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3 A GESTÃO DO TURISMO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TURISMO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

A importância cultural da cidade do Rio de Janeiro está relacionada com a transferência da família real portuguesa, em 1808, quando se iniciou o processo de transformação da cidade em pólo cultural e econômico seguindo os padrões europeus.

A virada do século XX trouxe mudanças urbanas significativas, a partir do Movimento Bota-abaixo5, passando pela Exposição Universal do Rio de Janeiro em comemoração ao Centenário da Independência e chegando aos anos 60 com intenso processo de urbanização e especulação imobiliária da zona sul da cidade

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Foi o processo de demolição dos cortiços e favelas a fim de remodelar a cidade nos moldes de Paris e combater às doenças perniciosas. A reforma urbana foi liderada pelo prefeito Pereira Passos com o apoio do diretor de saúde pública, Oswaldo Cruz, entre os anos 1902-1906. Disponível em:<http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/bota-abaixo> Acesso em 17 Abr. 2013

pelo notório desenvolvimento cultural e visibilidade turística (IBGE, 2013). Embora os avanços urbanos, a relevância política-cultural, a transferência da capital do país para Brasília por motivos estratégicos e o esvaziamento de investimentos do governo federal, o Rio de Janeiro, mesmo no século XXI, obtém destaque no cenário nacional pela sua diversidade cultural, pelo legado histórico e importante centro econômico.

Perante as inúmeras transformações e à urbanização desordenada, a cidade posiciona-se sob os problemas inerentes às grandes metrópoles, como questões de ordem ambiental e socioeconômica que desencadeiam fatores que podem atenuar as tensões sociais. Neste contexto, Irving, Corrêa e Moraes (2011) acrescentam que

a Prefeitura do Rio de Janeiro (2004) constatou que, entre 1960 e 2000, o crescimento da população residente em comunidades de baixa renda na cidade foi de 226%. No período compreendido entre 1990 e 2008, o número de favelas praticamente dobrou no município, agravando a desordem urbana e promovendo, como resultado da falta da presença do Estado nessas áreas, a sua ocupação por grupos de narcotraficantes, que tem sido fonte permanente de insegurança à população residente e aos turistas, afetando negativamente a imagem de “Cidade Maravilhosa” (p. 431)

Ainda assim, o turismo na cidade cresce progressivamente e, da mesma forma, é prestigiado. A praia de Copacabana foi eleita a mais bonita do mundo, o Cristo Redentor uma das Sete Maravilhas do Mundo (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO) e o Rio de Janeiro será cidade sede dos principais megaeventos esportivos. Reitera-se que em 2011 a cidade recebeu 1.044.931 milhão de turistas estrangeiros (MINISTÉRIO DO TURISMO) o que equivale a 19% do total brasileiro naquele ano, enquanto que entre os anos 2005 e 2007 a cidade recebeu 30% da demanda turística internacional do país e foi considerado o destino líder no âmbito doméstico (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009 apud IRVING, CORREA E MORAES, 2011 p. 429). Apesar dos problemas sociais mencionados, os números tendem a demonstrar o vigor econômico da cidade e sua vocação para o mercado turístico.

Segundo a Secretaria de Estado de Turismo (SETUR), o Produto Interno Bruto nacional era R$2,9 trilhões em 2009, paralelamente, o estadual apontava em R$319 bilhões. Dentre os setores componentes, o turismo participa com R$13.283 bilhões significando que a atividade turística é responsável por aproximadamente 4% do PIB estadual (CEPERJ- ANUÁRIO ESTATÍSTICO, 2009 apud SETUR, s.d).

Neste cenário, acrescenta-se a habilidade da cidade em atrair eventos de porte internacional como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92) em 1992, os jogos Pan Americanos em 2007, o Rio +20 em 2012, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Essas conquistas tem uma repercussão midiática mundial positiva para a imagem do lugar incrementada pelo seu momento econômico protagonizado pela exploração do petróleo, indústria naval e pelo terceiro setor. Diante deste período promissor, a demanda turística, tanto nacional quanto internacional, tende a se maximizar reafirmando a postura da cidade como um dos principais portões de entrada de turistas para o Brasil e sua competência em administrar eventos de impacto internacional.

Em concomitância, são veiculados acontecimentos antagônicos a esses apresentando os antigos e principais problemas enfrentados pela cidade, como a precária infraestrutura urbana e a violência que contribuem para uma percepção de cidade violenta e perigosa.

Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a cidade foi eleita pela Universidade de Michigan e da Califórnia, por meio de pesquisa, a Capital Mundial da Gentileza adjetivando o carioca como o povo mais cordial e hospitaleiro do mundo; esta poderia ser uma das justificativas de sua força no mercado de turismo. Igualmente, o privilégio de ser dotada de recursos naturais e histórico-culturais que remontam a identidade nacional e a faz ser reconhecida internacionalmente como “Cidade Maravilhosa”.

Contudo, questionam-se as disparidades encontradas no perfil da sociedade carioca. Como seria possível um destino turístico violento, com graves atritos sociais e urbanos ter um povo reconhecido mundialmente cordial, se desenvolver turisticamente e ser intitulada “Cidade Maravilhosa”?

Buscando entender tais contradições, a pesquisa sobre a percepção do turista a respeito do Rio de Janeiro realizada por Irving, Correa e Moraes (2011) foi aplicada com turistas nacionais e internacionais com o intuito de entender suas interpretações sobre o destino. Segundo o estudo, a principal motivação da viagem foi o lazer- embora houvesse outras razões - e o público internacional foi predominantemente proveniente da Europa e América do Norte.

A pesquisa aponta que a beleza da cidade, materializada pelo seu patrimônio natural, é entendida como uma marca agregada pelo modo de vida do carioca,

compondo um diferencial competitivo articulado à imagem do destino e ressaltando a hospitalidade e a cordialidade da população como aspectos positivos na experiência turística. Deste modo, a cidade é qualificada pelo turista como amável, exótica e simpática; agitada e divertida quando atrelada as demais opções de entretenimento e aspectos culturais como gastronomia, bossa nova, samba e futebol.

Os autores também afirmam que a contradição verificada entre a “Cidade Maravilhosa” e a “Cidade Violenta” é percebida pelo visitante estrangeiro como uma metrópole marcada pela “desigualdade social, violência e pela pobreza enfatizada na presença da favela na maioria das áreas visitadas”. Acrescenta-se pelos entrevistados o alto custo de vida, principalmente nos atrativos turísticos, como elemento inconveniente mesmo tendo uma elevada renda mensal, mencionada anteriormente (IRVING, CORREA E MORAES, 2011, p.438).

Quando questionados sobre as expectativas anteriores a viagem, o estudo indica que os visitantes estrangeiros não percebem sua experiência turística frustrada, denotando uma vivência satisfatória ou superior àquela imaginada. Tal circunstância é relacionada a surpresa do visitante em não presenciar ou protagonizar algum ato de violência. Em contrapartida, frustram-se com a qualidade do serviço prestado, como a desorganização do aeroporto internacional, falhas de sinalização turística, a má qualidade dos mapas disponibilizados e com um número menor de pessoas bilingues que o estimado (IRVING, CORREA E MORAES, 2011). Os autores incrementam ainda:

A cidade, apesar de todo o seu potencial turístico, deixa a desejar na qualidade dos serviços para receber os turistas estrangeiros e gera frustrações importantes que precisam ser melhor internalizadas em políticas públicas, principalmente quando se considera a escolha da cidade como sede de importantes eventos internacionais nos próximos anos (IRVING, CORREA E MORAES, 2011 p. 439).

Frustram-se também, com as condições meteorológicas da cidade, uma vez que foi construída no imaginário do visitante a relação direta de sol e mar como condições ideais e permanentes na Cidade Maravilhosa. No período da visita, quando não há dias quentes e ensolarados geram decepções sobre as expectativas observadas. Cabe ressaltar que o Rio de Janeiro é um dos destinos mais visitados do país e que 47% de seu turismo receptivo internacional vêm à cidade pela primeira vez (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011).

Entretanto, a pesquisa nota que a maioria dos entrevistados analisa sua experiência turística como satisfatória, visto que, as expectativas pré- determinadas foram atendidas, surpreendendo-se com a qualidade da acolhida do povo residente e, por isso, voltariam à cidade. De acordo com a pesquisa realizada por Irving, Correa e Moraes (2011) pode-se entender que a hospitalidade e modo de ser do carioca compõem, além da exuberância natural, o diferencial turístico da cidade estimulando a vinda e o retorno de visitantes.

Neste âmbito, no estudo sobre o perfil da demanda turística internacional no Rio de Janeiro, o MTur revela que 92% dos entrevistados pretendem retornar ao Brasil, 27% vivenciaram na cidade uma experiência que superou as expectativas, 54% estavam plenamente satisfeitos, enquanto 16% tiveram suas expectativas parcialmente atendidas e 2% apresentaram-se insatisfeitos e decepcionados com a experiência vivida na cidade (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011).

Com o intuito de minimizar a percepção de “Cidade Violenta” foi desenvolvida em 2008 uma nova política pública de segurança do Governo do Estado do Rio de