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QUALIDADE DA AMBIÊNCIA URBANA

2 Ocorrência de 1 das formas de degradação ambiental citadas no item 1 0,7 3 Ocorrência de das formas de degradação ambiental citadas no item 1 0,

2.2 Contexto urbano da cidade de João Pessoa

Em 2013, segundo a Prefeitura Municipal de João Pessoa, a cidade de João Pessoa possui 64 unidades urbanas (bairros) cujas configurações e perfis variam de acordo com a classe social

92 existente no local. Conforme o IBGE (2010), João Pessoa possui 723.515 habitantes, o que juntamente com a estrutura urbana que apresenta, lhe confere o porte de cidade média. Apesar do

IBGE definir “cidade média” como aquela que possui população entre 100.000 e 500.000

habitantes, esta definição não é estática, podendo variar de acordo com o contexto em que a cidade está inserida, a exemplo da situação socioeconômica, da rede de consumo, da infraestrutura e potencialidades, além da posição hierárquica regional.

Todavia, esta cidade vem manifestando transformações e tendências urbanas de âmbito mundial, influenciadas pela economia e cultura vigente, entre elas - a transferência e obsolescência do centro, espraiamento, periferização, crescimento vertical, enobrecimento forçado de certas áreas, marginalização e segregação urbana, e outras tendências de uso do solo e de valores imobiliários, como o surgimento de condomínios horizontais.

A seguir será relatada uma breve contextualização de como se deu a ocupação urbana da capital paraibana, dando maior enfoque aos processos que determinaram aspectos relevantes da sua qualidade de vida urbana e aos relacionados ao surgimento dos condomínios horizontais na cidade de João Pessoa.

João Pessoa foi fundada no ano de 1585, às margens do rio Sanhauá, afluente do rio Paraíba, e, até meados do século XIX, sua dinâmica urbana ainda estava restrita ao seu casco original. Teve um crescimento urbano notadamente lento, anexando novas áreas somente a partir de 1855. Porém, é apenas, em finais da década de 1960, que a cidade começa a se expandir expressivamente, de forma semirradiocêntrica, orientada do Centro para os outros bairros, em especial, no sentido leste e sul.

Entre os diversos setores que surgiram nesse processo, estão bairros pericentrais como Pedro Gondim e Bairro dos Estados, além de ter sido iniciado o processo de ocupação da borda do tabuleiro superior com a criação dos conjuntos habitacionais João Agripino e Miramar, e a ocupação em algumas áreas pontuais do setor sudeste da faixa litorânea de João Pessoa, no Altiplano Cabo Branco, e do setor norte da planície litorânea, formando o bairro Manaíra e a orla principal do Bessa.

Segundo Barbosa (2005), o conjunto Altiplano Cabo Branco teve sua construção em 1978, tendo como responsável o Instituto Nacional de Orientação das Cooperativas Habitacionais (INOCOOP-PB). “A instalação desse conjunto representou a primeira grande intervenção pública no sentido de estimular a ocupação urbana do litoral sul de João Pessoa” (BARBOSA, 2005, p. 32). Porém, apesar do bairro ter sido fundado há mais de 30 anos, ainda apresenta baixa

93 densidade urbana e deficiências infraestruturais, a exemplo da falta de abastecimento de água em alguns pontos do bairro.

Este processo de expansão acelerada ocorrido no final da década de 1960, segundo Ribeiro (2007), pode ser justificado, em parte e em sua fase inicial, pela implantação de conjuntos habitacionais distantes da malha urbana, anexando novas áreas dotadas de vazios urbanos. (ver figura 07)

O “Centro-Histórico de João Pessoa", que compreende a cidade baixa e a cidade alta14, passa, atualmente, por certo declínio, pois perdeu definitivamente o seu caráter residencial e a atividade comercial está em processo de estagnação15. Além disso, como ressaltam Passos et al. (p.9,

2012), o núcleo central foi “perdendo, assim, a sua diversidade nos usos e funções e, consequentemente, veio a passar por um processo de deterioração dos seus imóveis, como também de descaracterização por usos impróprios, como oficinas mecânicas, por exemplo” Deste modo, a transferência desses usos se deu para áreas adjacentes à Lagoa, que detém a atividade comercial mais intensa da cidade (considerada como centro principal de João Pessoa); às avenidas Epitácio Pessoa, Beira Rio e Rui Carneiro, que constituem eixos de comércio e serviço; e aos subcentros ou centros secundários, localizados nos principais bairros da cidade, como Torre, Bairro dos Estados, Mangabeira, entre outros. Alguns bairros residenciais antigos desenvolvem também atividades comerciais de forma mais especifica, além de deter estabelecimentos de prestação de serviços.

