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Conhecimento e consumo de plantas alimentícias em cinco comunidades da reserva de desenvolvimento sustentável Piagaçu-Purus, Amazonas

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(1)

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BOTÂNICA

CONHECIMENTO E CONSUMO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS EM

CINCO COMUNIDADES DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL PIAGAÇU-PURUS, AMAZONAS.

Clara de Carvalho Machado

Manaus – Amazonas

Abril / 2018

(2)

Clara de Carvalho Machado

CONHECIMENTO E CONSUMO DE PLANTAS

ALIMENTÍCIAS EM COMUNIDADES DA RESERVA DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PIAGAÇU-PURUS

Orientador:

Dr. Valdely Ferreira Kinupp

Dissertação apresentada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Botânica.

Manaus – Amazonas

Abril / 2018

(3)

M149c Machado, Clara de Carvalho

Conhecimento e consumo de plantas alimentícias em cinco

comunidades da reserva de desenvolvimento sustentável Piagaçu – Purus, Amazonas / Clara de Carvalho Machado. - Manaus: [s. n.], 2018.

f. : il. color.

Dissertação (Mestrado) - INPA, Manaus, 2018. Orientador: Valdely Ferreira Kinupp.

Programa: Botânica.

1. Plantas alimentícias . 2. Etnobotânica. 3. Desenvolvimento sustentável. 4. Soberania alimentar. I. Título.

(4)

Agradecimentos

Por mais solitária que uma dissertação possa ser, não há ciência que se faça sem parcerias. Desde os braços que carregaram pesados galões de gasolina nos recreios até os olhos que agora correm essas linhas, sou grata:

Aos moradores das comunidades que me receberam e compartilharam comigo suas rotinas, seus vocabulários, suas práticas, seus saberes e sabores. Especialmente às famílias que me receberam e me adotaram de alguma forma por alguns dias: Assis e Socorro, Mário e Marlete, Padre e Nazaré, Raimundão e Janne, Adelino e Lindinalva, Orangio e Irismar. Obrigada por me ensinarem e pela amizade que construímos.

Aos moradores que faziam os esforços de coleta comigo, compartilhando seus conhecimentos e colaborando enormemente para a coletânea de dados reunidos neste trabalho: Seu Orlando, Di Maria, Sapinho, Seu Noca, Dona Marli, Seu Nédio, Seu Adelino, Buchudo, Mário e Evandro.

À Heloísa Brum e Eduardo Mühlen, por me apresentarem a todos através de seus respeitosos olhares e por me inserirem em relações pessoais tão amorosamente construídas com as comunidades da Reserva. Eu sou mais uma de seus tantos admiradores. Ao Victor Pimentel por ter me apresentado a chance de conhecer esse pedaço todo especial da Amazônia.

A todos que colaboraram com os trabalhos de campo. Ao Antonio Emerson Fernandes da Silva, pelo esforço incansável em subir nas majestosas árvores e pela ótima parceria. À Carolina Freitas, pela amizade inesperada e pelos sensíveis ensinamentos e descobertas de campo.

Ao meu orientador, pela recepção e pelo entusiasmo com a ciência das plantas e com a prática agroecológica. Sou grata por representar uma inesgotável fonte de inspiração, pela forma tão simples de compartilhar seu valioso conhecimento e pela orientação nada convencional (não teria como ser diferente), feita em restaurantes, no Sítio PANC, na feira, ou onde quer que fosse.

Aos demais professores e professoras que colaboraram com suas experiências para a construção deste trabalho: Dr. Charles Clement, Dr. Glenn Shepard Jr., Dra. Tatiana Schor, Dra. Dionísia Nagahama, Dra. Veridiana Scudeller e Dra. Elisa Wandelli e Dr. Alberto Vicentini.

(5)

Ao Eduardo Prata, pela paciência e dedicação na ajuda estatística, e aos demais amigos que colaboraram nessa etapa Helder Espírito-Santo, Ariel Molina e Flávio Costa.

Aos incríveis doutores, mestres, colegas e taxonomistas que nos ajudaram na identificação das plantas: José Ramos (várias), Dr. Marcos Sobral (Myrtaceae), Dra. Anália Duarte (Myrtaceae), Dr. Afonso Rabelo (Arecaceae), Dr. Claes Persson (Rubiaceae), Dr. Piero Delprete (Rubiaceae), Dra. Charlotte Taylor (Rubiaceae), Dr. Mike Hopkins (Parkia), Dra. Iêda Amaral (Inga), Dr. Julio Lombardi (Celastraceae), Dr. Alberto Vicentini (Lauraceae), Dr. Mário Terra-Araújo (Sapotaceae), Dr. Luis Fernando Paiva Lima (Cucurbitaceae). Ms. Magno Pilco (Protium - Burseraceae), Ms. Maihyra Pombo (Annonaceae), Ms. Nallaret Dávilla (Rubiaceae), Ms. Lorena Oliveira (Fabaceae), Ms. Marcos Corrêa (Arecaceae), Ms. Eliete Brito (Melastomataceae), Ms. Marisabel Ureta (Lauraceae), Ms. Caroline Vasconcelos (Sapotaceae) e Jaynna Isacksson (Chrysobalanaceae).

À Vivi, Ricardo e Wandinho, minha família que fiz em Manaus, por estarem presente comigo nessa caminhada. Aos amigos de longe e de perto, recentes ou de longa data, que estiveram presente nesses dois anos.

À minha família, pelo apoio e pelo amor. Sou grata pela paciência nos meses em campo, quando aguentaram firme com a falta de notícias.

Ao Sci-Hub, por remover as barreiras no caminho da ciência. Ao Instituto Piagaçu, pela logística e parceria.

Ao CNPq pela bolsa de mestrado e à CAPES, através do Programa Pró-Amazônia – Projeto 052, pelo financiamento.

Ao INPA e ao Programa de Pós-Graduação em Botânica, pela oportunidade de estudar as plantas com professores e colegas interessantíssimos, em um dos lugares mais incríveis deste planeta.

(6)

Resumo

O estudo da alimentação na Amazônia enfatiza o consumo de peixe e farinha como dieta básica de diferentes povos, enquanto os vegetais, principalmente frutas, são consumidos de forma esporádica e sazonal. Em um cenário de transição nutricional, com crescente inserção de produtos industrializados na dieta, a alimentação tradicional e o consumo de produtos regionais vêm sofrendo transformações que impactam a saúde, a autonomia e o modo de vida de populações tradicionais. Estudos etnobotânicos tendem a sinonimizar conhecimento teórico e uso efetivo de plantas, porém, nem sempre estes são compatíveis. Sendo assim, este estudo pretendeu avaliar o conhecimento teórico e o efetivo consumo de plantas alimentícias em comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus. O nível de acesso e características socioculturais das comunidades foram consideradas, como também as diferentes estações hidrológicas do rio Purus. Através de listagens livres e recordatório 24 horas foram entrevistados 288 moradores das cinco comunidades com idade entre 4 e 86 anos. O levantamento do conhecimento botânico das comunidades participantes demonstra um rico conhecimento de plantas alimentícias, com 220 espécies identificadas mas, ainda observa-se alguma monotonia alimentar, com pouco consumo cotidiano de toda esta diversidade vegetal conhecida. O consumo de plantas é mais diverso na estação cheia do rio, possivelmente devido ao acesso facilitado às áreas de floresta inundável, além da dinâmica agrícola local e a sazonalidade da floresta. A monotonia alimentar e a dependência de recursos externos para alimentação são ameaças à segurança e, especialmente, à soberania alimentar de algumas comunidades. Apesar de sazonal, o consumo de plantas conhecidas e culturalmente aceitas pode ser intensificado com adoção de princípios agroecológicos como a diversificação de roçados e sítios; maior participação das mulheres nas tomadas de decisões agrícolas e alimentícias e valorização do conhecimento culinário tradicional e dos produtos e ingredientes regionais.

