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O turismo não se traduz apenas em números, ou em resultados econômicos. Não é bem-vinda uma leitura unicamente capitalista da atividade turística. Hoje, mais do que nunca, diante dos relatórios divulgados pela OMT e pela WTTC sobre o movimento mundial, se faz necessário repensar e planejar com rigor as políticas e o planejamento para o turismo, visando uma melhor sustentabilidade no século XXI. Afinal a atividade deve refletir uma relação de eqüidade democrática, entre todas as esferas sociais, ambientais e econômicas.

Questões envolvendo a capacidade de carga86 das destinações e critérios de avaliação dos impactos são uma constante entre os pesquisadores. Archer e Cooper (2002, p. 85) alertam que, os conceitos envolvendo o “desenvolvimento sustentado do turismo e consumo responsável do turismo estão diretamente relacionados à avaliação sistemática do número de visitantes que um determinado destino pode receber”, evitando possíveis impactos negativos conseqüentes do excesso de turistas em determinada localidade. Outro fator de destaque, conforme Archer e Cooper (2002), é a invasão de empresas multinacionais de países ricos com investimentos em países emergentes, provocando o chamado desenvolvimento do tipo neocolonial, em que o poder de decisão é retirado dos níveis local e regional estando sob o controle dessas empresas e o comando nacional, sendo que os altos cargos com status de gerência estão sob o controle de estrangeiros e as colocações inferiores são destinadas à população local, podendo criar um clima de animosidade com os residentes. Os autores insistem que para o desenvolvimento apropriado do setor turístico, o gerenciamento deve ser exercido em cooperação entre

85 A análise da posição brasileira será feita posteriormente.

86 Segundo Cooper e Archer a capacidade de carga está relacionada com o ponto de equilíbrio

suportável que um destino turístico deve receber de turistas, a fim de evitar desequilíbrio e deterioração do ambiente físico e social (2002).

empreendedores, planejadores, ambientalistas e a sociedade, pois o turismo ocorre dentro do contexto político e social.

Acerenza (1991) classifica que os efeitos do turismo podem estabelecer inúmeros benefícios para o país ou a região de destino, onde o fenômeno é consumido, mas também é necessário reconhecer que vários problemas podem acontecer pela exploração desordenada da atividade, geralmente envolvendo os aspectos socioculturais e ambientais. Normalmente as melhorias são manifestadas em nível nacional e regional, mas as dificuldades existentes são enfrentadas localmente. Para o autor, os resultados positivos do turismo estão em vantagem em relação aos negativos, que decorrem sempre pela gestão irregular aliados a um planejamento inadequado.

Na visão de Dias (2005), a questão envolvendo a sustentabilidade é uma preocupação constante dos organismos internacionais, devido à crescente escassez dos recursos naturais em diversas regiões do globo. O tema não é novo, a origem remonta à década de 1970 com uma conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, fortalecido após o encontro no Rio de Janeiro para a Eco 92. O temor serviu de alerta para vários países analisarem as condições ambientais e sociais dos seus destinos turísticos, induzindo mudanças no modelo de gestão.

Algumas questões pontuais servem para contextualizar os tópicos primordiais que envolvem o tema da sustentabilidade no momento atual. O assunto exige uma ação por parte do governo e sociedade, um exercício de reflexão sobre os rumos do turismo no país, estados e municípios. O intuito primordial é o de evitar que a atividade turística se transforme de um modelo benéfico para um sistema desagregador e poluidor do ambiente social e econômico.

Em relação ao tema é fundamental citar os principais aspectos87 envolvendo

os pontos positivos e negativos e que estão diretamente relacionados com a atividade turística, podendo favorecer ou prejudicar determinada comunidade, incluindo a população local:

1) Aspectos Positivos

• Geração e distribuição de renda com contribuição ao PIB; • Criação de empregos;

• Estabilização da balança de pagamentos;

• Justifica a conservação dos recursos naturais;

• Contribui para o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

• Justifica a conservação dos recursos culturais de modo geral (históricos, arqueológicos, etc.);

• Financiamento de infra-estrutura utilizada por turistas e residentes; • Contribui para a criação de identidade de uma comunidade (ou a sua consolidação), melhorando o conhecimento da cultura local.

2) Aspectos negativos

• Inflação e aumento geral dos preços; • Especulação imobiliária;

• Aumento do custo dos serviços públicos; • Deterioração física do ambiente;

• Prejudica a paisagem com o desenvolvimento arquitetônico não integrado;

• Aumento da poluição de modo geral e da contaminação; • Conflitos entre turistas e residentes;

• Falsa autenticidade;

• Efeito demonstração com a adoção de estilos de vida, hábitos e costumes dos visitantes;

• Aumento da criminalidade e da prostituição.

Como descrito acima, os pontos positivos são tentadores para qualquer gestor público e privado, em contrapartida os negativos são sentidos somente quando o crescimento se mostra desenfreado, provocando um desequilíbrio social e econômico. Essas informações fazem parte da realidade de vários países que apostam na maximização dos lucros, em detrimento do desenvolvimento e crescimento econômico e social em iguais condições. Molina argumenta que:

[...] o turismo apresenta vantagens e desvantagens objetivas, assim como uma série de contradições que precisam ser controladas. É neste contexto que o planejamento do turismo revela-se como instrumento idôneo para racionalizar as manifestações do fenômeno, para vinculá-las ao processo de desenvolvimento global no nível econômico e social (MOLINA, 2005, p. 38).

O planejamento é apontado por vários pesquisadores como a principal arma do poder público, para o desenvolvimento de um turismo sustentável, que garanta a sobrevivência dos recursos naturais, culturais e históricos de uma região, Estado ou País. Cabe ressaltar que o planejamento necessita estar aliado a uma cobertura política viável, sendo que as políticas públicas serão o esteio dos planos a serem implementados, e a participação do setor privado e da sociedade será fundamental para a estruturação adequada da atividade.

3 O TURISMO INTERNACIONAL NO BRASIL

Esse capítulo remete a uma reflexão sobre o papel do Estado frente às vicissitudes nacionais, exibe um olhar sobre o passado como forma de compreender a realidade atual. A incômoda posição brasileira no mercado internacional do turismo envolve diversas conjunturas econômicas, sociais e principalmente históricas, fundamentadas na participação do Estado, suas políticas e do setor privado.

Retratar e questionar as dificuldades brasileiras em alcançar uma melhor posição no turismo internacional é de suma importância, mas não basta para a compreensão real dos fatos. O estudo busca interpretar os resultados obtidos pelo país com o turismo receptivo internacional até o ano de 1994, divulgados pelos relatórios da OMT e da Embratur, em conjunto com o panorama mundial, analisando comparativamente um recorte temporal específico com outros países, cuja realidade socioeconômica é similar ao Brasil. Esses dados serão fundamentais para balizar a pesquisa exploratória, visando perceber a ação do Estado durante a administração pública de 1995-2002. A mídia impressa será utilizada como apoio, cujas informações vão servir de base para contrapor o discurso do Estado e as ações efetivas, ponderando com maior rigor a conjuntura do turismo receptivo brasileiro.