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CAPÍTULO 5: ANÁLISE DOS DADOS

5.2 AS VOZES DISCENTES

5.2.1 DAS NOTAS DADAS PARA OS DOCENTES

Os dados aqui apresentados referem-se às avaliações dos discentes sobre os docentes, realizadas ao final de cada semestre letivo, para todas as disciplinas cursadas nesse período. Esta avaliação institucional, como já informado anteriormente, é de caráter obrigatório e é remetida posteriormente para cada professor. As notas gerais obtidas pelos professores de toda a instituição são públicas e podem ser visualizadas por qualquer pessoa no portal eletrônico da instituição. A avaliação completa, contendo os comentários adicionais voluntários dos alunos, por sua vez, observa o sigilo das informações pessoais e é acessada somente pelo professor. Duas exceções são feitas quanto ao sigilo dessas informações e ambas dizem respeito à permissão de acesso ao conteúdo completo da avaliação do docente pelo discente. Este acesso é facultado ao chefe do departamento e ao diretor do centro, onde o professor está lotado. A razão de o chefe e de o diretor terem acesso ao conteúdo completo das avaliações é justificada pela instituição em função das posições administrativas que assumem, dentre as quais se registra a tarefa de acompanhamento do desempenho dos professores e intervenções administrativas, se necessário.

No primeiro momento avaliativo, o aluno atribui notas de zero a dez aos dez itens propostos pela universidade na primeira dimensão do instrumento institucional (Anexo A), objetivando avaliar o desempenho do professor a respeito de sua atuação didático-pedagógica e de sua postura profissional. São eles: 1- Comparecimento às aulas; 2- Cumprimento do

horário das aulas do início ao fim; 3- Cumprimento do programa da disciplina; 4- Clareza na apresentação do conteúdo; 5- Utilização de metodologias que favoreçam o aprendizado; 6- Incentivo à participação dos alunos nas aulas; 7- Disponibilidade para tirar dúvidas dos alunos durante as aulas; 8- Disponibilidade para atender aos alunos fora do horário de aulas; 9- Coerência entre o nível de exigência nas avaliações e o conteúdo dado; 10- Atuação do Professor da Docência Assistida nessa turma.

As notas a respeito de cada aspecto específico deste questionário podem ser vistas na tabela I de notas gerais e médias por disciplina (APÊNDICE 4). Outras informações, como a quantidade de disciplinas ministradas por semestre, notas médias por semestre, alunos por turma e comentários por turma podem ser observadas de forma completa na tabela II de médias gerais (APÊNDICE 5).

A partir do inventário destes dados se procede a sua classificação. Inicialmente, na escala de zero a dez. Nota-se a existência de um limite mínimo formal – nota seis – acima do qual o professor conserva sua posição institucional em relativa estabilidade e segurança. Os resultados abaixo desta nota automaticamente remetem às medidas (re)educativas, propostas pelo Programa de Atualização Pedagógica (PAP) as quais consistem, basicamente, em cursos de atualização pedagógica, visando à melhoria do desempenho docente.

A esse respeito, esclarece-se que os avaliadores (discentes) atribuem notas a cada um dos itens da dimensão Um, as quais somadas resultam em uma média geral, referente a cada uma das disciplinas ministradas, no semestre, por cada professor, conforme tabela I. Ademais, a cada nota equivale, igualmente, um conceito, de modo que os professores recebem também uma apreciação qualitativa. Os conceitos propostos pela universidade são: Excelente, no tocante às notas dez e nove; Bom, equivalente às notas oito e sete; Regular para notas compreendidas entre seis e quatro; e Deficiente para notas iguais ou menores do que três. Se não existissem condições de avaliar, havia ainda uma possibilidade de se utilizar a categoria N/A, ou seja, “não se aplica”.

Na escala proposta, os valores tinham a meta de classificar os docentes a partir de um critério tradicional de qualidade, levando em conta a tendência para a excelência, denominando com a nota dez as atuações docentes com maior aproximação, em desempenho, rendimento e eficiência total, no que concerne à proposta institucional. Dessa posição, em sentido descendente, encontram-se os valores intermediários que abriram as portas para evidenciar que existem diferentes questões alusivas à atuação pedagógica e/ou à postura profissional que podem ser melhoradas, facultando colocar o professor em situação de refletir, mediante a consideração destes valores, a esse respeito. O que deve ser diferenciado de um

juízo de valor sobre a pessoa do professor, ou seja, diz-se simplesmente o que funcionou e o que não funcionou com relação à atuação e à postura profissional do/a professor/a, na visão dos alunos.

Nota-se, logicamente, que existem fatores que influenciam estas qualificações, a partir da noção dos diferentes contextos, como a quantidade de turmas e alunos matriculados em cada uma, e das diferentes características daqueles que avaliam (os discentes) que, por vezes, fazem interferir questões pessoais, próprias da interação entre sujeitos, na avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Mas essa é outra questão que será tratada mais adiante. Interessa neste momento da análise ampliar a classificação dos professores a partir das notas obtidas na primeira dimensão do questionário e dos comentários produzidos pelos discentes a respeito dos docentes.

