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Capítulo 1 Conhecimento de plantas alimentícias em cinco comunidades da

1. Introdução

4.3. Consumo de plantas e o acesso das comunidades

Agrupando as cinco comunidades de acordo com as similaridades dos itens vegetais consumidos, observa-se o mesmo padrão encontrado na caracterização proposta, onde se formam os três tipos de comunidades descritos no capítulo anterior (Figura 28).

Figura 28. Agrupamento das comunidades de acordo com o consumo de espécies vegetais

mencionadas em recordatório 24 horas pelas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Correlação cofenética = 0,8036.

O teste Mantel não foi significativo (p = 0,15), apesar de uma alta correlação (r = 0,5313) entre as matrizes de dissimilaridade de acesso e de dieta. Apesar do resultado não significativo, as comunidades se agruparam da mesma forma que na caracterização proposta e com correlação entre as matrizes de mais de 50%, desta forma, pode-se observar uma tendência na forma que os moradores se alimentam de vegetais que acompanha o tipo de comunidade às quais pertencem.

Esta tendência torna-se alarmante se for considerado o extremo desta comparação, que é a alimentação na cidade mais próxima, Beruri. Assim como constatado por Katz (2009) na cidade de Santa Izabel do Rio Negro, a alimentação tradicional na cidade é invisibilizada, e predomina o comércio de produtos externo e da cultura alimentar hegemônica. A “colonização alimentar” é trazida para as comunidades do interior nos barcos vindos de Manaus e das cidades próximas.

O número de espécies consumidas em relação ao total de entrevistados nos diferentes tipos de comunidade (Tabela 9) revela que as mais acessíveis consumiram menor diversidade de espécies em relação às demais. Este fato é, provavelmente, fruto do acesso que estas comunidades possuem a produtos industrializados que vem paulatinamente substituindo as frutas e preparações com vegetais, principalmente nas merendas. A maior utilização da terra-firme em atividades de extração de castanha e caça pelas comunidades de acesso ocasional e irregular pode ser outro fator que influencia o maior consumo de plantas observado nestas.

Tabela 9. Diversidade de espécies consumidas por tipo de comunidade mencionadas nas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Tipo de comunidade, comunidades, número de espécies consumidas mencionadas, número total de entrevistados (N), número médio da lista de espécies consumidas em relação ao total de entrevistado (P).

Tipo Espécies consumidas N P

1: acesso constante 59 140 0.42

2: acesso ocasional 38 44 0.86

3: acesso irregular 40 65 0.61

Arriscamos assumir que, enquanto o conhecimento tradicional não está necessariamente relacionado com o acesso destas comunidades aos centros urbanos (como visto no capítulo anterior), o consumo de vegetais, por sua vez, é mais influenciado por este. De uma forma geral, consome-se poucos vegetais em relação ao rico conhecimento que estas comunidades possuem em relação às plantas alimentícias. Além do relevante efeito da sazonalidade na disponibilidade dos vegetais, discutido anteriormente, outro fator que contribui para a pequena diversidade vegetal na alimentação ao longo do ano é a falta de matéria-prima, ou seja, precisa-se investir e dar assessoria técnica na formação de agroflorestas de alimentos.

Enquanto as frutíferas e hortaliças da estação não são sistematicamente produzidas e comercializadas nas feiras e mercados locais, inclusive nas cidades

próximas, os produtos industrializados estão disponíveis durante todo o ano e possuem apelo comercial, por não serem considerados “comida de pobre”, além de serem vendidos prontos ou pré-processados (ou, ainda, ultraprocessados). Nesse sentido, são essenciais iniciativas que valorizem a cultura alimentar local, os itens alimentares tradicionais (silvestres e cultivados) e suas formas de preparo e informar a população sobre a relação entre produtos ultraprocessados e doenças crônico-degenerativas recorrentes, tais como obesidade, hipertensão, diabetes e certos tipos de câncer (Brasil 2014).

Em relação à procedência dos itens consumidos em cada estação hidrológica, na estação seca observa-se um aumento do consumo de vegetais oriundos do mercado externo e diminuição do consumo da produção local em relação à cheia nas comunidades de acesso constante e ocasional (tipos 1 e 2) (Tabela 10). As comunidades de acesso ocasional (tipo 2) se destacam pelo número de vegetais consumidos oriundo da própria produção em ambas estações, reforçando um perfil agrícola, mais autônomo em relação aos recursos externos.

Tabela 10. Porcentagem dos vegetais consumidos mencionadas pelas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes oriundos de produção interna (compra interna, extração, doação, sítio, roçado e horta) e compra externa relativa a cada tipo de comunidade em cada estação hidrológica do rio Purus.