(7)

Abstract

Food habits studies in the Amazon emphasizes the consumption of fish and

farinha (manioc flour) as basic diet in different groups, while vegetables, mainly fruits,

are consumed sporadically and seasonally. In a scenario of nutritional transition, with insertion of industrialized food in the diet, traditional food and consumption of regional products have undergone transformations, affecting health, autonomy and the lifestyle of traditional populations. Ethnobotanical studies tend to equalize theoretical knowledge and use of plants, but these are not always synonyms. Therefore, this study aimed to evaluate the theoretical knowledge and the actual consumption of food plants in riparian communities of the Piagaçu-Purus Sustainable Development Reserve. The level of access and sociocultural characteristics of the communities were considered, as well as the hydrological seasons of the Purus River. We interviewed 288 residents of the five communities with age between 4 and 86 years with free lists and 24 hours diet recall. The survey of the botanical knowledge demonstrates a rich knowledge of food plants, with 220 identified species, nevertheless, there is still a food monotony, with little consumption of all plant knowledge. The consumption of plants is more diverse in the wet season, possibly due to the easier access to areas of flooded forest, besides the local agricultural dynamics and the forest seasonality. Food monotony and dependency on external resources for feeding are threats to food security for some communities. Although seasonal, the consumption of known and culturally accepted plants can be intensified with the adoption of agroecological principles such as the diversification of agricultural fields; greater participation of women in agricultural and food decision-making; and appreciation of traditional cuisine and regional food ingredients.

(8)

Sumário Lista de tabelas...X Lista de figuras...XI Apresentação...12 Introdução Geral...14 Objetivo Geral...16 Área de Estudo...16 Comunidades participantes...20 Aspectos éticos...20 Referências...22

Capítulo 1 - Conhecimento de plantas alimentícias em cinco comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus 1. Introdução...26 2. Objetivos...28 2.1. Objetivo geral...28 2.2. Objetivos específicos...28 3. Material e Métodos...29 3.1. Seleção de participantes...29

3.2. Caracterização das comunidades...29

3.3. Listagem de plantas alimentícias conhecidas...30

3.4. Coleta e identificação de amostras botânicas...31

3.5. Avaliação da saliência cognitiva...32

3.6. Relação entre o acesso das comunidades e conhecimento botânico...32

4. Resultados e Discussão...33

4.1. Caracterização das comunidades...33

4.1.1. Tipo 1: comunidades de acesso constante...34

4.1.2. Tipo 2: comunidades de acesso ocasional...40

4.1.3. Tipo 3: comunidades de acesso irregular...42

4.2. Conhecimento de plantas alimentícias...46

4.3. Formas de consumo...51

4.3.1. Principais formas de preparo...51

4.3.2. Preferências locais...60

4.4. Saliência cognitiva das plantas mencionadas...62

4.4.1. Índice de Saliência Cognitiva Geral...62

4.4.2. Índice de Saliência Cognitiva nos grupos de entrevistados...68

4.5. Conhecimento botânico e o acesso das comunidades...72

5. Conclusões...73

(9)

Capítulo 2 - Consumo de plantas alimentícias em cinco comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus

1. Introdução...81 2. Objetivos...83 2.1. Objetivo geral...83 2.2. Objetivos específicos...83 3. Material e Métodos...83 3.1. Famílias participantes...83

3.2. Fenologia de espécies silvestres...84

3.3. Procedência dos itens alimentares...84

3.4. Hábitos alimentares no passado...84

3.5. Relação entre o consumo de plantas e estações hidrológicas...85

3.6. Relação entre o consumo de plantas e o acesso das comunidades...85

4. Resultados e Discussão...86

4.1. Consumo de plantas e o contexto alimentar...86

4.2. Consumo de plantas e regime hidrológico...94

4.3. Consumo de plantas e o acesso das comunidades...101

5. Conclusões...105

6. Referências...106

Considerações finais...111

Apêndices...112

Apêndice A.Tabela de espécies coletadas...113

Apêndice B. Lista de plantas mencionadas nas listagens livres não coletadas/fotografadas...130

Apêndice C. Termo de Assentimento Livre e Esclarecido...131

Apêndice D. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...13

Apêndice E. Termo de Anuência Prévia...133

Apêndice F. Cardápio da merenda escolar da comunidade Itapuru...134

Apêndice G. Cardápio da merenda escolar da comunidade Cuiuanã...135

Apêndice H. Lista Livre...136

Apêndice I. Recordatório 24 horas adaptado...137

Apêndice J. Ata de qualificação...138

(10)

Lista de tabelas

Tabela 1. Variáveis selecionadas e atributos utilizados para análise estatística de agrupamento das comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes quanto ao acesso aos centros urbanos.

30

Tabela 2. Cinco comunidades participantes da RDS Piagaçu-Purus e seus entrevistados nas diferentes etapas de coleta de dados. Comunidade, famílias entrevistadas, pessoas entrevistadas e número de casas.

33

Tabela 3. Categorias de preparo e formas de preparo das plantas alimentícias citadas pelos entrevistados das comunidades participantes, RDS Piagaçu-Purus. F = Frequência relativa de citações de cada categoria, em porcentagem. N citações = 6325.

53

Tabela 4. Espécies versáteis e as categorias de preparo em que se incluem mencionadas pelas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. N: número de categorias de preparo mencionadas para a espécie.

59

Tabela 5. As quinze plantas com maior e menor índice de saliência cognitica (ISC) mencionadas pelos menos cinco vezes nas listagens livre realizadas nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Classificação no ordenamento do ISC, nome popular, local de ocorrência (Local), Origem, número das listagens em que a planta ocorre (F), posição média da planta nas listagens em que ocorre (MP) e índice de saliência cognitiva (ISC). N=195.

64

Tabela 6. Dez plantas alimentícias com maior Índice de Saliência Cognitiva entre grupos de entrevistados nas cinco comunidades participantes, RDS Piagaçu-Purus. Nome popular, local de ocorrência (L), número das listagens em que a planta ocorre (F), posição média da planta nas listagens em que ocorre (MP), índice de saliência cognitiva (ISC). N = número de entrevistados.

69

Tabela 7. Lista do total de plantas consumidas mencionadas pelas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes de acordo com a hidrologia do rio Purus e a respectiva procedência mais citada. Nomes populares referidos no Apêndice A.

98

Tabela 8. Média e desvio padrão do total de plantas consumidas pelos

entrevistados nas comunidades e seus respectivos tipos de acesso. N = número de entrevistados.

99

Tabela 9. Diversidade de espécies consumidas por tipo de comunidade

mencionadas nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Tipo de comunidade, comunidades, número de espécies consumidas mencionadas, número total de entrevistados (N), número médio da lista de espécies consumidas em relação ao total de entrevistado (P).

