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Temas/conteúdos que mereceram atenção especial no processo e os que geraram

Capítulo III – Processo político de construção e de aprovação da Lei de Bases do Sistema

7. Processo de discussão e análise da Proposta de lei

7.3 Temas/conteúdos que mereceram atenção especial no processo e os que geraram

Segundo as informações recolhidas no processo de construção da Lei de Bases do Sistema Educativo foi dada alguma atenção às questões culturais, étnicas e religiosas. Essa atenção foi dada no momento em que se pensava em como organizar o processo de ensino aprendizagem e como estruturar o sistema educativo guineense. Afirma-se que houve a preocupação de adequar a Lei de Bases do Sistema Educativo aos valores culturais e tradicionais patentes no país, uma vez que uma das preocupações do legislador constitucional é construir “um Estado unido com um padrão jurídico que deve unir todos” (E4). Deste modo, as questões que mereceram atenção no processo foram a regionalização da educação, isto é, adaptação do sistema educativo às realidades locais, a não confessionalidade do ensino público e as áreas de desenvolvimento da educação não formal:

“ Sim, pode se dizer que sim […] que […] [as questões culturais, étnicas e religiosas mereceram alguma atenção especial no processo de construção da Lei de Bases do Sistema Educativo] porque para já uma das disposições da Lei de Bases [do Sistema Educativo] é adequar o Sistema Educativo aos valores culturais, tradicionais do país. E tendo em conta a

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

“A verdade é que a opção do Legislador Constitucional é de construir um Estado com um povo unido, portanto tem um padrão jurídico que deve unir a todos, portanto, a Lei de Bases por exemplo reconhece as entidades […] o direito ou a liberdade do ensino não é?.[…] a Lei de Bases [do Sistema Educativo] respeita, salvaguarda o direito à liberdade de ensino às entidades religiosas […] desde que essa atividade, essa iniciativa portanto se confina ou se compadeça ou esteja dentro dos limites legais. Portanto foram ponderadas todas essas questões, todos os interesses relevantes e as soluções que constam da Lei de Bases, a meu ver são soluções integradoras em benefícios da comunidade nacional portanto, mas respeitando as diferenças filosóficas, religiosas que existem na nossa sociedade.(E4)

“ Uma outra questão […] que dissemos na Lei, […] [é que] é preciso dar à educação não formal os direitos que poderiam ter, então dissemos que a educação não formal desenvolve-se na área da alfabetização dos jovens e adultos e na ação de conversão e aperfeiçoamento profissional tendo em vista o acompanhamento da evolução tecnológica. Portanto, eram esses os dois aspetos que para nós eram fundamentais que tivessem sido feitos na consagração na Lei.” (E1)

7.3.1 Temas/conteúdos que geraram maior polémica na apresentação das propostas finais

Segundo a informação existente, o tema que gerou maior dificuldade na apresentação das propostas finais foi a questão do ensino público não ser confessional. Esta questão foi polémica devido à existência de um projeto de uma ONG internacional para a promoção de escolas madrassas que são escolas que difundem o ensino árabe. De acordo com a informação existente havia quem achasse que o ensino de árabe devia ser oficializado no sistema de ensino público. Essa questão foi refutada com base na ideologia de que o ensino público prevalece sobre o ensino privado e na laicidade da República da Guiné-Bissau. Afirma-se que não há objeção por parte do Estado que existam escolas de ensino árabe, mas esta terá o estatuto de escola privada:

“A polémica como eu disse é em relação ao artigo 2, sobretudo à questão do ensino público. Esse foi um tanto quanto polémico porque já havia um projeto inicial de uma ONG internacional que trabalhou com algumas associações de querem promover as escolas madrassas que são escolas de ensino árabe. Como sabe, uma parte da população da Guiné- Bissau é muçulmana, e consequentemente queriam que o ensino árabe fosse digamos oficializado nessa questão. […] Então houve muita polémica sobre essa questão. Como era um projeto que os anteriores governos aprovaram e aceitaram que fosse realizado, então queriam que isso fosse incorporado mas dissemos que não. Tratando-se de um ensino privativo tudo bem, não há problema nenhum. Mas o ensino público prevalece sobre o ensino privado e houve muita polémica sobre essa questão e acabou por vincar que o ensino público não é confessional..” (E1)

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

“ Esta é uma questão onde de facto houve muita polémica e muita discussão. Sendo o Estado da Guiné-Bissau, um Estado laico, a primeira questão que dissemos é que o ensino publico não é confessional. Houve muita gente que achava que não, que tínhamos que atender algumas demandas de algum grupo étnico[…] mas defendi que designadamente no artigo 2 da Lei foi dito claramente que é reconhecida a todos os guineenses o direito à educação e cultura nos termos da Constituição da República da Guiné-Bissau e de mais Leis. Entretanto é reconhecida também a liberdade do ensino nos termos da Constituição da República. Mas o ensino público não é confessional, este era o cerne da questão, porquê não confessional. Se atendêssemos, digamos, à pressão dos grupos religiosos, os Muçulmanos que criam as escolas madrassas era reconhecer de que a laicidade do Estado não existia. Sendo um estado laico, não podíamos aceitar que o ensino público…seja confessional.” (E1)

7.3.2 Temas/conteúdos que geraram maior dificuldade na apresentação das propostas finais

Os temas que geraram maior dificuldade na apresentação das propostas finais foram o lugar das escolas privadas (laicas e de confissões religiosas) e as vias de saída da Formação Técnico Profissional. Quanto a possíveis cenários apresentados face à questão, não há registos :

Ao nível do Conselho Diretivo [do Ministério da Educação] que eu me lembro são duas questões que maiores discussões geraram. Primeira questão, a questão daquilo que deve ser o lugar das escolas privadas, quando digo escolas privadas eu falo de escolas privadas no sentido restrito, escolas privadas e laicas, não é?, e falo também de escolas privadas de confissões religiosas, essas questões foram discutidas com algum calor. E também a questão da formação Técnico Profissional foi bastante discutida, as vias de saída profissional etc. Portanto, que eu me lembro, são essas duas [questões] […] que mais discussões geraram […].” (E4)

7.3.3 Temas/Conteúdos que geraram maior contributo na apresentação das propostas finais

A questão da regionalização da educação foi a que gerou mais contributos na apresentação das propostas finais. Foram registados sentimentos contraditórios em busca de padrões nacionais únicos. Quanto a possíveis cenários apresentados face à questão, não

Dissertação de mestrado Luísa Lopes

“ Sem dúvida que o que mobilizou mais a participação foi a questão da regionalização [da Educação]. Portanto, sentimentos contraditórios sempre na perspetiva de se criar padrões nacionais únicos.” (E2)

8. Processo de aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo na