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A relevância da atividade turística como indutora de desenvolvimento não depende apenas da disponibilização de recursos, mas da ação política em gerir e planejar tais recursos de forma participativa e articulada entre as instâncias governamentais para que haja a aceleração do desenvolvimento em níveis nacional, regional e local.

A abordagem sobre o desenvolvimento regional para então fortalecer a municipalidade pode ser identificada na gestão pública do turismo a partir do PNT 2003-2007 no qual, entre os macroprogramas e programas, encontra-se aquele que tem o intuito de criar roteiros turísticos integrados envolvendo municípios vizinhos e organizados em consórcios. Tal iniciativa, denominada posteriormente como Regionalização do Turismo- Roteiros do Brasil teria o intuito de tornar as regiões integrantes do roteiro turístico “competitivas no mercado internacional,

principalmente no que tange aos aspectos de qualidade e segurança (…) aproveitando as potencialidades e as diferenças de cada região brasileira.” (MTUR 2003, p.37-38). Enumeram-se os seguintes objetivos daquele plano:

 Aumentar o número de produtos turísticos de qualidade colocados para comercialização;

 diversificar os produtos turísticos contemplando nossa pluralidade cultural e diferença regional;

 diminuir as desigualdade regionais, estruturando produtos em todos os estados brasileiros e Distrito Federal;

 aumentar o fluxo de turistas nacional e internacional;

 aumentar o tempo de permanência do turista internacional com um leque maior de serviços ofertados (IDEM, p.38).

Entretanto, esta vertente de desenvolvimento consolida-se apenas no plano seguinte (PNT 2007- 2010) com o lançamento e execução do macroprograma Regionalização do Turismo. Além desse, há outros macroprogramas que buscam atender às metas propostas pelo plano que consistem em: promover a realização de viagens no mercado interno, criar novos empregos e ocupações, estruturar 65 destinos turísticos com padrão de qualidade internacional e gerar divisas (MTUR, 2003). Como pode ser observado na figura 6, o macroprograma Regionalização do Turismo (PRT) culmina na integralização de todas as demais iniciativas sendo, portando, influenciador e influenciado de ações planejadas e tendo seus resultados vulneráveis pela compexidade de variáveis envolvidas no processo.

Figura 6: Organograma dos Macroprogramas e Programas previstos no PNT 2003-2007

Cabe ressaltar que o Programa de Regionalização do Turismo- Roteiros do Brasil, lançado em 2004 constitui-se em uma política pública executada territorialmente a partir do Plano Nacional de Turismo 2003-2007. A premissa deste programa remonta àquela proposta pelo PNMT focando no planejamento participativo que repercuta positivamente nos índices socioeconômicos das cidades além de prezar pela sustentabilidade, inovação e competitividade (MTUR, 2013, p. 17).

Partindo da identificação de uma identidade regional, um elemento em comum dos municípios envolvidos, propõe-se a formatação de roteiros turísticos para que haja a diversificação de produtos turísticos competitivos.

Com relação aos resultados estratégicos daquele programa têm-se o fortalecimento do processo de gestão compartilhada, a ampliação, diversificação e qualificação da oferta turística, iniciativas de apoio à roteirização e integração da produção associada ao turismo, entre outros aspectos que foram alcançados pela aproximação da instância governamental com a gestão social (MTUR, 2013, p.19).

Como aperfeiçoamento do programa, houve a definição dos 65 destinos indutores do desenvolvimento turístico regional que origina três projetos. Dentre eles, o Índice de Competitividade do Turismo Nacional, pelo qual é possível mensurar aspectos de ordem ambiental, econômica e social que indicam o nível de competitividade dos destinos indutores contemplados. Desta forma, reconheceria a realidade vivenciada pelos municípios contemplados, além de ser um meio de se construir uma metodologia de monitoramento do PRT. Cabe esclarecer que:

os Destinos Indutores de Desenvolvimento Regional são aqueles que dispõem de infraestrutura básica e turística e atrativos qualificados que se caracterizam como núcleo receptor e/ou distribuidor de fluxos turísticos, capazes de atrair e/ou distribuir significativo número de turistas para o entorno e dinamizar a economia do território em que estão inseridos (FGV;

MINISTÉRIO DO TURISMO; SEBRAE, 2012 p.23).

A competitividade é um fenômeno dinâmico e gerí-la requer a atuação dos gestores na identificação dos pontos fortes e fracos e na avaliação do ambiente externo a fim de neutralizar as ameaças e captar as oportunidades constantemente, levando-os a uma autoanálise para que haja o planejamento e o desenvolvimento de vantagens competitivas (FGV; MTUR; SEBRAE, 2012, p.31).