102

Tabela 10. Porcentagem dos vegetais consumidos mencionadas pelas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes oriundos de produção interna (compra interna, extração, doação, sítio, roçado e horta) e compra externa relativa a cada tipo de comunidade em cada estação hidrológica do rio Purus.

(11)

Lista de figuras

Figura 1. Regime hidrológico do lago Uauaçu, baixo Purus, RDS Piagaçu-Purus, Amazonas. Barras representam a precipitação mensal (mm) e pontos representam o nível da água do lago em metros. Fonte: Haugaasen e Peres (2006).

18

Figura 2. Localização das comunidades da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Piagaçu-Purus (RDS-PP) e entorno. Fonte: Plano de Gestão RDS-PP (Instituto Piagaçu 2010).

19

Figura 3. Localização das cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus selecionadas

para o estudo. Os pontos em azul mais claro representam as comunidades com mais acesso ao centro urbano, e gradativamente quanto mais azul escuro, menor este acesso.

20

Figura 4. Relação das principais atividades desenvolvidas de acordo com o gênero

dos entrevistados nas cinco comunidades da RDS-Piagaçu Purus. As atividades foram categorizadas para fins analíticos, e a categoria “outros” englobou agentes de saúde, auxiliares de barco, carpinteiros, mestre de obras, serralheiro, cabeleireiro, funcionários de escolas e postos de saúde, merendeiras e professores. PFNM: produtos florestais não madeireiros (extrativismo).

34

Figura 5. Caracterização das cinco comunidades participantes da RDS

Piagaçu-Purus. Resultado do dendrograma de análise de agrupamento para o acesso das comunidades. Correlação cofenética = 0,8916.

35

Figura 6. Comunidades da RDS Piagaçu-Purus de acesso constante de acordo com a caracterização proposta.

39

Figura 7. Comunidades da RDS Piagaçu-Purus de acesso ocasional de acordo com a caracterização proposta

41

Figura 8. Comunidades da RDS Piagaçu-Purus de acesso irregular de acordo com a caracterização proposta.

45

Figura 9. Principais famílias botânicas representadas no levantamento de plantas

conhecidas das cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Número de espécies de plantas alimentícias citadas pelo menos cinco vezes por família botânica.

47

Figura 10. Araçá. 48

Figura 11. Castanha-de-cutia. 49

Figura 12. Temperos, fritinhos e farinhada produzidos por comunidades da RDS

Piagaçu-Purus.

57

Figura 13. Doces e mingau produzidos por comunidades da RDS Piagaçu-Purus. 58

Figura 14. Número absoluto de plantas mencionadas como preferidas, por pelo

menos cinco vezes, em cada grupo de entrevistados nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. (N=337).

61

Figura 15. Canteiros nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes.A.

coentro (Coriandrum sativum L. ) Canteiros nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes.A. coentro (Coriandrum sativum L. )

62

Figura 16. Frutos de Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. recolhidos da floresta de

terra-firme e levados para casa na comunidade do Uixi, RDS Piagaçu-64

(12)

Purus.

Figura 17. Idiossincrasia das citações mencionadas nas listagens livre sobre

conhecimento de plantas alimentícinas nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Número de plantas e quantidade de vezes que foram mencionadas nas entrevistas de listagens livres. 73 plantas foram citadas apenas uma vez, enquanto uma única planta (banana) foi citada 138 vezes. Número de entrevistas = 195. Número de plantas citadas = 275.

68

Figura 18. Ambiente das plantas citadas nas listagens livres sobre plantas alimentícias

conhecidas por grupo de entrevistados nas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Porcentagem de plantas alimentícias citadas por cada grupo de entrevistados e seus ambientes de ocorrência.

70

Figura 19. Agrupamento das cinco comunidades da RDS Piagaçu-Puus participantes

de acordo com o conhecimento botânico levantado em listagens livre. Correlação cofenética = 0,6564.

72

Figura 20. Riqueza de espécies por refeição mencionadas no recordatório 24 horas

pelas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Número absoluto de espécies consumidas citadas para cada refeição e suas partes alimentícias. N=71.

87

Figura 21. Formas de preparo nas refeições mencionadas pelas cinco comunidades

da RDS Piagaçu-Purus participantes. Porcentagem das formas de preparo citadas para cada refeição.

88

Figura 22. Frequência das espécies consumidas mencionadas pelas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Porcentagem de citações de espécies consumidas em cada refeição em relação ao total geral de citações de consumo (N=5497).

89

Figura 23. Frutificação de espécies silvestres mencionadas nas listagens livres sobre

plantas alimentícias pelas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes e hidrologia do rio Purus. Número de algumas espécies silvestres coletadas nas turnês-guiadas possivelmente em fruto ao longo do ano, considerando os meses de frutificação das mesmas, compilados na literatura. Número de espécies consideradas = 86. Fonte: Haugaasen e Peres (2006).

90

Figura 24. Consumo familiar de vegetais por comunidade participante na RDS

Piagaçu-Purus e de forma geral em diferentes estações hidrológicas do rio Purus. Os pontos nos gráficos representam as famílias entrevistadas em cada comunidade. Os pontos vermelhos são referentes ao consumo familiar de vegetais na estação seca e os azuis na estação cheia. As linhas conectam os pontos de cada estação ao centroide. A distância entre os pontos representa graficamente a dissimilaridade (índice de Bray-Curtis) encontrada entre o consumo de vegetais nas diferentes famílias entrevistadas.

95

Figura 25. Procedência dos vegetais consumidos mencionadas pelas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes em cada estação hidrológic do rio Purus. Porcentagem dos vegetais consumidos oriundos de extração ou produção (compra interna, doação, sítio, roçado e horta) e compra externa (itens não produzidos pelas comunidades) relativa às estações hidrológicas do rio Purus.

(13)

Figura 26. Dez plantas mais consumidas na estação cheia mencionadas pelas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Procedência das dez plantas mais consumidas nas estações de cheia do rio Purus em relação ao total de plantas consumidas em cada estação. Produção (roçado, hortas, doação); Compra Interna (itens produzidos na comunidade e comercializados internamente); Compra Externa (itens produzidos externamente à comunidade, comercializados principalmente nas cidades próximas e nas vendas locais).

99

Figura 27. Dez plantas mais consumidas na estação seca mencionadas pelas cinco

comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Procedência das dez plantas mais consumidas nas estações de seca do rio Purus em relação ao total de plantas consumidas em cada estação. Produção (roçado, hortas, doação); Compra Interna (itens produzidos na comunidade e comercializados internamente); Compra Externa (itens produzidos externamente à comunidade, comercializados principalmente nas cidades próximas e nas vendas locais).

100

Figura 28. Agrupamento das comunidades de acordo com o consumo de espécies

vegetais mencionadas em recordatório 24 horas pelas cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes. Correlação cofenética = 0,8036.

