• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III – Processo político de construção e de aprovação da Lei de Bases do Sistema

2. Construção política da Lei de Bases do Sistema Educativo guineense

3.2 Grupos sociais envolvidos no processo

Na construção da Lei de Bases do Sistema Educativo guineense estiveram envolvidos no processo diferentes grupos sociais como professores, pais e encarregados de educação, várias ONG com intervenção no domínio da educação, associações comunitárias de base, alunos, ministros/governantes que exerceram cargos na educação, especialistas em educação, padres das Igrejas Evangélica, Católica e Muçulmana; associação de escolas privadas, o Sindicato Nacional dos Professores (SINAPROF); o Sindicato Democrático dos Professores (SINDEPROF), liceu João XXIII (uma escola da Igreja Católica), associação de pais e encarregados de educação, Unicef, Técnicos do Ministério da Educação, Diretores Gerais do Ministério da Educação e Diretores Regionais da Educação:

“ Os grupos sociais [que estiveram envolvidos no processo], primeiro os Professores, os Pais e Encarregados de Educação, as ONG que trabalham no domínio da Educação, também os Parceiros Sociais, as Associações de Base, Associações Comunitárias de Base. São esses os grupos sociais que são considerados atores também do Sistema Educativo e que o Ministério [da Educação] achou por bem partilhar com eles a sua visão de organização do Sistema [Educativo] e recolher também as suas perceções e recolher expetativas.” (E2)

“Discutimos sobre o ano de 2010, houve muita discussão com professores, alunos, pais e encarregados de educação, ex–ministros e ex–governantes que passaram pela educação, especialistas em matéria da educação. Falei com alguns parceiros estrangeiros, com alguns países, contatei os países da sub-região, sobretudo o Senegal. Contatei Portugal […]. Discuti com os religiosos, com os imames, os padres da igreja católica, igreja evangélica, outras confissões religiosas. Discuti com os Muçulmanos, com ação islâmica sobre o que eles pensavam sobre a educação. Foi na base dessa discussão que traçamos o perfil e com apoio da Unicef contratamos o jurista e dei-lhe orientação do que deveria ser a Lei de Bases..” (E1) “Para além da Associação de escolas privadas também participaram os Sindicatos, o SINAPROF, não é?, Sindicato Nacional dos Professores [SINAPROF] e o Sindicato

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

Democrático dos Professores [SINDEPROF] são os dois Sindicatos do setor da educação, participaram e deram a sua opinião. E ainda dentre as escolas privadas para além da Associação como eu disse, o Liceu João XXIII, que é uma escola da Igreja Católica, também teve uma participação notável, dando opiniões não é?, quanto aquilo que devem ser soluções a constar da Legislação.” (E4)

“ […] Associação de Pais e Encarregados de Educação também participou, o que significa que nós tínhamos lá a representação dos Pais e Encarregados de Educação.” (E4)

“ […] francamente foi através do fundo posto à nossa disposição pelo Unicef que conseguimos realizar esse trabalho [de construção da Lei de Bases do Sistema Educativo].” (E1)

3.2.1 Razão da inclusão dos diferentes grupos sociais no processo

As razões que estiveram na base da inclusão desses grupos sociais no processo são diversas. Esses grupos sociais foram incluídos no processo por serem considerados os atores que irão promover os princípios estabelecidos na Lei de Bases do Sistema Educativo, por as suas opiniões serem apreciadas pelos utentes do sistema educativo e por fim, pelo facto de cada grupo possuir a sua própria filosofia de trabalho:

“ […] [o que ditou a participação desses grupos sociais] é porque são atores que irão levar a cabo portanto toda essa visão, todos esses desígnios que o Ministério da Educação pensa ser importante partilhar com todos, num princípio de participação democrática, de gestão conjunta com comunidades, portanto foram essas as motivações que estiveram na base de envolvimento desses grupos sociais.” (E2)

“A opinião das escolas, dos Sindicatos, por exemplo, é muito apreciada pelos utentes [do setor educativo]. Por exemplo, Associação de Pais e Encarregados de Educação também participou, o que significa que nós tínhamos lá a representação dos Pais e Encarregados de Educação. E portanto, de modo geral, a população aprecia, os utentes em particular apreciam o fato […] desse processo ter contado com a participação dos Sindicatos e da Associação dos Pais e Encarregados de Educação e Associação das Escolas Privadas.” (E4)

