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CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - MAPP RITA DE CÁSSIA ARAÚJO

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UNIVERSIDADEFEDERALDOCEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - MAPP

RITA DE CÁSSIA ARAÚJO

O PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE – PROSAD E A LEI 12.015/09:

UMA AVALIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS

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RITA DE CÁSSIA ARAÚJO

O PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE - PROSAD E A LEI 12.015/09:

UMA AVALIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS

Dissertação apresentada à Banca do programa de Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas - MAPP da Universidade Federal do Ceará - UFC, como requisito parcial a obtenção do grau de Mestre em Avaliação de Políticas Públicas.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira

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RITA DE CÁSSIA ARAÚJO

O PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE - PROSAD E A LEI 12.015/09: UMA AVALIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS

Dissertação apresentada à Banca do programa de Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas - MAPP da Universidade Federal do Ceará - UFC, como requisito parcial a obtenção do grau de Mestre em Avaliação de Políticas Públicas.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira

Aprovada em: ______/ ______/ 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Prof.ª. Drª. Linicarla Fabiole de Souza Gomes

Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO)

__________________________________________ Prof. Dr. Gil Célio de Castro Cardoso

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por toda a sua fidelidade por não me deixar cair nas tribulações, mesmo nos momentos mais difíceis: Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, meu Deus, em quem confio.

Agradeço ao meu pai Orlando Oliveira e a minha mãe Maria Edilce, que não estavam presentes em corpo, mas em meu coração e mente. Quando obtive a aprovação no mestrado, se estivessem ainda nesta Terra, teriam ficado orgulhosos pelo feito. Pessoas de qualidades raras e que merecem todo o meu apreço e dedicação.

Minha gratidão aos meus amados irmãos, companheiros inseparáveis, refúgio e fortaleza nas angústias.

Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Américo por sua paciência e por me ajudar a dirimir as dúvidas deste trabalho.

Agradeço as funcionárias do Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas (MAPP), Vânia e Katiane, pelo auxílio prestado.

Agradeço a professora Dra. Linicarla Fabiole, amiga e professora dedicada, por me tirar dúvidas e prestar socorro em alguns momentos neste trabalho e pelas importantes contribuições a esta pesquisa. E ao professor Dr. Gil Célio, pela disponibilidade em participar da banca: o meu obrigada.

Agradeço aos colegas que fiz durante o mestrado, pessoas de bem e que procuraram ter um espírito de equipe sempre ajudando uns aos outros.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a execução da lei de estupro de vulneráveis e da atenção integral à saúde de adolescentes e jovens. Este estudo foi analisado sob a ótica dos profissionais da saúde, em uma maternidade de referência, verificando o que a lei 12.015, de 07 de agosto de 2009, trouxe de novo. Não só para a sociedade em geral (através da mudança comportamental, diante do diploma jurídico, instituído pela mesma), mas com objetivo de

apresentar uma reflexão acerca da vulnerabilidade retratada no artigo 217-a, caput, do Código

Penal Brasileiro. Assim, foi realizada uma breve discussão sobre a presunção relativa e absoluta do dispositivo, bem como foram apontadas direções que levaram tal discussão a uma compreensão da relativização, por alguns doutrinadores, da vulnerabilidade da vítima maior de 12 e menor de 14 anos. A pesquisa teve como enfoque os profissionais da área da saúde, que lidam com adolescentes com o perfil acima mencionado, em uma maternidade pública de

Fortaleza. Trabalhamos com a pesquisa descritiva por entendermos que, em suas diversas

formas, a mesma atua sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade, não interferindo nos mesmos. Para a operação de coleta utilizou-se como principal instrumento a aplicação de entrevistas semiestruturada, com perguntas direcionadas ao objeto de estudo, que nos ajudaram a conhecer a opinião dos pesquisados, seus pensamentos e sentimentos. Os objetivos específicos desse estudo foram: verificar a compreensão dos profissionais sobre a Política de Atenção Integral à Saúde dos adolescentes e jovens e a lei de estupro de vulnerável; identificar como a equipe multiprofissional compreende o dispositivo penal que versa sobre estupro de vulneráveis; verificar possíveis conflitos enfrentados pelos profissionais para o cumprimento da lei; identificar fluxos e encaminhamentos da instituição para o cumprimento do dispositivo penal. Como resultado do nosso trabalho constatamos ser necessário um urgente alerta para se criar meios eficientes e específicos de atendimento às jovens grávidas, de forma integral, abordando aspectos físicos, psicológicos e sociais, envolvendo e dando suporte às famílias, de forma a amenizar os impactos e as pressões causadas por essa nova situação, garantindo à jovem o direito de ter sua sexualidade garantida, tranquila e saudável.

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ABSTRACT

The present study aims to analyze the implementation of the law of rape of vulnerable and comprehensive health care of adolescents and young people, from the perspective of health professionals, in a reference maternity, verifying what law 12.015, of 07 August 2009 brought again, not only for society in general through behavioral change, before the legal diploma, instituted by it; but with the purpose of presenting a reflection about the vulnerability portrayed in article 217-a, caput of the Brazilian Penal Code, making a brief discussion about the relative and absolute presumption of the device, as well as pointing the directions that led such discussion to an understanding of the relativization, by some of the doctrinaires, of the vulnerability of the victim over 12 and under 14; the research focused on health professionals who deal with adolescents with the profile mentioned above in a public maternity hospital in Fortaleza. We work with the descriptive research, because we understand that in its various forms, it works on data or facts taken from reality and does not interfere with them. In order to enable this important collection operation, it was used as the main instrument, application of semi structured interviews, with questions directed to the object of study, which helped us to know the opinion of the respondents, their thoughts and feelings. The specific objectives of this study were: to verify the professionals' understanding of the Comprehensive Health Care Policy for adolescents and young people and the law of rape of the vulnerable; identify how the multiprofessional team understands the penal device that deals with rape of vulnerable; verify possible conflicts faced by professionals for compliance with the law; identify flows and referrals of the institution to comply with the penal system. Finally, there is an urgent need to create efficient and specific means of attending to pregnant young women, in a comprehensive way, addressing physical, psychological and social aspects, involving and supporting families, in order to mitigate the impacts and the pressures caused by this new situation, guaranteeing the girl the right to have her sexuality guaranteed, quiet and healthy.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Notificações ao Conselho Tutelar, distribuídos por ano ... 101

Quadro 2 – Percepção dos profissionais, frente à notificação compulsória ao

Conselho Tutelar. Fortaleza, 2017 ... 102

Quadro 3 – A lei 12.015/09 veio para proteger os menores de 14 anos dos crimes de

pedofilia, em sua opinião: se uma menor de 14 anos tiver relação sexual

com uma pessoa maior de 18 anos, sem violência, essa ação deveria ser

criminalizada, por quê? Fortaleza, 2017... 110

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição dos profissionais segundo a realização de treinamento para

cuidado da criança e adolescente. Fortaleza, 2017 ... 92

Gráfico 2 – Apresentação das ações desempenhadas pela MEAC para programar as

políticas públicas para jovens e adolescentes segundo os participantes do estudo. Fortaleza, 2017... 98

Gráfico 3 – Notificação compulsória ao Conselho Tutelar. Fortaleza, 2017... 106

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição da caracterização dos sujeitos da pesquisa. Fortaleza,

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

BIRD Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

CF Constituição Federal

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CP Código Penal

CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONAES Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior

CNS Conselho Nacional de Saúde

CPMI Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

DST Doença Sexualmente Transmissível

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica

GM Gabinete Ministerial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MAPP Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas

