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Críticas ao modelo tradicional e ascensão de novas perspectivas

O final da década de 70 representou para a Educação Física um momento onde havia a necessidade de romper as concepções anteriores e discutir a importância excessiva que vinha sendo dada ao desempenho como único objetivo das práticas de Educação Física. Numa tentativa de romper com

o modelo mecanicista Darido (2008, p.4) cita as abordagens “Desenvolvimentista, Construtivista-Interacionista, Crítico-Superadora, Sistêmica, Psicomotricidade, Crítico-Emancipatória, Cultural, Saúde Renovada e Parâmetros Curriculares Nacionais”.

A abordagem Desenvolvimentista foi apresentada em 1988 por Tani et al. (1988) tendo como autores Gallahue e J.Connoly. Essa abordagem é dirigida à faixa etária de 4 a 14 anos e estabelece como fundamentação teórica os processos de crescimento, desenvolvimento e de aprendizagem motora que dentro dos objetivos, conteúdos e métodos coerentes à faixa etária e característica de cada criança tem como foco a interpretação do significado do movimento dentro do ciclo de vida do ser humano (TANI, 2002).

Os autores desta abordagem entendem o movimento como meio e fim da Educação Física o que significa que embora suas atividades possam desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetização, por exemplo, seus objetivos privilegiam o aprendizado do movimento.

Segundo Darido (2008) a habilidade motora é um dos conceitos centrais da abordagem desenvolvimentista, pois através dela as pessoas se adaptam aos problemas do cotidiano. A mesma autora (2008, p.5) complementa:

Assim, o principal objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a se movimentar para adaptar-se às demandas e exigências do cotidiano em termos de desafios motores.

Assim, entende-se que o processo educacional deve atender adequadamente a população que se destina. Isso faz com que os conteúdos sejam divididos por meio de uma ordem de habilidades que vão das mais simples para as mais complexas.

As condições adequadas para que o aluno desenvolva suas capacidades e habilidades motoras baseadas no que é esperado para o seu crescimento, desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo-social demonstra uma fragilidade desta abordagem que Darido (2008, p.5) aponta como “pouca

importância, ou a uma limitada discussão, sobre a influência do contexto sócio- cultural que está por trás da aquisição das habilidades motoras”.

Em 1989, João Batista Freire publica o livro “Educação de Corpo Inteiro”. Esse livro tem importante papel na divulgação da abordagem intitulada “Construtivista-Interacionista”, no Brasil. O teor do livro externa uma preocupação do autor com o excesso de racionalismo da educação e da Educação Física levantando a questão do respeito à cultura que a criança traz para a escola e a proposta de atividades lúdicas e desafiadoras para a construção do conhecimento. Para Darido (2008, p.6):

A proposta denominada interacionista-construtivista é apresentada como uma opção metodológica, em oposição às linhas anteriores da Educação Física na escola, especificamente à proposta mecanicista caracterizada pela busca do desempenho máximo, de padrões de comportamento sem considerar as diferenças individuais, sem levar em conta as experiências vividas pelos alunos com o objetivo de selecionar os mais habilidosos para competições e esporte de alto nível.

A intenção dessa abordagem é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo tendo para isso a chance de explorar o máximo de possibilidades educativas. Freire (1997), baseado em Piaget, entende que a cada atividade aprendida deveriam ser acrescidos elementos novos e mais complexos, respeitando o nível de desenvolvimento da criança.

Nesse sentido, entende-se que a aquisição do conhecimento passa por um processo de constante reorganização. Além disso, devem ter características desafiadoras para que exista um envolvimento constante na participação da construção do conhecimento.

Os jogos e brincadeiras tem papel de grande importância nesse sentido, pois Freire (1997) levanta a questão da bagagem cultural da criança e o fato da consideração que a Educação Física deve ter com isso. Valorizar e explorar conhecimentos que a criança já possui, através do resgate das brincadeiras de rua, os jogos com regras, as rodas cantadas e outras atividades do universo cultural dos alunos, podem ser conteúdos com estratégias bem definidas. O que significa que enquanto a criança joga e brinca tem contato com novos valores e atitudes.

