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Contextualização política, económica, cultural e histórica do país

Capítulo III – Processo político de construção e de aprovação da Lei de Bases do Sistema

1. Contextualização política, económica, cultural e histórica do país

A Guiné-Bissau é um país africano situado na costa ocidental do continente africano. É limitada a Norte pela República do Senegal, a Sul e Leste pela República da Guiné-Conakry. A sua superfície total é de 36.125 Km², incluindo uma parte insular composta pelo arquipélago dos Bijagós, ilha de Bolama, ilha de Pecixe e por diversas ilhotas que entrecortam a costa. Os seus principais rios são: Mansoa, Cacheu, Geba e Corubal. É administrativamente dividida em três províncias, oito regiões e um setor autónomo e trinta e seis setores (Furtado, 2005, pp. 213-220). A sua população é estimada em 1.5 milhões de habitantes, estando a esperança média de vida à nascença estimada em 48.6 anos (PNUD14, cit. Instituto, 2012). A sua população é composta por um elevado número de grupos étnicos e cada grupo étnico possui a sua própria língua, hábitos e cultura. Essa especificidade populacional coloca desafios profundos à construção de padrões e valores socioeducativos nacionais, uma vez que a língua oficial, a língua portuguesa, é faladapor pouco mais de 12% da população que habita principalmente nos centros urbanos. O crioulo, que é a língua nacional, é falado por mais de metade da população. Essa multiplicidade linguística constitui-se numa das maiores barreiras para a construção de padrão nacional e socioeducativo unitário (Furtado, 2005, pp. 216-217).

A Guiné-Bissau é um país essencialmente agrícola, a agricultura é a base efetiva da sua economia: o setor contribui com 50% na formação do Produto Interno Bruto (PIB), ocupa 83% da população ativa e representa 93% das exportações do país (DENARP, 2003, cit. por Furtado, 2005, p. 232).

A Guiné-Bissau é uma antiga colónia portuguesa. Conquistou a sua independência de Portugal, em Setembro de 1974, na sequência de onze anos de luta armada de libertação nacional (Pereira, 1977, cit. por Furtado, 2005, p. 224). Após o reconhecimento formal da independência da Guiné-Bissau, em setembro de 1974, o sistema político guineense evoluiu sob o regime de partido único até 1991, sob o comando do PAIGC, partido definido como “ força dirigente da sociedade e expressão suprema da vontade soberana do povo” que levou à proclamação da Guiné-Bissau como República da Guiné-Bissau

14 http://www.ipad.mne.gov.pt/Cooperação%20Bilateral/GuineBissau/Paginas/default.asp, consultado em 6

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

(Constituição da República, capítulo 1, artigo 6.º). A partir de 1991, o sistema político guineense começou a ganhar novos contornos, assinalando o início do processo de transição política de um regime de partido único para um regime pluripartidário. A transição política de um regime de partido único para um regime multipartidário foi acelerada por pressões externas, nomeadamente, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional sob a ameaça de suspensão do seu apoio ao país em 1991. A posição dessas duas entidades internacionais foi apoiada por outros financiadores do país e três anos depois aconteciam as primeiras eleições multipartidárias no país, a 3 de julho de 1994 (Koudawo & Mendy, 1995, cit. por Furtado, 2005, pp. 224-227). Com essas eleições “os organismos de cúpula do aparelho estatal e as estruturas regionais e setoriais” mais importantes deixaram de ser ocupados apenas por dirigentes do PAIGC e seus militantes destacados, independentemente do seu nível de preparação e experiência, como acontecia no passado, isto é, após a luta de libertação nacional liderada pelo PAIGC (Furtado, 2005, p. 225).

A Guiné-Bissau, desde a sua independência até à atualidade, tem vivenciado grandes sobressaltos ao nível político e militar. O país é marcado por constante instabilidade político-militar que afeta profundamente o seu desenvolvimento socioeconómico e cultural: “Na década de 2000 a vida pública na Guiné-Bissau, foi marcada essencialmente pela persistência da instabilidade política, fragilidade do Estado e não observância dos preceitos do Estado de Direito democrático, particularmente no que se refere à submissão do poder militar ao poder civil” (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, p. 12). As persistentes convulsões políticas governativas têm como consequência mudanças constantes do corpo governativo. De 2000 a 2004 a duração média de cada governo na Guiné-Bissau não ultrapassou seis meses e de 2004 a 2009 não ultrapassou dois anos, devido à sucessivas interferências dos militares nos assuntos políticos e de governação (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, p. 12). Essas constantes instabilidades político-militares interferem no desenvolvimento

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

Essa situação impunha que as eleições legislativas fossem realizadas, mas devido às dificuldades em se realizar as eleições legislativas a Assembleia Nacional Popular foi dissolvida pelo Presidente da República, João Bernardo Vieira, a 5 de agosto de 2008 (Decreto-Presidencial n.º 57/2008) e o governo de consenso nacional, então liderado por Eng.º Martinho N’Dafa Cabi, demitido pelo Presidente da República, João Bernardo Vieira, a 5 de agosto de 2008 (Decreto-Presidencial n.º 58/2008). Foi criado um governo de iniciativa presidencial liderado por Carlos Augusto Gomes Correia, a 5 de agosto de 2008, com mandato de pouco mais de dois meses, incumbido de preparar as eleições legislativas e de gerir os assuntos correntes do país (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, p. 13). As eleições legislativas tiveram lugar a 16 de novembro de 2008 com vitória do PAIGC (Resolução, n.º 2/2009), mas foi “em janeiro de 2009 que a Guiné-Bissau entrou num novo ciclo governativo com a implementação principalmente de um programa de saneamento das finanças públicas, criação de melhores condições para a implementação de reformas nos setores de defesa e segurança, da função pública e da justiça” (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, p. 13). Apesar desse ambiente desfavorável motivado por instabilidade política e institucional, graves carências de infraestruturas económicas de base, o país apresentou uma taxa de crescimento anual entre 2008 a 2009 superior a 2006 e 2007. A taxa de crescimento anual, em 2008 a 2009, era, em média, de 3,1%, contra 1,2% de 2006 a 2007. Esse crescimento foi impulsionado pelo setor agrícola, que cresceu 6,3% em 2009 (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, p. 14). Os resultados positivos da gestão macroeconómica conduziram o país, em dezembro de 2010, à obtenção do Perdão da Dívida dos Países Altamente Endividados (HIPIC), mais de 86,5% da dívida guineense foi perdoada (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, pp. 13 e 109).

A taxa de analfabetismo em 2009 estava estimada em 56%, em 2010 essa taxa diminuiu para 50.3% (Ministério de Economia, Plano e Integração Regional, 2011, p. 21 e dados do Ministério da Educação da Guiné-Bissau, cit. por Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, 2012). Como se pode constatar, a Lei de Bases do Sistema Educativo guineense foi elaborada no momento em que o país procurava entrar na normalidade, isto é, na busca de estabilidade política e institucional.

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

2. Construção política da Lei de Bases do Sistema Educativo guineense