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Localizada à margem direita do rio Madeira (um afluente da jusante direita do rio Amazonas), inicialmente Porto Velho foi uma vila criada pela empresa norte-americana Madeira Mamoré Railway Company durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (1907-1912). Na realidade, com a retirada de parte dos operários, o lugarejo contava com uma população aproximada de 1.000 habitantes, assim, após dois anos do término do empreendimento a vila foi legalmente elevada à condição de município amazonense, pois naquela época essa parte território pertencia ao estado do Amazonas.

A Fotografia 1 representa a região portuária conhecida popularmente como Cai N’água, embora esse complexo ferroviário tenha sido revitalizado e transformado em centro cultural, com a enchente histórica de 2014 o local sofreu inúmeros danos e atualmente tem péssima imagem social que pouco lembra a magnitude que um dia ele representou.

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Fotografia 1: Imagem panorâmica da atual Complexo Ferroviário Madeira-Mamoré

localizado à margem direita do rio Madeira.

Fonte:http://www.newsrondonia.com.br/noticias/prostituicao+e+violencia+na+estrada+de+fe

rro+madeira+mamore/96358.(Agosto, 2017).

Em 1943, quando o Governo Vargas instituiu o Território Federal do

Guaporé a partir de partes desmembradas dos estados do Amazonas e do Mato

Grosso, a cidade tornou-se capital do território. Mas, posteriormente, com a criação em 1981 do estado de Rondônia pelo presidente João Batista Figueiredo, ela foi transformada em capital do Estado, como resultado dos investimentos do Programa de Integração Nacional (PIN).

Nas décadas seguintes, tendo por base a sinopse do censo, a cidade tornou-se destino do êxodo rural, inserindo-se entre as capitais da região amazônica que apresentou elevado crescimento demográfico, entre os anos de 1980 aos 2000. A cidade de Porto Velho localiza-se, mais exatamente, na parte Oeste da região Norte do Brasil, exatamente na porção abrangida pela Amazônia Ocidental21 no Planalto Sul-Amazônico, uma das parcelas do Planalto Central Brasileiro (Figura 1). Situa-se ali, onde o rio Madeira termina a sua descida em

21 No ano de 1967, por meio do Decreto-Lei nº 291, o Governo Federal define a Amazônia Ocidental tal como ela é conhecida, abrangendo os Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima; tal medida visava promover a ocupação dessa região e elevar o nível de segurança para manutenção da sua integridade, por isso, um ano depois, em 15 de agosto de 1968, por meio do Decreto-Lei Nº 356/68, o Governo Federal estendeu parte dos benefícios do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) a toda a Amazônia Ocidental (SUFRAMA, 2014).

70 direção à planície amazônica, um pouco além das cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio.

Figura 1: Mapa da Amazônia Legal.

Fonte: Boligian, Levon, Alves, Andressa. Geografia Espaço e Vivência, 2011.

Essa cidade foi criada no ponto em que o Madeira, já tendo vencido os trechos encachoeirados, torna-se definitivamente um rio da planície amazônica e passa a percorrer sereno, até juntar-se às águas do rio Amazonas.

Porto Velho fica a 2.589 quilômetros da Capital Federal, Brasília, e faz limite como os municípios amazonenses de Lábrea, Canutama e Humaitá, juntamente com Guajará-Mirim entre as cidades mais antigas do Estado. Na sua posição Oeste, o município faz limite com a República da Bolívia e o Estado do Acre. E, acrescente-se, aos dados, que Porto Velho faz parte da Microrregião I (Madeira-Guaporé), que possui uma área total de 65.651,18 km², distribuídos entre outros seis municípios, a saber: Buritis, Campo Novo de Rondônia, Candeias do Jamari, Cujubim, Itapuã d’Oeste e Nova Mamoré.

71 Essa capital faz parte da vasta área denominada de Amazônia Legal22 (Figura 01), que compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, perfazendo uma área de aproximadamente 5,0 milhões de Km2 (IPEA, 2014). A extensão territorial do Município é de 34.000 km2 com uma população de 519 436 habitantes, segundo os dados do Censo do IBGE/2017 (IBGE, 2017).

A sua base econômica é diversificada, observa-se a prática da pecuária com a avicultura voltada mais para o consumo que para a comercialização; seguida da bovinocultura entre as mais importantes, porém o rebanho bovino destina-se principalmente ao comércio local, a outros produtores e atravessadores da região próxima à capital, conforme identificou o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) realizado em 2005.

Nas áreas de várzea do rio Madeira, que fazem parte do Município, cultiva-se predominantemente mandioca, banana, milho, feijão, cupuaçu, arroz e melancia com uma produção direcionada para o consumo próprio e comercialização de excedente (RIMA, 2005). Entre esses, a cultura da mandioca recebe destaque dentre a produção comercial, por seu impacto na geração de renda para a agricultura local. Vale lembrar, com isso, que a farinha de mandioca é um dos principais alimentos da dieta alimentar da região Norte do Brasil, especialmente das áreas ribeirinhas. Nesse caso, percebe-se que um grande número de agricultores familiares dedica-se ao plantio e beneficiamento do produto destinando-o a fabricação da farinha e do polvilho (RIMA, 2005).

Acrescente-se que – similar a outras áreas ribeirinhas da Amazônia brasileira –, as atividades de pesca23 e o extrativismo vegetal (açaí, castanhas, látex e madeira) são bem significativas localmente. São atividades exploradas especialmente durante os períodos de vazante e seca (maio a julho) em decorrência da variação do nível da água dos rios, conforme o ciclo hidrológico do

22 No ano de 1953, com a criação da SPVEA, foram incorporados à Amazônia Brasileira os Estados de Maranhão (oeste do Meridiano de 400) e Goiás (norte do paralelo 130 de Latitude sul do atual Estado de Tocantins) e Mato Grosso (norte do paralelo 160 Latitude Sul), com a criação da SPVEA a Amazônia Brasileira passou a ser denominada Amazônia Legal, como resultado de um conceito político e não de um imperativo geográfico que teve como objetivo o planejamento e o desenvolvimento da região (SUDAM, 2014).

23 O EIA constatou que além do pescador artesanal (que pesca ao longo de grandes trechos do rio e vende sua produção nos núcleos urbanos), atualmente ao longo do Madeira, “há homens que ainda praticam a pesca tradicional de subsistência. Estes estarão usando canoas simples e apetrechos rudimentares” (EIA, 2005, p. 40).

72 Madeira e seus afluentes. Tais atividades extrativistas são bastante relevantes para a economia regional e fazem parte das práticas cotidianas da população local (ribeirinha e urbana), pois, tradicionalmente “a pesca se consorciava com a agricultura, com a caça e com o extrativismo para garantir a subsistência da população ribeirinha” (RIMA 2005, p. 37).

No Parecer Técnico (0014/2007) do MMA/IBMA que foi realizado a partir do EIA/RIMA e de documentos correlatos referentes aos aproveitamentos hidrelétricos das usinas de Santo Antônio e de Jirau, constatou-se que o Setor Terciário (abrangendo comércio e serviços) constitui o principal ramo de atividade na cidade de Porto Velho.

No setor comercial, predominavam atividades ligadas ao comércio varejista (produtos alimentícios, bebidas, tecidos, artigos de armarinho, vestuário e calçados); no setor serviços, por sua vez, confirmou-se através do estudo que a grande maioria dos trabalhadores estava alocada na administração pública estadual e federal, segurança (militar e civil) e defesa (exército, marinha e aeronáutica) e outras atividades governamentais, seguindo-se as atividades ligadas à saúde e serviços sociais.

Nesse parecer consta que a indústria ocupava o primeiro lugar em termos de estabelecimentos que estavam direcionados às atividades econômicas de Porto Velho. No ano de 2002 – conforme foi constatado através do estudo –, identificou-se 822 indústrias, a despeito disso, “os níveis de geração de emprego, produção e renda são relativamente baixos, predominando as indústrias de micro e pequenos portes, representadas, em sua maioria, por construtoras, panificadoras, serralherias, mecânicas e gráficas” (MMA/IBAMA, 2007, p. 109).

