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Contextos familiares e a contribuição da equipe multidisciplinar na execução das polít

3 PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE (PROSAD): TEXTOS E CONTEXTOS

3.4 Contextos familiares e a contribuição da equipe multidisciplinar na execução das polít

Já não nos causa tanto espanto o número crescente de meninas maiores de 12, 13 ou 14 anos com vida sexual ativa e consequentemente grávida, bem como a procura pelas Unidades Básicas de Saúde, portando algum tipo de infecção sexualmente transmissível (IST’s).

Com o advento da socialização da informação, que cada vez se dissemina com mais rapidez e mais acessibilidade, resta-nos uma pergunta: o que levaria então essas adolescentes a engravidar de forma tão precoce ou adquirirem determinadas doenças, que poderiam ser evitadas usando métodos de barreira? Nunca foram tão divulgados os meios contraceptivos para evitar a gravidez como nos dias atuais e, mesmo assim, o número de adolescentes grávidas cada vez mais cresce. Existem vários fatores que contribuem para esse quadro, conforme podemos observar:

Mais que considerar este um problema ‘dos outros’, questionar e denunciar o lugar que a mídia ocupa no momento atual é dever de cada um de nós. Assim, faz-se necessário: rever e recriar valores que visualizem a criança a partir do ethos dos fatores sociopolítico, econômico e cultural, que ressoam de modo singular nas unidades familiares, bem como da interferência dos imperativos e apelos da mídia nas reorganizações psíquica. Urge dizer que essa caótica realidade poderia ser amenizada se houvesse uma política de educação sexual contínua, voltada para a formação de profissionais da educação, da saúde e de áreas afins, uma vez que todos têm profunda influência na formação das crianças e dos adolescentes. (BRUNS, 2012, p. 330).

Isto é, a falta de um projeto educativo de orientação sexual nas igrejas, nas escolas, nos bairros, comunidades e na própria família levam os jovens a seguirem seus instintos, sem se preocuparem com as consequências.

A mídia é outra vilã nessa questão, exagerando na erotização do corpo feminino. O voto do Ministro Março Aurélio no HC 73.662 - MG, 2ª Turma, favorável à presunção relativa da vulnerabilidade, é por demais esclarecedor quando menciona alguns fatores referentes ao que já foi citado:

[...] A presunção de violência prevista no artigo 224 do Código Penal (atualmente revogado pela Lei 12.015/2009) cede à realidade. Até porque não há como deixar de reconhecer a modificação de costumes havida, de maneira assustadoramente vertiginosa, nas últimas décadas, momento na atual quadra. Os meios de comunicação de um modo geral, e, particularmente, a televisão, é responsável pela divulgação maciça de informações, não as selecionando sequer de acordo com medianos e saudáveis critérios que pudessem atender às menores exigências de uma sociedade marcada pela dessemelhança. Assim é que, sendo irrestrito o acesso à mídia, não se mostra incomum reparar-se a precocidade com que as crianças de hoje

lidam, sem embaraços quaisquer, com assuntos concernentes à sexualidade, tudo de uma forma espontânea, quase natural. Tanto não se diria nos idos dos anos 40, época em que exsurgia glorioso e como símbolo da modernidade e do liberalismo, o nosso vetusto e ainda vigente código penal. Àquela altura, uma pessoa que contasse doze anos de idade era de fato considerada criança, e como tal, indefesa e despreparada para os sustos da vida. [...] (NUCCI, 2012, p. 965).

Nesse sentido, os ídolos que são vistos nas passarelas, revistas, cinemas e televisão são para os adolescentes verdadeiros espelhos, heróis e modelos que passam uma imagem de liberação sexual, onde tudo é permissivo e possível, vendendo uma falsa imagem de super- homens ou supermulheres, dando uma sensação de imbatíveis.

Outro ponto importante é a falta de informações dos pais de adolescentes, fator primordial para compreendermos o que acontece de fato, pois os medos e receios do passado poderão ser reflexos do que seus filhos passam no presente.

