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3.3 Educação Física Adaptada

3.3.2 História do Esporte Adaptado

A história do Esporte Adaptado conhece suas primeiras manifestações no ambiente escolar no século XIX. Segundo Winnick (2004, p.16) “os atletas surdos são os primeiros norte americanos com deficiência a se envolverem em esportes organizados”.

Citando Gannon (1981, apud ARAÚJO, 1997) Araújo aponta que em 1870 surgem as primeiras manifestações paraesportivas, envolvendo o beisebol para surdos, oferecidas por escolas no estado de Ohio. Greguol (2008) observa que em 1888, em Berlin, já havia clubes esportivos para surdos com o conhecimento do futebol e basquetebol. Em 1885, se tem notícia da prática do futebol americano, no estado de Ilinois, onde havia competições entre eles e com atletas de escolas regulares. Já o basquetebol, em 1906, foi iniciado na Wisconsin School for de Deaf (ARAÚJO, 1997).

Vale ressaltar que o Esporte Adaptado para surdos possui uma trajetória independente de outros movimentos esportivos para pessoas com deficiência, que diante. Foram os primeiros, em 1924, a organizar uma competição internacional, chamada Jogos do Silêncio que ocorreu em Paris e teve a participação de nove nações. Em 1945, estabeleceram nos Estados Unidos a American Athletic Association for the Deaf (AAAD) que até hoje promove e organiza suas competições.

Em 1907 aparece o primeiro relato de eventos competitivos para cegos, que aconteceu entre escolas de Overbrook e Baltimore nos Estados Unidos. De acordo com Winnick (1990) foi um campeonato telegráfico de atletismo

entre tais escolas. O mesmo autor complementa que em um campeonato telegráfico, os resultados das competições realizadas à nível local são enviados a um comitê central, que por sua vez faz comparações entre os resultados para determinar os vencedores.

Práticas esportivas com alguma organização, segundo Araújo (1997), aconteceram ao final da primeira grande guerra, todavia não tinham continuidade. De acordo com Araújo (1997) em 1918 um grupo de mutilados alemães buscou a prática esportiva como forma de amenizar o que tinham vivido na guerra além de passar o tempo nas longas internações a que eram submetidos. Em 1932 em Glasgow, no Reino Unido, aparece uma associação de golfe para amputados que também não efetiva sua prática.

Nota-se neste momento que as praticas esportivas voltadas para Reabilitação terapêutica eram centradas em hospitais e centros de reabilitação, oferecidas como parte de um tratamento que buscava amenizar sequelas oriundas da guerra, todavia eram atividades que não tinham propriamente uma organização ou sequência. Esse momento pode ser classificado como um início do movimento do Esporte Adaptado.

Com a Segunda Guerra mundial mais soldados voltam para seus países com incapacidades e a partir daí aumenta a necessidade de se assegurar algum apoio a essas pessoas. A construção de novos centros de reabilitação bem como a preparação de pessoal especializado para tal são alguns desses exemplos que passam a inspirar novos olhares da sociedade. Para Adams (1985):

[...] a volta desses homens, tratados como heróis, fizeram com que o olhar sobre a deficiência ganhasse outra perspectiva. Quando antes eram tratados como um peso para a sociedade, e às vezes para a própria família, passaram a ser olhados com respeito e, até mesmo, membros da sociedade (ADAMS, 1985, p.38).

A partir daí a prática do Esporte visando a competição começa a ser organizada e tem o seu início em dois países: Inglaterra e Estados Unidos, todavia eles aparecem com diferentes propostas.

Para Greguol (2008, p.536) seus objetivos eram distintos. “Enquanto na Inglaterra o objetivo era a reabilitação pelo esporte, nos estados norte- americanos a meta final era a competição”.

Segundo a mesma autora embora as origens do esporte tivessem tido o mesmo local, nos hospitais de reabilitação de veteranos de guerra, a organização e a direção do esporte adaptado era diferente. Enquanto para os ingleses esta incumbência cabia aos médicos, nos Estados Unidos cabiam para os próprios deficientes, que inclusive, em 1946 fundaram a associação Paralyzed Veterans of America (PVA) que com o basquetebol e atletismo buscou chamar a atenção das pessoas para as atividades esportivas em cadeira de rodas. Nos Estados Unidos, em 1946, começaram os primeiros torneios e exibições de basquete em cadeira de rodas, com a equipe Flying Wheels (rodas voadoras), o que de acordo com Adams (1985) trouxe importantes resultados.

