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As primeiras mudanças quanto aos propósitos do esporte que começaram a perceber a questão do esporte para pessoas com deficiência surge na década de 70. O esporte nessa época é marcado pelo profissionalismo que associado a interesses políticos e demonstração de poder passa a buscar a detecção de talentos e iniciação esportiva precoce com a seguida massificação esportiva para a formação do atleta de alto nível. E fruto desse movimento se aperfeiçoam técnicas e casos de doping, adulteração de resultados e outros desmandos que mostrou como o esporte estava impregnado pelas disputas político ideológicas dos Estados (TUBINO, 2000).

E como consequência a todo esse movimento começam a surgir novos questionamentos acerca das características e objetivos do esporte expresso em documentos e manifestos.

O esporte, assim impregnado pela política e ideologia, foi se exacerbando e, consequentemente, passou a provocar na intelectualidade internacional a reação contra esses excessos, explicada por três fatos importantes: a) o surgimento do movimento “Esporte para Todos” na Noruega, com o nome de “Trim”; b) os manifestos e cartas emitidos pelos organismos internacionais como CIEPS, FIEP, Unesco e outros; c) as manifestações intelectuais, que sob a forma de textos e artigos passaram a se envolver com questões do esporte (TUBINO, 2000, p.249).

Com relação a um desses documentos, Tubino (2006, p.22) relata que quando a Unesco, em 1978, publica a Carta Internacional de Educação Física e Esporte “o esporte amplia seu conceito” quando no artigo primeiro diz que a prática de Educação Física e do desporto é um direito fundamental de todos. E continua, dizendo que o esporte passa a ser praticado também por portadores de deficiência e idosos tendo inclusive estudos demonstrando que “essas competições têm ajudado bastante na restauração da autoconfiança e do equilíbrio psicológico daqueles que apresentam algum tipo de deficiência”. (TUBINO, 2000, p.45).

Nessa mesma época o Brasil é marcado pelo início de um movimento que apregoava a pratica de atividade física para todos. Tal movimento, chamado Esporte para Todos (EPT) se baseava na idéia de que o esporte moderno deveria acompanhar a vida moderna, e assim, oferecer além da versão mais tradicional, que eram a alta competição e a escolar, uma proposta vinculada à valorização do tempo de lazer e à busca de atividades ao ar livre.

E nesse momento os Congressos Brasileiros de EPT começaram a abrir espaço para a discussão acerca do esporte para a pessoa com deficiência. A publicação do livro “A teoria e Prática do Esporte para Todos”, em 1982-1983 pelo MEC, marca o início das publicações em anais, dos temas livres sobre atividade para pessoas com deficiência (BRASIL, 1983). Tais encontros se repetiram com bastante evidência nos anos de 1984 e 1986, todavia apesar da notoriedade do programa ainda não havia uma atenção especial à pessoa com deficiência (ARAÚJO, 1997; BRASIL, 1989).

Era o momento da integração, que suscitado pelo interesse de normalizar as pessoas começava a se contrapor a outras teorias, que ainda iniciais, buscavam considerar as características da pessoa com deficiência.

É importante notar que nessa época estavam em movimento no cenário acadêmico e social novas perspectivas que começavam a discutir e evidenciar as problemáticas ligadas à Pessoa com Deficiência (JANNUZZI, 2006). Carmo (2002, p.7) evidenciando essa nova perspectiva, afirma:

A fundação da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada, a criação de um grupo de Trabalho nos Congressos do CBCE, a inclusão de várias linhas de pesquisas nos Programas de Mestrado e Doutorado no Brasil. Tanto em Educação quanto em Educação Física, o fortalecimento do Comitê Paraolímpico Brasileiro e as grandes conquistas dos atletas nas últimas Paraolimpíadas, exemplificam e corroboram nossas afirmações.

O esporte passa a assumir uma posição plural onde não só atletas e recordes são alvos de seus interesses, mas também outros segmentos da sociedade, como descreve Bento (1993, p.114):

[...] os homens e as mulheres na pluralidade e diversidade de seus estados de desenvolvimento, do comportamento e do rendimento; são por isso, crianças e jovens, adultos e idosos, maridos e esposas,

pais e mães, avôs e avós, cultos e incultos, casados e divorciados, saudáveis e doentes, „normais‟ e deficientes.

Toda essa nova possibilidade do esporte passa a ser compreendida como uma manifestação social e cultural pluralizada correspondendo aos diferentes interesses de seus praticantes. Entendido também como um bem pedagógico e educacional o esporte proporciona além de oportunidades um campo de vivência importante para a formação e socialização de quem o pratica (BENTO, 1998, p.114).

É educativo quando não inspira vaidades vãs, mas funda uma moral do esforço e do suor quando se afirma como uma verdadeira escola do alto-rendimento; quando socializa crianças e jovens num modelo de pensamento e vida, assente no empenhamento e disponibilidade pessoais para a correcção permanente do erro. Quando forja optimismo na dificuldade, satisfação pela vitória pessoal e admiração pelo sucesso alheio.

O esporte para todos passa a ser defendido por Tubino (2000) como um direito das pessoas às práticas esportivas, podendo ser entendido por meio de diferentes possibilidades como estabelece a lei nº 9615 de 24 de março de 1998 que institui normas gerais sobre desporto e esclarece:

Art. 3o O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes manifestações:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer;

II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações.

Os últimos argumentos sobre o esporte corroboram para novos entendimentos sobre a iniciação esportiva. Ao ser compreendido como fenômeno sociocultural de múltiplas possibilidades o esporte no meio educativo gera a necessidade de se avaliar e adequar suas práticas pedagógicas aos seus praticantes.