MEC Ministério da Educação e Cultura

MEAC Maternidade Escola Assis Chateaubriand

MS Ministério da Saúde

MJ Ministério da Justiça

ONU Organização das Nações Unidas

OMS Organização Mundial da Saúde

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PLS Projeto de Lei do Senado

PNAD Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios

PROSAD Programa Saúde do Adolescente

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STJ Superior Tribunal de Justiça

SUS Sistema Único de Saúde

SINASC Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos

SINASE Sistema Nacional Socioeducativo

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNFPA Fundo de População das Nações Unidas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 19

2 ABUSO DE VULNERÁVEL: UMA LEGISLAÇÃO DE CRENÇAS SILENCIOSAS ... 34

2.1 Vulnerabilidades e suas definições à luz da Lei nº 12.015/09 ... 39

2.2 Sexualidades x Estupro de Vulnerável x Preconceitos ... 42

2.2.1 Os direitos da criança e do adolescente à luz da Constituição Federal de 1988 e a lei 8.069 de 1990 ... 44

2.2.2 Adolescentes e jovens como sujeitos de direito ... 45

2.3 Idade do consentimento e idade cronológica ... 54

2.3.1 O direito penal mínimo ... 57

2.4 Métodos e tipos de interpretação da norma ... 58

3 PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE (PROSAD): TEXTOS E CONTEXTOS ... 61

3.1 Marco legal como consolidador de direitos ... 68

3.2 O histórico da política pública do Brasil a partir da nova ordem constitucional ... 71

3.3 Do PROSAD x Lei 12.015/09 ... 79

3.4 Contextos familiares e a contribuição da equipe multidisciplinar na execução das políti cas de proteção à criança e ao adolescente ... 85

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 88

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 121

REFERÊNCIAS ... 129

APÊNDICE A – CRONOGRAMA ... 138

APÊNDICE B – QUADRO DE NOTIFICAÇÕES AO CONSELHO TUTELAR, DIS TRIBUÍDOS POR ANO ... 139

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 140

APÊNDICE D – ORÇAMENTO ... 141

APÊNDICE E – INSTRUMENTO DE COLETAS DE DADOS ... 142

ANEXO A – CARTA DE ANUÊNCIA ... 146

ANEXO B – NESAR ... 147

ANEXO C – DECLARAÇÃO DE CONCORDÂNCIA ... 148

ANEXO D – TERMO DE COMPROMISSO PARA UTILIZAÇÃO DE DADOS DE PRONTUÁRIOS MÉDICOS ... 149

ANEXO E – FOLHA DE ROSTO ... 150

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho trata sobre a análise e execução da lei de estupro de vulneráveis e sua aplicação, bem como das relações com o Programa Saúde do Adolescente (PROSAD), sob a ótica dos profissionais da saúde, que prestam atendimento a menores de 14 anos grávidas, na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), situada no município de Fortaleza. A pesquisa começou no início de novembro de 2016 e estendeu-se até maio de 2017.

A investigação tem o compromisso de observar a execução do trabalho dos profissionais da saúde, na referida instituição, onde em suas práticas diárias estão envolvidos o enfrentamento às violências que se materializam em nível e contexto particulares do setor saúde, especificamente, as questões inerentes à lei, que trata do crime de abuso de vulnerável.

A lei 12.015, criada em 07 de agosto de 2009, veio para modificar de forma significativa o Título VI da parte especial do Código Penal Brasileiro, especificamente, no

que tange em seu artigo 217-A.1 Essa alteração veio com o objetivo de colocar a dignidade da

pessoa humana em um patamar mais elevado por tratar e combater as diversas espécies de violência sexual. Essa modificação refletiu na política pública de atenção integral à saúde do adolescente e jovem, iniciada pelo PROSAD, formulada na década de 1980, logo após a promulgação da Constituição Brasileira em 1988.

Trabalhar a gravidez na adolescência não é algo novo no histórico brasileiro. Com o advento de recursos para o armazenamento de dados, diante do aparelhamento estatal, pode-se mensurar com maior precisão os números de partos, as faixas etárias e a frequência que os mesmos acontecem através dos bancos de dados das instituições hospitalares em todo o país, e a melhora da acessibilidade por parte dos meios de comunicação e da população em geral.

A gravidez na adolescência hoje é considerada um problema de saúde pública, segundo nos mostra os dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), sobre adolescentes e jovens brasileiros. Onde se constata que, segundo Reis (2012), 32,8% de adolescentes com a idade na faixa etária de 12-17 anos são ativos sexualmente. Deste percentual, 61% são do sexo masculino e 39% do sexo feminino; estas com média de idade da primeira envergadura sexual, variando entre 15-16 anos e variando um pouco entre os meninos entre 13-15 anos.

Esse problema não é novo – apenas o seu conceito – e, ao longo dos anos, tornou-se

reprovável. É preciso recordar que o casamento precoce no cenário brasileiro em séculos

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passados era visto de forma natural em sua época. Vejamos:

[...] submeter-se, sem contestação ao poder do patriarca, aliando a ignorância uma imensa imaturidade. Casavam-se, via de regra, tão jovens que aos vinte anos era praticamente consideradas solteironas. Era normal que aos quinze anos a mulher já estivesse casada e com um filho, havendo muitas mães que se tornavam mães aos treze anos. Educadas em ambiente rigorosamente patriarcal, essas meninas-mães escapavam ao domínio do pai para, com o casamento, caírem na esfera de domínio do marido. (SAFFIOTI, 1979, p. 168).

Tais percepções nos levaram a querer pesquisar sobre o assunto pelo crescente volume de notificações aos Conselhos Tutelares do Município de Fortaleza, em torno de 69,5% dos casos atendidos, entre ambulatório e o setor assistencial. Isso segundo dados

estatísticos do ambulatório de adolescentes da instituição pesquisada (EPINFO, 2017).

Em 2006, das 333 adolescentes entre 12 e 18 anos atendidas no pré-natal, 81 tiveram o início da vida sexual antes dos 14 anos (EPINFO, 2017). Fazendo um cotejo de 2006 até o

mês de julho de 2016, das 207 adolescentes – entre 12 e 18 anos atendidas no corrente ano,

com vida sexual ativa –, 91 eram menores de 14 anos, totalizando 43%. O que podemos

observar é que em 10 anos esse número quase que duplicou.

Podemos considerar esses números maiores, diante do atendimento do ambulatório de adolescentes Infanto-Puberal, pois estamos apenas falando de pacientes gestantes. O serviço também oferece a parte de ginecologia e, nestes dados, excluímos as pacientes atendidas nesta especialidade, além dos números subnotificados, pois se somássemos as duas áreas, com certeza teríamos um número maior. Portanto, deste contexto, poderíamos concluir que, segundo a lei vigente, todos esses parceiros deveriam estar sofrendo ação penal

incondicionada2 ou medida socioeducativa.3

Assim, por entender que a educação permanente das equipes de saúde constitui um elemento-chave para a garantia, promoção e fortalecimento das políticas de saúde pública e por trabalhar em um ambulatório específico para criança e adolescentes, que atende um público de 0 aos 18 anos, no Município de Fortaleza, duas questões foram determinantes para a escolha dessa temática. A primeira que está associada às inquietações do fazer diário, onde vivenciamos na crescente demanda de gravidezes entre a faixa etária de 12 a 14 anos e a procura de pré-natal, dados esses que foram chancelados pelo IBGE em seu último censo. A

2 É a ação que deve ser iniciada pelo Ministério Público mediante a apresentação da denúncia ao Judiciário,

independentemente de qualquer condição, ou seja, não é preciso que a vítima ou outro envolvido queira ou autorize a propositura da ação.

