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O conhecimento dos metabólitos secundários, presentes no gênero

Ziziphus, é de fundamental importância, pois permite prever os metabolitos

secundários que podem ser encontrados na espécie Z. joazeiro Mart. Dentre as várias espécies pertencentes a este gênero, destacam-se Ziziphus mucronata Willd.,

Ziziphus mauritiana Lam. e Ziziphus jujuba Mill., por serem as mais estudadas

Quadro 2 - Metabólitos isolados de diferentes espécies já estudadas no gênero

Ziziphus.

Espécie Parte

usada Extração Isolado(s) Referência

Z. mucronata Raíz (casca) Percolação em diclorometano Mucronina A, D e J (alcalóides

ciclopeptídicos). AUVIN et al., 1996

Z mauritiana

Raiz Extração em metanol

Àcido ceanotico, ácido ceanotano, ácido zizimauritico,

ácido betulínico. JI et. al., 2012

Z. oxyphylla Raiz Extração em metanol

Alcalóides ciclopeptídicos: Oxifilina-B 1, Oxifilina C 2, Oxifilina -D 3, Nummularina-C 4, Nummularina-R 5 KALEEM et al., 2013 Z. jujuba e Z. jujuba var. Spinosa

Folhas Extração em metanol 80%

Três flavonóides: Quercetina-3-O-rutinosídeo; quercetina-3-O-α-L-arabinosil- (1 → 2)-α-L-rhamnosídeo; 3, quercetina-3-O-β-d-xilosil-(1 → 2)-α-L-ramnosídeo; Duas saponinas: Ziziphus saponina I; Ziziphus saponina II

Nove ácidos triterpênicos: ácido ceanótico; ácido alfitólico; ácido maslínico; ácido 2-α-hidroxiursolico; ácido ziziberanálico; ácido epiceanótico; ácido

ceanotênico; ácido betulínico; ácido oleanólico. GUO et al., 2011 Z. jujuba Fruto sem semente 1 - extração em n-hexano clorofórmio; etanol 80%+ agua + acetato de etila. 2 - extração em n-hexano com posterior maceração com metanol.

Isômeros do ácido palmitoléico e ácidos triterpénicos, tais como: ácido betulínico, ácido ursólico, ácido alfitólico, ácido oleanóico

PLASTINA et. al., 2012 Os trabalhos acerca dos constituintes químicos da espécie Z. joazeiro Mart. são esporádicos e tem como foco a investigação dos metabólitos secundários da casca, principalmente substâncias triterpenóides.

Um dos primeiros estudos acerca dos fitoconstituintes da espécie foi publicado em 1984 por Higuchi et al.. Nesse trabalho, a partir da casca, foram isoladas e caracterizadas três saponinas triterpênicas inéditas que diferem quanto à porção glicídica e, portanto, possuem a mesma aglicona, a jujubogenina, previamente isolada das sementes de Ziziphus jujuba. A primeira saponina (bacocasídeo X) é uma jujubogenina ligada a uma molécula de glicose (β-D- glicopiranose) e duas moléculas de arabinose (α-L-arabinofuranose e α-L-

arabinopiranose). A segunda e terceira saponinas correspondem a jujubogenina ligada à mesma porção glicídica, porém a glicona encontra-se monosulfatada (4’’’-O- sulfato) para a segunda saponina, e disulfatada (3’’, 4’’’-di-O-sulfato) para a terceira saponina.

Posteriormente, foi realizado um estudo no qual a casca do caule foi extraída com clorofórmio, seguido de extração com metanol, sendo a fração clorofórmica submetida à cromatografia líquida em coluna e a fração metanólica submetida a uma cromatografia de gel de filtração. Ao final do estudo, foram isolados da casca do caule ácido betulínico, ácido oleanóico e uma saponina que forneceu lactona ebilin quando submetida à hidrólise ácida (BARBOSA-FILHO; TRIGUEIRO; BHATTACHARYYA, 1985). A lactona ebilin, segundo os autores, provavelmente é um artefato derivado da hidrólise de um glicosídeo de jujubogenina, sendo o mesmo evento detectado anteriormente por Higuchi et al. (1984).