Comunidades Cheia Seca

Compra Externa Produção/ Extração Compra Externa Produção/ Extração

Tipo 1: acesso constante 44,31 % 55,69 % 57,46 % 42,54 %

Tipo 2: acesso ocasional 27,76 % 72,24 % 39,17 % 60,83 %

Tipo 3: acesso irregular 59,48 % 40,52 % 56,65 % 43,35 %

As comunidades de acesso irregular (tipo 3) apresentam maior consumo de itens externos em ambas estações, sendo que na cheia o consumo de itens externos é ainda maior, enquanto que na seca aumenta o consumo da produção interna. Este padrão pode estar relacionado com a drástica redução da frequência de barcos que adentram estas comunidades na época da seca, o que não ocorre nos demais tipos. Com a redução da frequência dos barcos, a comunidade tende a comprar menos devido a menor oferta dos produtos, levando a um maior consumo da produção nesta estação. Apesar disso, mesmo com a irregularidade dos barcos que vendem produtos externos, é notável que as comunidades de acesso irregular estão mais dependentes deste

comércio. Em ambas as estações apresentam maior quantidade de consumo de itens externos, que é superior ao consumo das comunidades de acesso constante (tipo 1), as quais estão localizadas no rio principal, mais próximas do centro urbano e com mais acesso aos produtos oriundos destas (Tabela 10).

É interessante salientar que mesmo com uma tendência de agrupamento das comunidades de forma semelhante à caracterização proposta, quando utilizado os dados de procedência do consumo de plantas as comunidades de acesso irregular são as que apresentaram maior consumo de itens externos. Isto nos revela que a procedência dos itens consumidos não está diretamente relacionada ao acesso destas ao centro urbano próximo e seus produtos, mas talvez esteja mais relacionado ao perfil produtivo da comunidade, como é constatado na comunidade tipo 2, a qual possui o perfil mais agrícola das cinco, e apresentou menor consumo de itens externos e maior consumo oriundo da produção local.

Depender de recursos externos, tanto para a alimentação como para a produção de alimentos é uma ameaça à segurança alimentar das comunidades, uma vez que esta é atualmente muito mais relacionada à pobreza ou falta de acesso socioeconômico a itens alimentares do que a efetiva produção de alimentos (Chappell e LaValle 2011; Ortiz et al. 2013). Sendo assim, populações (sobretudo rurais) serem autônomas na alimentação é uma forma de garantirem a soberania, o abastecimento de alimentos saudáveis e adequados cultural e ecologicamente, diminuindo a dependência de relações monetárias e das atuais relações de aviamento presentes principalmente nas comunidades de acesso irregular e ocasional.

No contexto do movimento agroecológico, a produção própria de alimentos se contrapõe a necessidade de compra da alimentação industrializada, que passa a ser considerada monótona, pobre ou pouco saudável (Siliprandi 2015). Reitera-se a importância da participação das mulheres neste sentido, por serem, usualmente, as mais comprometidas na produção para o autoconsumo e na diversificação dos quintais (Perrault-archambault e Coomes 2008), enquanto os homens são mais envolvidos na produção comercializável (Siliprandi 2015).

5. Conclusões

Nos períodos amostrados foram consumidos 32,27% do total de plantas conhecidas pelas comunidades. O consumo de plantas nas estações cheia e seca do rio Purus é significativamente diferente, marcado por maior diversidade na estação cheia, quando também é maior o consumo de vegetais oriundos da produção própria e extração das florestas. Fatores que influenciam este padrão são a sazonalidade de frutificação das espécies silvestres, o acesso facilitado às áreas de florestas alagadas e a colheita agrícola na estação cheia, tornando-a mais abundante em termos de frutos.

Apesar desta diferença entre as estações, o consumo básico de vegetais é semelhante e a procedência destes itens vegetais da dieta básica é principalmente a compra externa, o que representa uma ameaça à soberania alimentar das comunidades. Não foi constatada uma relação significativa entre o consumo de espécies vegetais e os tipos de comunidade, apesar de haver uma tendência.

Acreditamos nos princípios agroecológicos de produção de alimentos e de manejo de áreas cultiváveis como caminhos para a maior autonomia destas comunidades. O plantio e manejo de espécies silvestres em áreas próximas às casas podem colaborar na diversificação alimentar, a intensificação da produção do próprio alimento de forma autônoma e culturalmente aceitável contribuir para a soberania alimentar, restringindo a necessidade de compra externa e uso de dinheiro. Reiteramos a indispensável participação feminina nas decisões alimentares, por serem as mulheres, usualmente, as mais comprometidas na produção para o autoconsumo e na diversificação dos quintais.

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Considerações finais

A caracterização de comunidades quanto ao acesso aos centors urbanos parece exercer maior influência sobre o consumo de vegetais do que sobre o conhecimento botânico teórico. A diferenciação entre conhecimento teórico e uso efetivo de plantas é essencial em estudos etnobotânicos desta natureza.

O levantamento do conhecimento botânico das comunidades participantes demonstra o rico conhecimento de plantas alimentícias que possuem as diferentes gerações de moradores. Apesar disso, observa-se a monotonia alimentar, com pouco consumo de toda esta diversidade vegetal conhecida, pelo menos durante os meses de coleta de dados deste trabalho.