Com ênfase em uma avaliação não punitiva e baseada no processo entende-se que a abordagem Construtivista-Interacionista para a pessoa com deficiência respeita as experiências e a bagagem cultural desses indivíduos valorizando a participação de todos no processo de aprendizagem.

A abordagem Crítico-Superadora tem como finalidade a transformação social. Tendo como influência Demerval Saviani e José Libâneo é baseada no marxismo e neomarxismo. Para Soares (1992, p.50) essa abordagem é entendida como “ [...] uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica formas estas que configuram uma área de conhecimento denominada cultura corporal.”

Questões de poder, interesse, esforço e contestação devem ter ligação com uma prática pedagógica que reflita preocupação com as implicações da cultura corporal no desenvolvimento do ser humano na sociedade. Para Soares (2003, p.213) algumas questões devem ser levadas em consideração para se entender o conhecimento na abordagem Crítico-Superadora:

1º- identificar qual o conhecimento que a Educação Física deve tratar dentro da escola;

2º- decidir com clareza por que esse conhecimento se apresenta como base fundamental para o aluno refletir a realidade social, apreendê-la e explicá-la;

3º- explicitar por que o conhecimento da Educação Física deve estar presente como elemento de impulsão para o salto qualitativo cultural da nossa população.

Tais considerações devem permitir uma reflexão sobre como ensinar e o que ensinar valorizando a contextualização dos fatos e do resgate histórico. É colocado em jogo então que as atividades corporais não nascem conosco, pois existe aí todo um processo de construção que deve ser levado em consideração (SOARES et al., 2003).

Para o autor a relevância da abordagem não está ligada no domínio de técnicas corporais ou domínio de conteúdo. Está sim objetivando a “competência para apreender as possibilidades e os limites da expressão corporal enquanto linguagem no tempo histórico” (SOARES et al., 2003, p.219). E continua, dizendo:

Isso significa que o mais importante não é melhorar aspectos neuromotores e sim, a partir da relevância social do conteúdo a ser trabalhado e aprofundado a partir da confrontação do conhecimento do senso comum com o conhecimento científico.

A relevância social do conteúdo a ser trabalhado é um ponto positivo para a participação da pessoa com deficiência. Discutindo as possibilidades de jogos e atividades físicas descoladas de perspectivas produtivas o aluno é levado a refletir sobre valores como solidariedade, cooperação, distribuição e enfatizando a liberdade e expressão dos movimentos (SOARES et al., 2003).

A abordagem Sistêmica levada à discussão por Betti (1991) considera a teoria de sistemas defendida por Bertalanffy e Koestler. Essa abordagem entende que os conteúdos da Educação Física devam ter uma leitura crítica da sociedade em que está inserida. Isto é, formar o cidadão que vai usufruir e transformar as formas culturais da atividade física. A Educação Física nessa abordagem é entendida pelo autor como um sistema aberto onde sofre influências ao mesmo tempo em que influencia a sociedade.

Neste contexto, a aprendizagem de habilidades motoras, apesar de serem importantes, não são o objetivo único da Educação Física. Para isso Betti (1992) afirma:

Não basta (o aluno) correr ao redor da quadra; é preciso saber por que se está correndo, como correr, quais os benefícios advindos da corrida, qual intensidade, frequência e duração são recomendáveis. Não basta aprender as habilidades motoras específicas do basquetebol; é preciso aprender a organizar-se socialmente para jogar, compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível... aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo a ser aniquilado, pois sem ele simplesmente não há jogo. É preciso, enfim, que o aluno seja preparado para incorporar o basquetebol e a corrida na sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível (BETTI, 1992, p.286).

A abordagem crítica do jogo, esporte, dança e ginástica faz com que o aluno ao conhecer a cultura corporal tenha uma experiência com o movimento, sendo denominado de vivência por Betti (1992). Segundo Darido (2008, p.10) “o termo vivência enfatiza a importância da experimentação dos movimentos em situação prática além do conhecimento cognitivo e da experiência afetiva advindos da prática de movimentos.”

