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CAPÍTULO 2: A AVALIAÇÃO COMO FERRAMENTA DE CONSTRUÇÃO DA

2.5 ESTADO DA ARTE

Existem alguns trabalhos os quais focalizam a participação dos discentes na avaliação de desempenho docente em diferentes cursos e universidades e que procuram desvendar diferentes partes do processo avaliativo. Aqui tenta-se considerar a avaliação docente em sua característica constitutiva deste profissional.

A declaração de que o desempenho do professor é um fator crítico em qualquer programa o qual objetiva a melhoria do ensino tem estimulado, entre outras questões, a própria prática de sua avaliação pelo discente em diferentes instituições. A esse respeito, é capaz de ver no trabalho de Silva e Budag (2003), com dados sobre a Universidade Regional de Blumenau–SC, que aplica desde o ano de 1995, a contraposição dessas avaliações docentes frente aos índices de reprovação.

Destaca-se a independência entre essas variáveis e afirma-se que os baixos desempenhos dos professores obedecem, basicamente, ao relacionamento com os alunos e ao uso inadequado dos procedimentos de ensino (SILVA e BUDAG, 2003, P. 134). Nesse sentido, crê-se na importância desses estudos sobre as relações entre esses dois na perspectiva de uma ampliação dessas manifestações avaliativas, de forma que possam se ver os contextos específicos de suas produção na constituição de uma cultura de avaliação (GATTI, 1999) e na melhoria do ensino de graduação de cada instituição, mas também o apreço por currículos atualizados e atrativos, dentro de um contexto de formação de professores de caráter crítico e emancipatório (CORAZZA, 2001).

Paralelamente, nota-se a autoavaliação do docente como absolutamente necessária, porém não suficiente dos processos para o desenvolvimento pedagógico e organizacional. Igualmente, a consideração da materialidade dos contextos onde se desenvolve a tarefa docente é capaz de contribuir, junto com a perspectiva que o aluno tem desse processo (DOMINGOS, 2006), para a elaboração de instrumentos de avaliação que primem pelas potencialidades e competências do próprio docente. Para Domingos (2006, p.132) “o sistema de avaliação docente deve funcionar como um feedback das ações dos professores, liberando a correção ou eliminação das ações ineficazes, no entanto, as informações discentes sobre os docentes merecem um aprimoramento em sua confiabilidade”.

Portanto, este trabalho é de acordo com alguns autores a respeito da importância das manifestações avaliativas discentes sobre o docente (MOREIRA, 1980; LAMPERT, 1999; DOMINGOS, 2006; dentre outros) no sentido de afirmar que, por um lado, a tarefa

avaliativa do ensino é uma atividade suficientemente complexa que não consegue sustentar-se unicamente nas subjetividades do aluno, embora fundamentais, e por outro lado, tem a dificuldade de conceber uma avaliação de qualidade sem a participação dos alunos.

Abre-se o leque a partir da ponderação de Domingos (2006), relacionada à utilização dos aspectos somativos da avaliação; a imagem dos sistemas estadunidenses e europeus, na sua atenção absoluta aos dados objetivos (notas e escores), aduzem a periculosidade da utilização desses dados na aplicação de prêmios ou punições sobre os docentes. Parte-se aqui do pressuposto de que o objetivo maior da avaliação é o de manifestar e firmar valores, os quais aparecem despojados de toda neutralidade e objetividade nos instrumentos com os quais avaliam-se os docentes, mostrando a intencionalidade institucional de quem os aplica. Assente-se com o princípio implícito e apenas escrito no PAIUB, mas descrito perfeitamente por Ristoff (1994, p.9-11) e que faz referência ao princípio de não punição ou premiação do docente. Com ressalva na importância dos usos dessas avaliações para a formação de uma cultura de avaliação na qual dê atenção a sua complexidade intrínseca e a condição participativa de todos os membros envolvidos.

Entendendo-a mais afastada da ideia de elemento de controle, que como locus fornecedor de subsídios para o fortalecimento e qualidade das instituições, acham-se outras pesquisas as quais dão subsídios para a melhora da percepção sobre a prática docente. Entre elas, destaca-se a importância da construção e uso dos instrumentos os quais permitam a avaliação, atendendo a complexidade do processo. Nesse sentido, Batista (2013) e outros pesquisadores têm procurado a conformação de instrumentos com formato de escala de Likert, baseado nas dimensões propostas pelo SINAES. Construto o qual ainda está sendo desenvolvido, mas que merece especial atenção, igual a outros na sua área, para o trabalho avaliativo efetivo com dados concretos.