Silveira et al., (2008) explana que na cidade de João Pessoa, o processo desordenado de expansão intraurbana, os setores socialmente mais seletivizados e o crescimento da importância do circuito superior da economia, da prestação de serviços mais sofisticados e do comércio causaram uma estrutura mais assimétrica, na qual a cidade organiza-se em fatias socioespaciais, implicando prejudicialmente na sustentabilidade e na qualidade de vida. Entre os principais efeitos danosos, percebe-se: (a) o espraiamento urbano com impactos sobre o meio ambiente natural periurbano; (b) desvalorização e deterioração da área central tradicional; (c) reflexo do

14 As primeiras áreas a serem urbanizadas em João Pessoa foram a cidade baixa e posteriormente a cidade alta. Na

parte mais antiga (cidade baixa) funcionava com maior predominância atividades comerciais e prédios de alfândega, além de armazéns no Porto do Capim. Mais à leste, subindo um platô (40 metros acima do nível do mar – cidade alta) várias residências de maior poder aquisitivo foram transferidas da cidade baixa para cidade alta, além de instalações administrativas e religiosas.

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LIRA, Anneliese Heyden Cabral (2008) Produção, tipologia habitacional, segregação social e Qualidade de vida urbana em João Pessoa – PB (Relatório Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica). Foram coletados dados acerca dos diversos usos de ocupação do solo, cedidos pela SEREM-JP, que apontam uma tênue diminuição de estabelecimentos residenciais e comerciais na região central-tradicional de João Pessoa.

94 consumo espacial temporal, energético e material sobre os provimentos urbanos e a qualidade de vida da população; (d) e diferenciação da macroacessibilidade, aumentando as desigualdades nos espaços intraurbanos.

Passos et al., (p.10, 2012), analisam a expansão de João pessoa, a partir do esquema estrutural urbano de Hoyt (1939), no qual a segregação espacial assume um padrão de desenvolvimento em setores a partir do centro da cidade. Assim, os autores ratificam que a expansão de João Pessoa ocorreu de forma semirradiocêntrica, acentuando bordas periféricas, setores de círculo e a segregação das classes sociais:

“De acordo com esse modelo, as áreas residenciais de alto status localizam-se no setor de maiores amenidades, cercadas pelos setores de população de médio status. Diametralmente oposto encontra-se um amplo setor habitado pela

população de baixo status.”

Fig. 06: Esquema estrutural urbano da cidade de João Pessoa, pelo modelo de Hoyt. Fonte: Oliveira, (2006 apud Passos et al. 2012).

Os bairros litorâneos vivenciam um intenso aumento populacional, de ocupação do solo e de valor imobiliário. Bairros ao sul, como Bancários e bairros circunvizinhos apresentam crescimento e valorização, devido ao alto desenvolvimento e a proximidade das principais universidades da cidade.

Nas últimas décadas, percebe-se também o preenchimento de todo o território entre o mar e a área tradicional, compreendendo principalmente a faixa litorânea e estimulando o potencial natural – as praias. Neste sentido, observa-se um intenso deslocamento da população com melhores condições para assentamentos mais distantes das áreas centrais. É neste cenário que se

95 manifestam os condomínios fechados. São nessas áreas de expansão recente, onde se concentram as maiores rendas familiares da cidade e a crescente valoração imobiliária.

Com o forte crescimento da cidade centrado na região praiana, surgiram alguns fatores como adensamento caracterizado pela verticalização habitacional e miscigenação de usos, que acarretaram problemas urbanos relacionados à segurança, à mobilidade, sobretudo, o comprometimento da fluidez do trânsito local, e influenciaram negativamente na percepção da qualidade de vida local. O bairro de Manaíra, situado no litoral norte da cidade e destinado para classe média alta exemplifica bem esse panorama. Deste modo, os condomínios horizontais

passam a ser a “solução” para esse estrato social. Em João Pessoa, este fenômeno tem se

manifestado principalmente em espaços ditos periféricos atualmente, próximos às praias – Altiplano, Portal do Sol e Ponta do Seixas.

Atualmente, a cidade vem sofrendo um alto grau de crescimento vertical, principalmente em áreas alvo de especulação imobiliária. Segundo estudos elaborados pelo LAURBE16, foram apontadas como áreas verticalizadas, os bairros: Brisamar, Cabo Branco, Altiplano, Jardim Oceania, Manaíra, Tambaú, Mangabeira, Anatólia, entre outros. A maioria desta produção se dá em bairros onde existe a predominância de classe social alta e futura perspectiva de valorização imobiliária. Dentro da modalidade condominial verticalizada, verificam-se também alguns setores de concentração de condomínios de luxo com amplas áreas de lazer comuns, e que representam a versão verticalizada destes condomínios de alta renda. Localizam-se, principalmente, em bairros com expectativa e tendência de valorização e ainda com disponibilidade de terrenos de grandes dimensões (acima de 2.000 m²), tais como Jardim Oceania, Aeroclube (setor norte da faixa litorânea) e a parte inicial do Altiplano Cabo Branco (setor sul da faixa litorânea).

