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3.3 Educação Física Adaptada

3.3.3 Surgimento do Esporte Adaptado no Brasil

No Brasil, é reconhecido que o paraesporte nasceu a partir da iniciativa de dois paraplégicos na década de 50 que buscaram serviços de reabilitação nos Estados Unidos (ARAÚJO, 1997). Robson Sampaio de Almeida, do Rio de Janeiro, e Sérgio Serafim Del Grande, de São Paulo. Fundaram, em 1958, o Clube do Otimismo e o Clube dos Paraplégicos, respectivamente.

Conforme depoimento de Del Grande para Araújo (1997) a reabilitação ofereceu a ele grande melhora em diferentes aspectos e complementa:

Quando eu cheguei lá eu só andava de cadeira de rodas. Com as orientações e terapias eu consegui me locomover com os aparelhos e me tornar completamente independente. Eles ensinaram-me a subir e descer escada de muleta, ensinaram-me como tinha que sentar no banheiro, levantar da cama como tinha que arrumar a minha cama, a dirigir carro, os cuidados que eu deveria ter em relação as partes lesadas. Tudo foi feito no instituto de reabilitação (ARAÚJO, 1997, p.17).

Apesar do reconhecimento Del Grande, segundo o mesmo autor, declara que não tinha a intenção de fundar um clube, entretanto foi estimulado a partir de um evento realizado em São Paulo. O acontecimento realizado pela AACD trouxe para exibições de basquete em cadeira de rodas, tênis de mesa e arco e flecha um time de funcionários das companhias Pan American World Air Ways. O time era chamado de “Pan Jets” e era formado por pessoas que tinham ficado paraplégicas e continuaram a trabalhar e a praticar esportes.

O primeiro jogo de basquetebol em cadeira de rodas foi realizado, em 1959, no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, entre as equipes de São Paulo e Rio de Janeiro. E já nessa época, Del Grande embarca para Buenos Aires e inicia- se o contato esportivo e social entre Brasil e Argentina. Em 1960 o Clube dos Paraplégicos de São Paulo participa do 1º Campeonato Mundial, realizado em Roma (ARAÚJO, 1997)

No campo dos esportes para deficientes auditivos, Diehl (2008) destaca que, em 1957, aconteceu a I Olimpíada Nacional de Surdos no Brasil. Participaram do evento associações de surdos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e foram disputadas modalidades de futebol, atletismo, voleibol e ginástica rítmica.

Em 1969 o Brasil forma sua primeira seleção de basquetebol em cadeira de rodas. Foi para disputa da segunda edição dos Jogos Pan-Americanos, realizada na capital da Argentina. Para Mauerberg de Castro (2005, p.449):

Apesar das dificuldades advindas da falta de patrocínio e de credibilidade dos órgãos governamentais, esta modalidade trouxe a medalha de bronze e muita esperança para o esporte para deficientes no Brasil (De 45 aos...,1988). A partir daí, nosso país começou a entrar nas grandes competições internacionais, entre elas os Jogos Pan-Americanos de 1971 (Jamaica) e de 1973 (Peru).

Os jogos Pan-Americanos do México, em 1975 culminam com a criação da Associação Nacional para Deficientes (ANDE) que tinha como objetivo difundir, organizar e administrar essa atividade. Fato que mais tarde, em virtude de um grande número de categorias de deficiências e participantes, levou a criação de associações específicas.

No campo das políticas públicas a discussão sobre o esporte para pessoas com deficiência começa na década de 1970. Era o início de um movimento que apregoava a pratica de atividade física para todos. Chamado Esporte para Todos (EPT) se baseava na idéia de que o esporte moderno deveria acompanhar a vida moderna, e assim, oferecer além da versão mais tradicional, que eram a alta competição e a escolar, uma proposta vinculada à valorização do tempo de lazer e à busca de atividades ao ar livre.

Esse movimento estava em um cenário onde a comunidade acadêmica também manifestava interesse pela área da pessoa com deficiência. De acordo com Jannuzzi (2006), em 1978, foi criado o Programa de Mestrado em Educação Especial na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e o curso de Mestrado em Educação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Sendo assim, o EPT era definido como um meio termo entre as modalidades esportivas tradicionais e os jogos informais, ou seja, atividades que exigissem o mínimo de técnica e organização e que permitissem a ampla possibilidade de participação. A partir da definição, entendiam os organizadores, o EPT podia adotar perspectivas de acordo com a realidade local. Os locais para a prática eram fruto do próprio contexto local, ou seja, poderiam acontecer em qualquer lugar onde se pudessem adaptar corridas, exercícios, jogos, encontros e campeonatos (COSTA, 1981).

E nesse momento os Congressos Brasileiros de EPT começaram a abrir espaço para a discussão acerca do esporte para a pessoa com deficiência. A publicação do livro “A teoria e Prática do Esporte para Todos”, em 1982-1983 pelo MEC, marca o início das publicações em anais, dos temas livres sobre atividade para pessoas com deficiência (BRASIL, 1983).