Quantitativamente, portanto, o setor industrial da capital rondoniense não contribui significativamente nos níveis de geração de emprego, produção e renda local. A construção das UHEs gerou grande expectativa de crescimento econômica para a região com a promessa de implantação de parques industriais, como iniciativas voltadas ao agronegócio, à exploração de minérios e turismo.

Na fase da pesquisa exploratória, realizada entre os dias 04 e 08 de junho de 2014, pode-se constatar que o comércio ambulante é bem expressivo na cidade de Porto Velho, concentrando-se, nas praças Jonathas Pedrosa e Marechal Rondon, localizadas na Avenida 7 de Setembro e, igualmente, na

73 calçada da Rua Barão do Rio Branco. Nesses locais – dentre outros da área central dessa capital –, são comercializados especialmente confecções (vestuário, peças íntimas masculinas e femininas), bijuterias artesanais, capas para aparelhos de celular e, em quantidade e variedades diversas, CDs e DVDs de filmes e músicas pirateadas.

Ali, cotidianamente – em meio à profusão de transeuntes, trabalhadores informais e moradores em situação de rua –, compartilham dos mesmos espaços, vendedores/as das barracas de comidas (água, mineral, churrasquinhos, peixe- assado, baião de dois, vatapá, etc.) e lanches (cachorros-quentes, sanduíches, cafés com leite, sucos, etc.). Dentre as quais, dispõem de amplo prestígio as vendedoras de tacacá e tapioca que fazem parte da paisagem urbana da cidade, bem antes que os/as demais trabalhadores/as ambulantes. Elas, com seus carrinhos e “bancas” espalhadas pela cidade ou à porta de suas casas, são parte integrante da paisagem urbana de Porto Velho, acompanhando ritmo do seu desenvolvimento histórico e econômico.

Vale lembrar que desde a sua formação, Porto Velho foi centro de atração de frentes pioneiras e de migração de agricultores e trabalhadores de outras regiões do Brasil e, quando comparados o censo demográfico por década, constata-se que o aumento acelerado dos índices populacionais tem relação com o processo migratório. Isso pode indicar que há uma identidade em constante (re)construção e, portanto, aberta a estabelecer intercâmbios com outras culturas. Isso considerando que desde as origens da cidade, a população local habituara- se à presença de não nativos, ou ainda, dos migrantes que passam a contribuir para a construção e a formação da identidade regional.

É, sobremaneira, a partir do que se afirmou anteriormente, que inferimos haver uma predisposição latente dos habitantes locais para estabelecer vínculos de pertencimentos sociais e culturais com pessoas oriundas de outras regiões. É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de ter-se estabelecido processos de interações com sujeitos (não informantes da pesquisa) durante a fase exploratória; oportunidade em que se conversou de forma descomprometida e livre, sem os efeitos das relações de poder dentro do campo de pesquisa (pesquisador/informante).

74 Durante essas interações se falou de aspectos pitorescos da cidade a questões mais objetivas acerca da percepção dos interlocutores sobre a construção das UHEs e, sobremaneira, dos seus efeitos sobre a cidade. Não deixou de ser circunstancial que, a despeito do interesse específico desse pesquisador em conversar acerca da prostituição feminina fomentada pela construção das hidrelétricas, não houve qualquer tipo de questionamento acerca de tal interesse.

Nesse logradouro, a Avenida 7 de Setembro, o local no qual foram estabelecidos os processos de interlocução referidos anteriormente, é igualmente onde se concentram as lojas de comércio popular da cidade, é, também, para onde convergem as principais linhas de transporte coletivo da cidade. Na sua área central, próximo à região portuária, estão localizadas duas praças importantes, as Praças Jonathas Pedrosa e Marechal Rondon, e essa última foi palco de várias manifestações culturais e políticas.

