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Capítulo II – Metodologia de investigação

3. Técnicas de recolha de dados

As técnicas não são autónomas do método, pelo contrário dependem dele. É o método que seleciona as técnicas em função das hipóteses de trabalho e do conjunto de indicadores pertinentemente definidos, com base no modelo de análise previamente concebido para a concretização do estudo de investigação (Lopes & Pardal, 2011, pp. 70- 71). Assim, atendendo ao modelo de análise definido e aos objetivos traçados para o nosso estudo, escolhemos como técnicas de recolha de dados a entrevista semiestruturada e a análise documental, sobre as quais fazemos de seguida uma breve descrição.

3.1 Análise documental

A análise documental é uma técnica de recolha de informação imprescindível em qualquer investigação e que requer disciplina e paciência do investigador na busca pela obtenção dos documentos considerados fundamentais à prossecução do processo de investigação (Lopes & Pardal, 2011, p. 103). O uso a bom nível da análise documental implica obediência a um conjunto de regras, tais como: definição clara do objeto de estudo; formulação devida da hipótese ou hipóteses; identificação do nível de imparcialidade das fontes; comparar apenas o comparável (Lopes & Pardal, 2011, p. 103).

No nosso estudo de investigação, a análise documental incidiu sobre todos os documentos encontrados no ato da nossa pesquisa de campo, os quais apresentamos na tabela 13. Não se fez mais análises documentais, uma vez que não foram encontrados mais documentos e pelas informações recolhidas através dos nossos inquiridos não se produziram mais documentos para além dos apresentados na tabela 13. Isto é, não se elaboraram atas, relatórios, pareceres dos encontros, reuniões de trabalho realizadas pelos

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grupos de trabalho constituídos e pela Comissão Especializada para a área da Educação da Assembleia Nacional Popular que pertence à “Comissão de Saúde, Assuntos Sociais, Educação, Cultura, Desporto e Comunicação Social” da ANP. Ao longo deste trabalho esta comissão foi também designada por alguns dos nossos inquiridos apenas por Comissão Especializada para Assuntos Sociais.

Procedemos à análise comparativa dos conteúdos constantes no 1.º Esboço do Anteprojeto de Lei de Bases do Sistema Educativo de outubro de 2009 (ver anexo 5) e a Proposta de Lei de Bases do Sistema Educativo de maio de 2010 (ver anexo 6) com o texto final da LBSE (ver anexo 23), a fim de compreendermos se o texto final da Lei de Bases do Sistema Educativo guineense é uma espécie de síntese final desses documentos inicialmente elaborados. O 1.º Esboço do Anteprojeto de Lei de Bases do Sistema Educativo de outubro de 2009 e a Proposta de Lei de Bases do Sistema Educativo de maio de 2010 foram facultados pelo Presidente da Comissão Especializada para a área da Educação da Assembleia Nacional Popular, no âmbito da nossa pesquisa de campo. Os registos da Direção de Serviços Legislativos: Serviços de Taquigrafias da Assembleia Nacional Popular sobre as sessões plenárias de 20 e 21 de maio de 2010 (ver anexo 7 e 8) foram obtidos nessa direção de serviços, a 21 de março de 2014, após muita insistência e persistência de familiares e amigos envolvidos nessa tarefa junto dos funcionários dessa direção. Esses registos contêm informações sobre as sessões plenárias de discussão da LBSE e de outros documentos do setor educativo discutidos na ANP na mesma altura que a LBSE, nomeadamente: Projeto de Lei do Ensino Superior e da Investigação Científica e Estatuto da Carreira Docente. Esses registos juntamente com a ata n.º 14/2010 (ver anexo 9) da sessão plenária do dia 21 de maio de 2010 referente à discussão da LBSE na ANP, também facultada pela direção de serviços já referida, a 28 de março de 2014, nas condições anteriormente mencionadas, serão utilizados na triangulação das informações recolhidas através das entrevistas aplicadas aos nossos inquiridos sobre o processo de construção e de aprovação da LBSE.

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funções de Artur Silva como Ministro da Educação e responsável do ponto de vista político pela coordenação do processo de construção e de aprovação da LBSE. No âmbito da pesquisa de campo tivemos acesso à “sala de arquivo” do Gabinete do Ministro da Educação, mas não encontrámos nenhum documento sobre o processo. Na altura, segundo a informação obtida pela então Secretária do Ministro da Educação, alguns documentos tinham sido retirados dos dossiers para darem lugar a novos documentos. Deste modo, nos dossiers disponibilizados não foram encontrados documentos relativos ao processo. Esta situação relatada pela Secretária do Ministro da Educação revela a dificuldade que o Ministério da Educação enfrenta para se manter em funcionamento e cuidar dos seus arquivos.

Tabela 13: Documentos produzidos no âmbito do processo de construção e aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo

Nome dos documentos Autor

1.º Esboço do Anteprojeto de Lei de Bases do Sistema Educativo de outubro de 20096

Professor Doutor Emílio Kafft Kosta Proposta de Lei de Bases do Sistema Educativo de maio de 20107 Ministério da

Educação Registo da Direção de Serviços Legislativos: Serviços de

Taquigrafias da ANP – Sessão Plenária de 20 de maio de 20108 Direção de Serviços legislativos: Serviços de Taquigrafias da ANP

Registo da Direção de Serviços Legislativos: Serviços de Taquigrafias da ANP – Sessão Plenária de 21 de maio de 20109 Ata n.º 14/2010 - sessão plenária do dia 21 de maio de 201010

Fontes: Direção de Serviços legislativos: Serviços de Taquigrafias da ANP e Presidente da Comissão Especializada para a área da Educação da ANP.