“Há vários parceiros e como sabe cada parceiro tem a sua filosofia. […] independentemente da origem, nacional ou estrangeiro. Mas toda essa filosofia é estabelecida nesse Grupo Local de Educação lá é que discutiu-se as questões que têm de ser feitas. [no processo de construção da Lei de Bases do Sistema Educativo] .” (E1)

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

“ [os grupos sociais têm] o papel de controlo e de supervisão à família naturalmente ao nível social em que a deve inserir-se na comunidade, ou seja, fazer parte dela.” (E2)

“ Têm vários papéis, primeiro papel de mobilização social, vai se mobilizar a comunidade para que se interesse mais pela escola, para que se interesse mais pela educação dos filhos.” (E2) “ [ os grupos sociais] têm papel como eu já disse que é de controlo […] de levar para as escolas os … que foram elaborados na comunidade e apoiar as escolas a empenharem-se cada vez mais com a comunidade.” (E2)

Com base no discurso acima apresentado concluímos que coube aos grupos sociais o papel de controlo da execução da política educativa aprovada pelo Governo.

3.2.3 Fatores que legitimam a participação dos diferentes grupos sociais na construção de política educativa nacional

As informações revelam que a participação dos grupos sociais na construção da política educativa nacional é legitimada por esses grupos serem detentores de saberes e por conhecerem o funcionamento do sistema educativo:

“A legitimação [da participação dos grupos sociais na construção da política educativa nacional] tem haver com o facto deles serem detentores de conhecimentos, de seres pessoas que conhecem o sistema educativo, entidades que conhecem o sistema educativo e o facto da opinião pública nacional ter portanto reconhecido essas valências deles e verem com bons olhos o facto deles terem podido dar as suas opiniões.” (E4)

No caso específico da elaboração da Lei de Bases do Sistema Educativo, a intervenção dos grupos sociais no processo foi legitimada por se prever, com a criação da Lei de Bases, a existência de estruturas educativas de participação desses grupos sociais na construção de políticas educativas nacionais. Desta forma, era-lhes permitido participar e pedir contas à Administração Escolar, a Entidades e Organismos Oficiais sobre o que se passa com a educação. A Lei de Bases prevê a criação do Comité de Gestão Escolar, do Comité de Supervisão das Escolas e do Conselho Regional de Educação, segundo o testemunho de um dos nossos inquiridos:

“ Esse papel [dos grupos sociais] é legitimado primeiro porque a Lei de Bases [do Sistema Educativo] prevê a criação de Comités de Gestão de Escolas, Comités de Supervisão das

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

Escolas, prevê a criação de Conselhos Regionais de Educação e também o Conselho Nacional de Educação em que devem participar todos os atores. […] a legitimação é exatamente isso de poderem cobrar, como diz o brasileiro, isso significa que teriam que ter controlo, pedir conta, portanto, à administração escolar, às entidades e aos organismos oficiais.” (E2)

3.2.4 As contribuições dos grupos sociais no processo

As contribuições dos grupos sociais registadas no processo da construção da Lei de Bases do Sistema Educativo são sobretudo contribuições a nível de opiniões, propostas e ideias relativamente àquilo que deveria ser a Lei de Bases do Sistema Educativo. O facto desses mesmos grupos sociais terem apoiado apenas com opiniões, propostas e ideias, é fundamentada por serem grupos com poucos recursos para apoiarem o Ministério da Educação. Mas as suas contribuições foram apreciadas pelo Ministério da Educação, tendo em conta que se afirma que se chegou ao produto final a partir das mesmas:

“A contribuição [dos grupos sociais] antes de mais é uma contribuição a nível de ideias, a nível de propostas não é?. Agora a contribuição de outra natureza, tirando por exemplo a escola João XXIII, o Liceu João XXIII que noutras ocasiões para além de ter contribuído [com ideias/propostas], disponibilizou a sua sala para acolher as reuniões de Conselho Diretivo, mas isso já numa fase mais avançada, quando chegámos à discussão do plano curricular, portanto as contribuições são mais ao nível das ideias que são válidas, são muito válidas.” (E4)

“ Entidades não estatais não têm muitos meios para apoiar o Ministério da Educação. E apoiaram no que diz respeito à sua participação no debate, isso é que era muito importante para o Ministério [da Educação].” (E2)

“ Como eu disse, houve discussão inicial. Na base da discussão inicial preparou-se o Anteprojeto da Lei de Bases [do Sistema Educativo] e foi submetido esse Anteprojeto e cada um deu a sua opinião. As opiniões que deram do Anteprojeto serviram para fazer as correções que deviam ser feitas […].” (E1)

Dissertação de mestrado Luísa Lopes