Tais encontros se repetiram com bastante evidência nos anos de 1984 e 1986, todavia apesar da notoriedade do programa ainda não havia uma atenção especial à pessoa com deficiência (ARAÚJO, 1996; BRASIL, 1989).

Era o momento da integração, que suscitado pelo interesse de normalizar as pessoas começava a se contrapor a outras teorias, que ainda iniciais, buscavam considerar as características da pessoa com deficiência. Porém, em um dado momento, os Congressos Brasileiros de Esporte Para Todos começaram a evidenciar, para a esfera federal do governo, a ausência de políticas relacionadas à Educação Física e o Esporte para pessoas com deficiência.

Em 1986 é criada a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora da Deficiência (CORDE) que, com sua ligação a grupos da

sociedade civil, contribuiria para agilizar a política de integração educacional. No campo do paraesporte a CORDE foi responsável por diversos acontecimentos. Cita Araújo (1997) que a participação da equipe Brasileira nas Paralimpíadas de Seul em 1988 foi uma delas. Além disso, mantinha o esporte na sua proposta original como fator relevante de integração da pessoa com deficiência.

Com forte impulso da Constituição de 1988, com base no artigo 217 que incluía o direito ao esporte e ao lazer, e também a fim de atender necessidades e compensar defasagens de outros planos, em 1990 é criada a Secretaria de Desporto que elabora o “Programa de desportos das pessoas portadoras de deficiência” (BRASIL, 1989).

Segundo Araújo (1997, p.42), a criação da Secretaria de Desporto iria “contribuir para mudar uma perspectiva elitista e concentrada em benefícios que não favoreciam a faixa da população mais carente”. E ainda observa que, dentro de seus princípios norteadores, a prática esportiva de massa o estímulo e promoção do esporte para pessoas com deficiência são destacados.

Quanto ao Programa de desportos das pessoas portadoras de deficiência era composto por quatro subprogramas assim caracterizados: Capacitação recursos humanos; Pesquisa e desenvolvimento tecnológico, Desenvolvimento e fomento esportivo e Publicações. Cada subprograma possuía metas que deveriam ser cumpridas ao longo dos 5 anos de governo (BRASIL, 1989; ARAÚJO, 1997).

Com o Impeachment do Presidente Fernando Collor de Melo a Secretaria dos Desportos se transforma em Departamento do Ministério da Educação e o Departamento de Desporto das Pessoas Portadoras de Deficiência vira coordenação. Araújo (1997, p.50) observa que “a nova organização apresentou-se mais tímida embora tentasse assegurar a mesma filosofia imposta anteriormente”.

Nesse sentido, com a perspectiva de avaliar os avanços da última década foi realizado em 1993 o “Encontro técnico de Avaliação Desportiva das Pessoas Portadoras de Deficiência na década de 83/92”. Tal encontro

reconheceu avanços propostos nas metas dos subprogramas, todavia outras questões foram sugeridas como: “garantir o desporto de alto nível, ações políticas para sensibilização, articulação para a criação do Comitê Paraolímpico Brasileiro e a formação de dirigentes esportivos” (ARAÚJO, 1997, p.53).

Atualmente algumas leis merecem destaque, como a lei nº 9615 de 24 de março de 1998 que institui normas gerais sobre desporto e a lei nº 10.264 sancionada pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso em 16 de julho de 2001 que destina recursos públicos para o desenvolvimento do esporte, que teve uma boa repercussão no meio esportivo.

Essa lei, conhecida como lei Agnelo/Piva por causa de dois de seus autores, o então Deputado Federal Agnelo Queiroz (na época PC do B-DF) e o então Senador Pedro Piva (PSDB-SP) estabelece que 2% da arrecadação bruta das loterias federais sejam repassadas ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Os percentuais são de 85% ao COB e 15% ao CPB cujas receitas servem para, além de outras responsabilidades, promover competições em nível escolar conhecidas como Olímpíadas Escolares5 e Paralimpíadas Escolares6 respectivamente.

Portanto da iniciativa, mesmo que despretensiosa, de dois indivíduos podemos dizer que nasce, de forma organizada, o movimento paraesportivo no Brasil. Todavia tal movimento se constrói com inúmeras dificuldades o que ainda permanece nos nossos dias. Uma delas nos remete ao modelo de segregação a nível escolar o que parece acompanhar o modelo profissional adulto. 5 http://www.cob.org.br/novos-talentos/olimpiadas-escolares 6 http://www.cpb.org.br/paralimpiadas-escolares/

O ESPORTE E SUAS POSSIBILIDADES

4.1 CONSTRUÇÃO DO ESPORTE COMO FENÔMENO SÓCIO-CULTURAL