Outro aspecto importante da abordagem Sistêmica é o princípio da não exclusão que significa que as atividades a partir de suas estratégias e metodologias devem propor a todos os alunos um processo de vivência em atividades esportivas, rítmicas e expressivas nas aulas.

A busca da cidadania é um dos pressupostos do princípio da diversidade. Esse princípio propõe que a Educação Física não trabalhe apenas com um tipo de conteúdo. O objetivo é proporcionar vivências nas mais diferentes atividades que compõem a Educação Física. Essa abordagem passa a discutir a participação da pessoa com deficiência nas aulas. Pode-se entender também que esses princípios começam a reivindicar espaço e novas atividades pedagógicas do professor.

A abordagem da Psicomotricidade, tendo como influenciador do pensamento brasileiro o francês Jean Le Boulch, propõe a educação pelo movimento com vista a formação global da criança. Também é considerado como movimento mais articulado surgido a partir da década de 1970 (DARIDO, 2008)

De acordo com Le Boulch (1984) essa abordagem visa aprimorar ações motoras por meio da aquisição de noções de lateralidade, consciência corporal, coordenação viso-motora e coordenação global que servissem para prevenção de dificuldades escolares.

Apesar de ser muito sugerida por meio da Educação Física a abordagem da Psicomotricidade é área de estudo para psicólogos, psiquiatras, neurologistas e profissionais que trabalham junto às crianças (DARIDO, 2008).

Para a Pessoa com Deficiência essa abordagem, pode ser importante principalmente porque entende a ação educativa a partir dos movimentos espontâneos da criança valorizando assim o processo de aprendizagem. Segundo o Centro Nacional de Educação Especial “A psicomotricidade é básica na educação de crianças, e é parte integrante do trabalho pedagógico, que deve ser desenvolvido de uma forma integrada e baseada em vivências” (BRASIL, 1984, p.10).

Para Boato (2006) o desenvolvimento psicomotor é parte integrante do desenvolvimento intelectual e a Educação Física deve contribuir nesse processo favorecendo a espontaneidade e liberdade do movimento. Isso implica que a educação seja menos verbal partindo de atividades concretas onde a criança use seu corpo para descobrir o mundo, utilizando atividades motoras, intelectuais e afetivas trabalhando o indivíduo de maneira global.

Ao estudar a relação entre Crianças com e sem Deficiência com a discussão baseada em diversos estudiosos da psicomotricidade Falkenbach (2005) observa que a vivência corporal a que foram submetidas contribuiu para o desenvolvimento da atenção, percepção e reconhecimento do outro. Valores que se estenderam para além do ambiente onde foram feitos os estudos, escola e casa por exemplo.

A abordagem da Saúde Renovada, representada por Guedes (1996) e Nahas (2003) sob um enfoque mais sociocultural procura evidenciar a importância das práticas de atividades físicas para o desenvolvimento de atitudes e hábitos que podem contribuir com um estilo de vida ativo. Estudos norte americanos mostram que para combater o aumento de doenças crônico não transmissíveis deve ser adotado um comportamento ativo que por sua vez tem ligação com a quantificação e intensidade da atividade física diária.

Essa abordagem traz para a escola uma discussão de matriz biológica compreendendo temáticas relacionadas à saúde e qualidade de vida. Para seus autores as práticas de atividades físicas vivenciadas na infância e na adolescência favorecem a adoção de atitudes e hábitos saudáveis para um estilo de vida ativa fisicamente, na idade adulta. Nahas (2003) complementa:

A educação para um estilo de vida ativo representa uma das tarefas educacionais fundamentais que a Educação Física tem a realizar. A importância atual dessa abordagem decorre o grande número de estudos científicos demonstrando a associação inequívoca entre hábitos de atividades físicas e saúde, em particular a saúde cardiovascular [...]. Neste sentido, é importante construir currículos que atendam às necessidades dos indivíduos, tanto as atuais como as futuras, Se um dos objetivos é fazer com que os alunos venham a incluir hábitos de atividades em suas vidas, é fundamental que compreendam os conceitos básicos relacionados com a saúde e a aptidão física, que sintam prazer na prática de atividades física e que desenvolvam um certo grau de habilidade motora, o que lhes dará a percepção de competência e motivação para essa prática. Esta

parece ser uma função educacional relevante e de responsabilidade preponderante da Educação Física escolar (NAHAS, 2003, p.148). Ensinando conceitos baseados na relação entre atividade física, aptidão física e saúde, essa abordagem em seus objetivos procura atender todos os alunos, e nele estão incluídos sedentários, os de baixa aptidão física, e as Pessoas com Deficiência.

