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CAPÍTULO 4: A PESQUISA DE CAMPO: PARTICIPANTES, CONTEXTOS E

4.5 CONSTRUÇÃO DOS DADOS

Conforme já mencionado a pesquisa realizou-se na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com os docentes dos cursos de Letras / Língua Espanhola e está dialogicamente sustentada (BAKHTIN, 1999) pelos discursos discentes a respeito da atuação didática e postura profissional dos professores, constantes da primeira etapa documental nos comentários via SIGAA, e com a própria autoavaliação dos professores realizada por meio de entrevistas semiestruturadas.

A avaliação da docência faz parte de um processo de avaliação mais amplo e está regulamentado pela Lei Federal Nº 10.861/04 e pela Resolução 131/2008 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) da UFRN, com o propósito de ser discutida pela comunidade acadêmica, com vistas à melhoria das condições de ensino-aprendizagem dos cursos de graduação. Formaliza-se através de dois questionários, um para ser respondido pelos alunos e outro pelo professor. Para ter acesso aos relatórios e direitos de utilização das entrevistas foram elaborados um formulário de autorização e um termo de responsabilidade, os quais foram devidamente assinados por todos os sujeitos da pesquisa, ressaltando-se o respeito ao informante e o cuidado ético com a condução da pesquisa.

4.5.1 QUESTIONÁRIOS

O instrumento que constituiu a avaliação do docente pelo discente compõe-se de um questionário, elaborado pela própria instituição de ensino, que envolve quatro dimensões. A primeira dimensão (Anexo A) refere-se à atuação didática e postura profissional do docente e considera como itens a serem avaliados: o comparecimento às aulas; o cumprimento das aulas do início ao fim; o cumprimento do programa da disciplina; a clareza na apresentação do conteúdo; a utilização de metodologias que favoreçam o aprendizado; o incentivo à participação dos alunos nas aulas; a disponibilidade de tirar dúvidas dos alunos durante as aulas; a disponibilidade para atender aos alunos fora do horário de aulas; a coerência entre o nível de exigência nas avaliações e o conteúdo dado; e a atuação do professor da Docência Assistida14 nessa turma.

Para avaliar esta primeira dimensão é usada uma escala de valores, variando entre zero e dez pontos a ser atribuídos a cada item. Somada a esta avaliação quantitativa o discente dispõe de um espaço aberto para que, de forma voluntária, possa complementar a avaliação do

docente. Entende-se que os enunciados redigidos pelos alunos nesses espaços abertos constituem-se como enunciados responsivos (BAKHTIN, 2003)15. Embora o preenchimento da avaliação seja obrigatório para todos os alunos, garantido pela regra da instituição que condiciona a inscrição do aluno no semestre seguinte ou a finalização do curso à sua realização, estes discursos são redigidos de forma opcional. Outras respostas sobre a atuação do docente manifestaram-se através de perguntas fechadas (sim-não) localizadas na dimensão quarta do instrumento, respondíveis de forma também numérica. Estas inquerem sobre: a divulgação da nota antes da próxima avaliação; o esclarecimento de dúvidas sobre as avaliações; o estímulo à busca de fontes alternativas de informações; a utilização do SIGAA ou algum outro sistema eletrônico de contato com os alunos.

A segunda dimensão aborda a autoavaliação do discente, tendo em vista: a utilização da bibliografia sugerida pelo professor; a dedicação ao estudo da disciplina fora da sala de aula; o comparecimento e permanência às aulas; o cumprimento das atividades solicitadas pelo professor; e a utilização de horário extra para tirar dúvidas com o professor. A terceira dimensão recolhe informação consoante à infraestrutura da universidade e possíveis melhorias, por exemplo, a necessidade de maiores espaços de convivência, salas de aula, laboratórios, bibliotecas etc. Sobre estes aspectos não se entrará em detalhes por fugirem do escopo da pesquisa.

Por sua vez, o instrumento de avaliação a ser preenchido pelo professor permite que ele avalie numericamente a(s) turma(s) sob sua responsabilidade no semestre em foco, e propõe uma autoavaliação de seu desempenho em sala de aula, além de também abrir espaço para que ele reconheça os recursos físicos (infraestrutura) da instituição. É igualmente de caráter obrigatório e é exigido como requisito para a consolidação das notas das disciplinas de cada turma. Assim como no instrumento de avaliação do discente, também é disponibilizado um espaço para comentários adicionais sobre cada turma e sobre o curso, em geral.

