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Efeitos de Contrato

No documento Download/Open (páginas 40-43)

Os efeitos de contrato são produzidos diante a tentativa de evitar o eminente fracasso das situações de ensino. Nesse contexto cria-se a ficção de que uma determinada aprendizagem está se consolidando, envolvendo alunos e professor numa falsa ideia de que a situação está seguindo adequadamente, as cláusulas do

39 contrato didático estão sendo cumpridas e os alunos estão modificando sua relação ao saber (ALMEIDA; BRITO LIMA, 2017).

Nesse sentido Joannert e Borght (2002) acrescentam que a negociação contínua do Contrato Didático tende a nivelar “por baixo” os objetivos da aprendizagem, em função do desejo do professor para que os alunos alcancem sucesso em suas atividades, tendendo a facilitar a tarefa apresentada. No entanto, essa facilitação pode camuflar o fracasso da aprendizagem.

Para Almeida (2016) os Efeitos de Contrato fazem parte do cotidiano escolar sendo, portanto, inevitáveis, no entanto o conhecimento destes efeitos pode possibilitar a compreensão de como eles se instituem na sala de aula. Com intuito de elucidá-los nesse momento os efeitos definidos por Brousseau (1986): Efeito Pigmaleão, Efeito Topázio, Efeito Jourdan, Deslize Metacognitivo e Uso Abusivo de Analogias. Para facilitar a compreensão do leitor apresentaremos a descrição de cada um dos efeitos seguido de um exemplo.

Efeito Pigmaleão ou fenômeno das expectativas: É um efeito inevitável diante da

instituição do contrato didático, uma vez que se refere às expectativas que o professor tem dos seus alunos. Nesse efeito o professor limita suas exigências à imagem, expectativas, das capacidades do aluno (BROUSSEAU, 1986).

Exemplo: Os estudantes que fazem um bom trabalho são vistos de maneira

diferenciada pelo professor, sendo convidados a responder perguntas em uma aula expositiva dialogada. Enquanto que o aluno que não possui grande destaque na disciplina é subestimado. (OLIVEIRA SOUZA, 2018)

Efeito Topázio: Tal efeito aparece em situações em que o professor fornece

explicações abundantes, ensinando pequenos truques, algoritmos e técnicas de memorização ou mesmo indicando-lhes pequenos passos nos problemas facilitando as estratégias, encarregando-se, dessa forma, de uma parte essencial do trabalho que deveria ser de responsabilidade dos alunos. Contrapondo se à intenção do professor, as explicações abundantes podem impedir a compreensão dos mesmos. (PAIS, 2011)

Exemplo: O professor questiona os alunos sobre qual a forma de um gráfico de uma

40 da função afim é formado por uma r...”, possivelmente os alunos responderam “uma reta” em decorrência das informações excessivas dadas pelo professor.

Efeito Jourdan: Esse efeito pode ser entendido como uma variação do efeito

topázio, caracterizando-se por, em decorrência do eminente fracasso no processo de ensino e aprendizagem, o professor reconhece um comportamento comum do aluno como uma manifestação de um saber cientifico (BROUSSEAU, 1986).

Exemplo: Seria o professor dizer que um aluno compreende os conceitos referentes

à Função Afim ao interpretar uma situação que envolve o preço a ser pago em uma corrida de táxi. Apesar de essa situação ser constituída por uma Função Afim sua interpretação não é suficiente para se considerar que esse aluno compreende a Função Afim, uma vez que há outros conceitos articulados a esse saber que vão além dessa situação.

Deslize Metacognitivo: Tal efeito ocorre quando, em virtude das dificuldades

percebidas pelo professor na gestão do saber, o mesmo substitui seu discurso cientifico por um discurso estritamente ligado ao senso comum, promovendo um deslize, uma ruptura e um deslocamento do objeto de saber (do plano cientifico para o plano do senso comum) (BROUSSEAU, 1986).

Exemplo: Em sua pesquisa Bessa de Menezes (2004) investiga o processo de

Transposição Didática Interna do saber quadriláteros, este pesquisador destaca a utilização da analogia da “paternidade” e “maternidade”1, por um dos professores

investigados, para discutir a relação de inclusão entre as classes dos quadriláteros (a formação dessas classes está associada às propriedades dos mesmos). Nesse contexto, Brito Menezes (2006) reflete que ao utilizar a analogia da “paternidade” e “maternidade” para explicar tal relação o professor substitui a exploração das propriedades dos quadriláteros, o discurso cientifico, por essa analogia, de acordo com a mesma autora essa conjuntura caracteriza-se como a reprodução do Efeito de Contrato Deslize Metacognitivo.

1 Essa analogia é utilizada para discutir que alguns dos quadriláteros “herdam” propriedades de

outros quadriláteros, que por sua vez são seus pais. Diante disso, conforme a discussão de Bessa de Menezes (2004), o paralelogramo poderia ser considerado como pai do retângulo e do losango, tendo em vista que os últimos conservam/ ”herdam” as propriedades do primeiro.

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Uso abusivo de analogias: De acordo com Brousseau (1986), embora a analogia

se configure como um excelente meio heurístico, seu uso excessivo pode descaracterizar o saber em jogo, levando o aluno a ter uma visão limitada de tal saber. O uso inadequado de analogias pode desencadear outros efeitos de contrato didático, tais como o Efeito Topázio.

Exemplo: Quando o professor conduz o trabalho com a Função Afim tratando-a

unicamente a partir da analogia dos termos ‘fixo’ e ‘variável’. Consideramos que apesar da analogia dos termos ‘fixo’ e ‘variável’ está no bojo da definição da Função Afim, no entanto seu uso desmedido tende a descaracterizar este saber, uma vez que essa analogia encontra-se inadequada quando consideramos os casos especiais da Função Afim: a Função Constante e a Função Linear.

De acordo com Silva (2008) grande parte das dificuldades dos alunos é conseqüência dos efeitos de contrato didático mal - colocado ou mal – sucedido, tendo em vista que esse traz marcas das expectativas do professor em à classe. Nessa perspectiva, pode ser estabelecido entre professor e aluno um acordo tácito: o professor limita sua exigência à percepção que tem da capacidade do aluno ao mesmo tempo em que este limita seu trabalho à imagem de si próprio que o professor lhe fez refletir.

Partindo da discussão acerca dos pilares de sustentação do Contrato Didático elencada até o presente momento apresentaremos a seguir nossa proposição do Contrato Didático Potencial.

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