A equipe The Flying Wheels, de Van Nuys, Califórnia, fez uma turnê, deixando cidadãos impressionados e espantados. O resultado dessa importante turnê pelo país teve duas conseqüências. Primeiro, despertou interesse e apoio para a realização dos esportes gerais realizados na cadeira de rodas. Em segundo lugar, o que é mais importante, estimulou aqueles que viram a equipe de cadeira de rodas em ação, a compreenderem que uma pessoa deficiente pode ter força, coragem e habilidade para jogar basquetebol numa cadeira de rodas. Na realidade, não há limite para as capacidades de um mesmo indivíduo que seja adequadamente treinado, portanto ele pode ser considerado uma pessoa normal (ADAMS, 1985, p.39). De acordo com Winnick (2004) o responsável por esse movimento de início ao esporte nos Estados Unidos foi Mr. Benjamin H. Lipton, diretor do Joseph Bulova School of Watchmaking. E o sucesso do movimento foi tamanho que em 1948 se associou ao Professor Timothy Nugent, que era diretor do Student Rehabilitation da Universidade de Illinois, para treinamento e competição de equipes de basquetebol em cadeira de rodas.

Na Inglaterra, a trajetória da prática esportiva, teve início no Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville fundado por Sir Ludwig Guttmann na cidade de Aylesbury, em 1944. Atribui-se ao senhor Guttmann, que foi convidado pelo governo britânico para tratar soldados

do exército inglês feridos durante a segunda grande guerra, a introdução da competição esportiva como parte integrante do processo de reabilitação, que foi o início do Movimento Paralímpico. Segundo Carvalho (2006) ele institui o esporte como meio de reabilitação terapêutica além de desenvolvê-lo na perspectiva de lazer e recreação e também como alto rendimento.

Em 1948 ocorreram o I Jogos de Stoke Mandeville, patrocinado pelo próprio hospital. As motivações demonstradas por esses indivíduos começavam a questionar crenças de que pessoas com deficiência estariam condenadas a viver como vítimas (ARAÚJO, 1997).

A partir daí nota-se que o movimento foi ganhando notoriedade e reconhecimento. Pois com a realização, em 1952, dos I Jogos Internacionais de Stoke Mandeville surgiu a fundação International Stoke Mandeville Games Federation (ISMGF). E, além disso, o reconhecimento oficial pelo Comitê Olímpico, em 1956, fato que marca definitivamente a inserção do paraesporte no cenário da época.

Em 1962 enquanto a trajetória do paraesporte de alto rendimento estava em pleno curso é muito importante observar que jogos esportivos baseados em uma perspectiva mais participativa, para indivíduos com deficiência intelectual, também estava em processo. No ano de 1968, em Soldier Field (Illinois, EUA), que acontece o primeiro evento para promover oportunidades de competição atlética para pessoas com deficiência intelectual. Os primeiros Jogos Internacionais das Olimpíadas Especiais, idealizados por Eunice Kennedy Shiver, culminaram com o inicio do programa Special Olympics International (WINNICK, 2004).

Hoje os jogos Paralímpicos são o segundo maior evento esportivo do mundo, apenas atrás dos Jogos Olímpicos. Os jogos são realizados de 4 em 4 anos desde Seul (1998) e os de inverno desde Albertville (1992). Ocorrem duas semanas após os Jogos Olímpicos fazendo uso da mesma estrutura e local (CARVALHO, 2006).

Portanto, se observa que o paraesporte surgiu a partir de iniciativas isoladas e começa a ganhar notoriedade principalmente no cenário médico de reabilitação. É evidente também que o movimento paraesportivo não se restringe as “Paralimpíadas”, tendo o movimento “Jogos do Silêncio” e o “Special Olympics” demonstrado isso. E com a evolução das práticas esportivas o movimento consegue sair de um contexto médico e de reabilitação para um contexto pedagógico. Adquire, dessa maneira, uma identidade própria tendo atualmente um grande apelo social e político com penetração em diversos países (CARVALHO, 2006).