Como foi especificado, todo/a professor/a é avaliado/a cada semestre por seus alunos nas disciplinas que leciona. Identifica-se mais compreensivelmente o rendimento dos professores a partir de suas médias gerais semestrais, calculadas após a apreciação das notas gerais em cada disciplina ministrada no referido semestre. A tabela a seguir reúne estas médias.

Tabela 1 - Médias gerais por semestre, no período 2009.2 – 2012.2 Período 2009. 2 2010. 1 2010. 2 2011. 1 2011. 2 2012. 1 2012. 2 Média geral Nota média dada pelo aluno em todas as discipli nas P1 8,6 9,6 9,5 9,4 8,8 8,8 9,0 9,1 P2 9,5 9,4 9,3 9,6 9,4 9,5 P3 8,6 9,3 9,3 9,2 9,2 9,1 P4 9,2 8,8 9,3 9,2 8,8 8,8 9,0 P5 9,5 9,5 9,6 8,7 9,2 9,3 P6 8,7 9,3 8,9 9,0 P7 8,9 8,7 9,2 9,2 9,0 9,1 9,0 P8 8,2 8,5 8,9 9,2 9,3 8,8 8,9 8,8

Julga-se que essas valorações numéricas são complementares às avaliações subjetivas, manifestas por meio dos comentários discentes, e ambas são constitutivas e vinculantes com a(s) imagem(ns) que o/a próprio/a docente e a instituição possam ter de cada professor/a, dado que aceitam os traços específicos propostos pela universidade através de seu instrumento avaliativo e que compõem o perfil desejado por esta. Em outras palavras, os critérios avaliativos propostos pela instituição sobre os aspectos didático-pedagógicos e da postura profissional do professor universitário são referendados pelos alunos e qualificados por suas próprias opiniões. Essas expressões possibilitam, junto com as interações entre os participantes do processo de ensino, dentre outras questões, a elaboração de representações as quais são capazes de apontar ou não para atitudes reflexivas do docente na sua construção identitária.

Ao mesmo tempo, as avaliações numéricas e os comentários discursivos podem ser vinculados com diferentes objetivos. A instituição universitária fica livre para utilizar essas informações em alguns momentos específicos, relacionados com o desenvolvimento dos profissionais na carreira docente (permanência, produtividade, capacitação); são dados que poderiam ser mais bem disponibilizados pela universidade. Este trabalho, particularmente, objetiva vincular esses dados para categorizar os docentes; o que permite a observação dos fatores que podem influenciar as semelhanças e diferenças profissionais entre eles, com o intuito de associar esses desempenhos frente ao processo avaliativo institucional.

Na relação aplicada dos conceitos com os comentários recebidos são concebidas quatro categorias de análise. Estas categorias atendem aos critérios propostos pela análise de conteúdo (BARDIN, 2011): homogeneidade, pertinência, objetividade e fidelidade o que assente tornar estas construções classificatórias produtivas. Essas categorias podem ser observadas no gráfico abaixo, no qual se representa cada docente por uma determinada cor (tabela 2).

Assim, o docente cuja nota média esteja compreendida entre os intervalos 10 e 9,5 será identificado pela cor azul. Estes aparecem como profissionais que combinam uma ótima base de conteúdos e conhecimentos metodológicos, aliados a uma postura profissional que os distingue através de comentários totalmente positivos, precisando provavelmente focar em algumas coisas muito pontuais, as quais, na maioria das vezes, não transparecem nos comentários discentes, apenas nas variações numéricas.

A categoria seguinte, representada pela cor Amarela, abrange os professores cujas notas estejam representadas no intervalo compreendido entre 9,49 e 9,25. Neste grupo se vê

algum desajuste relativo a aspectos pedagógicos ou éticos, porém com um balanço geral muito satisfatório.

A terceira categoria, representada pela cor Laranja, engloba os professores cujas notas estejam incluídas no intervalo entre 9,24 e 9,0. Neste grupo são encontrados professores com algumas poucas carências metodológicas e/ou éticas, apontadas como eventos pontuais, em momentos específicos de sua atuação profissional.

A quarta e última categoria, identificada pela cor Vermelha, reúne as notas compreendidas nos intervalos 8,99 e 8,50. Esta categoria ainda representa uma boa avaliação, ainda que minoritariamente representada neste levantamento. Ela provoca uma reflexão mais acentuada, tendente à revisão, à consideração e à identificação de problemas também momentâneos, provocando a modificação de várias questões manifestas nas notas e em variados comentários discentes.