Como foi nomeado no referencial teórico de avaliação neste trabalho, é de acordo com a postura integradora, formulada por Freitas (2012), que há os dois grandes modelos predominantes de avaliação: centrado na melhoria institucional versus centrado na regulação. Especifica-se aqui a respeito da complementariedade entre ambas posições em função da transformação educativa possível, dentro de um contexto de internacionalização/globalização que torne permissível a emancipação do cidadão brasileiro.

Com atenção ao exposto anteriormente e com a finalidade de ter uma universidade não excludente e promotora das práticas universalizadoras e democráticas, este estudo visa a importância dos aspectos políticos manifestos no apoio aos planos de reestruturação e expansão das universidades na última década, como bem pontualizam os trabalhos de Lima (2013) e trabalhos anteriores do autor. Propõem-se igualmente a focalização dos esforços investigativos no melhoramento da qualidade educativa, iniciando pela discussão sobre o que se denomina de “qualidade”, com intuito no desenvolvimento de acordo com as possibilidades contextuais, construindo expetativas educativas em termos individuais e coletivos os quais concederam uma notória diminuição da desigualdade social. (MORGADO, 2014)

Há destaque também dos processos avaliativos dos docentes em outras instituições nacionais e internacionais, como resultado da observação dos trabalhos de: Lipsman (2012) sobre avaliação docente e autoavaliação, na Universidade de Buenos Aires, e na avaliação de desempenho proposta para Moçambique por Mondlane (2007); processos avaliativos que verificam a internacionalização/globalização da avaliação institucional na configuração de sistemas educativos capacitados para promoverem melhorias nas sociedades onde se desenvolvem.

Verificou-se do mesmo modo alguns trabalhos que realçam particularmente um aspecto da avaliação docente, como pode ser o da percepção dos discentes sobre o desempenho didático do professor, e que tem sido feito de forma longitudinal, considerando diferentes campus de uma mesma universidade (UFG), por períodos temporais mais extensos (VIEIRA, 2013). A tal respeito, a pesquisa salientou o contexto do magistério superior, onde se desenvolve a amostra, e de acordo com as resoluções do próprio conselho universitário o qual articula o estágio probatório e a progressão funcional dos professores da investigação. Mas também, apontou-se para uso proposto dos instrumentos, a partir da estatística descritiva e a inferência da média amostral, concordante com o uso utilizado nesta própria pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Corrobora-se aqui com os estudos avaliativos, os quais focalizam os aspectos didáticos e pedagógicos dos docentes universitários, entretanto crê-se firmemente no acréscimo de outros aspectos, como os relativos às relações aluno-professor e professor- instituição, na conformação de uma agenda que possibilite a ampliação dos conhecimentos na área. A avaliação docente pelo discente torna-se insuficiente, sem que haja a incorporação dos elementos contextuais, e se investiga na, composição das instituições

universitárias, esses sujeitos como sujeitos sociais, atores das mudanças educativas na conformação de sociedades mais justas e igualitárias.

O professor universitário, dessarte, é inserido em uma cultura de avaliação a qual o considera sujeito/ator do processo avaliativo e que lhe expõe ao olhar público de seus alunos e de uma instituição que lhe exige determinados comportamentos e atitudes compatíveis com a reflexão sobre os aspectos didáticos e éticos na compreensão harmoniosa de seus relacionamentos interpessoais.

Assim, são valorados neste estudo os aspectos avaliativos institucionais e docentes sem que possam deixar de ser reconhecidos dentro do âmbito educacional, depreendendo a importância da avaliação dentro do processo de ensino-aprendizagem e sabendo que são muitas as pesquisas as quais contribuem para um melhor entendimento sobre a relação professor-avaliação. Destarte, objetiva-se mostrar algumas questões pertinentes à formação de professores de línguas estrangeiras, mas elas constituem um campo de investigação muito amplo, limítrofe com o escopo desta própria pesquisa.

Pelo exposto até aqui, é apreciado que o campo da avaliação é muito extenso e que não é pretendido diminuí-lo em uma definição performático-acadêmica a qual o sintetize. Busca-se dar conta de alguns aspectos que deram a licença para entender como a avaliação favorece as mudanças sócio-educativas. Neste caso, evidencia-se o docente universitário como centro de um processo de tranformação social. Saber quem é esse indivíduo, sujeito ou ator chamado professor e quais suas representações frente ao processo avaliativo é uma tarefa que será desenvolvida nos seguintes capítulos deste trabalho.

CAPÍTULO 3: NO CAMINHO DA IDENTIDADE DOCENTE