Relativamente jovem – se comparada a outras capitais brasileiras, marcadas pelas crescentes industrialização e urbanização –, Porto Velho apresentou baixo crescimento demográfico por décadas seguidas e com uma inexpressiva industrialização, caracterizando-se por uma economia extrativista e com um percentual significativo da população, concentrada principalmente em áreas rurais. Ainda que, após os anos de 1980, essa cidade tenha alcançado um crescimento demográfico acelerado proporcionado pela migração, ela manteve-se com características de cidades pequenas.

Não se pode perceber à primeira vista a forma mais bem acabada da ideia de “zona de meretrício” na cidade Porto Velho, idealizada como espaços geograficamente estruturados para oferta de sexo comercial, sob o controle de agentes e representantes do poder público, lugares de sociabilidades e de sexualidades insubmissas (LEME, 2009; PEREIRA, 2004; RAGO, 1991; SIMÕES, 2010). Ao que tudo indica essa capital brasileira não foi submetida às ações de caráter sanitarista, fundamentadas na perspectiva regulamentarista da prostituição, que dos fins dos séculos XIX há aproximadamente por volta de meados do XX segregaram e confinaram prostitutas em zonas de baixo meretrício.

Não foi identificada no universo pesquisado, a localização de uma região que abrigasse exclusivamente estabelecimentos de prostituição. A prostituição em

75 ambientes sociais acontece em bares da região portuária e central (parte do centro histórico), bares localizados nas proximidades do terminal rodoviário e na região conhecida como Trevo do Roque (nos cruzamentos das ruas Nações Unidas e Miguel Chaquian, Rio de Janeiro e João Pedro da Rocha) e BR – 364. São inúmeros os estabelecimentos que em meio aos bares e “lanches” prestam- se como lugar de interações entre as mulheres e seus clientes.

Boates tradicionais como “Maria Eunice” e “Tartaruga” dos tempos do ex- Território Federal de Rondônia resistem na região central, perdendo o “glamour” da época dos garimpos (diamantes, cassiterita e ouro) e dos “clientes importantes”, conforme a narrativa nostálgica de uma prostituta entrevistada no segundo momento das pesquisas de campo. A prostituição de rua é outro ponto de resistência da cidade, em meio aos pânicos morais e denúncias de situações de exploração sexual, acontecendo principalmente no bairro São Cristovão e na Avenida Carlos Gomes.

À vista disso, escolhi os bares de prostituição como instigantes lócus de pesquisa, especialmente por serem espaços de sociabilidades masculinas que, como já adiantei, ocuparam expressivamente o cenário urbano da capital rondoniense no contexto de construção das UHEs. Em Jaci Paraná, nos deparamos com uma modalidade de prostituição onde as trabalhadoras sexuais moravam e atuavam no mesmo local.

Outro ponto interessante que motivou a escolha tem a ver com as especificidades desses lugares que dão lugar às modalidades de prostituição que parecem escapar à lógica comum do mercado do mercado do sexo; diferentemente das tradicionais boates e similares, nos bares de prostituição não se observa a oferta de serviços sexuais especializados, a cobranças de diárias e o controle das práticas das prostitutas por um agenciador (Fotografia 2).

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Fotografia 2: Sequência de bregas, distrito de Jaci Paraná (RO). Fonte: Pesquisa de Campo (Novembro, 2015).

Isto posto, inicio o próximo capítulo realizando uma discussão que fundamenta a pesquisa e situa a interseção das categorias gênero, sexualidade e autonomia com o trabalho sexual. Utilizo o modo impessoal como uma estratégia retórica que visa transferir, da figura do pesquisador, para perspectiva teórica a responsabilidade pelos resultados. Trata-se de um procedimento inspirado em Rubem Alves ao afirma que: “O estilo não fala. É o objeto que deve falar por meio dele. Daí o estilo impessoal, vazio de emoções e valores” (ALVES, p. 155, 2007).