Estudar a competitividade dos 65 destinos indutores do turismo regional tem, portanto, o objetivo de diagnosticar a realidade deles a fim de se ter uma perspectiva sobre o nível de competitividade para então planejar e implementar ações, com base nos princípios da sustentabilidade para melhorar ou reverter o quadro diagnosticado. Para tanto, foi feito um mapeamento da situação atual partindo de 13 dimensões que permeiam aspectos importantes para a competitividade: infraestrutura geral, acesso, serviços e equipamentos, atrativos turísticos, marketing, políticas públicas, cooperação regional, monitoramento, economia local, capacidade empresarial, aspectos sociais, aspectos ambientais e aspectos culturais. A avaliação de todos os indicadores de tais dimensões gera o índice de competitividade do destino indutor.

O esforço em quantificar este conceito abstrato dá-se ao fato de ser um tema relevante nas políticas públicas e sensível ao dinamismo do mercado. Outrossim, a expressividade do setor do turismo em âmbito mundial, acirra a competição entre as destinações e enfatiza a necessidade de se obter uma vantagem competitiva. Contudo, ainda não há uma metodologia padrão usada mundialmente para medir a competitividade de destinos turísticos, sendo assim, muitos teóricos e instituições apresentam seus modelos sejam eles explicativos como o Calgary, já apresentado, quanto qualitativos (CROUCH, 2007; WEF, 2013; DWYER E KIM, 2003; WTTC, 2013; apud CASTRILLÓN 2011).

Ainda que a metodologia utilizada no estudo brasileiro seja singular para atender as peculiaridades do país, pode-se observar que os aspectos a serem avaliados, pertinentes à avaliação da competitividade, são similares aos outros modelos na medida em que se faz uma análise paralela dos modelos de estudo da competitividade abordados neste trabalho, nos quais são avaliados a capacidade de monitoramento e do destino de se desenvolver, a infraestrutura, a acessibilidade, recursos ambientais, sociais e culturais entendidos como vantagens comparativas no modelo proposto por Crouch (2007).

Segundo o último relatório nacional que corresponde à avaliação de 2011, o índice de competitividade do turismo nacional foi de 57,5 em uma escala que totaliza 100 pontos. Tal valor corresponde à média dos 65 destinos e aponta para um nível intermediário de desenvolvimento na maioria deles. A variação destes valores pode ser observada na figura 7, a qual se demonstra o desempenho das capitais e não capitais selecionadas como destinos indutores, a partir de 2008, quando houve a primeira medição da metodologia.

Com relação ao levantamento do grupo das cidades não capitais percebe-se um leve incremento da pontuação em 2011 (51,8) quando comparado com o índice de 46,9 em 2008. Houve um crescimento constante, porém um rendimento intermediário (FGV; MTUR; SEBRAE, 2012, p.36).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2008 2009 2010 2011

Brasil Capitais Não Capitais

Figura 7: Índice Geral de Competitividade por Capitais e Não Capitais, 2008-2011 Fonte: FGV; MTUR; SEBRAE, 2012

Ao avaliar o desempenho das capitais, nota-se um ambiente mais favorável visto que aponta para um crescimento maior que a média nacional e progressivo, passando do índice de 59,5 em 2008 para 65,5 em 2011, portanto, um rendimento satisfatório. A maior produtividade das capitais em detrimento das demais cidades pode ser justificada pelo fato desses municípios deterem maiores recursos financeiros e maior grau de exigência a produtos, serviços e estrutura ofertados, reunindo características favoraveis que propiciam o maior alcance da competitividade (FGV; MTUR; SEBRAE, 2012, p.36).

Dentre os resultados das capitais, em 2010 o Rio de Janeiro demonstrou debilidade na dimensão políticas públicas, visto que o destino não possui uma instância de governança interlocutora como um conselho ou fórum municipal de turismo, tampoco segue algum plano estratégico dedicado ao desenvolvimento da atividade. Outro aspecto frágil, era a falta de articulação nas escalas local, estadual

e regional, obtendo 25,4 pontos na dimensão cooperação regional, o que demonstra o enfraquecimento desta rede sendo o conselho estadual de turismo o órgão responsável pelas ações de regionalização (CERQUEIRA, 2011 p.88).