Kato et al. (1997) isolaram e identificaram da casca do caule de Z. joazeiro Mart. lupeol, ácido betúlinico, cafeína e estearato de glicerila. Dois anos após, em um estudo feito na Suiça, foram isolados do extrato diclorometano da casca os ácidos triterpênicos betulínico, ursólico e alfitólico, também presentes em Z. jujuba (GUO ET al., 2011; PLASTINA et. al., 2012) assim como três novos ácidos triterpênicos derivados do ácido betulínico: [ácido betulínico 7-β-O-(4- hidroxibenzoiloxi); ácido betulínico 7-β-O-(4-hidroxi-3'-metoxibenzoiloxi) e ácido betulínico 27-O-(4-hidroxi-3'-metoxibenzoiloxi) (SCHÜHLY et al., 1999). Em seguida, os mesmos autores isolaram da casca 4 saponinas triterpênicas, sendo três nunca antes reportadas na literatura (SCHÜHLY et al., 2000).

A primeira saponina, um jujubosídeo, já havia sido isolada por Higuchi et al. (1984) e, dentre as isoladas, foi considerada a majoritária. Outra saponina isolada foi denominada lotosideo A, a qual compartilha a mesma aglicona presente nas saponinas lotosídeo I e II, isoladas da casca da raíz de Z. lotus (RENAULT et al., 1997). As últimas saponinas possuem uma aglicona inédita e estruturalmente similar a lotogenina, a qual foi intitulada joazeirogenina. Assim, essas novas saponinas foram nomeadas joazeirosídeo A e joazeirosídeo B, diferindo apenas quanto ao número e natureza dos açúcares ligados ao carbono 3.

Em 2010, Leal et al. realizaram um fracionamento do extrato etanólico da casca do Z. joazeiro Mart. baseado na atividade antibacteriana,. Após a extração com etanol, foram realizadas partições com solventes de polaridade crescente

(diclorometano, acetato de etila e butanol) gerando, respectivamente, 3 frações. Dentre essas, apenas a fração diclorometano foi escolhida para análises posteriores por apresentar a maior atividade antibacteriana. Após ser submetida a sucessivos fracionamentos, foram isolados e identificados 5 compostos triterpênicos provenientes da casca: metilbetulinato, ácido betulínico, ácido alfitólico, ácido epigouanico A e metilceanotato, este último sendo o composto majoritário da fração mais ativa (LEAL et al., 2010).

Os estudos anteriormente citados tinham como foco o isolamento, identificação e/ou caracterização dos metabólitos da casca, no entanto, foram publicados estudos fitoquímicos, neste caso de caráter preliminar, acerca de outras partes da planta, como folhas e frutos. Foram realizadas análises em extratos metanólicos obtidos a partir de amostras de caule e folha de plantas jovens e adultas. Os extratos foram analisados por Cromatografia em Camada Delgada com o emprego de diversas fases móveis e reveladores específicos. Como resultado, foi observada a presença de saponinas, mono, sesquiterpenos e esteróides em todas as partes vegetais. Apenas nas folhas foram detectados flavonoides, enquanto que apenas no caule de plantas adultas foram detectados derivados do ácido cinâmico e cumarinas (SILVA, 2008). Outra análise fitoquímica preliminar avaliou a composição de extratos etanólicos da casca do caule, folhas e frutos. A casca do caule apresentou saponinas, triterpenos, esteróides; as folhas apresentaram alcalóides, saponinas, triterpenos, esteróides e taninos (MELO et al., 2012).

Em 2015, foi publicado um trabalho que envolveu a análise fitoquímica preliminar do extrato hidroetanólico, assim como a avaliação da presença de compostos fenólicos por CLAE. Na prospecção fitoquímica, foi detectada a presença de ácidos fenólicos, flavonoides, taninos e saponinas. Através da análise por CLAE, foram identificados 11 compostos fenólicos no extrato hidroalcoólico das folhas, constituindo um relato inédito para as folhas da espécie. Desses 11 compostos, 4 são ácidos fenólicos (ácido gálico, ácido clorogênico, ácido cafeico, ácido elágico) e 7 são flavonoides (catequina, epicatequina, quercetina, isoquercitrina, quercitrina, rutina e canferol). Os polifenóis presentes no extrato foram identificados ao se comparar o seu tempo de retenção e espectro no UV com os de padrões comerciais. No entanto, não foi realizada uma co-eluição dos padrões com o extrato nem uma análise posterior por técnicas espectroscópicas. Logo, a presença desses

compostos fenólicos nas folhas é de caráter sugestivo, não confirmatório (BRITO et al., 2015).

Com base no que foi exposto acerca dos constituintes químicos, pode-se concluir, no geral, que a casca possui triterpenoides e heterosídeos triterpênicos, as saponinas. As folhas possuem triterpenos, saponinas, alcaloides, taninos e compostos fenólicos, principalmente os flavonoides.