(14)

Apresentação

Introdução Geral

O estudo da alimentação é repleto de diferentes abordagens e ganha força no Brasil principalmente a partir da década de 90, quando mais intensamente aproxima diferentes ciências na busca por um debate multidisciplinar. Alimentar-se está relacionado não apenas ao ato de comer e se nutrir, mas também é permeado por simbolismos, crenças, identidades, condições materiais e de acesso (Canesqui 2005). Todas essas dimensões que envolvem a alimentação estão por trás dos diferentes sistemas alimentares de populações humanas, e variam e são influenciados de acordo com fatores como o ambiente, a ecologia, a história e a economia (Maciel 2005). Estes sistemas alimentares são constituídos de forma primordial pelos alimentos tradicionais, que se definem por suas preparações particulares, típicas de cada região e intimamente ligadas ao ambiente e sua sazonalidade, bem como à identidade cultural dos povos (Dufour et al. 2016).

Para os povos da Amazônia, é reconhecida historicamente uma alimentação baseada em peixe e farinha de mandioca, com consumo esporádico de frutas nativas sazonais (Murrieta 2001; Alencar et al. 2002; Murrieta e Dufour 2004; Adams et al. 2005; Murrieta et al. 2008; Cascudo 2011). Ainda são escassos estudos que enfoquem a contribuição destas espécies vegetais nos sistemas alimentares da região (Dufour et

al. 2016). Em um contexto de integração ao mercado, regiões remotas como a

Amazônia rural sofrem, invariavelmente, mudanças na dieta de suas populações. Alimentos tradicionais vão sendo em parte substituídos por “similares” industriais, em um processo denominado “transição nutricional” (Popkin 1993), ameaçado a segurança alimentar e a saúde de populações.

De acordo com a Cúpula Mundial de Alimentação, um dos marcos da discussão a respeito de segurança alimentar no mundo, realizada em Roma, 1996,

“existe segurança alimentar quando todas as pessoas têm, em todos os momentos, acesso físico e econômico a alimentos suficientes, seguros e nutritivos para satisfazer às suas necessidades dietéticas e preferências quanto aos alimentos para levar uma vida ativa e saudável.”

(15)

O conceito de soberania alimentar, cunhado pela luta dos movimentos sociais do campo, principalmente pela Via Campesina, acrescenta ao acesso aos alimentos, a dimensão política do poder de decisão sobre estratégias de produção, distribuição e consumo de alimentos (CONSEA, 2006).

De acordo com Schor e colaboradores (2015), na Amazônia a questão da segurança alimentar está, até certo ponto, resolvida, porém a da soberania alimentar não está, uma vez que a alimentação é fortemente dependente de recursos externos, enfraquecendo laços com os recursos locais e com a culinária tradicional.

Em consonância com estes processos, pesquisadores investigam os complexos impactos da urbanização (ou modernização) nas culturas e no conhecimento botânico em diferentes populações humanas (Byg e Balslev 2001; Reyes-García et al. 2005a; Quinlan e Quinlan 2007; Reyes-García et al. 2013; Gandolfo e Hanazaki 2014).

Estudos etnobotânicos comumente equiparam o conhecimento botânico coletado em entrevistas com o uso real de plantas, porém, conhecimento e uso nem sempre podem ser considerados sinônimos e as discrepâncias entre ambos podem contribuir para a compreensão das mudanças correntes no conhecimento local de diferentes povos (Reyes-García et al. 2005b).

O termo “Plantas Alimentícias” inclui plantas que possuem uma ou mais partes vegetais que podem ser utilizadas na alimentação humana, englobando assim plantas substitutas de sal, plantas edulcorantes, amaciantes de carne, corantes alimentícios, condimentos, temperos, utilizadas como bebida, tonificantes ou infusão (Kinupp e Lorenzi 2014). No que diz respeito às plantas alimentícias, apesar de ainda escassos na literatura etnobotânica se comparado a trabalhos com plantas medicinais (Oliveira et

al. 2009), existem interessantes estudos de caso que relatam o uso da biodiversidade

vegetal por povos da região amazônica, tanto cultivadas quanto silvestres, em ambientes rurais ou urbanos (Empaire e Eloy 2008; Bustamante 2009; Fernandes 2012; Salim 2012; Chaves 2016).

A Amazônia é o berço de muitas espécies vegetais domesticadas, uma vez que ambientes ricos em biodiversidade e heterogêneos apresentam maiores chances de domesticação por humanos, os quais estão continuamente experimentando cultivos. Clement et al. (2015) consideram que residiam na Amazônia pré-colombiana cerca de 8 milhões de pessoas, que manejavam a floresta, domesticando-a para torná-la mais produtiva e segura. Este processo inclui a seleção de plantas úteis e se relaciona com a

(16)

densidade populacional, o estágio de organização social e a intensificação agrícola das populações humanas da época. Clement (1999) sugere que na planície norte da América do Sul, a leste dos Andes, existem dois centros da diversidade genética de cultivos, além de outros locais com menor concentração de recursos genéticos, os quais denomina como centros menores ou regiões de diversificação. As plantas alimentícias abrangem grande parte destas espécies em diferentes níveis de domesticação na Amazônia (Clement 1999).

Kinupp e Barros (2008) reiteram a importância de estudos taxonômicos, agronômicos e bromatológicos de plantas alimentícias negligenciadas e pouco conhecidas, ainda muito raros, mas que se mostram promissores para salientar o imenso potencial alimentício de plantas silvestres, consideradas, muitas vezes, como “emergenciais”, consumidas apenas em momentos de escassez e de necessidade (Nascimento et al. 2012; Łuczaj et al. 2012; Cruz et al. 2014).

Tendo em vista este cenário, esta dissertação foi estruturada em dois capítulos, na qual o primeiro é dedicado ao conhecimento de plantas alimentícias, suas formas de preparo e usos tradicionais e as relações deste conhecimento com o ambiente de ocorrência das plantas, com os diferentes grupos sociais (homens, mulheres, crianças e jovens) e com uma caracterização do acesso das comunidades participantes aos centros urbanos. O segundo capítulo, por sua vez, se refere ao consumo das plantas alimentícias, considerando a sazonalidade do rio Purus, a caracterização das comunidades e dialoga com o primeiro capítulo avaliando o potencial alimentício de plantas conhecidas e o uso efetivo das mesmas.

Objetivo Geral

Caracterizar o conhecimento de plantas alimentícias e relacioná-lo com o seu uso efetivo no contexto alimentar local de acordo com o regime hidrológico do rio Purus e variáveis relacionadas ao acesso aos centros urbanos das comunidades participantes.

Área de estudo

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus (RDS-PP) está localizada no baixo Purus, em áreas de interflúvios dos rios Madeira e

(17)

Purus-Juruá. Criada pelo decreto 23.723, em 2003, conta com 834.245 ha, incluindo partes dos municípios de Beruri, Anori, Tapauá e Coari. A região apresenta grande variedade de ambientes, com porções de terra-firme e ambientes alagáveis de diferentes origens. Sua rica biodiversidade, ainda escassamente conhecida pela ciência, é uma das justificativas na sua prioridade para a conservação (Instituto Piagaçu 2010).