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segunda questão: estar cursando uma disciplina do curso de Direito específica para Crianças e Adolescentes, despertando o interesse pela temática relacionada ao crime de abuso de vulnerável.

A redação do dispositivo penal trouxe uma nova tipificação penal4: a descrição de um

fato ilícito em um código ou lei e que, portanto, implica a cominação de uma pena, que veio de encontro com o cotidiano das equipes que fazem atendimentos às menores de 14 anos.

Essa perspectiva, a partir desse novo olhar, fez-nos repensar no Dever Ser profissional 5, ou

seja, a partir do dispositivo apresentado toda menor de 14 anos, atendida no ambulatório ou em qualquer dependência da Maternidade Escola, deveria ser notificada ao Conselho Tutelar.

Adicionada a discussão do novo enxerto no Código Penal, na referida disciplina do Curso de Direito, a norma em questão nos chamou a atenção, conduzindo-nos a avaliar criticamente sobre os impactos, obstáculos e fragilidades geradas pelo novo dispositivo, diante aos objetivos da política pública, especificamente, na área da saúde sexual e reprodutiva para adolescentes e jovens atendidos em instituições hospitalares, no Brasil. Desta

forma, entendemos que a política pública de saúde reprodutiva e sexual – destinada aos

adolescentes e jovens, com o advento da lei posta no Código Penal em 2009 – deveria ter

melhorado o patamar da gravidez precoce no nosso país entre menores de 14 anos.

Diante dessa exposição, como os profissionais da área da saúde poderão trabalhar

essa questão? A lei obriga a notificação compulsória6, mas, por outro lado, temos que avaliar

os vínculos gerados com as adolescentes grávidas em uma consulta de pré-natal. Só assim teremos a certeza do seguimento ininterrupto do mesmo, garantindo o estreitamento dos laços entre a equipe multiprofissional, ganhando a assistência familiar sem quebra de vínculos e prevenindo, além de outras doenças, o trabalho de parto prematuro.

Essas indagações ainda estão longe de serem respondidas, mas cabe à sociedade civil exigir estas respostas ao Poder Público: não adianta fazer leis mais rígidas se o Estado não tem como dar conta dos seus desdobramentos.

4 Conjunção carnal refere-se à introdução do pênis na vagina. A intromissão pode ser completa ou incompleta, pouco importa. Também é irrelevante que ocorra ou não a ejaculação. (...). Ato libidinoso é toda manifestação física que tem por objetivo satisfazer a lascívia (coito oral, anal, vulvar, inter femura, introdução de dedos ou objetos na vagina, no anus, contato das mãos com o corpo, lambidas etc.). É fundamental que exista efetivo contato corporal com a vítima, sem o que, não há falar em estupro. (FUHER, 2009).

5 Definimos como: o que vem primeiro? A atuação do profissional ou o dever imposto pelo Estado juiz.

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Tal temática justifica-se por ser importante estarmos diante de uma problemática social de grande relevância. Inclui, ainda, a possibilidade do estreitamento ou o alargamento da relação dos profissionais, que estão inseridos no contexto do pré-natal, com a saúde obstétrica da mãe/bebê.

Pelo complexo e de difícil entendimento para a seara jurídica, que, sem querer, a equipe, está inserida devido ao atendimento diário a menores de 14 anos, grávidas, com seus dilemas pessoais, sensos comuns, códigos de ética e suas responsabilidades perante o ordenamento jurídico brasileiro. Isso porque a relação sexual entre essa faixa etária, mesmo consentida, é crime, segundo o artigo apresentado.

Nesse cenário, quando notificado o caso e, seguido o rito processual, com o devido

processo legal, o pai da criança – mesmo coabitando maritalmente com a menor de 14 anos –

poderá ficar recluso pela prática desse crime por até 15 anos. Daí questiona-se: Como o profissional da saúde poderá trabalhar os sujeitos com um olhar diferenciado como demanda as diretrizes do programa governamental para o adolescente? Tem-se diante de si uma norma de padrões rígidos, não deixando a resolutividade dos casos sob o crivo da equipe de saúde.

Se o entendimento é de que se judicialize todos os casos de relação sexual, mesmo consentida, com menores de 14 anos, levando todos os casos a tutela do poder judiciário, iremos criar outro problema: aumento da população carcerária de forma vertiginosa.

Justifica-se, assim, o ponto de partida teórico-metodológico em torno da compreensão do profissional da saúde acerca do adolescer, crescer, amadurecer e da compreensão de saúde numa perspectiva, integral, holística e interdisciplinar.

Os procedimentos metodológicos que serão apresentados neste capítulo, numa abordagem quanti/qualitativa e onde recolhemos diversos tipos de informações, foram organizados por etapas da seguinte forma:

 Tipo de estudo

 Sujeitos da pesquisa

 Cenário do estudo

 Definição da amostra

 Coleta e análise dos dados

 Tratamento dos dados

 Cronograma

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Gil (1999) considera que a pesquisa exploratória tem como objetivo principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias no intuito de formular problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Costumam envolver, também, pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de casos e não apresentam muita rigidez no planejamento nem se utilizam de procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados.

A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, segundo Andrade (2007, p. 114), que ao fazer menção à pesquisa descritiva (fator fundamental de nossa escolha) fez-nos entender que essa via iria nos direcionar melhor ao que nos propomos estudar.

Soma-se o fato de que a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona atos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los, pois entendemos que em suas diversas formas a mesma trabalha sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade não interferindo nos dados. Procura, também, descobrir, com precisão possível a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características. Busca ainda conhecer as diversas situações e relações que ocorrem à vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, tanto no indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades mais complexas, cujo registro não consta de documentos. Nesse caso, os dados, por ocorrerem em seu habitat natural, precisam ser coletados e registrados ordenadamente para seu estudo propriamente dito.

Numa abordagem quantitativa e qualitativa, utilizamos o estudo documental e de campo, onde recolhemos diversas informações através de técnicas e instrumentos elaborados, documentos, relatórios, publicações na área jurídica, na área social, em âmbito nacional e internacional. Procuramos nos inteirar de dados epidemiológicos e estatísticos oficiais, com produções nas esferas municipal, estadual e nacional, focando em conteúdo especificamente para esta pesquisa, tendo como cenário a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC). Sobre o assunto, Minayo afirma que:

A diferença qualitativo/quantitativo é de natureza. Enquanto cientistas sociais que

trabalham com estatística apreendem dos fenômenos apenas a região “visível, ecológica, morfológica e concreta”, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas. O conjunto dos dados quantitativos e qualitativos, porém não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois, a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia. (MINAYO, 2002, p. 22).

Portanto, a partir das contribuições da Antropologia, a pesquisa qualitativa tem

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quando se refere à avaliação de políticas, programas e projetos sociais. A opção por este tipo de pesquisa ocorreu em razão dos diferentes aspectos, que estão imersos em um programa social, cujo exame minucioso exige a contextualização destes fatores no ambiente onde o mesmo se desenvolve.

A abordagem qualitativa contribuiu com a investigação contida nos objetivos específicos para ajudar na compreensão dos mesmos. Sem a ajuda dos entrevistados não teríamos conteúdo suficiente para: verificar a compreensão dos profissionais sobre a Política de atenção integral à Saúde dos adolescentes e jovens e a lei de estupro de vulneráveis; identificar como a equipe multiprofissional compreende o dispositivo penal que versa sobre estupro de vulneráveis; verificar possíveis conflitos enfrentados pelos profissionais para o cumprimento da lei e identificar fluxos e encaminhamentos da instituição para o cumprimento do dispositivo penal.

