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3. Metodologia da pesquisa

3.2. Contexto de pesquisa

Considerando as diretrizes traçadas pelo Ministério da Educação para o ensino de línguas estrangeiras no EM e os pressupostos da Intercompreensão, abordados no segundo capítulo desta dissertação, previu-se como contexto de coleta de dados desta pesquisa, cujo objetivo geral é investigar o desenvolvimento da competência de leitura plurilíngue em estudantes do Ensino Médio, um curso de práticas de leitura em línguas românicas, denominado “Leitura Plurilíngue”.

O curso foi concebido para a coleta de dados, e a partir da coleta de dados, ou seja, à medida que os dados eram coletados, a pesquisadora replanejava a sua ação visando o objetivo da pesquisa. Com isso, buscou-se respeitar a questão da abordagem em espiral da pesquisa-ação, com suas fases “de planejamento, de ação, de observação, de reflexão, depois um novo planejamento da experiência em curso.” (BARBIER, 2009:60). A descrição do contexto de produção de dados _o curso “Leitura Plurilíngue” em si, a escolha dos instrumentos de pesquisa e os critérios de seleção de dados serão abordados na seção 3.4 Produção dos dados deste capítulo.

3.2.1. A ETEC Gildo Marçal Bezerra Brandão

Para a realização desta pesquisa escolhemos como contexto uma escola de Ensino Médio que aplicasse uma abordagem singular51, ou tradicional, de ensino de línguas estrangeiras, mas que fosse receptiva a novas práticas educativas em geral. A escolha da ETEC Gildo Marçal Bezerra Brandão52, localizada em Perus, bairro da periferia da cidade de São Paulo, se deu, principalmente, pela receptividade de sua direção e coordenação pedagógica a este projeto,

51á o dage si gula , este o texto, ue dize a o dage a ual o ú i o o jeto de ate ç o u a lí gua e

u a ultu a pa ti ula , to ada isolada e te Ca delie , : . U a a o dage plu al, o o a Intercompree s o, se se e de ati idades ue i pli a , ao es o te po, di e sas a iedades li guísti as e

ultu ais . Essa o e latu a usada e do u e tos o o o Cá‘áP e o QEC‘.

inicialmente53 intitulado “Leitura em Francês com abordagem intercompreensiva”. Esta versão preliminar do curso “Leitura Plurilíngue” foi apresentada à escola em novembro de 2012 a fim de sensibilizar e viabilizar as primeiras ações (autorização, horário, apresentação aos estudantes) junto à coordenação pedagógica e à direção da instituição.

Outros fatores que nortearam esta escolha foram: 1. a excelente infraestrutura desta ETEC, com laboratórios de informática, equipamentos de projeção, quadra poliesportiva, área de convivência e auditório; e 2. o relacionamento prévio desta pesquisadora com a instituição, como professora estagiária. O primeiro fator foi considerado porque existia a possibilidade de fazer os estudantes implicados nesta pesquisa participarem de uma sessão plurilíngue por meio de uma plataforma europeia que tem por finalidade estimular e promover interações plurilíngues, a Galanet, daí a importância de se ter à disposição um laboratório de informática com acesso à internet. Em relação ao segundo fator considerado, é preciso esclarecer que o primeiro contato desta pesquisadora com a “ETEC Gildo” aconteceu em 2011, quando foi realizado junto aos estudantes do Ensino Médio um minicurso de Práticas de Leitura em Francês, que teve excelente adesão e apoio total da direção da instituição.

A ETEC Gildo é uma escola relativamente nova, foi inaugurada no final de 2009, e oferece somente cursos Técnicos54 e Ensino Médio, ou seja, recebe estudantes a partir dos 14 anos que tenham concluído o 9º ano do Ensino Fundamental em outras escolas. Em relação ao EM, a escola conta com duas salas de 40 estudantes em cada uma das três séries deste nível. Como nas outras ETECs do Estado de São Paulo, todas geridas pelo Centro Paula Souza, instituição vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, os estudantes ingressam nesta escola por meio de um exame, o “vestibulinho”, que tem a finalidade de selecionar os estudantes com melhor desempenho, uma vez que há mais candidatos inscritos que vagas oferecidas. Segundo o site55 da Secretaria, são atendidos pelas ETECs mais de 221 mil estudantes, nos Ensino Médio, Técnico integrado ao Médio e Ensino Técnico, em mais de 300 municípios paulistas.

Em relação às línguas estrangeiras, além da presença de inglês e espanhol na grade curricular, os estudantes das ETECs podem se inscrever, desde 2010, no Programa de

53 Apêndice B (p. 164): pla eja e to do u so Leitu a e F a s o a o dage i te o p ee si a , ue u a

versão embrionária do u so Leitu a Plu ilí gue .

