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Construindo o Conceito de Contrato Didático

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Temos como objetivo da seção a “construção” do conceito de Contrato Didático, de acordo com Pais (2011) este conceito tem suas raízes nas noções do Contrato Pedagógico e do Contrato Social. Isto posto, discutiremos os conceitos desses contratos, bem como com o conceito de contrato stricto sensu. Para a melhor compreensão das relações entre os contratos faremos uma discussão organizada em tópicos discutiremos inicialmente as relações entre a definição do contrato em um sentido amplo, stricto sensu, e o contrato social e posteriormente discorreremos sobre as relações entre o contrato pedagógico e o contrato didático. 1.1.1 Do contrato stricto sensu ao contrato social

O contrato em um sentido amplo refere-se a uma convenção estabelecida entre pessoas supondo respeito às regras estabelecidas entre as partes envolvidas (VELLAS, 2002). Para Jonnaert e Borght (2002) a constituição do contrato pressupõe uma negociação prévia que possibilita a convergência para um acordo das partes em questão, no qual estas aderem integralmente às suas cláusulas e comprometem-se a respeitá-las.

Nesse sentido o contrato configura-se como um compromisso entre partes que se obrigam reciprocamente, assumindo a responsabilidade de honrar todos os seus deveres diante das cláusulas contratuais (ALMEIDA, 2016). A existência de um contrato pressupõe a existência de uma relação entre pessoas (BORBA, 2018), ou seja, estas se relacionam no intuito de estabelecer um diálogo e chegar-se a um

30 acordo. Em um contrato todas as partes envolvidas devem fazer uma leitura idêntica do mesmo, dessa maneira faz parte da sua natureza ser o mais explicito possível, de modo a evitar interpretações diferentes, podendo ser entendido, também, como um texto escrito que apresenta de maneira clara e precisa suas cláusulas. Nesse contexto, um contrato refere-se a um sistema fechado e imutável, no qual as regras não podem ser alteradas no decorrer da sua execução (JONNAERT E BORGHT, 2002).

De acordo com Jonnaert e Borght (2002) um contrato pode assumir modalidades que se desprende, em alguns aspectos, da definição rígida proposta nas linhas anteriores como, por exemplo, o Contrato Social. Em linhas gerais esse tipo de contrato ancora-se na idéia de associação, de um comum acordo de tal modo que não haja soberania em nenhuma das partes.

Ao propor a noção de Contrato Social Rousseau admite três estados durante o desenvolvimento intelectual do homem: o natural, o social e o contratual. No estado natural prevaleceriam a igualdade e a liberdade, enquanto que no estado social o homem estaria submetido a uma hierarquia de regras, podendo ter sua tranqüilidade comprometida em função de jogos de interesse. O estado contratual surgiria como combate às injustiças e desigualdades do estado social, tendo em vista que deveria se prevalecer à vontade da maioria, a qual seria considerada como expressão legitima da maioria dos membros da sociedade e encapada como vontade do estado (PAIS, 2011).

Nesse contexto o Contrato Social caracteriza a inserção do individuo no mundo social num processo de transição, conforme proposto por Rousseau, do estado natural para o estado social (SCHUBAUER – LEONI, 1998). Para Brito Menezes (2006) Rousseau entende as negociações como algo inerente a qualquer relação interpessoal.

A noção de Contrato Social repousa sobre a ideia de igualdade, de não soberania, a esse aspecto Jonnaert e Borght (2002) refletem uma aproximação com a relação entre um professor e um aluno, isto é essa relação deve ser constituída por meio de um diálogo e não por uma imposição de alguma das partes.

O ambiente escolar é permeado por inúmeras modalidades de contrato (JONNAERT; BORGHT, 2002; CHEVALLARD et al, 2001) no tópico a seguir

31 discutiremos alguns dos contratos que surgem no ambiente escolar: o Contrato Pedagógico e o Contrato Didático.

1.1.2 Do Contrato Pedagógico ao Contrato Didático

Conforme proposto por Filloux (1974) o Contrato Pedagógico diz respeito à relação existente entre o professor e o aluno, no que se refere à condução do processo de ensino e aprendizagem sem considerar o saber a ser ensinado. De acordo com Brito Menezes (2006) o contrato pedagógico é em parte explicito e em parte implícito, estando a ele atrelado a concepção do que é ensinar e do que é aprender. O “ensinar” e o “aprender” são aqui compreendidos no sentido intransitivo, ou seja, sem fazer referência a um saber especifico.

O Contrato Pedagógico visa regular as trocas entre professor e alunos por um período limitado definindo direitos e deveres recíprocos levando em consideração um consentimento mútuo sobre as regras que cada um deve submeter-se deliberadamente. Este contrato pode ser entendido como uma técnica de ensino/aprendizagem que possibilita ao professor negociar com um aluno um trabalho pessoal com um objetivo determinado, onde este pode escolher a tarefa a ser realizada e avaliar sua natureza e sua dificuldade (JONNAERT; BORGHT, 2002).

Para Almeida (2016) o que diferencia o Contrato Pedagógico do Contrato Didático é a entrada do saber na relação entre professor e alunos, tendo em vista que “se no pedagógico eram apenas dois, no didático são três: o professor, o aluno e o saber matemático. Ou seja, o saber matemático é que caracteriza a mudança do pedagógico para o didático.” (ALMEIDA, 2016, p. 59).

A noção de Contrato didático foi proposta por Guy Brousseau (1976) sendo, posteriormente, discutida e aprofundada pelo mesmo em diversas ocasiões (1984, 1986, 1996, 1997), bem como por diversos pesquisadores que compreenderam a relevância teórica de tal noção (ALMEIDA, 2016). É importante salientar que Brousseau não apresentou, inicialmente, uma definição fechada acerca do fenômeno, à construção da mesma é feita paulatinamente em decorrência da reflexão do autor sobre esse saber (BRITO MENEZES, 2006). Entende-se o Contrato Didático como

32 Conjunto de comportamentos do professor que são esperados pelos alunos e o conjunto de comportamentos do aluno que são esperados pelo professor. Esse contrato é o conjunto de regras que determinam uma pequena parte explicitamente, mas, sobretudo implicitamente, o que cada parceiro da relação didática deverá gerir e aquilo que, de uma maneira ou de outra, ele terá de prestar contas diante do outro. Este sistema de obrigações recíprocas se assemelha a um contrato. O que nos interessa é o contrato didático, quer dizer a parte do contrato que é especifica ao conteúdo: o conhecimento matemático visado. (BROUSSEAU, 1986, p.51)

Em linhas gerais o Contrato Didático tem em sua base as expectativas de professores e alunos perante a gestão do saber constituindo-se a partir de regras predominantemente implícitas que condicionam as responsabilidades de cada um dos parceiros na relação didática. Jonnaert e Borght (2002) refletem que este se distancia da definição de contrato possuindo características de um anti-contrato, para esses autores o termo é mal escolhido considerando que enquanto um contrato no sentido stricto assegura a estabilidade o Contrato Didático terá como função dinamizar as suas regras.

De acordo com Brito Menezes (2006) a noção de Contrato didático é permeada pelas noções do Contrato Social, no sentido das negociações, e do Contrato Pedagógico, no sentido da expectativa e dos papeis de cada um dos parceiros, bem como da hierarquia estabelecida entre professor e aluno. No tópico seguinte definiremos alguns dos pilares de sustentação da noção de Contrato Didático.

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