Na abordagem quantitativa os dados contribuíram no estabelecimento de parâmetros para a construção de agrupamentos para melhor compreensão da distribuição do número de profissionais da MEAC, conforme características sócio demográficas como: sexo; faixa etária; estado civil; ocupação; área de trabalho; tempo de instituição; tipo de vínculo; vínculo empregatício em outras instituições. Os dados quali/quantitativos somados fundamentaram as análises de dados, conteúdos, hipóteses e conclusões deste trabalho de pesquisa.

Após analisar as correntes metodológicas – estudadas ao longo da disciplina de

Metodologia do Trabalho Científico –, visualizamos uma vertente analítica Marxiana pelos

autores estudados, com o objetivo de compreender os fenômenos relativos ao processo de desenvolvimento do adolescente.

Assim, partimos da abordagem de Vygotsky sob a ênfase do materialismo histórico e do materialismo dialético por ele executado. Recorremos, também, a outros autores da nossa contemporaneidade para uma análise política, histórica, jurídica e psicossocial do tema proposto. Consultamos: Rodrigues (2008, 2011); Minayo (2009); Bardin (2009); Andrade (2008); Greco (2007, 2009, 2011); Nucci (2009, 2010, 2014), dentre outros.

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Nesse sentido, acreditamos que, conforme afirma Triviños (1987), o estudo descritivo permite ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema, que, partindo de uma hipótese, “aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade específica, buscando antecedentes”, ampliando conhecimentos.

A pesquisa foi realizada com 15 profissionais da saúde que prestam serviços diários a crianças e adolescentes de 0 (zero) a 19 anos incompletos, escolhidos de forma aleatória, identificando cada entrevistado com a letra “E” seguida de um número cardinal para não comprometer o sigilo de sua identificação e nem a pesquisa.

Foram entrevistados profissionais do serviço ambulatorial, emergência, sala de parto

e unidade de internação na especialidade de obstetrícia7 por situarem-se como setores de

entrada de gestantes em busca do pré-natal, intercorrências obstétricas, resolução do parto e pós-parto respectivamente. Vale considerar que o conjunto de profissionais entrevistados atendeu o critério de saturação dos dados. Acrescenta-se o fato de que, especificamente, nos detivemos aos profissionais que estavam de plantão nos dias da abordagem enquanto prestavam atendimento ao parto, puerpério ou ao pré-natal.

A pesquisa foi realizada na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, uma instituição pública no Município de Fortaleza vinculada à Universidade Federal do Ceará (UFC), pertencente à Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), estatal e vinculada ao Ministério da Educação, que administra atualmente 39 hospitais universitários federais, criada com o objetivo de aperfeiçoar os serviços de atendimento à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e de promover o ensino e a pesquisa nas unidades filiadas. O órgão, criado em dezembro de 2011, também é responsável pela gestão do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF), que contempla ações nas 50 unidades no país, pois segundo Sodré:

Sob a justificativa de maior autonomia no uso dos recursos, legalização dos contratos de trabalho e aprimoramento do processo de gestão das instituições de ensino e saúde, o governo Lula se despede de seu mandato, deixando a herança das Fundações Estatais de Direito Privado, ainda que sob nova roupagem: a EBSERH. Após a rejeição da MP n. 520 no Senado, em 2011, a então presidente da República, por meio da Lei n. 12.550, autoriza a criação da EBSERH, empresa com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio. (SODRÉ, 2013, p. 371).

A MEAC está localizada na Rua Coronel Nunes de Melo, s/n, Rodolfo Teófilo,

Fortaleza - CE, 60430-270, que tem como missão promover o ensino, a pesquisa e a

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assistência terciária à saúde, atuando de forma integrada e como suporte aos demais níveis de

atenção do modelo de saúde vigente onde encontramos o tripé de ensino, pesquisa e

extensão. Nessa ótica, a interdisciplinaridade toma parte de seu cotidiano, direcionando principalmente no cuidado ao núcleo familiar. Vejamos o que diz Ribeiro:

[...] a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), que compõe os hospitais universitários da Universidade Federal do Ceará, tendo como funções primordiais o ensino, a pesquisa e a assistência médico-hospitalar. Caracteriza-se por prestar assistência às mulheres e aos recém-nascidos em nível terciário, configurando-se como referência no Município de Fortaleza e no Estado do Ceará quanto às suas especialidades (obstetrícia, ginecologia e neonatologia), sendo ainda reconhecidas pelo Ministério da Saúde como maternidade de excelência em atendimento as gestantes de alto risco. (RIBEIRO, 2013, p. 252).

A instituição é referência na assistência materna-infantil do setor público a qual dispõe de um ambulatório para adolescentes, onde a promoção da saúde é à base de todo o atendimento e onde há execução de programas educativos e informativos para adolescentes com idade de 10 a 19 anos incompletos.

O ambulatório de adolescentes da MEAC segue sob a ótica do que foi preconizado pelo Programa Saúde do Adolescente (PROSAD), atuando prioritariamente em orientação e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, bem como problemas relacionados à gravidez precoce, questões como sexualidade, infecções sexualmente transmissíveis

(IST’s/AIDS) e relações de gênero.

A Maternidade Escola faz parte de um mecanismo de Estado, que coopera na geração de uma população jovem e saudável, buscando estabelecer um momento de interação entre profissional e cliente, respeitando seus valores, conceitos e visão de mundo. Oliveira enfatiza que:

A educação em saúde como um instrumento de construção da participação popular nos serviços de saúde e, ao mesmo tempo, de aprofundamento da intervenção da ciência na vida cotidiano das famílias e sociedades. O desafio principal da educação em Saúde é trazer abertura para debates no âmbito governamental, com os profissionais e a população. Com isso terá um avanço apontando para a construção e difusão do saber e do conhecimento visando à melhoria na qualidade de vida. (DE OLIVEIRA, 2004, p. 761).

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adolescentes no referido serviço, provenientes da rede de referência e contrareferência da Prefeitura de Fortaleza e de outros municípios do Estado. Dados esses retirados do programa Epi Info versão 6 (seis) do ambulatório de adolescentes, lembrando que, em uma pesquisa qualitativa, não há necessidade de utilização do processo de amostragem com grande número de entrevistados (GIL, 2010, p. 54).

Neste estudo, ouvimos opiniões dos profissionais que recebem menores de 14 anos grávidas, com o objetivo de responder questões pertinentes dentro do contexto que o ambiente os insere, através das diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Analisamos, também, como esses profissionais percebiam a lei 12.015/09.

A escolha desse recorte se fundamenta pelo fato de esse projeto ter como público-alvo os/as Profissionais da Área da Saúde, com suas atividades voltadas para o atendimento de adolescentes e jovens, na área de obstetrícia.

Tivemos dificuldades no delinear de nossa pesquisa quando constatamos que quase a metade dos profissionais entrevistados, 46,6%, afirmaram desconhecer a existência de alguma Política Pública de Saúde para adolescentes e jovens do governo federal.

Na população de 15 profissionais entrevistados 4 (quatro) tiveram dificuldades em

responder à pergunta de número 13: O que você conhece a respeito do PROSAD?8. Do

mesmo número de profissionais anteriormente destacados, não souberam responder à

pergunta de número 14, onde questionamos sobre: Qual ação a MEAC viabiliza para o

cumprimento das políticas públicas para jovens e adolescentes no Município de Fortaleza?

Dos 15 entrevistados, 4 (quatro) pularam a questão de número 16 por desconhecer a

lei 12.015/09, não sabendo opinar quando questionados sobre: O senhor (a) enfrenta alguma

dificuldade ou conflitos na execução da lei 12.015/09 no seu dia a dia profissional? Obs.: caso a sua resposta na questão de nº 14 tiver sido: “NÃO CONHEÇO”, pule esta questão.