4.5.2 ENTREVISTAS

A entrevista, como uma das técnicas de coleta/geração de dados se apresenta como bastante adequada para obter informações acerca do que as pessoas sentem, creem, sabem ou desejam. Segundo Gil (2007, p. 117) a entrevista, como forma de interação social é

15 “Todo falante é por si mesmo um respondente em maior ou menor grau: porque ele não é o primeiro falante, o

primeiro a ter violado o eterno silêncio do universo, e pressupõe não só a existência do sistema da língua que usa, mas também de alguns enunciados antecedentes dos seus e alheios - com os quais o seu enunciado entra nessas ou naquelas relações (baseia-se neles, polemiza com eles, simplesmente os pressupõe já conhecidos do ouvinte). Cada enunciado é um elo na corrente organizada de outros enunciados (p.272).”

um diálogo assimétrico, onde uma das partes busca coletar dados e a outra se mostra como fonte de informação. O roteiro de entrevista utilizado nesta pesquisa foi elaborado especificamente para esta finalidade e contexto.

Previamente às entrevistas semiestruturadas, efetivadas com os professores participantes, realizou-se uma entrevista “piloto” com uma professora colaboradora do mesmo departamento, mas de outro curso, por meio da qual foi possível analisar a inteligibilidade das questões propostas. O piloto da entrevista nos proporcionou a adequação do instrumento (elaborado para fins desta pesquisa) com modificações que tornaram mais claros os propósitos almejados. (APÊNDICE 2).

O instrumento que possibilitou a entrevista consta de duas partes: na primeira objetiva-se especificar o conhecimento, por parte do docente, da existência dos relatórios de avaliação e sua efetiva leitura semestral. Já a segunda parte está direcionada para responder à segunda (ii) e à terceira (iii) perguntas da pesquisa16 e está composta por 5 (cinco) questões. A primeira (1) objetiva saber se o resultado das avaliações, através dos relatórios e notas, permitem uma reflexão acerca da prática profissional do professor. A seguinte (2) propõe especificar se a avaliação da docência possibilitou mudanças na sua prática docente. A terceira (3) inquere se essas avaliações modificaram a relação com os alunos; a quarta, (4) se elas modificaram a relação do professor para com a instituição. E a quinta (5) se, em sua opinião particular, as avaliações transformaram de alguma maneira sua identidade como professor de Língua Estrangeira.

Os textos orais foram gravados em suporte digital e transcritos de forma que pudessem ser lidos e analisados. As informações produzidas pela geração destes dados, através das perguntas do instrumento, concederam analisar a autoavaliação que os professores fazem dos comentários discentes sobre os docentes, incluindo a prática educativa, a postura ética, o relacionamento com os alunos e as transformações no seu agir docente.

4.5.3 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE

A partir dos elementos que integram a pesquisa documental efetuou-se a análise do conteúdo dos comentários, de acordo com o procedimento apontado por Lawrence Bardin (2011, p. 125 [1977]) que consta de três fases: pré-análise, exploração do material e

16 Segunda pergunta da pesquisa: que imagem(ns) o professor constrói de si a partir do que é construído sobre

ele na avaliação docente? Terceira pergunta da pesquisa: que transformações, se possíveis ou não, na práxis do professor advêm do processo de avaliação docente?

tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Na primeira fase realizou-se uma leitura geral de forma ampla, revisando os objetivos, as perguntas da pesquisa do conjunto de documentos que constituíram o “corpus”. Segundo Minayo (2004, p. 209), “a pré-análise consiste na escolha dos documentos a serem analisados, na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-as frente ao material coletado, e na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final”.

Desta maneira, foram selecionados os documentos que continham comentários (opcionais). Seguidamente, codificaram-se e tabelaram-se todos os elementos atinentes aos documentos, para prontamente estabelecerem recorrências, regularidades e comparações no sentido de identificá-los e categorizá-los nas dimensões definidas pela avaliação da docência. Essas dimensões são: a atuação didático-pedagógica; a postura ética-profissional que o professor desenvolve suas ações e o relacionamento aluno-professor (APÊNDICE 1).

Posteriormente, compararam-se as avaliações numéricas dadas aos professores pelos alunos, expostas na dimensão Um do questionário institucional, com os comentários discentes a respeito dos mesmos docentes, identificando algumas categorias de análise. Fica claro aqui que os dados que constituem essas categorias de análise, embora estejam de certa maneira afastados da imediatez do dia-a-dia da sala de aula, caracterizada pelas relações dialógicas entre seus participantes, contribuem para o desenvolvimento do corpo docente dentro da instituição no que diz respeito à progressão na carreira de magistério, no estágio probatório ou na procura de uma melhor qualidade do ensino, dentre outras questões.

No tocante à própria visão que os professores têm a partir dos relatórios e informações da avaliação docente observa-se, em linhas gerais, que boa parte dos entrevistados reconhece a importância dos instrumentos avaliativos, aplicados pela instituição na procura do melhoramento no ensino e enxergue-os como válidos como ferramenta de reflexão da prática educativa em concordância com os próprios objetivos da instituição.

No capítulo seguinte, analisar-se-á os dados à luz dos pressupostos teóricos sobre avaliação e identidade de forma a visualizar os fatores que podem interferir nas avaliações do professor pelo aluno, as imagens que cada professor constrói de si mesmo e como essas representações colaboram para a construção da identidade docente em um contexto contemporâneo.

CAPÍTULO 5: ANÁLISE DOS DADOS