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3 PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE (PROSAD): TEXTOS E CONTEXTOS

3.1 Marco legal como consolidador de direitos

A consolidação e reconhecimento desses sujeitos pelo Estado só foi constituído com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 13 de julho de 1990. Este veio para garantir a doutrina de atenção integral e configurou-se um marco legal dos direitos da adolescência e juventude no âmbito da saúde.

Na essência do ECA foram elencados – especificamente no título II, capítulo I, artigos22 que tratam do direito à vida e a saúde (arts. 7 ao14), logo depois no mesmo título no capítulo II nos arts. 15 aos 1823– que a criança e o adolescente não serão mais tratados como objeto de direitos, mas como sujeito de direitos, outorgando-lhes direito à liberdade, ao respeito e à dignidade.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, define a adolescência como o período da vida que vai precisamente dos 10 anos até os 19 anos, 11 meses e 29 dias. Nessa fase, ocorrem três processos significativos para o desenvolvimento humano: do ponto de vista social a passagem da infância para a vida adulta, com a admissão de papéis adultos e a emancipação em relação aos pais; do ponto de vista biológico a puberdade, com a maturidade sexual e reprodutiva; e, do ponto de vista psicológico, a organização de uma identidade marcada para a subjetividade (OMS, 2012).

22 Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas (grifo nosso) que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. (...) (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) § 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. (Grifo nosso). (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (...).

23 Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Ainda segundo a OMS24, a adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive.

A puberdade, portanto, não deve ser confundida como sinônimo da adolescência, visto que a puberdade faz parte da adolescência. No aspecto conceitual, o processo de adolescer pressupõe amadurecimento corporal, sexual, psicológico e social, finalizando quando assume sua identidade pessoal e profissional (FORMIGLI; COSTA; PORTO, 2012).

Segundo a UNICEF (2011), há duas etapas na adolescência, considerando-se como fase inicial da adolescência o período que se estende dos 10 aos a 14 anos de idade. Em geral, é nessa etapa que começam as mudanças físicas, normalmente, com uma aceleração repentina do crescimento, seguida pelo desenvolvimento dos órgãos sexuais e das características sexuais secundárias. Essas mudanças externas frequentemente são bastante óbvias e podem ser motivo de ansiedade, assim como de entusiasmo ou orgulho para o indivíduo cujo corpo está passando pela transformação.

A segunda fase da adolescência vai dos 15 aos 19 anos de idade. A essa altura, as principais mudanças físicas normalmente já ocorreram, embora o corpo ainda se encontre em desenvolvimento. O cérebro continua a se desenvolver e a se reorganizar, bem como a capacidade de pensamento analítico e reflexivo é bastante ampliada. No início dessa fase, as opiniões dos membros de seu grupo ainda são importantes, mas essa influência diminui à medida que o adolescente adquire maior clareza e confiança em sua própria identidade e em suas opiniões (UNICEF, 2011).

Utilizamos neste trabalho a definição cronológica da OMS que considera como adolescente o indivíduo de 10 a 19 anos de idade, compatível com a referência dos serviços de saúde, que foi nosso ambiente de pesquisa. Essa definição se justifica pelo fato de o indivíduo iniciar a partir dos 10 anos várias transformações no seu corpo, no seu crescimento, na sua vida emocional, social e nas suas relações afetivas.

Verificamos a importância da atenção integral da saúde do adolescente por conta das transformações sofridas nesta faixa etária, pois o adolescente vive sob uma fase

24 A adolescência se inicia com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo progressivamente sua independência econômica. Além da integração em seu grupo social, é um período em que ocorrem mudanças biológicas e fisiológicas. É neste momento que o corpo se desenvolve físico e mentalmente tornando-se maduro, dando capacidade para o adolescente gerar filhos. (OMS, 2012).

transformadora biopsicossocial. Este momento é tão importante que suas consequências terão reflexos permanentes e influenciarão positivamente ou negativamente em sua vida adulta.

Segundo Alencar (2017), a adolescência é uma fase de transformações biopsicossociais. No âmbito familiar compreende um período no qual o indivíduo não é mais visto ou tratado pelos pais como criança, mas também não é um adulto. Por esta razão, com objetivos comuns e requerendo a participação de todos, o poder público, a sociedade e especificamente os trabalhadores da saúde devem trabalhar de forma conjunta e interdisciplinar no sentido de executar as políticas públicas destinadas ao público juvenil.

O atendimento ambulatorial dos adolescentes visa prestar direcionamentos e esclarecimento quanto à orientação em planejamento familiar, Infecções Sexuais Transmissíveis (IST’s), em seu amplo sentido, informando quanto aos métodos contraceptivos e usando uma abordagem simples e accessível ao usuário.

Mesmo com carência de recursos humanos e financeiros tenta-se levar uma prática eficaz, buscando, junto à população usuária, mecanismos de combate à desinformação, pois é na informação que está o principal mecanismo de combate a certos agravos da saúde do adolescente, com uma ampla divulgação em tempo hábil de informação para total homogeneização do conhecimento e com quebras de tabus relevantes aos momentos que as usuárias estão atravessando.

Na vida, tudo se transforma e por que não os costumes de uma época? O olhar dialético que transforma as ações e estruturas, a partir da concepção de que os sujeitos se constroem estabelecendo relações consigo mesmo e com o meio que interage, não pode ser esquecido.

Ao estudarmos os fenômenos in loco o nosso olhar e o pensar dialético foram ao longo do tempo agregando valores e enriquecendo as manifestações objetivas e subjetivas de cada fenômeno de cada sujeito, que se movimentavam e configuravam ao processo de elaboração dos acontecimentos. Ou seja, para o encontro de algumas respostas da problematização da pesquisa, em sua configuração conteve em sua produção: histórias, seu conteúdo marcado por mediações, diálogos, vivências e transformações decorrentes do nosso processo de apropriação dos saberes para que, em outro momento analítico, pudesse embasar os nossos resultados.

Devemos refletir sobre políticas públicas no sentido de pensá-las como um desafio, diante dos dados crescentes de gravidezes entre adolescentes, onde a dificuldade maior será a efetivação da lei, a longa mão coercitiva do Estado e a reversão do quadro do descaso, desse público em tenra idade.