Nas questões abertas, os respondentes relataram suas atitudes e enfrentamentos em seu dia a dia, acerca do conhecimento ou não da política pública para jovens, da lei 12.015/09 e o PROSAD. As questões abertas corresponderam a maior parte dos objetivos específicos propostos no trabalho.

(25)

É importante salientar, pela complexidade do tema, que a população participante desta pesquisa foi informada dos objetivos da pesquisa e só depois resolveram aceitar ou não serem entrevistados, respeitando assim sua autonomia e problemas éticos.

Como critério de inclusão consideramos os profissionais do ambulatório de adolescentes, referência no Estado do Ceará, pelo atendimento a crianças e adolescentes. Hoje, único local no Estado do Ceará específico para atendimento ao público citado, especialista no atendimento do gênero feminino de 0 (zero) a 19 (dezenove) anos incompletos.

Ainda na categoria “inclusão” escolhemos profissionais de outros setores, que no seu

lidar diário atendam menores de 14 anos grávidas, com relação sexual consentida, e que procuram o serviço para resolução da gestação ou já estão no pós-parto.

A média de partos da Maternidade Escola é de 253 partos mensais e, dentre este número, 45% das parturientes tem entre 12 - 19 anos incompletos (MEAC, 2017).

Usamos como critério de exclusão os atendimentos a mulheres vítimas de abuso sexual, pois o instituto violência não é objeto de nosso estudo e nem tão pouco o atendimento

ao gênero masculino. Pelo aspecto “violência” foram excluídas todas as mulheres de qualquer

idade, mesmo amparadas pela lei 12.015/09.

Em outro caráter de exclusão, deixamos de computar em números as menores de 14 anos atendidas pelo serviço de ginecologia, com vida sexual ativa, embora albergados pela lei 12.015/09. Isso porque a proposta do estudo era cotejar os impactos da lei, junto a Política Pública sexual e reprodutiva da adolescente grávida menor de 14 anos na tentativa de identificar quais os benefícios que a lei 12.015/09 poderiam proporcionar para a vida da menor no decorrer do pré-natal e no pós-parto.

A nossa principal preocupação quando iniciamos a pesquisa foi a compreensão da equipe multidisciplinar, diante do dispositivo penal e que versa sobre estupro de vulnerável, em uma relação sexual consentida.

Verificamos, através das falas das profissionais entrevistadas, conflitos enfrentados por elas para o cumprimento da lei. Identificamos fluxos e encaminhamentos da instituição para o cumprimento da lei, observando a eficácia e a eficiência dessa lei.

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Essa etapa configurou-se bastante produtiva e surpreendente, pois nos trouxe várias descobertas e muitas outras indagações, que inviabilizariam suas respostas neste trabalho, ao que decidimos guardá-las para explorar analiticamente em outra futura pesquisa.

Portanto, neste trabalho, procurou-se expor a concepção dos profissionais da saúde em sua ótica de atendimento a menores de 14 anos grávidas. Buscou-se percorrer os contextos dos atendimentos de cada profissional entrevistado no sentido de fazer um cotejo de fluxos e encaminhamentos da instituição, procurando entender a elaboração e execução da política dentro da instituição de acordo com os objetivos da Política de Saúde Integral dos Adolescentes e Jovens para o público no qual essa política se destina.

O convite para a participação da pesquisa foi realizado por meio da exposição da temática. Durante essa experiência, pontuamos a relevância da participação do profissional e a sua contribuição social neste trabalho mediante os resultados que seriam obtidos, através de suas percepções diárias, visto a escassez de bibliografia sobre o assunto.

Do ponto de vista analítico instrumental o conceito é fundamental para a compreensão dos dados que foram fornecidos nas entrevistas. Ele permitiu explicitar e sistematizar o conteúdo das mensagens e a expressão deste conteúdo, a partir de um conjunto de técnicas parciais e complementares. O objetivo desta abordagem foi efetuar deduções lógicas e justificativas, referentes à origem das mensagens do estudo. O material de estudo compreendeu na utilização de entrevistas semiestruturada.

Os dados foram colhidos através de entrevistas que continham perguntas abertas e fechadas no período de abril a maio de 2017. A construção teórica foi apoiada em pesquisas de livros, revistas, resenhas e documentos, que nos ajudaram a assimilar as ideias veiculadas por autores nacionais, levando o referencial teórico à realidade investigada, bem como o do ordenamento jurídico brasileiro, fazendo um cotejo do que manda a lei.

As entrevistas foram aplicadas aos profissionais, que consentiram com a pesquisa, através de termo livre e esclarecido assinados em duas vias, ficando uma via com a pesquisadora e a outra com o entrevistado. As abordagens foram feitas em seu local de trabalho e selecionados segundo o critério de acessibilidade. Não utilizamos procedimentos estatísticos para a escolha da amostra, onde foram escolhidos pela logística de atendimento: emergência, sala de parto, posto do 2º andar, e ambulatório de adolescentes.

A partir das respostas coletadas foi possível, em algum momento, a análise dos dados para aproximação da realidade.

(27)

pesquisador qualitativo uma variedade de interpretações, conforme aponta Laurence Bardin sobre a análise de conteúdo:

No plano metodológico, a querela entre a abordagem quantitativa e a abordagem qualitativa absorve certas cabeças. Na análise quantitativa, o que serve de informação é a frequência com que surgem certas características do conteúdo. Na análise qualitativa é a presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que é tomado em consideração. (BARDIN, 2009, p. 21).

O significado da análise de conteúdo é não somente produzir suposições subliminares acerca de determinada mensagem, mas embasá-las com pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus agentes ou destinatários. Logo, fazer uma inferência à análise de conteúdo é trabalhar com uma técnica de palavras, produzindo a aferição de um texto replicável ao seu contexto social.

Nesta técnica, o texto é um meio de expressão do sujeito, onde o analista busca categorizar as unidades de texto, palavras ou frases que se repetem (CAREGNATO; MUTTI, 2006). Todavia, nem sempre aquilo que se está escrito é o que verdadeiramente o emissor queria dizer. Ou, por outro lado, existe uma mensagem não muito clara que só percebemos nas entrelinhas, onde nem sempre as interpretações são manifestas de forma a serem compreendidas absolutamente, sem sabermos onde acaba a objetividade e começa o figurado.

Desta forma, atualmente, a técnica de análise de conteúdo refere-se ao estudo tanto dos conteúdos nas figuras de linguagem, reticências, entrelinhas, quanto dos manifestos. (GOMES, 2004, p. 23). Nesse sentido, os dados foram analisados a partir do que foi colhido nas próprias respostas dos profissionais da área da saúde que estavam escalados no dia da coleta. Para isso foi no contexto social que cada entrevista foi analisada e que as respostas tiveram cunho científico, este responsável pela separação de falas mais relevantes por temas e associação de falas, com conceitos síntese e com cruzamento de informações em todas as entrevistas.

(28)

Realizamos em nossa pesquisa as observações direta e participativa, por entendermos que o convívio direto com os fatos nos levaria a uma melhor compreensão da problemática e consequentemente nos direcionaria a possíveis soluções de questionamentos que foram levantados.

A utilização de entrevistas como estratégia de investigação foi necessária para contextualizar os discursos dos profissionais entrevistados, as relações pessoais e compreender as condições sociais dos envolvidos em meio ao tema estudado para entender produção de seus discursos. A fala e a observação nos possibilitaram descrever e situar os fatos únicos e os cotidianos, construindo, assim, cadeias de significações.