Tabela 2 - Notas médias por categoria

Observar-se, no gráfico uma predominância da categoria laranja, ressaltando um rendimento muito bom dos professores dos cursos de licenciatura em Letras-Língua Espanhola. 8,5 8,6 8,7 8,8 8,9 9 9,1 9,2 9,3 9,4 9,5 9,6 Professor 8 Professor 7 Professor 6 Professor 5 Professor 4 Professor 3 Professor 2 Professor 1

Notas médias da amostra

Como visto anteriormente, existem diferentes fatores que intervêm nas qualificações. Os primeiros fazem parte do contexto avaliativo e constituem a estrutura das notas médias finais. Para visualizá-los melhor se fará uso do gráfico embaixo, onde se pode ver, para cada docente e referente período de recorte da pesquisa, a quantidade de turmas ministradas, a média de alunos por turma, a quantidade de comentários recebidos no período, e os comentários negativos. A subtração dos comentários negativos sobre a totalidade dos recebidos mostra a quantidade de comentários positivos. As cores usadas na tabela 3 correspondem àquelas empregadas para relacionarem os docentes a suas categorias de análise, como demonstrado na tabela 2.

Tabela 3 - Fatores intervenientes nas qualificações turmas ministra das médio alunos comentá- rios discentes comentá- rios positivos comentá- rios negativos Média final azul P2 14 13 13 13 - 9,5 amarelo P5 12 18 28 27 1 9,3 laranja P1 18 35 36 29 7 9,1 P3 16 16 12 11 1 9,1 P4 15 37 36 28 8 9,0 P6 11 14 13 9 4 9,0 P7 13 39 39 32 7 9,0 vermelho P8 16 16 40 31 9 8,8

Existem outros fatores que podem facilitar alguma mudança na nota média final. Esses fatores são atinentes às diferentes questões. Por exemplo, a natureza da disciplina e a diferença entre cursos (NEUMANN e NEUMANN, 1983), como observado com os docentes P1, P3 e P8. Estes docentes ministraram a disciplina Espanhol em outros cursos como o de Turismo, ou lecionaram disciplinas que não são da área específica de formação do docente

(linguística, literatura) conforme observado nos casos de P1 e P8. No entanto, os níveis altos e meio-altos das avaliações, correspondentes com as notas excelente e bom, são característicos dos cursos de Línguas Estrangeiras, Humanidades e Artes, como mostram algumas pesquisas anteriores (FELDMAN, 1978 apud GARDUÑO, 2000).

A clareza e efetividade docente pode se ver modificada pelos aspectos da personalidade docente (MURRAY, RUSHTON e PAUNONEN,1990 apud GARDUÑO, 2000 p. 6). Fundamentalmente, as relações interpessoais entre docente e discente afetam de forma significativa, tanto o rendimento do aluno acima do satisfatório quanto à avaliação do docente, como se notará mais adiante neste capítulo.

Por isso, a quantidade de alunos por turma parece ter uma razoável influência (SHINGLES, 1977; MARCH, 1980; FELDMAN, 1984), já que a instituição propõe avaliar, na primeira dimensão do instrumento avaliativo, questões como a dedicação extra ao aluno, fora e dentro da sala de aula, e isto implica uma relação proporcional entre efetividade e quantidade de alunos.

Tratando-se de ensino de Língua Estrangeira a quantidade de alunos é capaz de afetar a avaliação. Nota-se uma melhoria nas possibilidades de aprendizagem e nas condições de ensino dos grupos menores frente aos maiores (P1, P4 e P7 em turmas com muitos alunos; P2, P3, P6 e P8 em turmas com poucos alunos) o que redunda na provável diminuição na quantidade de comentários em geral e dos comentários negativos nos grupos menores, a partir de uma relação interpessoal professor-aluno mais direta e significativa.

A quantidade de alunos parece afetar a quantidade de comentários discentes e proporcionalmente os comentários negativos. Como pode ser apreciado na tabela Três, existe uma correlação entre o número de alunos por turma e a quantidade de comentários, de forma que foi observado um aumento proporcional dos comentários quando a turma é maior. Os professores de turmas com maior quantidade de alunos recebem maior quantidade de comentários, incluindo mais comentários negativos, mas isto não parece indicar que exista uma relação determinante e unívoca entre os comentários negativos e as notas médias. No entanto, confirma-se a tendência de maiores médias com menores comentários negativos.

Declara-se aqui que os fatores que podem influenciar as avaliações docentes são muitos e constituintes da multidimensionalidade avaliativa, portanto, mereceriam um tratamento que considerasse sua complexidade, através da atualização e ampliação, por parte da comunidade científica, das pesquisas a respeito. Como se verá no próximo ponto desta análise, os comentários discentes podem ser catalogados e agrupados de diferentes formas. A atribuição negativa ou positiva deles é uma questão que necessita ser mais bem explicada e

está ligada com quem faz essa distinção e com as características da ação comentada. De todas as formas, observa-se que os comentários discentes são indispensáveis, mas não suficientes para perceber as particularidades identitárias do professor universitário em relação ao contexto institucional e profissional que o constitui.