Para Lopes (1998 p.46,47), as instâncias locais de governo enfrentam problemas não apenas em função da extensão da demanda de serviços públicos, mas também pela magnitude daquilo que deve ser administrado, uma cidade. A insuficiente qualidade da administração pode estar relacionada à deficiência estratégica e à ausência de mecanismos de avaliação e monitoramento, como também, a pouca consideração às tendências e aos processos de longo prazo.

Quanto à média nacional, ainda que cresça gradativamente, possui um rendimento também intermediário e ínfemo quando inserido no contexto internacional. Segundo o estudo de competitividade desenvolvido pelo World Economic Forum (WEF) em 2013, o Brasil está na 51ª posição dentre os países mais competitivos do mundo. Tal ranking, formado por 140 economias, é liderado pela Suiça, seguido pela Itália, Áustria e Espanha na 4ª posição, Reino Unido e Estados Unidos da América na 6ª posição. Porto Rico, Israel, Eslováquia, Barém (no Golfo Pérsico) e Chile na 56ª posição, seriam os países menos competitivos que o Brasil.

Em comparação com o ano de 2011, aquele estudo afirma que o Brasil subiu uma posição, passando da 52ª posição para a atual 51ª. Ainda que os estudos sejam metodologicamente distintos, dificultando a comparação dos resultados, ainda é um meio de apresentar-se à economia mundial e mensurar o desempenho perante este contexto.

Segundo a OMT, o número de viagens internacionais tem crescido gradativamente e demonstrado sua capacidade de adaptar-se as condições de mercado, mesmo em tempos de crise. De acordo com o órgão, o número de chegadas de turistas internacionais chegou a 1 milhão e 35 mil, em 2012, atingindo o recorde histórico com 39 milhões de turistas a mais que registrado em 2011 (996 milhões). Tal fato pode ser observado nos dados apresentados na tabela 1.

Tabela 1- Chegadas de Turistas Internacionais Ano Completo % 2000 2005 2010 2011 2012 2012 Em milhões Mundo 678 805 952 996 1.035 100 Economias Avançadas4 422 461 507 530 550 53,1 Economias Emergentes 256 344 445 466 485 46,9 Europa 389,4 447 487,6 517,5 534,8 51,7 Ásia e Pacífico 110,1 153,6 205,1 218,1 232,9 22,5 Américas 128,2 133,3 150,3 156,3 162,1 15,7 África 26,2 34,8 49,8 49,2 52,3 5,1 Oriente Médio 24,1 36,3 59,2 55,3 52,6 5,1

Fonte: Adaptado da Organização Mundial do Turismo, 2013

Mediante os resultados obtidos pela OMT, pode-se afirmar que houve um crescimento de 4% em 2012 de chegadas internacionais, liderado pelas Economias Emergentes. O relatório internacional de estudo da competitividade, promovido pelo Fórum Econômico Mundial, ressalta que tal crescimento é referente aos meses entre Janeiro e Agosto de 2012, comparado ao mesmo período de 2011( WEF 2013, p.3). As Américas também registraram o mesmo percentual de incremento, equivalentes a seis milhões de chegadas, enquanto a Europa apresentou um crescimento de 3% no mesmo período. Neste continente, a Europa Central e Oriental foram as subrregiões que totalizaram 8% de crescimento, demonstrando também um novo comportamento do fluxo turístico, antes liderado pela Europa Ocidental.

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A classificação das economias avançadas e emergentes está baseada nos critérios adotados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Neste âmbito, classificam-se Austrália, Canadá, Corea, Dinamarca, Estados Unidos, Israel, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Taiwan, Hong Kong, Reino Unido, República Checa, Singapura, Suécia, Suíça e a Zona do Euro como Economias Avançadas; Argentina, Brasil, Bulgária, Chile, China, Colômbia, Filipinas, Hungría, Índia, Indonésia, Letônia, Lituania, Malásia, México, Paquistão, Peru, Polônia, Rússia, África do Sul, Tailândia, Turquia, Ucrânia e Venezuela como Economias Emergentes. Disponível em: Perspectivas de la Economía Mundial: Esperanzas, Realidades y Riesgos. Abril de 2013, p.3 <http://fernandonogueiracosta.files.wordpress.com/2013/04/fmi-perspectivas-da-economia-mundial- abril-2013.pdf> Acesso em 06 Mai. 2013

As Américas alcançaram o total de 162 milhões de chegadas de turistas internacionais com maior parcela destinada à América do Norte, consolidando seu crescimento em 3% desde 2011; a América do Sul com 26,9 milhões; Caribe com 20,9; e América Central com 8,8.