A maior parte da RDS-PP é caracterizada como floresta ombrófila densa aluvial e floresta ombrófila densa de terras baixas, sendo 45% de sua área ocupada por terrenos de várzea. O clima dominante na região é tropical chuvoso, com temperaturas constantemente altas e, segundo a classificação de Köeppen, a área abrange os tipos Am (chuva do tipo de monção), Af (constantemente úmido) e Amw (com chuvas de março a junho). A precipitação é mais intensa de novembro a março, caracterizando o período da enchente, enquanto o período de vazante, com menor precipitação, se estende entre os meses de junho e setembro. O período em que ocorre o pico da cheia do rio está entre os meses de maio e julho enquanto o pico da seca ocorre entre setembro e novembro. Em média, a precipitação anual na bacia do Purus é de 1.550 a 3.350 mm e a variação do nível da água do rio Purus pode atingir 12 metros (Haugaasen e Peres 2006; Instituto Piagaçu 2010).

As medições hidrológicas da Agência Nacional das Águas (ANA) não são completas e/ou atualizadas para a região, porém os dados compilados por Haugaasen e Peres (2006) no lago Uauaçu, uma das regiões de estudo deste trabalho, apresentam variações no nível da água do rio Purus e da precipitação (Figura 1).

(18)

Figura 1. Regime hidrológico do lago Uauaçu, baixo Purus, RDS Piagaçu-Purus, Amazonas.

Barras representam a precipitação mensal (mm) e pontos representam o nível da água do lago em metros. Fonte: Haugaasen e Peres (2006).

Desde o início do século XX, as razões mais importantes que atraíam populações não indígenas para a ocupação da região do Purus estavam relacionadas a atividades da economia gomífera, como a extração de látex de seringa (Hevea brasiliensis L.), souva (Couma spp.), balata (Manilkara bidentata (A. DC.) A. Chev.) e

maçaranduba (Manilkara spp.). Mas também a pesca, sobretudo do pirarucu (Arapaima gigas (Schinz, 1822), e a extração de castanha (Bertholletia excelsa Bonpl.), e o cultivo de juta (Corchorus capsularis L.) e malva (Urena lobata L.), estas

duas últimas adquirindo uma importância maior a partir dos anos quarenta do século XX. A pesca e extração da castanha são, atualmente, os fatores mais importantes economicamente para as populações na região da RDS-PP (Instituto Piagaçu 2010).

Atualmente, a origem dos habitantes não indígenas é de locais próximos à RDS-PP ou da calha do rio Purus, particularmente o alto rio Purus. Esta população, que usa diretamente a área da RDS-PP, gira em torno de 4.000 pessoas, distribuídas em 57 comunidades localizadas dentro ou no entorno dos limites da reserva (Figura 2). A área da reserva circunda duas terras indígenas demarcadas: Terra Indígena Lago Ayapuá e Terra Indígena Itixi-Mitari, as quais não fazem parte da RDS-PP, mas estão inseridas em seus limites. Os principais problemas levantados pelos líderes

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comunitários no Plano de Gestão da RDS-PP relacionam-se com saúde e educação. Segundo os moradores, falta merenda escolar apesar das prefeituras receberem verba destinada à alimentação dos estudantes. Outro problema levantado pelos moradores é a falta de apoio à produção e comercialização de produtos, incluindo dificuldades no escoamento, assistência e assessoria técnica agrícola, além da desvalorização dos produtos locais, que são vendidos com dependência de intermediários e a preços inferiorizados (Instituto Piagaçu 2010).

Figura 2. Localização das comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Piagaçu-Purus (RDS-PP) e entorno. Fonte: Plano de Gestão RDS-PP (Instituto Piagaçu 2010).

Após a criação da RDS-PP, algumas atividades de manejo vêm sendo construídas de forma conjunta aos moradores. O manejo do pirarucu é uma das mais relevantes e que tem demonstrado resultados positivos, com aumento de indivíduos de peixes adultos e juvenis. As atividades de manejo exigem capacitação, organização e dedicação por parte dos comunitários durante todo o ano, incluindo as vigilâncias dos lagos, contagem dos indivíduos e, por fim, a pesca (Instituto Piagaçu 2010).

(20)

Comunidades participantes

Foram convidadas cinco comunidades da RDS-PP para participar desta pesquisa, tendo como área de abrangência a região norte da RDS-PP. Para que fosse possível obter uma diversidade maior de espécies vegetais e seus hábitats, optou-se por comunidades em ambientes tanto de várzea quanto de terra-firme, como também em situações intermediárias, onde os dois ambientes coexistem na vida dos comunitários. Da mesma forma, para contemplar as diferenças de acesso aos produtos alimentícios oriundos das cidades, as comunidades participantes seguem um gradiente de acesso ao centro urbano mais próximo (Figura 3).

Figura 3. Localização das cinco comunidades da RDS Piagaçu-Purus selecionadas para o

estudo. Os pontos em azul mais claro representam as comunidades com mais acesso ao centro urbano, e gradativamente quanto mais azul escuro, menor este acesso.

Aspectos éticos

O presente trabalho foi realizado em um contexto de mudança da legislação de acesso à biodiversidade e conhecimento tradicional associado, quando a Lei da Biodiversidade (Brasil, 2015) revoga a Medida Provisória 2.186-16/01. Desta forma,

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foi realizado o registro das atividades de acesso à biodiversidade no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SISGen), com código de cadastro AC618FF.

O projeto de pesquisa foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (CEP/INPA) e aprovado com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) de número 68477417.5.0000.0006.

O Termo de Anuência Prévia (TAP), que estabelece o acordo com as comunidades participantes, foi assinado pelas lideranças comunitárias, bem como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado pelo participante no momento da entrevista, afirmando o consentimento e a espontânea vontade de participar do trabalho. Os menores de idade assinaram, bem como seus responsáveis, o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) (Apêndices).

A autorização de entrada e execução de pesquisa em Unidade de Conservação foi concedida pelo Departamento de Mudanças Climáticas e Gestão de Unidades de Conservação (DEMUC) da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas (SEMA), sob o número 80/2016. Assim como o registro no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) para coleta de material botânico, de número 55263-2.

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CAPÍTULO 1

Conhecimento de plantas alimentícias em cinco comunidades da

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus

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1. Introdução

A alimentação é uma das formas mais íntimas de contato humano com o mundo vegetal. Ao nos alimentarmos, entramos em contato com a biodiversidade do nosso entorno e/ou daquela que nos é oferecida através da agricultura e do comércio. O estudo da relação do ser humano com as espécies vegetais compreende diferentes dimensões, como o sistema de classificação do mundo vivo pelas distintas culturas, a percepção do ambiente ou o uso das plantas para fins diversos (Albuquerque 2005).

Estudos interdisciplinares, como os etnobotânicos, são importantes para a valorização e sistematização do conhecimento botânico tradicional, mas também podem ser norteadores de políticas públicas, contribuindo para o desenvolvimento humano, para a conservação dos biomas, para o uso racional de recursos naturais e dos ecossistemas, para a segurança alimentar e saúde pública (Oliveira et al. 2009; Rocha

et al. 2014). Tais estudos são respaldados pelo reconhecimento de populações

tradicionais na tomada de decisões sobre a conservação dos ecossistemas nos quais estão inseridas e de cujos recursos dependem diretamente (Oliveira et al. 2009).

