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Procedimentos de coleta dos dados para constituição do corpus de pesquisa

3. Metodologia da pesquisa

3.5. Procedimentos de coleta dos dados para constituição do corpus de pesquisa

Para que pudéssemos coletar os dados, registrar e avaliar a dinâmica do processo durante o curso “Leitura Plurilíngue”, elegemos alguns instrumentos: fichas diagnósticas (fase 1), produções dos participantes (fases 2, 3 e 4), questionário de autoavaliação (fase 4) e as fichas de aula (orientações e anotações da pesquisadora-educadora).

Para conhecer melhor os participantes, na primeira fase do curso usamos fichas diagnósticas. Este material foi elaborado a partir da adaptação de fichas pré-existentes76, usadas também em pesquisas com adolescentes, em contexto europeu, por entendermos que estas fichas apresentavam “condições para a obtenção de informações válidas” (MARCONI e LAKATOS, 2011:87). Foram distribuídas três fichas aos estudantes:

A. Minha história com as línguas (Apêndice F, p.218): os estudantes preencheram esta ficha no primeiro encontro com a pesquisadora-educadora, e nosso objetivo era recolher elementos sobre a biografia (experiência pessoal) linguística dos participantes, que, segundo o QECR (2001:23), contribui para a construção de uma competência comunicativa na qual as

76 Adaptado de CARRINGTON, Margarida. áàl guaà ate aà e isitadaàat a sàdeàp ti asàdeài te o p ee são .à

línguas (“todo o conhecimento e toda a experiência das línguas”) se inter-relacionam e interagem. Nesta primeira ficha, também recolhemos dados sobre a motivação dos participantes em estudar línguas estrangeiras. Nesta ficha usamos questões abertas, porém direciLonadas, que visavam facilitar o preenchimento. Ex: “Por que você estuda línguas? Cite uma razão que se encaixe em cada um dos temas abaixo.”

B. Eu e minha língua materna (Apêndice G, p.219): esta ficha também foi preenchida em nosso primeiro encontro, e nosso objetivo era compreender quais as representações dos participantes sobre a língua portuguesa, declaradamente a L1 de todos eles, e sobre a influência dos conhecimento desta língua na aprendizagem de uma língua estrangeira. Ao seu preenchimento se seguiu a primeira atividade do curso, com textos em língua portuguesa. Nesta ficha usamos perguntas de avaliação (escala com graus de intensidade) e combinação de questões dicotômicas e abertas. Ex: “O português é uma língua difícil de compreender? ( ) Sim, porque.../ ( ) Não, porque...”.

C. Eu e as línguas estrangeiras (Apêndice H, p.221): esta ficha foi aplicada no segundo encontro, que marcou o início do contato do grupo com as línguas estrangeiras que seriam abordadas no curso. Nosso objetivo era mapear as línguas que estes participantes haviam estudado e sob quais circunstâncias (escola, curso de idiomas, em família) – complementando a ficha “Minha história com as línguas” – bem como suas representações sobre a aprendizagem de línguas estrangeiras.

Os objetivos das fichas, que foram preenchidas na presença da pesquisadora-educadora, eram esclarecidos verbalmente aos participantes e também apareceram nas fichas “B” – “Este questionário refere-se à sua relação com a língua materna (LM)” – e “C” – “A primeira parte deste questionário pretende registrar seu contato com diferentes línguas estrangeiras”.

Quando mencionamos como instrumento a produção dos participantes, referimo-nos ao conjunto de respostas às atividades aplicadas durante o curso “Leitura Plurilíngue”, que tomaremos como indícios da atividade cognitiva e metacognitiva dos participantes. Sem um instrumento específico para registrar a atividade metacognitiva, como as entrevistas semi- diretivas, o trabalho de análise do pesquisador, neste aspecto, segue um viés mais interpretativo, que é possível, pois o pesquisador formula o exercício prevendo o caminho que o aprendente vai seguir para chegar à compreensão.

O curso não tinha como objetivo específico modificar as representações dos participantes sobre a L1, as línguas estrangeiras ou sobre sua aprendizagem, mas este é um dos efeitos possíveis ao final de um percurso semelhante de experiências com as línguas (BILIEZ, 1996), por isso, no final do curso (penúltimo encontro) aplicamos o questionário de autoavaliação “Minha

história com as línguas” (Apêndice I, p.223) a fim de saber qual o sentimento dos estudantes em

relação ao próprio percurso. Para isto, foram retomadas algumas questões das fichas diagnósticas, as que julgamos mais pertinentes à nossa investigação, e foram propostas outras.