6 Anexo 5 7 Anexo 6 8 Anexo 7 9 Anexo 8 10 Anexo 9

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3.2 Entrevista semiestruturada

A técnica da entrevista é de larga utilização na investigação social, na medida em que possibilita a obtenção de informação mais rica e pelo facto da sua aplicação não se restringir a um informante alfabetizado. Quanto à sua estruturação existe basicamente dois tipos de entrevista: a entrevista estruturada e a entrevista não estruturada que contém diversas modalidades de entrevistas. Entre essas duas estruturas aparece uma variante designada por entrevista semiestruturada (Lopes & Pardal, 2011, p. 85). Perante as caraterísticas do nosso estudo a entrevista semiestruturada foi selecionada como uma das nossas técnicas de recolha de dados.

A entrevista semiestruturada é caraterizada pela “[…] incorporação de perguntas mais ou menos abertas, no guião” (Flick, 2002, p. 94). Ela nem é inteiramente livre e aberta, baseia-se num guia de assuntos ou questões em que o investigador tem a liberdade de introduzir mais questões para a precisão de conceitos ou obter mais informações sobre os temas desejados (Sampieri, Collado & Lucio, 2006, p. 381). A vantagem da sua utilização reside na melhoria da comparabilidade e da estruturação dos dados através do uso corrente do guião da entrevista. Isto é, o entrevistador através das informações que recebe do entrevistado faz comparação com as perguntas integradas no guião de forma a prosseguir a entrevista, evitando repetições de questões que foram sendo respondidas ao longo do discurso. Se o objetivo central da recolha de dados forem as afirmações concretas sobre um assunto, o meio mais eficiente é a entrevista semiestruturada (Flick, 2005, p. 95). Esta é a razão pela qual selecionámos a entrevista semiestruturada como uma das nossas técnicas de recolha de dados, a centralidade da entrevista no assunto específico.

A entrevista semiestruturada foi aplicada, com base nos guiões11 previamente elaborados, a quatro intervenientes diretos no processo de construção e de aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo da Guiné-Bissau: Ministro da Educação no período, 2009 e 2010, que compreendeu à elaboração e aprovação da Lei de Bases do Sistema

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Redator da Lei de Bases do Sistema Educativo da Guiné-Bissau. Não foram entrevistados mais atores sociais envolvidos no processo, como por exemplo o Consultor contratado pelo Ministério da Educação com fundo disponibilizado pela Unicef para a elaboração do 1.º Esboço do Anteprojeto de LBSE, por questões relacionadas principalmente com o fator tempo e a dificuldade em contactar o Consultor.

Os guiões de entrevista foram elaborados com a definição prévia das suas colunas da seguinte forma: categoria dos blocos; subcategoria dos blocos; objetivos específicos; questões e observações. Pretendeu-se com essa organização facilitar a recolha de informação mediante a sua organização por blocos específicos (ver anexo 10 a 13).

As entrevistas foram realizadas após a obtenção de uma autorização prévia por parte dos entrevistados e ainda após a marcação e escolha dos locais pelos mesmos para a realização das entrevistas. A entrevista ao Ministro da Educação foi realizada na sua residência em Bissau, no dia 16 de dezembro de 2012. O Ministro da Educação é Engenheiro de Pesca e dentre os cargos ocupados afiguram-se: Ministro de Defesa Nacional; Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação Internacional; Diretor Geral da Cooperação Internacional, etc. Foi Ministro da Educação entre novembro de 2009 a abril de 2012, tendo exercido esse cargo num período de 2 anos e meio, devido ao golpe de estado que se deu no dia 12 de abril de 2012. A entrevista ao Diretor do INDE foi realizada a 11 de janeiro de 2013, num dos hotéis da capital guineense. O Diretor do INDE é mestre em Ciências da Educação. Foi Conselheiro Principal do Ministro da Educação; Diretor de Divisão de Pesquisa e Estudos da Educação do INDE. É atualmente Coordenador Nacional do Projeto Educação para Todos na Guiné-Bissau. A entrevista ao Presidente da Comissão Especializada para área da Educação da Assembleia Nacional Popular foi realizada a 31 de janeiro de 2013, na Assembleia Nacional Popular. O Presidente da Comissão Especializada para área da Educação da Assembleia Nacional Popular é Enfermeiro de profissão e atualmente exerce as funções de Deputado e Presidente da Comissão Especializada para área da Educação da Assembleia Nacional Popular. A entrevista ao Jurista e Redator da LBSE foi realizada a 27 de agosto de 2013, num dos Escritórios de Advocacia da capital guineense onde exerce funções. É mestre em Direito e já assumiu os seguintes cargos: Assessor Jurídico do Ministro da Educação e do Secretário de Estado do Ensino; Docente na Faculdade de Direito de Bissau. Para uma

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melhor organização do nosso trabalho, optámos durante a transcrição12 e realização da análise de conteúdo13 das entrevistas por codificá-las, especificando os discursos de cada interveniente, como se pode observar na tabela 14 abaixo apresentada:

Tabela 14: Codificação das entrevistas

Atores entrevistados Entrevistas

(códigos)

Duração da entrevista

Idade

Ministro da Educação E1 1h 00 56 anos

Diretor do INDE E2 1h 00 57 anos

Presidente da Comissão Especializada para a área da Educação da Assembleia Nacional Popular

E3 45 minutos 52 anos

Jurista/Redator do texto final da Lei de Bases do Sistema Educativo

E4 1h 00 31 anos

4. Técnica de tratamento e interpretação dos dados