Foi utilizada a análise de conteúdo como técnica de análise de dados, técnica

particularmente usada para estudos de tipo qualitativo, caracterizada por sua objetividade, sistematização e inferência (RICHARDSOS, 1989).

Triviños (1995) acrescenta que o emprego deste método é recomendado para o estudo de motivações, atitudes, valores, crenças, tendências e para desvendá-lo das ideologias que podem existir nos dispositivos legais, princípios, diretrizes etc.

Nesse sentido, Bardin (2009), por sua vez, define a análise de conteúdo como:

um conjunto de técnicas da análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obterem indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção (variáveis inferidas) das mensagens. (BARDIN, 2009, p. 123).

Este método procura se afastar da ilusão da transparência dos fatos sociais e pretende compreender para além dos significados imediatos. De forma geral, esta técnica permitiu a ultrapassagem da incerteza (rigor) e o enriquecimento da leitura, mediante uma leitura atenta, que possibilitou o esclarecimento de elementos de significações susceptíveis de conduzir a

uma descrição de mecanismos de que, a priori, não detínhamos a compreensão (BARDIN,

2009, p. 122).

Foi neste cenário, portanto, que procuramos realizar uma análise da política pública cotejada com a lei, seguindo a abordagem metodológica da avaliação em profundidade de políticas públicas, onde primeiramente a definimos para só depois mostrar os procedimentos metodológicos. Assim, Rodrigues enfatiza que:

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lados, acima e abaixo, porque a compreensão focada, direcionada, certamente a mais fácil, com certeza será sempre limitada. Ou, mesmo, poderíamos correr o risco de, na busca de análise tão profunda, perdermos o contato com a superfície (...) (RODRIGUES, 2017, p. 10).

Neste diapasão, a avaliação em profundidade nos subsidiou na condução a importantes reflexões, que nos direcionou na investigação de nossos principais questionamentos. Assim, eis o objetivo de nosso trabalho: analisar a execução da lei de estupro de vulneráveis e da atenção integral à saúde de adolescentes e jovens, sob a ótica de profissionais da saúde, em um serviço gineco-obstétrico para adolescentes, ao que citamos novamente Rodrigues quando afirma que:

Uma avaliação em profundidade não poderá se restringir a um olhar focado apenas na averiguação do cumprimento das metas propostas pela política e seus resultados, ou nos itens priorizados por um programa, bem como tão somente no atendimento às suas diretrizes. (RODRIGUES, 2011, p. 57).

Desse modo, definimos o objeto a ser investigado e a população da pesquisa. O roteiro das entrevistas e o termo livre esclarecido, dentre outros, estão nos anexos no final deste trabalho. Os referidos documentos foram apresentados às pesquisadas, que receberam orientação sobre a sua participação voluntária e sobre como a pesquisa traria benefícios não só para o sujeito da pesquisa, mas para a instituição e para a promoção da saúde. Por profissionais da área da saúde entende-se por: assistente social, enfermeiro, médico, psicólogo e técnico de enfermagem.

O trabalho atendeu as exigências científicas e éticas de acordo com as Normas e Diretrizes que regulamentam pesquisas. O protocolo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (CEP/MEAC/UFC) e os procedimentos utilizados obedeceram aos Critérios da Ética na Pesquisa com Seres Humanos, do Conselho

Nacional de Saúde – Ministério da Saúde, Resolução nº 466/12 CNS/MS de 12 de dezembro

de 2012, publicada no diário oficial, em 12 de dezembro de 2012, (BRASIL, 2012).

O projeto foi registrado com CAAE nº 60517316.0.0000.5050 recebeu nº de parecer 1783285, aprovado em reunião do dia 20 de outubro de 2016, termo em ANEXO, conforme Protocolo CONEPE nº. 45/07.

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Entender a égide, a estrutura e a dinâmica da avaliação de políticas públicas em profundidade, considerando seus fatos mais significativos, levou-nos a uma visão crítica do que pesquisávamos para uma compreensão e apreensão do nosso objeto. Possibilitou, ainda, perceber o nosso objeto de análise à distância, em ampla perspectiva, para um resultado acadêmico que fomentou e auxiliou uma mudança no universo trabalhado. Por sermos servidores da Universidade Federal do Ceará, muitos desses objetivos foram indagações do nosso dia a dia, que nos levaram à construção desse problema.

No que concerne à estrutura este trabalho tem quatro capítulos. O primeiro, contabilizado a partir desta introdução, o segundo, onde trabalhamos a parte jurídica, mostrando ao leitor toda a legislação atualizada do crime de abuso de vulnerável, explanando como a doutrina recebeu esse novo diploma jurídico, explorando a incidência da lei e seus reflexos no campo fenomênico e social.

No terceiro capítulo, analisamos o principal marco histórico garantidor da criação e permanência da política pública específica para crianças, adolescentes e jovens no país, e suas diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde sexual, bem como o seu delinear histórico desde a promulgação da Carta Constitucional de 1988 até a atualidade.

(31)

2 ABUSO DE VULNERÁVEL: UMA LEGISLAÇÃO DE CRENÇAS SILENCIOSAS

O que é necessário é uma nova maneira de pensar sobre o desafio da gravidez na adolescência. Em vez de ver a menina como o problema e a mudança de seu comportamento como a solução, os governos, comunidades, famílias e escolas devem considerar como reais desafios à pobreza, a desigualdade de gênero, a discriminação, a falta de acesso a serviços, e as opiniões negativas sobre meninas e mulheres. (UNFPA, 2013, p. 14).

Com a inclusão no bojo constitucional do artigo 227, o legislador definiu quem teria o dever de assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, assistência absoluta, passando de objetos a sujeitos de direito. A partir desse dispositivo, abriu-se o debate para a família, sociedade e Estado trabalharem em conjunto, repensando as políticas públicas específicas para a construção de práticas de atenção integral à saúde, dentre as quais, a de atenção e cuidados à saúde sexual e reprodutiva.

Quando a sociedade clama por leis, seja por transformações na vida cotidiana, seja devido o surgimento de novas demandas sociais, advindas das modificações coletivas, não significa que quando positivada e colocada no ordenamento jurídico a lei promulgada consiga atender seus anseios de forma ampla e em sua totalidade.

Dadas essas considerações, neste capítulo, exploraremos a hipótese de incidência da lei, assim entendida como a situação descrita em lei, recortada pelo Congresso Nacional entre inúmeros fatos do mundo fenomênico. Explanaremos ainda o que o legislador entende como crime e como o profissional da saúde percebe este dispositivo penal no seu dia a dia e no seu dever profissional, tendo que se adequar ser cair em omissão diante da obrigação punitiva imposta pelo Estado.

O enfrentamento da problemática faz-se necessário, primeiramente, com uma abordagem técnica e clara do assunto, uma vez que não é mascarando o problema que ele deixará de existir.

Houve análise da conjuntura política atual, bem como em contextos passados, com o intuito de comparar quais influências positivas ou negativas sobre o enxerto feito à Lei para realizar uma avaliação de seus possíveis reflexos nas vidas das adolescentes menores de 14 anos grávidas e seus contextos familiares.

(32)

da proteção integral seu suporte de ações. Analisamos, ainda, como este mesmo Estado afasta a efetivação dessas ações através de leis fora da realidade social, dificultando sua execução.

