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Segundo Beni (2003), o Brasil foi pioneiro na década de 1970 na competição do fluxo intra-regional e internacional do mercado turístico, competindo com o produto sol e mar na América do Sul:

O Brasil foi um dos países sul-americano a competir no mercado intra- regional e internacional com o produto sol-praia, dando início, nos anos de 1970, a uma série de complexos turísticos em sua costa, do Rio de Janeiro até Santos. Estes atraíram sobretudo turistas argentinos, que também, ao longo de suas freqüentes visitas, possibilitaram a crescente expansão de complexos hoteleiros até Santa Catarina, nas décadas seguintes. Mais tarde, surgiram, na década de 1980, os empreendimentos hoteleiros no Nordeste com o objetivo de conquistar o tráfego turístico internacional (BENI, 2003, p. 93).

Nessa época o Brasil vivia sob a égide do milagre econômico e o turismo despontou como uma alternativa importante para o desenvolvimento e a geração de renda. Apesar de ser desconhecido para o grande público, o governo militar apostou no seu progresso, afinal o país era rico por natureza. A grande maioria dos pesquisadores denomina esta, como a primeira fase de implantação e desenvolvimento do turismo no país, que apesar das iniciativas governamentais não vingou como o esperado, ao que Trigo (2000, p. 244) comenta:

No caso do turismo em geral, o modelo proposto na década de 1970, que podemos chamar de primeira fase, fracassou. Os motivos foram as crises econômicas sucessivas e a falta de consciência de três importantes fatores para um desenvolvimento harmônico, sustentável e duradouro do turismo: preservação do meio ambiente natural e cultural, consciência da importância dos programas de qualidade na prestação de serviços e reconhecimento da necessidade de formação de mão-de-obra qualificada em todos os níveis (da operação ao planejamento e a alta gestão) e nos diversos segmentos de lazer e turismo.

Entretanto, Schluter (2005) cita os esforços do governo brasileiro que chegou a criar um projeto chamado Turis, entre 1972 e 1973, com o firme propósito de montar uma cadeia de balneários na orla do Atlântico, do Rio de Janeiro a Santos, para o turismo interno e internacional. Esses balneários atraíam, principalmente, turistas argentinos, que também visitavam as praias que se estendiam de Santos a Porto Alegre. A autora descreve ainda sobre o fluxo turístico proeminente na região, constatando:

Que mais de 70% das chegadas internacionais se originam nas sub- regiões. Sol, praias e mar figuram em primeiro lugar como os produtos mais procurados entre os consumidores latino-americanos, que imitam os modelos de férias dos grandes mercados europeus (SCHLUTER, 2005, p. 235).

Na opinião de Santos Filho89, o governo teve uma atuação equivocada ao preparar e incrementar o país com hotelaria de luxo e de categoria média, reduzir as tarifas aéreas em rotas para os Estados Unidos e Europa e compor roteiros turísticos para a América Latina, visando incluir o país nas correntes do turismo internacional, o que de fato não aconteceu. O turismo receptivo no Brasil não obteve o retorno planejado, conforme as intenções governistas, talvez porque o país tenha adotado um modelo econômico e político de ciclo isolado frente ao mercado mundial. Outra possibilidade pode estar associada ao custo do produto turístico brasileiro ou mesmo à falta de projeção internacional viabilizadas em campanhas de promoção e marketing, conforme relatado no primeiro capítulo.

A história do turismo no país sugere algumas ponderações importantes destacadas por Carvalho (2005, p.19) em seu artigo, onde consta que o primeiro grande obstáculo do turismo brasileiro, observado sobre um prisma holístico90, era

de que “o setor não era levado a sério, principalmente, pelo poder público, considerada uma atividade menor, subalterna, embalada por uma aura de romantismo e destinada tão somente a gerar festas e atividades lúdicas”.

Trigo (2003, p. 94) sintetiza os resultados insatisfatórios da atividade turística ao analisar o período que compreende de 1970 a 1990:

Da segunda metade da década de 1970 a meados da década de 1990, várias crises econômicas cíclicas marcaram a história do país, e o turismo ficou bastante estagnado. Basta ver as estatísticas de turistas estrangeiros que chegaram ao país para perceber que ainda somos insignificantes perante os números do turismo internacional. O turismo interno cresceu em proporções mais significativas, porém, até cerca de 1995 foi assinalado pelo amadorismo e improvisação que marcavam toda a cadeia produtiva, do planejamento à implantação, gestão e operação turística. Evidentemente o setor possuía uma qualidade medíocre ou comprometida.

89 SANTOS FILHO, João. Por que a ação da Embratur torna-se preocupante para a formulação de

políticas públicas internas em turismo? Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/048/48jsf.htm>. Acesso em: 14 nov. 2005

O autor questiona as dificuldades recorrentes do poder público e dos grupos de interesses, em conseguir alçar o turismo brasileiro a um patamar desejável frente ao mercado consumidor internacional.

Os estudos apontam que, apesar de algumas medidas do governo e do interesse do setor privado, questões prioritárias pautaram esse fraco desempenho: a falta de articulação entre os setores envolvidos; a pasta do turismo era constantemente manipulada dentro da máquina pública; um planejamento do produto turístico adequado à realidade nacional (que contemplasse todas as etapas); prospecção de mercados externos com uma campanha promocional adequada, comercializando um Brasil real, dirigida aos mercados consumidores possíveis; e a constante instabilidade da economia nacional aliada ao processo democrático em construção; formam o conjunto de alguns fundamentos para o insucesso, principalmente, do turismo internacional no país.