A fim de planejar, orientar e registrar a ação, a pesquisadora-educadora organizou fichas de aula com anotações diversas: roteiro e objetivos da aula, fundamentos teóricos e observações referentes à aplicação das atividades. Elas eram escritas antes e após as aulas, sem um formato rígido. A maioria delas, contudo, segue o padrão da ficha que exemplificamos a seguir.

Aula 3 – 04/04 – Ficha do professor Plano de aula e observações gerais

 Recolher termo de consentimento preenchido;

 Fazer a chamada e passar a lista de presença para que confiram os e-mails, o nome e a série;  Explicar a possível participação na sessão Galanet com o grupo de estudantes argentinos;  Fazer observação sobre o preenchimento dos questionários e atividades.

 Retomar questões das aulas anteriores:

- Não lemos com os olhos, mas com o cérebro;

- Temos de usar todo o conhecimento que temos na hora de ler para ajudar na compreensão: conhecimento de mundo, da estrutura do texto, conhecimento linguístico;

- A compreensão depende da previsão/ antecipação. “Previsão é fazer perguntas – e compreensão é responder essas perguntas.” (Smith, 1999:78);

- Fixar o olhar em uma palavra pode causar visão túnel. “A visão túnel tem mais probabilidade de ocorrer quando o que está sendo lido não faz sentido para o leitor ou quando o leitor está ansioso diante do risco de cometer erros.” (Smith, 1999:38)

- O significado não está nas palavras (significado/significante). “Um enfoque que coloca toda a carga da compreensão do texto na faculdade da linguagem está condenado ao fracasso (cf. Morgan e Sellner, 1980). O pressuposto da existência de um significado do texto que não é apenas combinatório e somatório dos itens discretos, mas que é construído pelo leitor apoiado em princípios de ações cooperativas mais gerais é, de fato incompatível com um enfoque exclusivamente linguístico ao estudo da compreensão.” (Kleiman, 2008:131)

- “(...) conhecer uma palavra implica, entre outras coisas, conhecer algo sobre os eventos e coisas a que ela se refere [conhecimento de mundo, vivência cultural]; implica em outras palavras, que possuímos algo do conhecimento necessário para compreender o texto (cf. Freebody e Anderson, 1981) (...)” (Kleiman, 2008:117)

Quadro 22 – Ficha de aula da pesquisadora

Os instrumentos descritos acima auxiliaram esta pesquisadora-educadora a registrar e avaliar a dinâmica do processo, bem como o percurso dos participantes. Parte dos dados coletados por meio destes instrumentos constituíram nosso corpus de pesquisa.

Objetivos da aula:

 Retomar conceitos trabalhados nas aulas anteriores (listados acima).  Trabalhar as noções de estratégia e hipótese.

- O que é estratégia: arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução de objetivos específicos (Aurélio).

- O que é hipótese: suposição; suposição que orienta uma investigação; suposição que se admite de modo provisório (Aurélio).

 Estimular a percepção das analogias lexicais.

 Trabalhar o plural em francês, espanhol e italiano a partir da atividade metalinguística dos participantes.

Textos teóricos de apoio:

“Fayol et Monteil (1994:93) intègrent ce dernier aspect [style social du sujet: des traits de personnalité relativement stables chez un individu alors que les stratégies sont quant à elle circonstancielles, dépendant de la tâche, du contexte, de l’objet, et de la décision du sujet de l’utiliser] dans um triple critère définitoire de la stratégie. Pour pouvoir parler de stratégie il faut selon eux

 Qu’il y ait eu choix, de la part du sujet, d’une séquence d’opérations  et perception d’um moindre coût cognitif.

Ainsi définissent-ils la stratégie comme ‘une séquence intégrée, plus ou moins longue et complexe, de procédures sélectionnées en vue d’un but afin de rendre optimale la performance’” (Degache USP: 2012)

A percepção das analogias lexicais é subjetiva, relativa: * se faz de maneira subconsciente, mas o sujeito pode tomar consciência dos processos; * ela é variável de um sujeito a outro por razões cognitivas (conhecimentos prévios, capacidade de ativar estratégias de antecipação, de controle) e socioafetivas (confiança em si, ansiedade, medo de errar). (PP Degache, 2012, material da USP)

 Distribuir os dossiês, pedindo que coloquem o nome a avisando que serão recolhidos no final da aula, então, eles precisam ser preenchidos adequadamente.

 Ler as instruções com eles.

 Ao final das atividades, estimular a construção de possíveis regras do plural para iniciar um trabalho com o modelo ascendente de leitura.