A substituição gradual de itens vegetais locais e/ou frescos por industrializados, principalmente nas merendas, e a falta de autonomia na produção do próprio alimento vegetal em algumas comunidades são ameaças à segurança e soberania alimentar. Apesar de sazonal, o consumo de plantas conhecidas e culturalmente aceitas pode ser intensificado com adoção de princípios agroecológicos como a diversificação de roçados e sítios; maior participação das mulheres nas tomadas de decisões agrícolas e alimentícias; e valorização do conhecimento culinário tradicional e dos produtos regionais.

Apêndice A.

Tabela de espécies coletadas. Família, nome científico, nomes populares mencionados para cada espécie, forma de vida, local de ocorrência, meses de frutificação, origem de acordo com Flora do Brasil (2018) e parte comestível.

Família Nome científico Nomes populares Forma de vida Local Frutificação* Origem** Parte comestível

Amaranthaceae Beta vulgaris L. beterraba erva mercado - cultivada

(exótica) órgão tuberoso Amaryllidaceae Allium cepa L. cebola-de-cabeça; cebola erva mercado - cultivada

(exótica) órgão tuberoso Amaryllidaceae Allium fistulosum L.

cebola-de-palha; cebolinha; cebola-comprida; cebola- comum; cebola

erva canteiro - cultivada

(exótica) folha

Amaryllidaceae Allium sativum L. alho erva mercado - cultivada

(exótica) órgão tuberoso Anacardiaceae Anacardium occidentale

L. caju; cajueiro árvore roçado; sítio set nativa fruto

Anacardiaceae Anacardium parvifolium Ducke

cajuí; caju-do-mato; caju-

açu árvore

terra-firme; floresta inundável

- nativa fruto

Anacardiaceae Mangifera indica L.

manga; manga-massa; manga-espada; manga- saco-de-bode; manguita; manga-coração-de-boi; manga-jitinha

árvore sítio out cultivada

(exótica) fruto

Anacardiaceae Spondias mombin L. taperebá; peterebá árvore sítio dez-jun nativa fruto Anacardiaceae Tapirira guianensis

Aubl. tingá árvore terra-firme

-

nativa fruto

Annonaceae Annona cf. haematantha

Miq. jaca-do-igapó árvore

floresta

Annonaceae Annona edulis (Triana &

Planch.) H.Rainer jaquinha árvore sítio - nativa fruto

Annonaceae Annona montana

Macfad. araticum árvore roçado jul-dez nativa fruto

Annonaceae Annona mucosa Jacq. biribá árvore sítio abr nativa fruto

Annonaceae Annona sp.1 aracati árvore roçado - -*** fruto

Annonaceae Annona sp.2 jaquinha-do-igapó árvore floresta

inundável - -*** fruto

Annonaceae Annona sp.3 ata árvore floresta

inundável - -*** fruto

Annonaceae Duguetia sp. envira árvore terra-firme - -*** fruto

Annonaceae Fusaea longifolia

(Aubl.) Saff. envira árvore terra-firme - nativa fruto

Apiaceae Coriandrum sativum L. cheiro-verde; coentro erva canteiro - naturalizada

(exótica) folha

Apiaceae Daucus carota L. cenoura erva mercado - cultivada

(exótica) órgão tuberoso

Apiaceae Eryngium foetidum L. chicória erva canteiro - nativa folha

Apocynaceae Ambelania acida Aubl. pepino-do-mato árvore terra-firme mar nativa fruto

Apocynaceae Couma guianensis Aubl. souva árvore terra-firme out-mar nativa fruto; látex

Apocynaceae Couma macrocarpa

Barb.Rodr. souva árvore terra-firme nov-fev nativa fruto

Araceae Xanthosoma sp. taioba erva roçado - - folha; órgão

tuberoso Arecaceae Astrocaryum acaule

Mart. tucumaí; tucumazinho palmeira

floresta

inundável - nativa fruto; palmito

Arecaceae Astrocaryum aculeatum

Arecaceae Astrocaryum jauari

Mart. jauari; jarari palmeira

floresta

inundável jun nativa fruto

Arecaceae Astrocaryum murumuru

Mart. muru-muru palmeira

floresta

inundável set nativa fruto

Arecaceae Attalea maripa (Aubl.)

Mart. inajá palmeira terra-firme jan-mar nativa fruto

Arecaceae Attalea phalerata Mart.

ex Spreng. urucuri palmeira roçado; sítio jun nativa fruto; semente

Arecaceae Attalea speciosa Mart.

ex Spreng. babaçu; palheira palmeira

terra-firme;

sítio mar-jun nativa

fruto; semente; palmito

Arecaceae Bactris bidentula Spruce pupunharana-do-igapó palmeira floresta

inundável - nativa fruto

Arecaceae Bactris bifida Mart. marajá-da-terra-firme palmeira capoeira jun nativa fruto