado amplo, animador.  Mercado em crescimento.

 O curso abrange várias áreas de trabalho, toda empresa necessita da

função de um administrador.

 Acredito que sempre terá demanda de bons profissionais no mercado,

o que resulta em bons salários e qualidade de vida.

O aluno AIA36, relata as vantagens percebidas ao fazer um curso técnico, que neste caso, representou a possibilidade de obter uma ocupação no mercado de trabalho.

AIA36: Eu já vi o retorno profissional que o curso me trouxe. Tem pessoas, que eu já vi, que fazem o curso e ainda não conseguiram uma oportunidade de emprego. Então esse curso me fez pensar que eu já tive um bom retorno pois, "já me colocou dentro do mercado de trabalho".

O aluno AIA55 acredita que está no caminho para sua realização profissional.

AIA55: Eu sonho em ser uma administradora, o meu sonho é trabalhar dentro de um grande banco. Eu estou crescendo aos pouquinhos e eu acho que um profissional, para ele crescer, tem que ser assim. Não adianta você começar lá de cima sem saber nada, sem nenhuma especialidade.

A esse respeito, questionando-se somente aos alunos concluintes, perguntou- se se, ao final do curso, sentem-se preparados para os desafios do mundo do trabalho. As opções de respostas possíveis de serem assinaladas foram “sim, pouco,

razoavelmente e não”. É pertinente destacar que a opção de resposta “razoavelmente “é no sentido de algo aceitável, suficiente ou satisfatório, ou seja, uma preparação

aceitável para o mercado de trabalho. A opção de resposta “pouco” é no sentido de uma preparação insuficiente, limitada e escassa.

Gráfico 15- Você se considera preparado para o mundo do trabalho? Fonte: Autoria própria (2015), baseado em dados dos questionários.

Percebe-se que a maioria se considera preparado para atuar na sua área de formação e enfrentar os desafios do mundo do trabalho. Neste sentido, o aluno ACA9 revela que se considera preparado para o mercado de trabalho, baseando-se na sua experiência acadêmica e profissional anterior ao curso e evidencia em seu relato os problemas enfrentados pelos seus colegas mais jovens e menos experientes. Percebe-se também no relato a importância dos colegas como motivadores para permanência no curso.

ACA9: Eu me considero preparada. Mas eu te digo que esse preparo veio mais com um complemento do que eu já tinha. Analisando de fora o curso para outras pessoas que não tiveram qualquer experiência de vida, eu acho que o curso não prepara totalmente. Eu via muitos dos meus colegas mais novinhos, porque na minha sala tinha gente de 18, 19, 20 anos, que estava começando a vida ainda, muito perdidos. Não desistiram pelo grupo, porque a gente ficava, “não desiste, vai até o fim, mesmo que você não goste é algo a mais na tua vida, é algo que vai te acrescentar de alguma forma”. Porque tinha pessoas mais velhas na turma, aí já acabava levando também aqueles que queriam desistir. Eu via um pessoal meio “perdidinho”, meio, “eu estou vindo aqui, mas não sei se é isso que eu vou fazer”. E muita gente desistiu no último semestre, isso eu achei que faltou por parte do curso de ter até um cuidado com isso, com as desistências dos alunos. Como assim? O aluno chega no último semestre, desiste, não entrega o TCC e pronto, ninguém se preocupa.

Mesmo com a experiência anterior ao curso, o aluno ACA9 relata seu crescimento diante dos saberes adquiridos durante o curso.

ACA9: Como profissional eu cresci mais, eu sei mais coisas hoje do que sabia antes. Isso me ajuda bastante no meu dia-a-dia. Me sinto mais preparada porque eu não tenho muito medo de encarar as coisas. Então me faltava algumas ideias da área da administração que o curso de certa forma me abriu a cabeça e eu vou atrás, procurar.

Verificou-se, através das respostas ao questionário, que dos alunos concluintes, 11 consideram-se pouco preparados para o mundo do trabalho, seguidos de 7 que se consideram razoavelmente preparados e apenas 1 não se considera preparado. Durante as entrevistas, os alunos ACA10, ACE23 e ACE33, afirmaram que não se consideram preparados para o mundo do trabalho, pois acreditam que seja

necessário aprofundar os conhecimentos adquiridos no curso técnico e buscar alguma experiência profissional.

ACA10: Não, ainda não me sinto preparada. Ainda falta mais estudo, por isso até vou fazer um curso mais aprofundado para obter mais conhecimento. Ele deu os tópicos, mas eu preciso me aprofundar mais ainda. Talvez uma graduação ou uma gestão, não sei ainda muito bem.

ACE23: Não. Eu tenho certeza de que eu vou ter que buscar outras coisas. Eu acho que ele me ajudou a entender melhor o que é um produtor de eventos e imaginar se eu tenho o perfil de trabalhar nessa área. Mas aí tem uma outra questão assim, eu acho que preciso de uma experiência profissional, para ver se eu me encaixo na área mesmo. Só que aí é algo que eu só vou descobrir trabalhando mesmo.

ACE33: Não, só com o curso não me sinto preparada. Eu acho que falta, não sei se é porque eu não tinha nenhuma experiência nessa área, eu acho que teria que fazer mais estágios para ir aprendendo mesmo, começar do zero, como se não tivesse experiência nenhuma mesmo. Então eu acho que falta fazer um estágio, eu acho que precisa de mais bagagem, mais conhecimento. Talvez eu ache que tinha que ser mais puxado assim, mais exigente.