Na década de 80 surge a abordagem Crítico-Emancipatória que tem como interesse rediscutir o modelo de prática hegemônica do esporte e aptidão física praticado nas aulas de Educação Física.

Tendo como área de base a filosofia, sociologia e política a abordagem propõe questionar o que entende por caráter alienante da Educação Física propondo para isso um modelo de superação das contradições e injustiças sociais. Critica até a abordagem Critico Superadora (DARIDO, 2008).

Eleonor Kunz é um dos seus principais autores e em uma de suas obras intitulada “Transformação Didático-pedagógica do Esporte”, publicada em 1994, apresenta uma reflexão sobre possibilidades em se ensinar esportes e a partir de uma educação que contribua com a emancipação de crianças e jovens. O objetivo da abordagem é não apenas entender situações e fenômenos, mas ter a capacidade de mudá-los. Habermas (2007, p.263) que é um dos autores nos quais se fundamenta esta abordagem considera que “o poder diferenciado e ilegítimo e a desigualdade são estruturalmente inerentes ao capitalismo”. O autor tem seu trabalho inicial localizado na tradição da ideologia critica da Escola de Frankfurt e se alicerça em princípios fundamentais de justiça social, promoção da igualdade social, criação de “interesses generalizáveis” e o compromisso de criar uma sociedade democrática.

Apesar de não tratar a questão da Deficiência em sua obra consultada, Kunz (1998) aponta que o Professor de Educação Física nessa linha pedagógica deve ter um compromisso com possibilidades e que através das práticas corporais, jogos, brincadeiras, ginástica e esportes, deve proporcionar a seus praticantes não apenas o saber fazer, mas o saber reinventar no

sentido de que a reflexão crítica produza uma manifestação contextualizada que no caso reconhece seus praticantes.

A abordagem denominada Parâmetros Curriculares Nacionais foi elaborada por meio do Ministério da Educação seguindo a lei de Diretrizes e Bases, nº 9394/96 (BRASIL, 1996). Em 1997 foram lançados os documentos referentes aos 1º e 2º ciclos do ensino fundamental (1ª a 4ª série) e no ano de 1998 aos 3ª e 4ª ciclos (5ª a 8ª séries)

De acordo com o grupo que organizou os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o grande objetivo era mostrar alternativas às propostas curriculares dos estados e municípios além de fornecer subsídios e possibilidades para a atuação e a prática docente auxiliando os professores a dialogar com as propostas e experiências já existentes (DARIDO, 2008).

Os documentos que compõe os PCN são: documento introdutório e os temas transversais (Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo).

A proposta dos documentos como um todo remete à questão da cidadania como eixo norteador se identificando com abordagens de cunho psicológico e também com olhar mais sociológico e político. Buscando a superação das concepções de origem médica e militar fazendo com que as dimensões culturais, social, política e afetiva, presentes no corpo também sejam considerados.

Entendendo esta questão como algo complexo é importante a distinção entre organismo (baseado no fisiológico) e corpo (que se relaciona dentro de um contexto sociocultural). A partir daí a Educação Física passa a ser entendida como cultura corporal (BRASIL, 1997). Isto quer dizer:

Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar (BRASIL, 1997, p.27). Portanto, embora haja certo ecletismo, nos meios considerados para atingir os objetivos da abordagem, quer sejam da crítica ou da compreensão dos benefícios da atividade física para a saúde, a educação formal norteada

pela cidadania pode contribuir para a formação de cidadãos críticos (DARIDO, 2008).

