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O governo do presidente Fernando Henrique ao lançar o plano plurianual204, em agosto de 1995, que compreendia o programa de governo do exercício 1996- 1999, tinha consciência da importância da atividade turística para o país e da realidade em que se encontrava o setor ao declarar que o turismo no Brasil:

Era bastante incipiente diante da diversidade geográfica e cultural do País e a imensa dimensão de seu território, que o turismo interno estava limitado e a participação brasileira no fluxo turístico internacional era insignificante, não chegando a 0,4% do total de viagens internacionais do movimento referente ao ano de 1994205.

O discurso propalado foi consolidado pela inserção do turismo durante os dois mandatos presidenciais, no plano plurianual do governo para o período – 1996/1999 - com uma verba para investimentos e dispêndios na soma de R$ 1,4 bilhão e no segundo momento – 2000/2003 – com expedientes para investimento e consumo no montante de R$ 1,3 bilhão, ambos a serem financiados com recursos fiscais,

204Ministério do Planejamento. Disponível em:

<http://www.planejamento.gov.br/planejamento_investimento/conteudo/PPA1996/SINOPSE.HTM>. Acesso em: 05 out 2007

financiamentos externos e internos, recursos dos Estados e Municípios e da classe empresarial.

Esta ação teve um significado especial, pois nunca na história deste país o setor recebeu tamanha deferência ao ser incluído com objetivo de caráter primordial nas diretrizes do Estado e com verba dirigida, especificamente, para a atividade. O ato reflete a vontade do poder público em encerrar o ciclo vicioso de incentivos fiscais para a construção e ampliação da rede hoteleira, abandonando o amadorismo político no turismo brasileiro, que centralizava as ações em determinados setores considerados estratégicos, fato que cercou a atividade no país até o momento, não avaliando a necessária e complexa integração do setor turístico de uma forma holística.

A Política Nacional de Turismo balizou cinco macroestratégias, que contemplavam: a implantação de infra-estrutura básica e turística, a capacitação de recursos humanos para o setor, a modernização da legislação, a descentralização da gestão do turismo e, finalmente, a promoção do turismo no Brasil e no exterior. O escopo visava as seguintes políticas públicas para o turismo brasileiro:

Programa Mãos à obra Brasil Exercício 1996-1999

Programa Avança Brasil Exercício 2000-2003

• Desenvolvimento do turismo no Nordeste – Prodetur-NE;

• Desenvolvimento do ecoturismo na Amazônia legal/Centro-Oeste;

• Incentivo ao desenvolvimento do ecoturismo; • Implantação do sistema nacional de

informações culturais; • Implantação do PNMT

• Continuidade do PNMT;

• Prodetur-NE com financiamento da infra- estrutura turística e campanha publicitária para a promoção do turismo a região Nordeste;

• Proecotur com financiamento da infra- estrutura turística e campanha publicitária para a promoção do turismo na Região Centro-Oeste;

• Participação em eventos internacionais; • Formação de profissionais que atuem em

turismo; • Prodetur-Sul; • Prodetur-SE;

Tabela 19: O turismo inserido no PPA (Plano Plurianual) Fonte (1): Ministério do Planejamento. Disponível em:

<http://www.planejamento.gov.br/planejamento_investimento/conteudo/PPA1996/SINOPSE.HTM>. Acesso em: 05 out 2007

Fonte (2): Ministério do Planejamento. Disponível em:

No primeiro programa de governo206 “Mãos à Obra” o presidente Fernando

Henrique Cardoso reconheceu o turismo como um setor estratégico para o país, atribuindo uma consideração especial a este segmento. O turismo durante o primeiro mandato estava subordinado ao Ministério da Indústria e Comércio. E no segundo mandato, estava ligado ao recém criado Ministério do Esporte e Turismo, sendo que à Embratur cabia a elaboração e a execução da Política Nacional de Turismo (PNT). Cavalcanti e Hora (2002, p. 69) escrevem sobre esta nova realidade que envolve o turismo brasileiro:

Avançando nessa perspectiva de orientar o incremento do turismo, o governo Fernando Henrique Cardoso instituiu uma nova política Nacional de Turismo (PNT), para o período de 1996-1999. Elaborado na esfera da Embratur/MICT207 o referido plano reforça os argumentos da promoção e

do incremento do turismo como fonte de renda, de geração de empregos e de preservação do meio ambiente. Salienta a necessidade de tornar o produto turístico brasileiro competitivo em nível internacional, através da busca de qualidade na prestação dos serviços e no correto gerenciamento dos recursos naturais e culturais, por todos os atores envolvidos neste processo, quer sejam públicos, quer apenas privados. A política incorpora novas idéias relativas ao desenvolvimento sustentado, qualidade de vida, formação de mão-de-obra e satisfação do cliente como pressuposto para o desenvolvimento da atividade turística.

Ao final de 1995, primeiro ano de governo, foi editado um documento intitulado “Diretrizes para uma Política Nacional de Turismo 1996-1999”, sendo que pelas mãos deste documento o setor passou a dispor pela primeira vez de:

Um roteiro de ações que representava o compromisso claro do governo federal, com a adoção de medidas há muito requeridas por aqueles que militavam no turismo. Nos quatro anos de execução das diretrizes traçadas, a maior parte do que estava ali proposto foi realizado, o que resultou no alcance de todas as metas propostas (CARVALHO, 2005, p. 22).

Beni (2001) em seu artigo relata as inúmeras vezes em que os pesquisadores e a academia trataram do tema junto às autoridades públicas, comprovando a necessidade premente de criar uma política nacional de turismo para o país. Finalmente, ela foi criada em 1996, comprovando a importância fundamental que o Governo Fernando Henrique imprimiu ao turismo brasileiro, em incluir a atividade no plano de metas da esfera federal.

206 Cf. Silveira et al. Revista Ciência & Opinião. Curitiba, v. 3, n. 1, jan./jun. 2006. 207 Ministério da Indústria, Comércio e Turismo.

O turismo estava, por fim, incluído nas intenções do governo, através de um processo que foi iniciado em 1994 com o lançamento do PNMT208, e consolidado

pela produção da Política Nacional de Turismo para o período 1996-1999, em um ato que priorizou a atividade turística no país, na medida em que, prevaleceu à idéia de continuidade de projeto, de plano para um segmento socioeconômico de vital importância para o Brasil.

Para Cruz e Sansolo (2003) o turismo brasileiro alcançou através da Política Nacional de Turismo no Governo FHC, uma visibilidade real, não imaginária como dantes, fato novo para a historiografia da atividade turística nacional.

Algumas declarações sobre o assunto buscam negar o inegável, afirmando que o turismo na época já tinha alcançado uma notoriedade mundial, o que de certa forma teria orientado a ação estatal para incrementar em seu discurso ações voltadas para o setor turístico. Mas cabe uma avaliação imparcial para o fato de que o turismo saiu, enfim, da preleção estatal e se materializou em ações concretas diante da (dis)posição do governo em destinar verbas e projetos para áreas prioritárias, incluindo a atividade turística no plano de governo. Esta realidade se firmou pela vontade do Estado em levar adiante o tema turismo209 como ator principal, e não mais como coadjuvante na administração pública ou por que não dizer, um papel secundário, o qual sempre marcou o destino do turismo brasileiro.