Como responder às inquietações dos seus filhos se no passado os pais sofreram com as mesmas dúvidas? O tempo passa, mas as sensações são as mesmas. Grosso modo, a puberdade será a mesma para todos que a vivenciam, pois é inerente ao desenvolvimento humano, fazendo parte de seu crescimento. Perguntas sufocadas pelo tempo, escondidas nos erros e acertos, sujeitos separados por um fator: geração. Logo, como esperar do adolescente comportamento diverso se seus pais tiveram dificuldades em falar sobre sexualidade, quando expostos pelo mesmo processo de amadurecimento?

Por outro lado, o acesso às informações, com esse mundo globalizado, torna os meios de informações mais acessíveis, todavia, essas mesmas fontes são facas de dois gumes já que o certo pode se tornar errado e o errado o certo, dependendo do ditame da moda.

Assim, tudo o que concerne ao sentimento de inquietude em relação aos desejos sexuais são inerentes a qualquer ser humano. Muda o tempo, o sujeito, o objeto de desejo, porém, o comportamento em relação aos medos e receios é apenas diferenciado pela geração que vive na determinada dinâmica chamada tempo.

A realidade é que, socialmente, tenta-se esconder, mas temos um alto índice de gravidez na adolescência. Dados de 2006 do IBGE apontam que 51,4% (1.512.374) dos nascidos vivos notificados ao Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) eram filhos de mães com idade até 24 anos. Destes 0,9% (27.610) de mães de 10 a 14 anos; 20,6% (605.270) de mães com idade de 15 a 19 anos; e 29,9% (879.493) eram mães com idade de 20 a 24 anos. Em 2000, esses grupos correspondiam, respectivamente, a 0,9% (28.973), 22,5% (721.564) e 31,1% (998 523).

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (IBGE, 2012) aponta que, para o Brasil, 28,7% dos adolescentes em idade escolar já tiveram relação sexual alguma vez na vida. O

indicador corresponde a 40,1% entre os meninos e de 18,3% entre as meninas, nessas proporções. Destes 30,9% se referem aos estudantes de escolas públicas e 18,2% aos estudantes de escolas privadas. A Região Norte apresentou o maior percentual (38,2%) de escolares para este indicador, seguida das Regiões Centro-Oeste (32,1%), Sudeste (29,1%), Sul (27,3%) e Nordeste (24,9%). Ainda, segundo fonte estatística da Maternidade Escola, dos 5 (cinco) mil partos realizados na MEAC por ano, em média, cerca de 25% são adolescentes.

É nessa sociedade que somos criados e é para a sua própria sobrevivência que o Estado existe, intervindo minimamente e garantido o bem-estar social. Tudo que ultrapassar das garantias estatais ou da sua intervenção passa a não ser mais visto de maneira salutar para os indivíduos que compõem essa dita sociedade.

Se a lei veio como meio de coibir os atos libidinosos contra menores de 14 anos, por que os números de notificações ao Conselho Tutelar a cada ano só aumentam? Segundo dados estatísticos da instituição pesquisada, se a Política Pública para adolescentes e jovens veio para prevenir os agravos contra adolescentes e jovens será que os profissionais entrevistados estão se emponderando dela? Como os profissionais da MEAC estão lidando com esse paradoxo, lei versus Política Pública?

No próximo e último capítulo procuraremos analisar essas questões, pois estaremos expondo justamente o que os profissionais da Maternidade Escola Assis Chateaubriand pensam sobre o assunto.

Será através das respostas às perguntas, referentes ao assunto abordado, que analisaremos a execução da lei de estupro de vulnerável entre a equipe multiprofissional, fazendo um cotejo do que é oferecido dentro da política de atenção integral à saúde de adolescentes e jovens, especificamente na área da educação sexual e sob a ótica desses profissionais.

Identificaremos como a equipe multiprofissional compreende o dispositivo penal, que versa sobre estupro de vulnerável, e verificaremos possíveis conflitos enfrentados pela mesma para o cumprimento da lei, identificando fluxos e encaminhamentos da instituição para o cumprimento do dispositivo penal.