Assim, iniciamos esse momento lançando uma questão: Como conciliar norma e política pública para adolescentes e jovens no que se refere à educação sexual e reprodutiva? Se a norma e política pública inviabilizam o pleno desenvolvimento da saúde desse segmento, deslocando a realidade, erigindo obstáculos à política e criando uma fragilidade para o pleno desenvolvimento da mesma dentro do ambiente hospitalar? Será que, reprimindo a sexualidade entre os adolescentes e jovens, diminuiremos os números de gravidezes entre eles? Segundo Foucault:

Existe, talvez, outra razão que torna para nós tão gratificante formular em termos de repressão as relações do sexo e do poder: é o que se poderia chamar o beneficio do locutor. Se o sexo é reprimido, isto é, fadado à proibição, à inexistência e ao

mutismo, o simples fato de falar dele e de sua repressão possui como que um ar de transgressão deliberada. Quem emprega essa linguagem coloca-se, até certo ponto, fora do alcance do poder; desordena a lei; antecipa, por menos que seja, a liberdade futura. Daí essa solenidade com que se fala, hoje em dia, do sexo. (FOUCAULT, 1999, p. 103).

Portanto, antes de adentrarmos essa seara jurídica, explicando o que a lei trata sobre vulnerabilidade, precisamos explicar a vulnerabilidade de forma ampliada, buscando abordar algumas definições fora do compêndio legal.

É mister definir o termo nos afastando um pouco do âmago forense de forma que possamos ter melhor entendimento do assunto e partirmos para o que é prescrito e descrito dentro da norma pátria, situando a temática no tempo e espaço.

Não podemos descartar a ocorrência de uma revolução sexual no final do século XX, que designou intensas modificações na cultura e na sociedade, atuando decisivamente no amadurecimento precoce da criança e principalmente do adolescente.

Algumas implicações como o fim da presunção de violência, tratada no título anterior, revogado, com certeza já era previsível, pois deu lugar a um dispositivo com sansões

mais rígidas, já que o legislador optou por criar um novo instituto denominado “crime de

abuso de vulnerável, afastando do ordenamento jurídico o instituto da presunção de violência.

Vale transcrever parcialmente o fundamento do projeto, que com a edição da Lei nº

12015/09, de 7 de agosto de 2009, nos trouxe o artigo 217-A9, tipificando como crime o

dispositivo elencado, substituindo o regime de presunção de violência contra criança ou

(33)

adolescente menor de 14 anos, que era previsto no art. 22410 do Código Penal. (BRASIL, 2004).

Esse resultado ocorreu por conta das novas demandas sociais no sentido de moldar nosso Código Penal Brasileiro às atuais realidades e necessidades urbanas. Por iniciativa da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, elaborou-se o Projeto de Lei do Senado - PLS nº 253 de 2004, que mais tarde findou na promulgação da Lei 12.015/2009, que alterou significativamente o Título VI do Código Penal. Por força desta Lei, tivemos a introdução de uma nova figura típica penal em nosso ordenamento jurídico: o artigo 217-A do CP.

O referido artigo mudou o conceito de estupro e passou a contemplar a figura masculina, pois na perspectiva anterior antes somente a mulher poderia ser estuprada. Com a nova redação, o homem deixa de ser somente sujeito ativo, do tipo penal, para também fazer parte do rol dos sujeitos passivos do crime.

O legislador poderia ter inovado ainda mais, equiparando a idade do consentimento com a definição de adolescente do ECA, prescrito no art. 2º da citada norma, quando especifica a idade, diferenciando a criança do adolescente e os atos infracionais, pois, quando menor de 12 anos, aplicam-se medidas protetivas e quando maior de 12 anos medidas socioeducativas.

Se aos 12 (doze anos) um adolescente, por infração, pode responder por medidas sócias-educativas, acompanhada por agente policial, então por analogia, poderia estar capaz de consentir nos atos da sua vida sexual. Citando Nucci:

(...) ora é preciso considerar então se esta vulnerabilidade é absoluta (não admitindo prova em contrário) ou relativa (admitindo prova em contrário). Partimos do seguinte ponto básico: o legislador, na área penal, continua retrógrado e incapaz de acompanhar as mudanças de comportamento reais na sociedade brasileira, inclusive no campo das definições de criança e adolescente. Perdemos uma oportunidade ímpar para equiparar os conceitos com o Estatuto da Criança e do Adolescente, ou seja, criança é a pessoa menor de 12 anos, adolescente, quem é maior de 12 anos. Logo a idade de 14 anos deveria ser eliminada desse cenário. A tutela do direito penal, no campo dos crimes sexuais, deve ser absoluta quando se tratar de criança (menor de 12 anos), mas relativa ao cuidar do adolescente (maior de 12 anos). Desse modo continuamos a sustentar ser viável debater a capacidade de consentimento de quem possua 12 ou 13 anos, no contexto do estupro de vulnerável. Havendo prova de plena capacidade de entendimento da relação sexual, (ex. pessoa prostituída) não tendo violência ou grave ameaça, real, nem mesmo qualquer forma de pagamento, o que poderia configurar o crime do art. 218 B, o fato pode ser atípico ou comportar desclassificação. Entretanto manter relação sexual com pessoa menor de 12 anos com ciência disso provoca o surgimento da tipificação do art. 217-A, de modo absoluto, sem admissão de prova em contrário. (NUCCI, 2010, p. 830).

(34)

Portanto, entende-se que, nos termos do artigo 1º, VI, da Lei nº 8.072/90, o estupro de vulnerável é crime hediondo, devendo inicialmente o cumprimento da pena se dar em regime prisional fechado.

Após a promulgação da lei 12.015/09 já seria presumível as divergências de diante do novo mandamento jurídico pelas mudanças técnicas e de entendimento, que trouxe em seu corpo normativo. Isso porque retirou a compreensão da presunção de violência, introduzindo

o termo vulnerável, sem, contudo, oferecer uma definição clara e objetiva ao termo.

Percebe-se, portanto, que o novo diploma jurídico nasceu causando muitas dúvidas, criando severos debates entre os doutrinadores pátrios, levando os juízes a tomarem decisões diversas e divergentes no campo jurídico.

Precisamos compreender o pensamento do legislador ao lançar a proposta de um

enxerto de lei, que a priori surge de uma necessidade social. Pelo menos essa é a principal

prerrogativa de um projeto de lei por entendermos que o Congresso existe por força de delegação social, através de sufrágio universal, pois vivemos em uma democracia representativa.

O fato é que a nova lei veio eivada de interpretações diversas, culminando em uma leva de ações em todos os tribunais brasileiros, levando o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em agosto de 2015, a sobrestar todas as ações de todo o país, relacionadas ao tema, no intuito

de em uma única sentença torná-la vinculante11 naquele Tribunal, servindo de parâmetro para

o Estado brasileiro. Vejamos a tese assentada no STJ em 26 de agosto de 2015:

Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217-A do Código Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato

libidinoso com pessoa menor de 14 anos. “O consentimento da vítima, sua eventual

experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso entre o agente

e a vítima não afastam a ocorrência do crime.” Resp. 1480881/PI, Relator: Ministro

Rogério Schelli Cruz, terceira seção do STJ, unânime, Data de julgamento: 26/08/2015. (REVISTA DOS TRIBUNAIS, 2015, p. 89).