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CAPITULO 2

GÊNERO, SEXUALIDADE E AUTONOMIA: A INTERSECÇÃO COM O TRABALHO SEXUAL

Do ponto de vista econômico, sua condição [prostituta] é simétrica à da mulher casada. [...] Para ambas, o ato sexual é um serviço; a segunda é contratada pela vida inteira por um só homem; a primeira tem vários clientes que lhe pagam tanto por vez. Aquela é protegida por um homem contra os outros, esta é defendida por todos contra a tirania exclusiva de cada um. Em todo caso, os benefícios que tiram de seu corpo são limitados pela concorrência; o marido sabe que poderia ter tido outra esposa: o cumprimento dos “deveres” não é uma graça, é o cumprimento de um contrato(Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo, Vol. I, 1988, p. 362).

Na primeira seção deste Capítulo, situa-se a discussão sobre trabalho sexual apontando o seu desenvolvimento como pauta dos feminismos nacional e internacional. Inicialmente situamos os atuais modelos legais da prostituição e as noções de exploração que têm permeado os debates nos âmbitos acadêmico e jurídico brasileiros. Enfatiza-se as posições assumidas pelas correntes feministas de orientação radical e liberal para situar as noções de “prostituição” defendidas por essas correntes de pensamento feminista.

Na subseção desta discussão, são tomadas como referência as discussões travadas no debate feminista para situar o estatuto legal da prostituição adotado atualmente pelo Brasil, bem como as implicações dessas discussões sobre as propostas de regulamentação do trabalho sexual. Consta-se que essa atividade laboral é complexa e, a despeito de ser reconhecida pela Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) como um campo de prestação de serviços de natureza sexual, a prostituição ainda é tratada de forma heterodoxa nos diferentes âmbitos do Estado e da sociedade civil.

78 Na segunda seção deste Capítulo, realiza-se uma discussão que situa o surgimento dos conceitos de gênero sob os olhares das Ciências Sociais, desenvolvido especialmente a partir do construcionismo social, e suas contribuições para os estudos feministas nos fins da década de 1980. Butler e Scott podem ser incluídas entre as teóricas feministas que buscam refletir embasadas no construcionismo social, pensamento que tem as suas bases fundadas na ideia de que a realidade social é resultado exclusivo da construção humana, cultural e histórica. Os estudos que partiram desta perspectiva abandonaram a ideia fixa de uma base natural sobre a qual agiria a cultura, buscando compreender o sexo com uma categoria teórica determinada inteiramente pela cultura e pela história (CARVALHO, 2011).

Na subseção da segunda seção, indicamos de que forma essas abordagens influenciaram o olhar sobre a interpretação dos dados coletados no campo de pesquisa; posteriormente são apresentadas as principais ideias de Dolores Juliano (2005) que possibilitam ampliar o olhar acerca das desigualdades de gênero, expressas nos papéis sociais femininos e a sua intersecção com o trabalho sexual. Tal intersecção tende a produzir efeitos sobre a capacidade de agenciamento da trabalhadora sexual em termos da autonomia.

Na terceira seção, é situada a categoria de análise “sexualidade” incorporada pelos feminismos pós-modernos dos fins dos anos 1980, cuja base conceitual de análise fundou-se, inicialmente, nos estudos de Michel Foucault. A leitura realizada acerca desse dispositivo histórico de poder confirma que a intersecção entre gênero e sexualidade produz categorizações que situam uma sexualidade normal e saudável em oposição a uma anormal e patológica, a partir das quais são situadas as condutas sexuais das trabalhadoras sexuais.

Na subseção da terceira seção, aponta-se que a sexualidade abrange uma totalidade que alcança para além do corpo físico compreendendo relações afetivas, econômicas e culturais e, também, interesses recíprocos, realização de fantasias, percepções de mundo e liberdades individuais. Toma-se a sexualidade como um dispositivo de poder, problematizamos os efeitos da articulação entre prostituição e sexualidade.

Na quarta seção, recupera-se brevemente a noção de autonomia adotada inicialmente pelo movimento feminista dos anos 1960 para, posteriormente, situar

79 a partir Àlvarez (2015) os aspectos normativos da “autonomia pessoal”, um conceito imprescindível para compreender os processos de escolhas das trabalhadoras sexuais.