Diegues (1996) discorre sobre a importância da presença de comunidades tradicionais em áreas de conservação ambiental. O autor conceitua “conhecimento tradicional” como “o saber e o saber fazer, a respeito do mundo natural e sobrenatural, gerados no âmbito da sociedade não urbana ou não industrial, transmitidos oralmente de geração em geração”. Da mesma forma, Lévi-Strauss (1962), em sua importantíssima obra “O Pensamento Selvagem”, dedica parte de sua narrativa à ciência dos povos tradicionais, a qual se constrói a partir da vivência do mundo concreto e da manipulação do entorno. Esta ciência é resultado de uma curiosidade inerente, desenvolvida pelo prazer de conhecer, a qual, a longo prazo, gera resultados práticos e úteis que integrarão a cultura.

A biodiversidade, portanto, não é intocada, não é prístina em sua totalidade, mas também manipulada e domesticada por um conhecimento milenar acumulado por diferentes grupos humanos. Assim, pode-se considerar uma “etno-bio-diversidade”, que inclui uma riqueza biológica, onde os humanos participam, nomeiam, classificam, domesticam e utilizam (Diegues 1996). O conhecimento humano sobre a biodiversidade sofre influências diversas e se diferencia tanto nas distintas culturas, como também nos grupos sociais que constituem uma mesma cultura. Estas diferenças estão relacionadas com variáveis como o acesso diferenciado a recursos naturais, a

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origem geográfica, diferentes estratégias de plantio e colheita, papéis socioculturais, participação em atividades econômicas, transmissão de conhecimento diferenciada por gênero, como também a influência da urbanização (Godoy et al. 1998, Benz et al. 2000, Pfeiffer e Butz 2005, Reyes-García et al. 2005).

Apesar de não serem conhecidos no Brasil muitos trabalhos sobre a porcentagem de plantas alimentícias, Kinupp (2007) comparando estudos em diferentes regiões, com levantamento de plantas úteis ou não, aproxima este número a 21%, sendo que em regiões antrópicas este percentual tende a crescer vertiginosamente, com a presença de espécies ruderais, podendo perfazer até 89%.

Mesmo com este intrigante número, 90% da alimentação humana é restrita a 20 espécies vegetais, independente do conhecimento milenar acumulado pelo convívio com as diferentes floras regionais do Brasil e do mundo, o ser humano ainda se alimenta daquelas mesmas espécies descobertas no Neolítico, nos primórdios da agricultura e da domesticação de plantas (Kinupp 2007). Estas espécies foram incorporadas nas mais diversas culturas, e continuam sendo, agora acompanhadas da industrialização dos alimentos, da mecanização agrícola, da globalização e homogeneização alimentar, que reduz o número de espécies na dieta, valorizando culturas produzidas em larga escala, como o milho, arroz, soja e trigo (Santilli 2009).

Apesar dos esforços em estimar os números da imensa diversidade vegetal na Amazônia, existem lacunas no conhecimento e muitas áreas com escassas coletas botânicas, o que representa um difícil obstáculo ao avanço da ciência sobre a flora amazônica (Hopkins 2007). Em uma revisão recente, buscou-se listar as espécies de plantas com semente que crescem na floresta amazônica, a uma elevação menor ou igual a 1.000 m de altitude e excluindo savanas e florestas secas, até então publicadas e conhecidas pela ciência. Atingiu-se um número de 10.674 espécies, apenas para a Amazônia brasileira e 14.003 espécies na Panamazônia (Cardoso et al. 2017). Com este número, sabidamente subestimado, e com o percentual de 21% de plantas com potencial alimentício anteriormente mencionado, pode-se pressupor cerca de 2.200 plantas alimentícias na parte brasileira do bioma, ou seja, um mundo de plantas a ser conhecido e estudado nos seus âmbitos biológicos, agronômicos, nutricionais, culturais e sociais.

Em um país onde a maior parte de alimentos consumidos e comercializados é exótica, a agricultura é dependente de insumos químicos, apesar de uma imensa

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diversidade de plantas com potencial alimentício (Kinupp e Lorenzi 2014), alimentar-se de alimentos regionais, produzidos localmente é um ato político, ecológico e econômico.

2. Objetivos 2.1. Objetivo Geral

Caracterizar as espécies de plantas alimentícias conhecidas pelas comunidades participantes, relacionando este conhecimento botânico ao contexto social em que estão inseridas.

2.2. Objetivos Específicos

 Caracterizar as comunidades participantes de acordo com as diferenças de acesso aos centros urbanos;

 Caracterizar o conhecimento de plantas alimentícias das comunidades participantes, considerando as partes comestíveis, o ambiente de ocorrência, formas de preparo, usos tradicionais e preferências locais;

 Diferenciar as espécies de plantas alimentícias mais salientes cognitivamente entre grupos sociais – homens, mulheres e crianças e jovens;

 Relacionar o conhecimento botânico com a caracterização das comunidades quanto ao acesso aos centros urbanos.

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3. Material e Métodos 3.1. Seleção de participantes

A pesquisa de campo foi realizada entre setembro de 2016 e novembro de 2017, totalizando 133 dias em campo distribuídos em quatro viagens de aproximadamente um mês cada. Estas viagens foram realizadas em diferentes épocas do ano, primeiramente para conhecimento da área de estudo e dos moradores e proposição do trabalho (setembro), a primeira coleta de dados na enchente (março), em seguida no ponto máximo da cheia (junho) e no ponto máximo da seca do rio Purus (novembro).

Para que os resultados amostrados pudessem ser extrapolados para as comunidades, a seleção dos participantes da pesquisa foi realizada através de uma amostragem probabilística, onde todos possuem a mesma chance de serem escolhidos (Albuquerque et al. 2010a). Sendo assim, foi sorteado um mínimo de 20% do total de casas para cada uma das cinco comunidades participantes. Na busca de contemplar todas as faixas etárias, todos os moradores das casas sorteadas foram convidados a participar de entrevistas, nas quais baseou-se a metodologia de coleta de dados. As entrevistas foram feitas apenas uma vez com cada participante.

3.2. Caracterização das comunidades

Para a caracterização das comunidades participantes foram consideradas algumas variáveis que as diferenciam entre si em relação ao acesso aos centros urbanos como: a frequência de barcos que aportam nas comunidades ao longo do ano, a densidade demográfica, o ensino escolar, a presença de posto de saúde, a geração de energia elétrica, o manejo comunitário do pirarucu, a extração de produtos florestais não madeireiros (castanha e açaí, principalmente), o porte do corpo d’água em que se localizam, a distância ao centro urbano mais próximo e o número e o tipo dos comércios, sendo considerado “comércio caseiro” aquelas vendas estabelecidas dentro da casa dos moradores e “comércio próprio” aqueles comércios com construção separada. Estas informações foram coletadas em campo através de entrevistas formais e informais e/ou estão disponíveis em Instituto Piagaçu (2010).

Foi construída uma matriz onde as unidades amostrais são as cinco comunidades e as variáveis são os fatores acima descritos. Para cada fator, foi atribuída uma pontuação de acordo com categorias que variam entre 0 e 1 ou utilizado os valores

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absolutos sempre que possível (Tabela 1). A partir desta matriz foi gerada uma matriz de distância utilizando o coeficiente de Gower, indicado para dados de medidas em diferentes escalas. Esta matriz de distância foi, então, utilizada para a formação de grupos através do algoritmo de aglomeração UPGMA – “Unweighted Pair-Group Method using arithmetic Averages” (Sneath e Sokal 1973). Este método é baseado nas dissimilaridades médias entres os objetos. O objetivo é definir grupos pela maior similaridade ou menor distância de seus objetos, conservando as propriedades métricas do espaço de referência (Legendre e Legendre 1998). A análise foi executada no programa R (R Development Core Team 2013), usando o pacote vegan (Oksanen et al. 2009).

