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O campo de conhecimento é particularmente novo e está relacionado a fatores associados às ações dos governos, que adotaram a partir da década de 1980 políticas restritivas de gastos, buscando um equilíbrio no orçamento fiscal entre receitas e despesas, através de uma diminuição da intervenção estatal na economia e um corte nas políticas sociais. Às alterações das regras e modelos de gestão,

provocaram questionamentos e uma maior visibilidade ao desenho e a execução de políticas públicas, criando um genuíno interesse sobre o papel a ser desempenhado pelo Estado neste novo cenário político e socioeconômico (SOUZA, 2006).

Para os pesquisadores, este novo saber se classifica como uma subárea da ciência política, atraindo a atenção não somente de cientistas políticos, mas também de economistas, sociólogos e antropólogos, interessados em investigar as relações interdependentes entre atores estatais e não estatais envolvidos no chamado policy process111 (FARIA, 2003).

Análises seqüenciais orientam as discussões evidenciando a importância de conceituar, definir e compreender o campo que percorrem as políticas públicas. Os estudos e interesses são abordados de forma diversa entre Europa e Estados Unidos. De acordo com Souza (2006) no mercado europeu o interesse recai sobre o papel do Estado e suas instituições, entretanto, para os americanos, esta etapa é rompida e o foco principal está em investigar a produção dos governos e suas ações efetivas junto à sociedade. Estas experiências e descobertas servem de subsídio para os questionamentos sobre a realidade brasileira, que segundo alguns acadêmicos mostra-se uma área inesgotável para pesquisa e elucubrações.

O interesse pelas políticas públicas nos Estados Unidos e Europa, remete para a década de 1950, mas no Brasil, os estudos são recentes. Pesquisadores buscam retratar a realidade brasileira, a partir dos resultados obtidos pelas orientações políticas governamentais. Na opinião de Santos (2004, p.193), “as atenções recaem para as políticas industriais, e ainda assim este assunto é pouco difundido, e quando discutido, o é apenas entre os economistas, em geral interessados pelas medidas e muito pouco pelo processo de articulação e execução dessas medidas”.

Vaison (1973, p. 1) suscita uma questão importante que é a legalidade do governo na ação das políticas públicas: “as políticas públicas são criadas simplesmente e somente para serem públicas, por que são originadas a partir de um governo legítimo, imbuído da autoridade (com limites específicos) para formular e implementar tais políticas”.

O fato é que, com o avanço das conexões internacionais e, principalmente, a abertura dos mercados internos para capitais estrangeiros, a relação entre Estado e

sociedade no século XX tornou-se complexa e diferenciada para os países ocidentais, suscitando, ao longo dos anos, inúmeros estudos que culminaram em diversas doutrinas econômicas, que trataram de promover em maior ou menor grau a ingerência do Estado na organização civil. E para compreender estas ações, o que foi feito e as conseqüências entre as relações políticas e sociais, a história é uma aliada importante que busca olhar o passado, reconstruindo os passos empreendidos, abrindo espaço para novas atitudes por parte do Estado e sociedade.

O objetivo da história conceitual do político é compreender a formação e evolução das racionalidades políticas, isto é, dos sistemas de representações que comandam a forma pela qual uma época, um país ou grupos sociais conduzem sua ação e visualizam seu futuro (ROSANVALLON, 1986 apud BORGES, 1991, p. 15).

A história sinaliza a experiência passada revelando três fortes linhas políticas que pautaram a administração pública de uma forma pragmática, onde o papel do Estado frente à sociedade é trabalhado de maneira diversa através do: liberalismo econômico – trabalha com a idéia de livre mercado, sem ingerência do poder público -, da doutrina keynesiana112 - representa o Estado interventor na sociedade e

aumentos dos gastos governamentais, como forma de estímulo ao crescimento - e do movimento monetarista113 – que prega o domínio da inflação através do controle

da moeda e do crédito e um Estado regulador e não interventor. (PAULA, 2005). Estas correntes políticas servem de base para uma reorganização do passado-presente-futuro, onde a historicidade recompõe o tempo vivido entre a ação do governo e a relação com a sociedade. Em síntese, é possível tecer algumas considerações sobre as concepções as quais orientavam estas doutrinas, transformando radicalmente o rumo dos preceitos políticos e socioeconômicos. A ideologia focada no mercado buscava, dentro de uma temporalidade espacial, o

112 Doutrina keynesiana “foi difundida e implementada pelo governo americano, no processo intitulado

“new deal” e também, pelos países europeus no pós-guerra, descrevendo um período de longo sucesso na aplicação deste modelo político” (PAULA, 2005, p. 29).

113 Corrente contrária ao pensamento de Keynes que surge na década de 1960, a qual exibe uma

postura diferente, incumbindo o Estado de adotar o controle da oferta de moeda e crédito como fator de estabilidade, evitando a inflação e a recessão econômica (SANTOS, 2006). As idéias deste movimento foram lançadas por Friedmam em 1962, no qual ele reafirma que o “Estado só deveria intervir para determinar e arbitrar as regras do jogo, protegendo a liberdade dos indivíduos, preservando a lei e a ordem. As idéias foram aceitas pelos governos alinhados na década de 1980” (PAULA, 2005, p. 31).

desenvolvimento114 e o crescimento econômico, juntamente com a inclusão social.

As conquistas e os (in)sucessos obtidos por cada paradigma, podem ser atribuídos aos obstáculos enfrentados nas relações internacionais entre o bloco de países desenvolvidos e em desenvolvimento, a circulação do capital internacional, ao processo democrático existente, ou não no país, e nas relações de interdependência entre poder público e a sociedade.