Em tempos de globalização, os destinos turísticos competem agressivamente entre si e a tendência é o recrudescimento dessa disputa. Para encarar a concorrência, há a necessidade de um planejamento estratégico com alcance em longo prazo, monitorado constantemente para que haja adaptação às novas realidades, às necessidades dos habitantes e dos visitantes (DIAS, 2003).

A análise da demanda turística esclarece o comportamento dos fluxos turísticos, a partir da identificação dos centros emissores e receptores. Por intermédio de tais informações é possível entender algumas atitudes dos visitantes, suas motivações, traçar seus perfis e usá-las como ferramenta de gestão política e econômica.

Em uma análise mais detalhada sobre o levantamento das chegadas de turistas internacionais, elaborado pela OMT e citado anteriormente, pode-se afirmar que a América do Sul recebeu 25,8 milhões de turistas em 2011 (OMT, 2013) e o Brasil recebeu 21% deste contingente. Como pode ser observado na tabela 2, este percentual é formado principalmente por visitantes provenientes do continente americano.

Tabela 2- Principais Países Emissores de Turistas para o Brasil Principais Países

Emissores 2011

Número de turistas % Posição

Argentina 1.593.775 29,33 1º Estados Unidos da América 594.497 10,95 2º Uruguai 261.204 4,81 3º Alemanha 241.739 4,45 4º Total 5.433.354 100

No caso brasileiro, o Estudo de Demanda Turística Internacional é elaborado pelo Ministério do Turismo, cujo objetivo é monitorar os fluxos turísticos coletando informações nos principais portões de entrada de turistas no país. O estudo revela o perfil socioeconômico, as características da viagem e a avaliação de turistas estrangeiros sobre os serviços e equipamentos turísticos utilizados por eles durante a viagem.

Sintetizando o perfil da demanda turística internacional no País entre os anos de 2005 e 2011, pode-se afirmar que o Brasil se posicionou no mercado internacional como destino turístico de sol e praia, uma vez que este segmento motivou 62,1% dos turistas internacionais a visitarem o Brasil em 2011; em seguida o turismo de negócios e eventos, motivando 25,6%. Além disso, 39,1% do total de visitantes viajaram sozinhos, com média de 17 pernoites, tem a internet como a principal fonte de informação (32,6%) e 70,1% não utilizaram serviços oferecidos por agências que contribuíssem para a organização da viagem. Quanto ao perfil socioeconômico, há a predominância do gênero masculino, com idades que variam entre 32 e 40 anos, graduados e com renda individual e mensal de US$ 3298,66 em 2011 (MTUR, 2012).

Ainda segundo aquele Estudo, o uso de hotéis, flats e pousadas são os meios de hospedagem mais utilizados (52,3%), casas de amigos e parentes ou alugadas é a opção de 37% dos turistas, camping ou albergue 4,2%, sendo os resorts os meios menos procurados (1,5%) pelos turistas internacionais. .

Em 2011, a prática do lazer foi o principal fator motivacional das viagens internacionais, atraindo 46,1% da totalidade do turismo internacional brasileiro e a participação em eventos, congressos ou negócios motivou 25,6% dessa amostra. Juntas, tais modalidades de turismo são responsáveis por 71,7% do fluxo turístico do país distribuindo-o para Porto Alegre, Foz do Iguaçu, Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. Analisando o comportamento de tal fluxo, entende-se que estes destinos são consolidados, seja no âmbito do lazer ou negócios, uma vez que seus percentuais variam pouco desde 2005. Cabe ressaltar o sobressalto dos índices do Rio de Janeiro em 2007, quando a cidade sediou o XV Jogos Pan- Americanos e Parapan- Americanos, angariando 30,2% à modalidade lazer e 24,7% à eventos, congressos e negócios.

Conhecendo o desempenho do país e das cidades capitais na avaliação da competitividade proposta pelo Mtur, além de indicadores que interferem na

capacidade de competição de um destino como o número de chegadas de turistas e seus respectivos pontos emissores e o perfil desta demanda contribuem para o entendimento da recente conjuntura da atividade turística no país e no delineamento de estratégias para manter ou alcançar níveis superiores de competitividade. Buscando compreender a competitividade da cidade do Rio de Janeiro, uma das principais capitais turísticas do país, propõe-se no capítulo seguinte o estudo da gestão do turismo deste lugar, bem como das políticas públicas adotadas que visam o aumento da competitividade.