Tabela 1. Variáveis selecionadas e atributos utilizados para análise estatística de agrupamento

das comunidades da RDS Piagaçu-Purus participantes quanto ao acesso aos centros urbanos.

Variáveis Atributos

Número de barcos semanais ao longo do ano

< um = 0 / = um = 0.5 / > um = 1

Densidade demográfica Número de famílias em cada comunidade

Número de comércios um caseiro = 0 / um próprio = 0.5 / mais de

um próprio = 1

Ensino escolar Fundamental = 0 / Médio = 1

Posto de saúde ausência = 0 / presença = 1

Geração de energia gerador = 0 / termoelétrica = 1

Manejo comunitário de pirarucu ausência = 0 / presença = 1

Venda de açaí ou castanha Porcentagem de entrevistados que extraem e vendem açaí ou castanha

Rio onde está localizada principal (Purus) = 1 / lago = 0.5 / igarapé = 0

Distância até a cidade mais próxima

Distância em linha reta (km)

3.3. Listagem de plantas alimentícias conhecidas

Para registrar o conhecimento de plantas alimentícias nas comunidades foi considerada a técnica da listagem livre (Bernard 2006). O modelo de listagens livres se baseia em perguntas diretas que induzem o informante a mencionar todos os nomes populares conhecidos de acordo com o interesse de pesquisa, no caso, plantas alimentícias. Entrevistas semiestruturadas foram realizadas tanto para o perfil socioeconômico dos moradores quanto para informações adicionais às plantas alimentícias listadas, tais como: local onde são encontradas, parte(s) utilizada(s),

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formas de preparo e preferências (Apêndice H). Além dos momentos formais de entrevistas, conversas informais e a vivência nas comunidades levaram a coleta de outros dados importantes, como receitas locais e o uso tradicional das espécies.

3.4. Coleta e identificação de amostras botânicas

As listagens livres fornecem nomes populares, portanto, foram realizadas coletas com especialistas locais, ou seja, moradores que possuem um vasto conhecimento botânico e que podem indicar os indivíduos que representam os nomes fornecidos pela comunidade. Estes especialistas locais foram indicados pelos moradores entrevistados. As coletas botânicas foram realizadas em visitas às florestas de terra-firme, florestas inundadas, roçados e sítios, através do método de turnês-guiadas (Alexiades 1996). Quando não foi possível coletar, as plantas foram fotografadas para posterior consulta e identificação botânica.

Após coletadas, as amostras foram prensadas pelo método molhado, com álcool 96%. Em seguida passaram por secagem em estufa e então foram herborizadas (Mori

et al. 1989) e depositadas no Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

(INPA). As duplicatas de coletas e materiais estéreis foram depositadas no Herbário EAFM do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Campus Manaus-Zona Leste. Para a identificação do material coletado foi utilizada literatura taxonômica especializada, além de consultas presenciais aos herbários e consulta com especialistas botânicos.

Para a atualização nomenclatural e a consulta quanto à origem das espécies foi consultada a Lista de Espécies da Flora do Brasil (Flora do Brasil 2018). As espécies que não constam no banco de dados referido, a atualização nomenclatural foi consultada em Tropicos (2018) e foram consideradas “cultivadas”, de forma a seguir a lógica de Flora do Brasil (2018), onde “cultivada” é relacionado com “exótica”.

As espécies consideradas “nativas” são aquelas que evoluíram ou dispersaram em determinado local sem contar necessariamente com a ajuda humana. As espécies exóticas, tratadas como “cultivadas” de acordo com Flora do Brasil (2018), são espécies que não ocorreriam naturalmente em uma região caso não houvesse o transporte humano intencional ou acidental. Por fim, as espécies “naturalizadas” são exóticas que se reproduzem de forma consistente no local onde foram inseridas, a ponto de autoperpetuarem-se sem a necessidade direta do ser humano, porém não se

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dispersam muito além do local de introdução, o que caracterizaria uma espécie invasora (Moro et al. 2012).

3.5. Avaliação da saliência cognitiva

Para identificação das plantas que possuem um valor cultural relevante para as comunidades e os diferentes grupos que a integram, foi realizado o Índice de Saliência Cognitiva (Sutrop 2001), calculado de acordo com a fórmula:

S = F /(MP.N), onde a saliência (S) é o resultado da frequência de citações de uma planta dividida pelo produto da posição média (MP) da planta nas listas em que foi mencionada com o número total de entrevistados (N).

Esta é uma interessante ferramenta por considerar não apenas a frequência em que uma planta foi citada, mas também a posição média. Considera-se, neste método, que a ordem em que um termo é citado em uma lista, ou seja, a ordem em que é lembrado pelo entrevistado, está relacionada com a importância cultural dada a este. Para demais análises foram elaboradas tabelas e gráficos.

3.6. Relação entre o acesso das comunidades e conhecimento botânico

Para analisar o conhecimento botânico por comunidade foi construído um dendrograma seguindo o mesmo algorítimo de aglomeração UPGMA. Porém, o índice de dissimilaridade utilizado foi Bray-Curtis, indicado para dados de abundância. Desta forma, as comunidades foram analisadas qualitativamente (quais plantas foram mencionadas) e quantitativamente (quantas vezes estas plantas foram mencionadas). A matriz de dados foi construída de modo que as unidades amostrais são as cinco comunidades e as variáveis são as plantas mencionadas com seus números de citações (Legendre e Legendre 1998).

Para analisar se o grau de acesso das comunidades aos centros urbanos está relacionado com o conhecimento botânico foi realizado o teste Mantel, onde é testada a correlação entre as matrizes de dissimilaridade obtidas pela matriz de acesso e pela matriz de conhecimento, construídas de forma independente (Legendre e Legendre 1998). A análise foi executada no programa R (R Development Core Team 2013), usando o pacote vegan (Oksanen et al. 2009).

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4. Resultados e Discussão 4.1. Caracterização das comunidades

O total de entrevistados em todas as etapas desta pesquisa (capítulos 1 e 2) foi considerado para a caracterização das comunidades participantes. Foram entrevistadas 288 pessoas em 85 famílias distribuídas nas cinco comunidades participantes (Tabela 2). Dentre estas, 96 são mulheres, 89 são homens e 103 são crianças e jovens (menores de 18 anos). A faixa etária está entre quatro e 86 anos, com média etária de 30,6 (±20) anos. A média etária feminina foi de 40,33 (±16,40) anos, a masculina de 41,7 (±18,88) anos e a infanto-juvenil de 11,9 (±4,23) anos.

As mesmas pessoas foram convidadas a participar de ambas as etapas de coleta de dados (listagens livres e recordatório 24 horas), mas como foram realizadas em períodos diferentes, nem todos participaram nos dois momentos. Por ser uma entrevista mais simples, onde todos os presentes na casa no momento da entrevista podiam participar, o recordatório 24 horas (no capítulo 2) abrangeu maior número de entrevistados. Em todos os casos, dados socioeconômicos foram igualmente coletados.

