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CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: O QUE NOS REVELAM OS

3 OS CONTEÚDOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO: SUA IMPORTÂNCIA NO PROCESSO

3.3 CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: O QUE NOS REVELAM OS

Questionados acerca das dificuldades enfrentadas ao trabalhar a disciplina Geografia com alunos do Ensino Médio, os professores da rede pública destacaram três itens: o primeiro diz respeito à mudança que foi estabelecida pela Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Estado (SEEC/RN), seguindo orientações

nacionais e estabelecendo a semestralidade através do Ensino Médio Inovador; com a implantação desse sistema, os alunos passaram a cursar a disciplina em apenas um semestre do ano. O segundo item apresentado refere-se à falta de compromisso dos alunos, sendo enfatizada a utilização da tecnologia como causa da indisciplina e da falta de atenção (uso de smartphones nas aulas, ânsia por ficar on-line mesmo estando no ambiente escolar, por exemplo). Por último, foi mencionada a ausência de apoio governamental no que concerne a estrutura das escolas e aquisição de recursos didáticos.

Com relação ao que foi dito pelos professores anteriormente, concordamos em parte, pois, mesmo sendo deficitária a estrutura de muitas escolas, a quantidade de material didático disponível é significativa, embora muitas vezes não seja utilizada pelos docentes.

Os professores das escolas privadas citaram, além da falta de responsabilidade dos alunos, uma base mais consolidada no Ensino Fundamental, principalmente no que se refere a leitura e compreensão de textos. Indagados sobre a infraestrutura, mencionaram que as escolas oferecem de forma a atender as necessidades da disciplina Geografia.

No que diz respeito aos conteúdos nos quais os alunos apresentam maiores dificuldades de compreensão, a unanimidade prevaleceu sobre a cartografia na 1ª série, principalmente nos assuntos elementos dos mapas, coordenadas geográficas e fusos horários, ou seja, naqueles em que se faz necessário o uso da lógica matemática.

Essa fala é comprovada quando recorremos aos resultados das provas discursivas de Geografia por questões, por meio das quais constatamos que no ano de 2006 mais da metade dos vestibulandos errou uma questão em que deveriam citar o elemento que estava faltando em um dos mapas, no caso, a legenda.

Além disso, os professores P1, P2, P5 e P6 mencionaram que os alunos também apresentam dificuldades nos conteúdos que têm relação com a História, principalmente quando trabalham os processos de formação territorial dos países e os conflitos que acontecem na atualidade.

Nesse contexto, reforçamos a importância da interdisciplinaridade na Geografia e no trabalho do professor dessa disciplina, uma vez que

o professor de uma disciplina específica com uma atitude interdisciplinar abre a possibilidade de ser um professor-pesquisador porque deve selecionar os conteúdos, métodos e técnicas trabalhados em sua disciplina e disponibilizá-los para contribuir com um objeto de estudo em interação com os professores das demais disciplinas. Isso não pode ser realizado sem uma pesquisa permanente (PONTUSCHKA et al., 2009, p. 145).

Nessa perspectiva, além de tornarem-se pesquisadores, esses sujeitos contribuem para o processo de busca e consolidação de conhecimento por parte dos alunos, pois será oportunizado aos discentes entender determinados fenômenos geográficos que têm ligações com outras disciplinas da grade curricular.

Mesmo sem realizarmos observações nas salas de aula, pudemos identificar em suas falas que as práticas pedagógicas desses professores se inserem ora em modelos considerados contemporâneos, com auxílio da tecnologia, ora no modelo tradicional.

A P1, que é funcionária da E1, afirmou que, “na maioria de suas aulas, utiliza o livro didático, e sempre que é possível trabalha com outras estratégias como uso de música”. Já a P3 (funcionária da E2) menciona que, “devido aos equipamentos na escola serem insuficientes, suas aulas são, em grande parte, dialogadas, e, muitas vezes, os alunos não participam efetivamente”. Um dos docentes da E4, o professor 5, demonstrou cansaço em uma das entrevistas e disse que, “naquele dia, falou por mais de 01 hora e 30 minutos”, quando explicava os conteúdos.

A partir das três falas acima, questionamos se as aulas praticamente centradas no professor colaboram com a aprendizagem dos alunos e se, de alguma forma, essa metodologia contribuiu para os resultados insatisfatórios dos alunos nas questões discursivas dos vestibulares. Ainda indagamos se não é possível haver aulas mais dinâmicas que envolvam os alunos. Nesse contexto, concordamos com Pessoa (2007, p. 91), quando afirma

[...] ser possível pensar num ensino de geografia mais condigno com o espaço em que vivemos, um espaço não desvinculado da realidade, onde o ensino de geografia não esteja apenas centrado na fala do professor, no quadro, no livro didático, nos questionários e nas correções. Pois acreditamos que o uso único e exclusivo dessa forma de ensinar nega outras possibilidades de aprendizagem, capazes de relacionar as experiências vividas no cotidiano dos alunos ao conhecimento da geografia escolar, o que poderá despertar, sem sombras de dúvida, maior interesse e maior compreensão, e o mais importante ação-reflexão.

Para que haja um ensino de Geografia em que os alunos possam ser capazes de agir e refletir, faz-se necessário, também, que estes adquiram o hábito pela leitura. Somente assim eles perceberão e conseguirão estabelecer conexões com as diferentes realidades existentes no mundo contemporâneo.

A aversão à leitura e, consequentemente, o fato de não saberem interpretar as questões também aparecem nas falas de professores pesquisados. Contudo, quando perguntamos como trabalham nessa perspectiva, a maioria fez referência apenas ao livro didático, não mencionando outras fontes de informação nas quais também é possível ter acesso ao conhecimento.

Quando questionados acerca das provas discursivas de Geografia, os professores ficaram divididos. Para um grupo, as questões eram formuladas de forma coerente com os programas e o que acontecia era que muitos alunos não entendiam os enunciados. Além disso, eles eram obrigados a pensar, refletir, escrever sobre o tema proposto.

No entanto, há um grupo de professores que discorda da forma de avaliação aplicada no vestibular e concorda com a atual (ENEM), pois, para eles, o aluno possui condições de relacionar temas da Geografia com outras disciplinas.

Sobre essas discussões, entendemos que, para qualquer situação, tanto em provas discursivas como em objetivas, faz-se necessário, primeiramente, que os discentes tenham aprendido os conteúdos. Desse modo, não apresentarão dificuldades para responder os instrumentos avaliativos, independentemente da perspectiva de abordagem dos conteúdos.