54 O curso Técnico é um curso de tipo profissionalizante, que desenvolve habilidades específicas e prepara o jovem

para ingressar no mercado de trabalho.

Intercâmbio Cultural do Centro Paula Souza, que oferece bolsas de estudo de inglês e espanhol no exterior para estudantes e professores das ETECs. “O objetivo do programa é incentivar o aprimoramento da formação acadêmica e o ingresso no mercado de trabalho dos estudantes, utilizando a língua como ferramenta de acesso à informação e comunicação.”56 Levando em consideração este objetivo, entendemos que a formação [de um repertório] plurilíngue, por meio da leitura de textos em várias línguas, que é uma forma de potencializar o acesso à informação em diversas fontes, pode contribuir à formação acadêmica destes estudantes e, no futuro, levá-los a participar de programas de mobilidade internacional.

3.2.2. O ensino de línguas estrangeiras na ETEC Gildo Marçal Bezerra Brandão A ETEC Gildo, como toda escola pública que oferece Ensino Médio, tem na grade curricular o ensino obrigatório da língua inglesa, com carga horária de 2h semanais. A língua espanhola57 é oferecida apenas aos estudantes dos 2º e 3º anos do EM, desde 2012, em forma de projeto de HAE (habilidade específica), com carga horária de 1 hora semanal. Os estudantes optam ou não por seguir o curso de língua espanhola, que ocorre fora do horário regular. Ambas as línguas são oferecidas numa abordagem singular/disciplinar de ensino de línguas.

Além da língua inglesa e da língua espanhola, parte dos estudantes dos primeiros e segundos anos do EM desta escola tiveram uma experiência com o francês em 2011, por meio de um Minicurso de Práticas de Leitura em Francês. Este minicurso foi elaborado e ministrado por esta pesquisadora no contexto de sua formação em licenciatura pela Universidade de São Paulo. Em 2011, o contato com a escola se deu por intermédio de uma professora da instituição, e a recepção da direção e coordenação pedagógica da escola à iniciativa foi muito positiva. O minicurso, de 30 horas, teve adesão voluntária e foi administrado em dez encontros. O objetivo geral do minicurso era proporcionar aos estudantes o contato com uma realidade linguística diversificada, a língua francesa, levando-os a compreender textos curtos e enunciados simples e identificar estruturas básicas da língua francesa. Foram disponibilizadas 40 vagas, igualmente distribuídas entre estudantes do primeiro e do segundo ano do Ensino Médio.

56 http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/intercambio/. Consultado em 12/05/2014.

57 A Lei 11.161, sancionada em agosto de 2005, torna obrigatória a oferta do espanhol no Ensino Médio do país e

Apesar da oferta do espanhol e de outros projetos na área de línguas estrangeiras, como o Minicurso de Práticas de Leitura em Francês, o inglês, como já mencionamos, é a língua obrigatória na grade curricular desta escola. Tanto os PCNEM quanto as Orientações Curriculares para o Ensino Médio fazem ressalvas à predominância do ensino da língua inglesa nas escolas públicas brasileiras, pontuando que tal monopólio poderia reduzir o interesse por outras línguas estrangeiras e desvirtuar o projeto de inclusão social presente nos documentos.

Quando professores e alunos (e também coordenadores, diretores, pais de alunos) defendem a necessidade de língua inglesa no currículo em vista do mercado ou das exigências tecnológicas, ou porque essa é o idioma da globalização, entendemos que esses argumentos refletem uma visão realista, mas revelam uma perspectiva parcial do que esse ensino pode realizar educacionalmente. Mais do que reforçar apenas os valores sociais do momento, valores que são, reconhecidamente, interpelados pelo movimento econômico- cultural da globalização, entendemos que o objetivo de um projeto de inclusão seria criar possibilidades de o cidadão dialogar com outras culturas sem que haja a necessidade de abrir mão de seus valores (Maturama, 1999). (BRASIL, 2006:96)

Para que o referido projeto de inclusão social se consolide, mais que a necessidade de diversificação da oferta de línguas estrangeiras na escola, entendemos que seria preciso o desenvolvimento de uma consciência crítica da heterogeneidade e da diversidade linguística e sociocultural em que estamos inseridos. Neste sentido, ao se propor a Intercompreensão entre línguas românicas, que difere na abordagem de ensino das línguas estrangeiras e no conteúdo proposto, o curso “Leitura Plurilíngue” representa uma abertura real à diversidade linguística e sociocultural e um exercício concreto de reflexão sobre as linguagens e seus códigos, que levam a “estender o horizonte de comunicação do aprendiz para além de sua comunidade linguística restrita própria.” (BRASIL, 2006:92).