Tabela 2. Cinco comunidades participantes da RDS Piagaçu-Purus e seus entrevistados nas

diferentes etapas de coleta de dados. Comunidade, famílias entrevistadas, pessoas entrevistadas e número de casas.

De uma maneira geral, nas comunidades envolvidas, os homens dedicam-se a atividades externas como a caça, a pesca, ao manejo no roçado e coleta na floresta, enquanto as mulheres se dedicam a atividades domésticas, ao cuidado das crianças, ao cultivo de canteiros e hortas e também ao trabalho no roçado (Figura 4). As atividades econômicas são determinadas pela época do ano em que podem se dedicar à pesca, ao plantio e à extração de produtos florestais não madeireiros (PFNM). A rotina dos moradores se aproxima do ciclo hidrológico do Purus, sendo assim, são raramente

Comunidade

Famílias entrevistadas Pessoas entrevistadas

Número de casas Lista Livre Recordatório

24 horas

Lista Livre Recordatório 24 horas Cuiuanã 22 18 44 70 90 Itapuru 21 24 42 70 120 Uixi 16 11 41 44 60 Uauaçu 11 8 33 31 30 Fortaleza 8 8 35 34 8 Total parcial 78 69 195 249 308 Total geral 85 288 308

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especialistas em determinada função, mas flexíveis e capazes de exercer diversas atividades diferentes ao longo do ano. Ocupações menos frequentes são comerciantes, agentes de saúde, auxiliares de barco, carpinteiros, funcionários de escolas e postos de saúde, merendeiras e professores.

Figura 4. Relação das principais atividades desenvolvidas de acordo com o gênero dos

entrevistados nas cinco comunidades da RDS-Piagaçu Purus. As atividades foram categorizadas para fins analíticos, e a categoria “outros” englobou agentes de saúde, auxiliares de barco, carpinteiros, mestre de obras, serralheiro, cabeleireiro, funcionários de escolas e postos de saúde, merendeiras e professores. PFNM: produtos florestais não madeireiros (extrativismo).

Dentre as 85 famílias entrevistadas, 58 recebem auxílios governamentais, sendo 49 beneficiárias do Programa Bolsa Família e 54 do Programa Bolsa Floresta, em 75,9% dos casos, recebem ambos. Dentre os entrevistados que são maiores de 60 anos, 58,3% recebem aposentadoria. Estes auxílios governamentais são distribuídos de forma similar em todas as comunidades participantes, e desta forma, não é um fator determinante para a caracterização proposta.

Para o resgate histórico das comunidades foi entrevistado um total de nove moradores idosos, pelo menos um em cada comunidade, com idade entre 63 e 92 anos (média de 76,89 (±9,87) anos), os quais não participaram necessariamente das listagens livres e recordatório 24 horas. É possível que a memória aqui registrada atinja aproximadamente até 1945, de acordo com as datas e momentos da vida relatados pelos entrevistados. O acesso a produtos processados se dava de forma distinta entre os grupos aqui descritos, e esta relação permanece atualmente em diferentes formas.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Nú m er o d e o cu p aç õ es m en cio ad as

Principais atividades desenvolvidas por gênero

Mulheres Homens

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O resultado da análise de agrupamento permitiu a individualização de três grupos de comunidades com características semelhantes em termos de organização espacial, estruturação interna e dinâmica de dependência (Figura 5). A alta correlação cofenética (0,8916) indica que a análise é adequada aos dados. O padrão revelado pela análise corrobora as observações em campo, fortalecendo a análise descritiva da caracterização destas comunidades. Portanto, estes fatores correspondem à “acessibilidade” aqui proposta, sem a pretensão de resumir a complexidade das relações comunitárias, mas apenas para buscar padrões e facilitar comparações e extrapolações. Assim, foram consideradas comunidades de “acesso constante”, aquelas que recebem barcos diversos diariamente e diferenciam-se das de “acesso ocasional” que recebem um único barco, uma vez na semana, as quais, por sua vez, diferenciam-se daquelas de “acesso irregular” que recebem barcos com frequência inconstante ao longo do ano.

Figura 5. Caracterização das cinco comunidades participantes da RDS Piagaçu-Purus.

Resultado do dendrograma de análise de agrupamento para o acesso das comunidades. Correlação cofenética = 0,8916.

4.1.1. Tipo 1: comunidades de acesso constante

Fazem parte deste grupo as comunidades Cuiuanã e Itapuru. Estão a cerca de 60 km em linha reta do centro urbano mais próximo, a cidade de Beruri, que possui aproximadamente 19 mil habitantes. Por estarem na beira ou muito próximas da calha do rio Purus, recebem visitas de barcos pesqueiros, como também de barcos de carga e passageiros (recreios) com muita frequência. Além disso, o custo de combustível e tempo para chegar ao centro urbano é menor. Ambas as comunidades participam do

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manejo do pirarucu, o que estreita laços comerciais com os centros urbanos. Em cada comunidade existe mais de um comércio e os principais são bastante ativos e abastecidos semanalmente, com produtos provenientes da capital do Estado, Manaus. Os demais comércios, menores, são abastecidos com menor regularidade e muitas vezes com produtos comprados em Beruri, os quais são provenientes de Manaus e outras regiões. Na cidade de Beruri, predomina nos comércios a venda de produtos industrializados e da cultura alimentar hegemônica (como churrascos de carne bovina e frango, pão com margarina), e itens da alimentação tradicional regional não são encontrados com facilidade. O fornecimento de energia elétrica nestas comunidades de acesso constante é em tempo integral, pois foram contempladas pelo Programa Luz Para Todos, do Governo Federal. Possuem também um maior número de moradores e maior influência do estilo de vida urbano. Há instalação de posto de saúde e as escolas oferecem ensino fundamental e médio. Apesar da presença de área de castanhal próximo às comunidades, não contam economicamente com a extração da castanha, dependendo majoritariamente da pesca.

Historicamente, nestas comunidades a presença do coronel, patrão, “dono” das terras não é muito marcante, e as relações de comércio se davam através de embarcações que frequentemente navegavam no rio Purus, os chamados “atravessadores” ou “regatões”. Estas comunidades possuem um histórico de venda de lenha, combustível das embarcações à vapor do início do século XX. Apesar de o “aviamento” e o endividamento terem sido presentes, a fidelidade a um determinado comerciante não era uma regra. O “aviamento” é um tipo de relação comercial que se consolidou no primeiro ciclo de exploração da borracha, no século XIX, onde as sociedades amazônicas entraram em contato com um sistema monetizado. Esta relação é baseada na acumulação de capital pela espoliação das diversas camadas de hierarquia que faziam parte do comércio da borracha, privilegiando, sobretudo as exportadoras de borracha, no topo da cadeia (Santos 1980). Na base desta cadeia, encontravam-se os povos nativos da Amazônia e nordestinos imigrantes que mantinham relações de trocas de mercadoria a crédito com “aviados” ou “patrões”, uma das camadas da hierarquia, e a participação do dinheiro era nulo ou quase nulo. Assim, a moeda atuava basicamente como medida de comparação para trocas entre produtos do extrativismo e materiais de trabalho e produtos da cidade, os trabalhadores, por sua vez, encontravam-se indefinidamente endividados (Santos 1980). Este tipo de relação comercial é presente ainda no interior da Amazônia (Antunes et al. 2014), atualmente manifestada sob

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