Portanto, embora o dispositivo em questão preveja o crime prescrito no artigo 217-A,

que tem como título dos Crimes Sexuais Contra Vulnerável, o legislador perdeu a

oportunidade de definir o termo “vulnerabilidade”, pois o instituto veio para abolir a

presunção relativa e o novo termo ficou sendo interpretado de forma subjetiva, sem definição certa, tornando o entendimento do crime mais conflitante. Citando Greco:

(35)

O art. 217-A, que tipifica o estupro de vulnerável, substitui o atual regime de presunção de violência contra criança ou adolescente menor de 14 anos, previsto no art. 224 do Código Penal. Apesar de poder a CPMI advogar que é absoluta a presunção de violência de que trata o art. 224, não é esse o entendimento em muitos julgados. O projeto de reforma do Código Penal, então, destaca a vulnerabilidade de certas pessoas, não somente crianças e adolescentes com idade até 14 anos, mas também a pessoa que, por enfermidade ou deficiência mental, não possuir discernimento para a prática do ato sexual, e aquela que não pode, por qualquer motivo, oferecer resistência; e com essas pessoas considera como crime ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso; sem entrar no mérito da violência e sua presunção. Trata-se de objetividade fática. (GRECO, 2009, p. 63).

Porém, sem essa definição, aumentaram as controvérsias, na esfera jurídica, afrontando diretamente ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, bem como a inviolabilidade da vida privada, descrito no artigo 5º da CF, inciso X.

A lei obriga a notificação compulsória ao Conselho Tutelar de todos os casos que impliquem menores de 14 anos, que já tenham relação sexual comprovada, mesmo sem violência.

Nesse cenário o profissional se vê diante de dois dilemas ao atender menores de 14 anos grávidas. Primeiro: garantir a efetivação do pré-natal, de forma a incentivar seu comparecimento em todas as consultas marcadas, prevenindo o trabalho de parto prematuro e seus agravos ao bebê, à mãe e à sociedade, garantido um pré-natal e um atendimento de atenção integral. Segundo: notificar cada atendimento ao Conselho Tutelar, mesmo sem violência de forma compulsória. É neste cenário pantanoso, portanto, que iremos delinear este capítulo com seus títulos e subtítulos.

Diante das controvérsias precisamos fazer reflexões para a correta longa mão do judiciário. Devemos considerar a maior de 12 e menor 14 anos de idade absolutamente vulnerável? A ponto de seu consentimento para o ato sexual ser completamente ineficaz, mesmo com comprovada experiência sexual?

Com esta indagação estaremos pisando em um cenário crítico e paradoxal. É possível relativizar a vulnerabilidade em alguns casos, através de profissionais qualificados, pelo grau de maturidade da menor para a prática do ato sexual e do contexto no qual está inserida. Esse posicionamento nos parece o mais correto. O legislador não poderá, jamais, modificar a realidade da sociedade e suas mutações ao longo dos anos, bem como afastar o princípio da ofensividade e a aplicação da intervenção mínima do Estado.

(36)

2.1 Vulnerabilidades e suas definições à luz da Lei n° 12.015/09

Precisamos de um olhar mais sensível pós-lei 12.015/09 diante do novo título penal, que a mesma trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro.

Há a necessidade de definirmos a palavra vulnerabilidade para podermos entender os

limites que foram impostos ao profissional da saúde, pois o que percebemos é que, por um lado, temos no país uma política específica para jovens e adolescentes, com cuidados à saúde sexual e reprodutiva, que mobiliza profissionais da área da saúde a realizar de forma cotidiana a saúde educativa como forma diferenciada de atendimento.

Por outro lado, com o advento da lei, somada a tal política, temos que ter um olhar

atento ao que a norma incorporou sob o título “abuso de vulnerável”, tornando a conjunção

carnal ou prática de qualquer ato libidinoso, com menor de 14 anos, mesmo consensual como criminosa e punível com reclusão de 8 a 15 anos. Como leciona Nucci:

Vale observar que não há qualquer parâmetro justificativo para a escolha em tal faixa etária, sendo tão somente uma idade escolhida pelo legislador para sinalizar o marco divisório dos menores que padecem de vício de vontade, a ponto de serem reconhecidos pelo status de vulneráveis, daqueles que possam vivenciar práticas sexuais sem impedimentos. Verifica-se, pois, que a definição de patamar etário para a caracterização da vulnerabilidade é baseada numa ficção jurídica, que nem sempre encontrará respaldo na realidade do caso concreto, notadamente quando se leva em consideração o acentuado desenvolvimento dos meios de comunicação e a propagação de informações, que acelera o desenvolvimento intelectual e capacidade cognitiva das crianças e adolescentes. (NUCCI, 2010, p. 395).

Antes de adentramos no campo jurídico do que seria o estupro de vulnerável, precisamos primeiramente buscar algumas definições de vulnerabilidade de forma mais ampliada.

Segundo Masten e Garmezy (1995), vulnerabilidade associa-se mais estritamente ao

indivíduo e às suas susceptibilidades ou predisposições a respostas ou consequências

negativas. É interessante frisar a relação que existe entre vulnerabilidade e risco. E, de acordo

com Cowan et al. (1996), acontece a vulnerabilidade apenas quando o risco está presente;

sem risco não existe vulnerabilidade.

(37)

Ayres (1999), nesta mesma linha de pensamento, propõe a operacionalização do

entender subjetivo através da Vulnerabilidade Individual, que se refere ao grau e à qualidade

da informação que os indivíduos dispõem sobre os problemas de saúde, sua elaboração e

aplicação na prática. A Vulnerabilidade Social, portanto, que avalia a obtenção das

informações, o acesso aos meios de comunicação, a disponibilidade de recursos cognitivos e materiais.

Como cada pessoa reage de forma diferente devemos analisar cada indivíduo, em suas características individuais, e não tratar o sujeito como conceitos prontos, pressupondo que a fragilidade gerada em certa população terá sempre uma variação. Por isso que os conceitos devem ser regidos pela dialética quanto à presença de um resultado negativo. Poderemos, em contrário momento, esperar outro totalmente oposto ou simplesmente não esperar dano nenhum: no lugar da perda, o nascer de outros conceitos.

A vulnerabilidade tratada no crime de abuso de vulneráveis, introduzida pela lei 12.015/09, surgiu após um acirrado trabalho no Congresso Nacional, que montou uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), com deputados e senadores, encerrando seu trabalho em agosto de 2004. Como resultado, a produção do projeto de Lei 253/04, após profundos debates, resultou na Lei 12.015, de 07 de agosto de 2009. À época de sua promulgação e publicação provocou profundas alterações ao Código Penal, mais precisamente ao Título do Código Penal em que tratamos de “Crimes Contra a Dignidade Sexual”, anteriormente denominado de “Crime contra os Costumes”.

O tema deste capítulo versa sobre a inovação trazida ao ordenamento jurídico penal pela lei, que revogou o art. 224 do Código Penal, que, por sua vez, tratava da presunção de violência nos crimes sexuais contra, entre outros indivíduos, os menores de 14 anos, elencados no art. 217-A.

Desse mesmo diploma legal emergiu a figura do estupro de vulnerável, recolocando

a outrora e polêmica presunção de violência contra o menor de 14 anos, se absoluta ou

relativa, isto é: que prove em contrário; fora do diploma jurídico, dando vida ao termo

estupro de vulnerável, não admitindo prova em contrário.

O crime de estupro de vulnerável vem previsto no Art. 217-A do código penal e foi introduzido pela lei n° 12.015/09, que teve por objetivo abolir e atualizar matérias constantes

do título, que trata sobre os crimes contra a dignidade sexual: “Ter conjunção carnal ou

praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: comete crime”.

Anteriormente, para tratar claramente do assunto, ou seja, da sexualidade do

Imagem

Tabela 1 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa. Fortaleza, 2017.
Gráfico 4.1  –  Distribuição dos profissionais segundo a  realização de  treinamento para  cuidado da criança e adolescente
Gráfico 2 – Apresentação das ações desempenhadas pela MEAC para programar as políticas públicas para jovens  e adolescentes segundo os participantes do estudo
Gráfico 4  –  Dever profissional. 39  Fortaleza, 2017.

Referências

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