No que diz respeito à Pessoa com Deficiência essa abordagem reconhece a sua exclusão das aulas de Educação Física (PCN, 1997). E nesse cenário enfatiza “É possível integrar essa criança ao grupo, respeitando suas limitações, e, ao mesmo tempo, dar oportunidade para que se desenvolva suas potencialidades” (BRASIL, 1997, p.41).

Em crítica à perspectiva biológica, em 1993, Jocimar Daólio sugere a abordagem Cultural. Apoiado em autores como Mauss e Geertz denominou de enfoque cultural uma linha de pensamento baseada em uma perspectiva antropológica. Essa discussão não excluía a dimensão biológica apenas passava a discuti-la sob um ponto de vista cultural. Dessa maneira se observa que modelos pré-estabelecidos vindos do esporte de rendimento, por exemplo, às vezes negam e não observam as diferenças culturais entre os alunos.

Para Betti (1993) a cultura corporal pode ser determinada como cultura geral bem como pode ser fruto dela a partir de uma relação dialética entre elas. Já por Soares et al. (1992, p.38) a cultura corporal deve proporcionar:

[...] uma reflexão pedagógica sobre o acervo das formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica, e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas.

Betti e Zuliani (2002) também contribuem para o discurso de formação a partir da cultura corporal do movimento e sobre a sua integração afirmam:

Para isso, não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas, aprendizagem esta necessária, mas não suficiente. Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível (portanto é preciso também que aprenda a interpretar e aplicar as regras por si próprio), aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva (BETTI; ZULIANI, 2002, p.75).

A cultura corporal percorre um aprendizado que possibilitará ao aluno compreender as dinâmicas nas quais está inserido. E por meio desse

aprendizado, balizado na reflexão sobre a cultura corporal, poderá intervir na sociedade. Isto significa estimular e desafiar o indivíduo a construir e reconstruir seus movimentos a partir de sua compreensão e necessidade.

Entende-se por trás disso que todo movimento corporal é considerado um gesto técnico de tal forma que, a não ser dentro de um contexto específico, é difícil estabelecer valor entre eles. Isso significa que não se estabelecem comparações entre as técnicas.

Portanto, ao ampliar o conceito de técnicas corporais, Betti e Zuliani (2002) defendem que cada aluno já possui sua bagagem cultural e a prática do professor passa a ser transformadora quando procura entender as pessoas a partir de suas diferenças. Seria como não escolher melhores ou piores, certo ou errado e sim compreender diferenças.

O princípio da alteridade, emprestado da antropologia pelo autor, passa a ser importante nesse contexto, pois considera a humanidade a partir de uma pluralidade de modo que a Educação Física e o professor deve ter como ponto de partida o repertório corporal que o aluno carrega consigo.

A Ciência da Motricidade Humana chega ao Brasil no final da década de 80 e início de 90. Seu surgimento tem como pressuposto a necessidade de uma mudança epistemológica da concepção da Educação Física tradicional desenvolvida no final da década de 1980.

Essa concepção tradicional estava alicerçada em uma concepção linear de movimento onde o desenvolvimento do físico era seu maior objetivo. Para Manuel Sérgio (1992, p. 53-54) a Ciência da Motricidade Humana passa a ser “paradigma emergente, antidualista e holístico, expresso na passagem do físico ao motor[...]”.

A visão da motricidade humana, considerando a multiplicidade de fatores para sua compreensão, necessita de diferentes áreas do conhecimento como antropologia, sociologia, filosofia e biologia para compreender o ser humano.

O corpo deve ser entendido não apenas em seu aspecto físico, mas também a partir de uma complexidade onde se conjuga a sua construção social, cultural e política. De acordo com Moreira (2002, p.130):

A ciência da motricidade humana aí está para o estudo da originalidade da dinâmica existencial do corpo, da intencionalidade dos gestos que o corpo apresenta. Ela procura desvendar as intencionalidades desse ser humano que se movimenta na direção de sua auto-superação.

Sendo assim, o ser humano e o seu movimento passam a ter significado