Juntamente com o processo de “condominização” estabelecido nos bairros do setor sul da faixa

litorânea, observa-se a presença de aglomerados subnormais. Esses, originados do processo de favelização estão instalados em áreas próximas às calhas de drenagem, com susceptibilidade à erosão e possibilidade de inundação, tornando-se uma forma de ocupação sem segurança. Apesar

16 LAURBE - Laboratório do Ambiente Urbano e Edificado vem elaborando pesquisas sobre o espaço urbano e

qualidade de vida na cidade de João Pessoa. A partir de dados obtidos pela SEPLAN (Secretaria de Planejamento da Prefeitura de João Pessoa) e tratados pelo LAURBE foram concebidas informações sobre a verticalização na cidade - somatório da área dos lotes e de área construída. Deste modo, a partir da relação entre o somatório da área construída e o somatório da área dos lotes, podem-se observar quais áreas sofrem processo de verticalização. Quando uma localidade apresenta área predial bastante superior à área territorial, tem-se a manifestação de tal processo.

96 de existirem em maior número nos bairros periféricos de baixa renda e com grandes áreas rurais, alguns bairros como Miramar, Altiplano e Portal do Sol apresentam certa heterogeneidade social, unindo em uma mesma configuração espacial, aglomerados e edificações de alto padrão.

Fig. 07. Análise da evolução e expansão urbana da cidade de João Pessoa-PB, entre as décadas de 1930 a 2013, e a localização dos condomínios estudados. Fonte: LAURBE/Alexandre Castro, 2014.

97 2.3. Qualidade Urbana da cidade de João Pessoa

Este tópico pretende observar a qualidade urbana da cidade de João Pessoa, situando qualitativamente os seus setores urbanos. É importante uma análise abrangente, considerando também bairros que não apresentam condomínios horizontais, uma vez que os princípios que erigem a qualidade de vida urbana apoiam-se na forma como se relacionam os diversos setores que compõem uma determinada rede intraurbana.

Este tópico foi construído com base no documento “Monitoramento Contínuo da Qualidade de Vida Urbana em João Pessoa – PB (2004 – 2008)”, elaborado por Ribeiro (2008) para a PMJP. Tal documento adota a metodologia IQVU-JP, elaborado por Ribeiro (2001) – a mesma utilizada por esta dissertação. Para efeito de compreensão mais objetiva e apresentação de dados mais recentes, este tópico buscou apresentar apenas os resultados do IQU (Indicador de Qualidade Urbana) do ano de 2008.

Neste ano, o IQU da cidade de João Pessoa foi 0,605, valor considerado médio, segundo faixa qualitativa elencada pela metodologia IQVU-JP. Os indicadores que perfazem o IQU de João Pessoa apresentaram as seguintes pontuações: Qualidade Habitacional (0,716); Qualidade das Facilidades Urbanas (0,673); Qualidade das Acessibilidades Físicas (0,418); e Qualidade de Ambiência Urbana (0,527). Dentre os indicadores, o que chama atenção por comportar-se aquém do limiar razoável foi o de Acessibilidade, uma vez que, conforme Ribeiro (2008, p. 80) explana:

“a cidade cresceu, nas ultimas décadas muito mais que o desejável,

reduzindo sensivelmente as condições de acessibilidades. Na prática, a cidade de João Pessoa cresceu, nos últimos 40 anos o equivalente a 70% da área urbanizada atual da cidade, enquanto em 380 anos, cresceu os primeiros 30% da área urbanizada. Este excessivo espraiamento, ocorrido nas ultimas décadas, teve uma influência

bastante negativa no nível médio da acessibilidade”

A seguir será apresentado o IQU dos setores urbanos da cidade de João Pessoa, classificados em Alto, Médio e Baixo IQU.

Bairros de Alto IQU

Segundo a tabela 20, os bairros que apresentaram alto IQU (Índice de Qualidade Urbana) se destacaram, sobretudo, nos quesitos “Habitabilidade”, “Facilidades urbanas” e “Acessibilidades

98 Urbanas”, respectivamente. A única exceção foi o bairro Cabo Branco que obteve maior pontuação no indicador “Qualidade da Ambiência Urbana”, por deter privilegiados aspectos

físico-naturais e baixo índice de violência. Neste mesmo aspecto (Qualidade da Ambiência Urbana), os bairros Centro e Manaíra foram os que apresentaram menores valores entre os setores avaliados como de alto IQU. Os fatores que mais influenciaram tais resultados foram a maior diversidade de atividades que ocorrem nesses setores da cidade, incluindo atividades mais conflitantes com o uso residencial, e os seus consideráveis índices de violência urbana.

Tabela 20. Índice IQU e índices secundários entre os bairros de Alto IQU em João Pessoa - PB